Sultana a vida de uma princesa árabe

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Nada me proporcionava mais prazer do que deambular pela sombra refrescante da pequena floresta tão vigorosamente regada e tratada pela equipa de doze trabalhadores do Sri Lanka. Vivíamos no meio de um dos desertos mais áridos do mundo, no entanto as nossas casas estavam rodeadas por jardins verdes e luxuriantes. Graças às intermináveis somas de dinheiro despendidas na fartura de água trazida dos portos marítimos por camiões próprios, assegurando assim quatro regas diárias, nós, os sauditas abastados, conseguíamos escapar às inflexíveis areias vermelhas que esperavam a mais pequena oportunidade para invadir as nossas cidades e apagar a nossa memória da face da Terra. O deserto acabaria, a seu tempo, por ganhar, mas de momento éramos nós os senhores da nossa terra. Detive-me a descansar um pouco no mirante especialmente construido para Malia, a nossa filha mais velha, que em breve faria cinco anos. Era uma sonhadora e passava muitas horas do dia escondida no meio da construção coberta de trepadeiras, a fazer jogos complicados com amigas imaginárias. Lembrava muito eu própria naquela idade. Felizmente, Malia não partilhava da personalidade revolucionária da mãe, pois desfrutava do amor do pai e não precisava de se rebelar. Toquei nas flores que pendiam sobre o canto preferido de Malia, que deixara uma variedade de brinquedos amontoados a esmo. Sorri e reflecti, admirada, na diferença que existia entre o carácter dela e o da irmã mais nova, que, com três anos, era uma criança amante da perfeição, muito à semelhança da tia Sara. Pensar nos meus filhos fez-me voltar a depressão, poderosa e inabalável. Lembrei-me de agradecer a Deus pelo meu filho e duas filhas saudáveis, mas relembrar a impossibilidade de ter mais filhos trouxe-me lágrimas aos olhos. No ano anterior, durante o exame de rotina no Hospital Especializado e Centro de Pesquisa Rei Faiçal, tinham-me diagnosticado um cancro na mama. Karim e eu ficámos em estado de choque, pois pensávamos que as doenças só aconteciam aos idosos. Eu fora saudável toda a vida e dera à luz os meus dois últimos filhos com facilidade. Os médicos estavam agora certos de que eu ficara livre de células cancerígenas, no entanto aconselharam-me a nunca mais engravidar. Como medida de precaução contra a possibilidade de o desejo de mais crianças se sobrepor ao bom senso, Karim e eu decidimos que me iria submeter a uma esterilização. Sentira tanto medo de não viver o suficiente para ver os meus três filhos crescer que, na altura, pouco me preocupei por ter uma família tão pequena. Na Arábia Saudita, uma mulher raramente deixa de produzir filhos; a idade acaba com a aflição de dar à luz, nada mais.


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