livro: poéticas digitais

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tela total A expressão “tela total” cunhada pelo sociólogo francês Jean Baudrillard (BAUDRILLARD, 2002), sintetiza bem os termos em que a situação se apresenta: vivemos em progressão acelerada numa relação cada vez mais indireta, mediatizada — mediada, como vimos, por imagens ou textos -, com aquilo que chamamos de mundo real. A realidade do programa televisivo Big Brother, definida pelo paradigma da visibilidade total, é absorvida com naturalidade pelos telespectadores. Leia o livro, veja o filme: Big Brother: o nome do programa deriva do título do romance homônimo de George Orwell que descrevia os aspectos de uma sociedade fictícia essencialmente totalitária (ORWELL, 2003).

Mais do que aceitar com tranquilidade que um grupo de pessoas exponha sem inibições suas vidas e intimidades no tempo real do espetáculo televisivo, o telespectador, sem perceber, está introjetando a sensação de estar sendo constantemente monitorado por uma câmara oculta. Ocorre aí mais um daqueles processos de retroalimentação (feedback) como os apontados por Flusser, de confusão do real com o imaginário. Ou seja: esta câmera oculta, que na verdade nem mesmo existe, torna-se mentalmente onipresente em todos os momentos de nossas vidas, mesmo os mais íntimos e que deveriam permanecer privados. Deveriam? Ou não. Mais e mais, na lógica — e na nova ética — da chamada “sociedade do espetáculo” (DEBORD, 1972), a vida de cada indivíduo passa a se definir — principalmente para ele mesmo 21


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