Sultana a vida de uma princesa árabe

Page 98

que tão vasto número de pessoas se mantenha num percurso de liberdade quando existem tantas opiniões. Imagina só o que aconteceria no mundo árabe; um país com o tamanho da América entraria imediatamente em guerra, com cada homem seguro de ser o único a possuir a resposta certa para o bem de todos! Na nossa terra, os homens só vêem a solução que está mesmo em frente do próprio nariz. Aqui, é diferente. Karim fitou-me com espanto. Como não estava habituado a ver uma mulher interessada no grande esquema das coisas, fez-me inúmeras perguntas noite dentro, para ficar a conhecer a minha opinião sobre vários assuntos. Saltava à vista que o meu marido nunca lidara com mulheres com opinião própria. O facto de eu pensar em questões políticas e no estado do mundo, deixava-o completamente estupefacto. Por fim, beijou-me no pescoço e disse-me que, quando voltássemos para Riade, eu prosseguiria os meus estudos. Irritada com o seu tom de permissão, disse-lhe que não sabia que os meus estudos eram assunto discutível. As planeadas oito semanas de férias passaram para dez. Só depois de um telefonema do pai de Karim é que voltámos, contrariados e relutantes, para junto das nossas famílias. Tencionávamos viver no palácio dos pais de Karim até o nosso estar construido. Eu sabia que não agradava à mãe de Karim; a partir dali teria poderes para tornar a minha vida insuportável. Pensei no meu tolo desrespeito pela tradição, que a fizera desprezar-me, e amaldiçoei-me por me preocupar tão pouco com o meu futuro que não hesitara em desagradar à minha sogra no nosso primeiro encontro. Sabia que Karim, à semelhança de todos os homens árabes, jamais se aliaria à esposa contra a mãe. Caber-Me-ia voltar de ramo de oliveira em punho para propor a paz. Quando o avião se preparava para aterrar em Riade, tive um choque desagradável. Karim lembrou-me a necessidade de voltar a colocar o véu. Apressei-me, desajeitadamente, a cobrir-me de negro e senti uma saudade enorme do doce perfume da liberdade que começara a diluir-se mal penetráramos no espaço aéreo saudita. Com a garganta apertada pelo temor, entrámos no palácio da minha sogra para iniciarmos a nossa vida de casados. Na altura, eu ainda não sabia que a mãe de Karim me detestava tanto que já começara a conspirar sobre formas de pôr um ponto final na nossa feliz união. VIDA DE CASADA


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.