Passarinha - Kathryn Erskine

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CAPÍTULO 20 EMPATIA FICO OBSERVANDO POR UM BOM tempo o cartaz que coloquei na porta de Devon. E percebo que aqueles são os primeiros olhos que desenhei na vida. E o quanto eles se parecem com os de Devon. Começo a imaginar como o retrato ficaria se eu pusesse os olhos junto com o nariz quebrado e a boca. Seria um rosto completo. De Devon. E eu sempre saberia como ele é mesmo quando eu crescesse. Ele estaria sempre comigo. Fico pensando se juntar todas as partes do rosto me ajudaria a me aproximar do Desfecho. Se está dividido em pedaços será que juntá-los não traria o Desfecho? Mas eu nunca fiz um rosto inteiro antes. Não quero errar. Tem que sair perfeito. Escuto papai desligando o jornal na tevê e suspirando. Lembro o que a Sra. Brook falou sobre praticar empatia por isso entro na sala e olho para os sapatos de papai. Oi papai. Oi Caitlin. Não sei bem o que dizer em seguida. Os sapatos dele não me dão nenhuma dica. Hum... e aí como vai? Papai levanta a cabeça. Para ser franco neste exato momento estou ocupado resolvendo um monte de coisas na minha cabeça. Ah. Está procurando um Desfecho? De certo modo sim. Eu também. Talvez fosse bom você falar com a Sra. Brook. Ela disse que você pode fazer isso de vez em quando embora quem ela tenha que atender mesmo são as crianças da escola. Papai faz que sim com a cabeça. Mas de repente você também poderia falar com outra pessoa. Papai não diz nada. Nem mesmo balança a cabeça. Talvez você pudesse encontrar algumas soluções em livros. Obrigado Caitlin. Agradeço muito mas pode deixar que eu mesmo encontro uma saída. Quando? Não sei. Acho que vai levar muito muito tempo. E como você vai fazer isso? Eu nem sei por onde começar. Ele fica olhando para o tapete. E continua olhando para o tapete mesmo quando o telefone começa a tocar. Telefone, aviso para ele. Continua tocando. Telefone. E tocando. TELEFONE, digo bem ALTO porque talvez ele não tenha ouvido. Atende por favor, pede ele. Então começa a me dar uma sensação de recreio no estômago. Detesto atender telefone. Nunca sei quem é e o que vai dizer. O telefone toca mais duas vezes. CAITLIN POR FAVOR! Corro para o telefone e atendo porque tenho ainda mais horror de gritos que de telefone. Pelo menos o telefone a gente pode desligar.


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