DELAS
Edição #1
Segunda-feira 25 de julho de 2022
MALALA:LUTAPELA EDUCAÇÃO
página 03
NARRADORAS
Nesta edição, falaremos sobre o destaque que as narradoras profissionais tiveram nos últimos tempos e quais são os desafios dessa profissão majoritariamente
masculina Página 08
MENSTRUAÇÃO
Tiramos as dúvidas das mulheres sobre o período menstrual. Esclarecemos o monitoramento do ciclo, fluxo, cuidados extras e muito mais
Página 05
LITERATURA
A mulher na literatura é de grande importância mas passa por muitos desafios Confira, na reportagem, o valor da figura feminina no meio literário. Página 11
Foto: @nbcnews
EXPEDIENTE REPÓRTERES
AmandadeSousaFarias
ManuelladeAbreuGimenez
MariaJúliadeSouzaGoulart
StephanydaSilvaNascimento
EDITORESDEARTE
AmandadeSousaFarias
ManuelladeAbreuGimenez
MariaJúliadeSouzaGoulart
StephanydaSilvaNascimento
PROFESSORA
SandraGarcia
MALALAYOUSAFZAI
Queméameninaquelutoupelodireitoàeducaçãodasmulheres?
Por Manuella de Abreu Gimenez
Apaquistanesa Malala Yousafzai, de apenas 25 anos, é considerada uma importante ativista na luta pelo direito à educação das mulheres Apesar de inserida num ambiente de extremismo político, desde cedo, ela já tinha discursos de incentivo ao acesso ao ensino. Aos 15 anos, a menina sofreu um atentado terrorista por defender essas questões, mas não desistiu de lutar pelo que acreditava ser justo. Hoje, Malala já ganhou diversos prêmios em reconhecimento da sua infância no mundo estudantil
Malala Yousafzai nasceu no Vale do Swat, no norte do Paquistão, em 1997. Ela morava com seus pais e seus dois irmãos. Sua família sempre a apoiou e incentivou em relação aos estudos Seu pai, Ziauddin Yousafzai, era professor e dono da Escola Khushal, e costumava ensinar a filha e ajudar no seu processo de aprendizagem
Em 2007, quando Malala tinha apenas 10 anos, ela viu seu território ficar sob comando do grupo terrorista Talibã Um dos principais ideais deles era de que as mulheres não deveriam ter aces-
so à educação e, por isso, fechou as escolas para meninas, incluindo a de Ziauddin. Após a invasão do Talibã, Malala começou a defender suas ideias a favor do direito à educação e criou um blog para difundir essas questões, além de contar sobre os horrores que aconteciam no Vale do Swat Para manter sua segurança, ela usou o pseudônimo Gul Makai, uma heroína do folclore nacional.
Em 2010, os paquistaneses conseguiram expulsar os talibãs do seu território e a identidade de Gul Makai foi revelada Malala
25 de julho de 2022 DELAS | 03 EDUCAÇÃO
Ativista política paquistanesa, Malala Yousafzai Foto: MasterClass
ficou muito conhecida e usou sua voz para expor as causas que tanto acreditava. A expulsão dos talibãs, no entanto, não foi suficiente para manter a menina em segurança. No dia nove de outubro de 2012, quando Malala tinha 15 anos, ela foi vítima de um atentado terrorista. Ao voltar da escola, dois homens pararam o ônibus que a menina estava Um deles subiu e perguntou: “Qual de vocês é Malala?”. Ninguém respondeu, mas ele a reconheceu, e disparou três tiros em sua direção. Um disparo atingiu a cabeça de Malala e os outros dois atingiram suas colegas Shazia e Kainat. Hoje, as três passam bem e defendem o direito à educação das mulheres Malala foi transferida para o Queen Elizabeth Hospital, na Inglaterra, país no qual se recuperou e onde vive com a família até hoje O objetivo do atentado foi silenciar Malala, mas o oposto aconteceu e sua voz ficou cada vez mais forte.
Em 2013, quando tinha 16 anos, Malala fez um discurso na ONU (Organização das Nações Unidas) e emocionou a todos
No ano seguinte, aos 17 anos, Malala tornou-se a pessoa mais jovem a ganhar um Prêmio Nobel da Paz. Em 2018, seis anos após o atentado, ela voltou ao Paquistão e se emocionou ao dizer em seu discurso que nunca quis sair do país. Em 2020, ela se formou na Universidade de Oxford. Hoje, Malala é reconhecida como uma das principais ativistas na luta pela universalização do acesso aos estudos e continua a lutar por essa causa.
A história de Malala foi difundida pelo mundo de diversas formas, como no documentário “Malala” (2015) ou na autobiografia “Eu sou Malala - A história da garota que efendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã” (2013), escrita em parceria com a jornalista Christina Lamb. Com um novo ataque do Talibã, desta vez ao Afeganistão, mais uma vez mulheres perdem seus direitos básicos como ir à escola ou mostrar o rosto. Com a nova invasão talibã, Malala se pronunciou em suas redes sociais: “Assistimos em completo choque enquanto o Talibã assume o con-
trole do Afeganistão Estou profundamente preocupada com as mulheres, as minorias e os defensores dos Direitos Humanos. As potências globais, regionais e locais devem exigir um cessar-fogo imediato, fornecer ajuda humanitária urgente e proteger refugiados e civis”, disse a ativista em seu Twitter no dia 21 de agosto de 2021 Mais recentemente, no dia 14 de julho deste ano, ela se pronunciou novamente: "Hoje faz 300 dias que as meninas afegãs estão fora da escola. Palavras não são suficientes Precisamos de ações dos líderes para reabrir as escolas imediatamente." e compartilhou a carta aberta da Fundação Malala, ONG liderada por Malala que luta por um mundo onde todas as meninas possam aprender
DescubramaissobreMalala
EU
Autoras: Malala
Yousafzai e Christina Lamb
Ano de
Lançamento: 2013
Editora:
Companhia das Letras
342 páginas
MALALA Biografia
Documentário
Diretor: Davis
Guggenheim
Duração: 87 minutos
12 anos
Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. Educação é a única solução. Educação em primeiro lugar”, disse ao finalizar seu discurso.
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Foto: Fairfax Media via Getty Images
SOU MALALA
“Aquelesdias”,não!ÉMenstruação!
Por Stephany da Silva Nascimento
Durante muito tempo, a menstruação foi considerada um tabu na sociedade. Pedir absorventes emprestados como se fosse um segredo era uma estratégia de 39% das mulheres para esconderem que estavam menstruadas. É o que aponta uma pesquisa de 2018 feita pela marca Sempre Livre, da Johnson & Johnson, em parceria com a KYRA Pesquisa & Consultoria Esse cenário está mudando ultimamente com os meios de comunicação. Existem muitos ginecologistas utilizando as redes sociais para alertar as mulheres sobre a importância de tratar assuntos do corpo feminino, como a ginecologista Kivia Santos Então, vamos falar de menstruação! Sem vergonha e sem culpa.
Comoéoperíodomenstrual?
O período menstrual varia para cada mulher, porque um ciclo pode ser diferente do outro Algumas mulheres podem passar mais tempo menstruadas, outras não, e entender isso é importante para saber como o nosso corpo funciona particularmente Ao acompanharmos nosso próprio “padrão” de ciclo, podemos evitar surpresas, “saber o período fértil, prever quando irá descer a menstruação, correlacionar com os sentimentos, alimentação e atividade física específica para cada fase”, explica Kivia Santos. A médica destacou que levar o monitoramento do ciclo ao seu ginecologista também pode ajudar o profissional a entender se o seu
ciclo é mais longo ou mais curto, além de identificar irregularidades A Delas realizou uma enquete com 28 mulheres acima dos 18 anos. Ao serem questionadas se elas costumam monitorar seu ciclo menstrual, 17 delas responderam que sim, 8 disseram que não, e 3 relataram que não sabem como monitorar.
Nãosabecomomonitoraroseu ciclo?Aquivaiumadicada Delasparavocê!
Existem vários aplicativos que podem te ajudar com o monitoramento do seu ciclo menstural Nós indicamos o Clue
Ele é um aplicativo gratuito bem fácil de mexer.
SAÚDE
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F o t o : R e p r o d u ç ã o .
E o nosso fluxo? Segundo dados da ginecologista, estima-se que uma pessoa com o ciclo regular (que dura entre 2 e 7 dias) perca, em média, de 30 ml a 80 ml por menstruação, o que é equivalente a menos da metade de um copo americano. Mas o volume de menstruação também pode mudar de acordo com cada corpo feminino. A médica ressaltou que você deve conhecer o seu próprio fluxo, e qualquer alteração anormal (como eliminar mais sangue do que o de costume) precisa ser levada até um ginecologista.
Quando a menstruação pode ajudar a identificar problemas de saúde? A menstruação pode, sim, ser uma aliada para identificarmos problemas em nosso corpo.
Segundo Kivia, “a irregularidade do ciclo, a frequência, volume (associado ou não a dor), hábito intestinal, número de dias de sangramento, assim como o padrão de sangramento, nos falam muito a favor de disfunções” E, lembre-se, qualquer alteração ou desconforto anormal durante o período menstrual, procure um ginecologista para o tratamento adequado
Precisamos ter cuidados extras neste período? Kivia explica que o ideal é “guardar energia”. A médica exemplificou que durante o período menstrual é como se um portal do nosso corpo estivesse aberto, e, por isso, precisamos nos proteger. “Em tudo! Nas emoções,
na alimentação [...] Além dos hábitos de higiene, como a higiene da vulva, o uso dos ab reutilizáveis ou coletor truais, analgésicos, ev máximo de material sint sível”, acrescentou a gine
Qualabsorventev deveusar?
A resposta é simples Você deve utilizar aquilo que faz você se sentir bem! O período menstrual não precisa ser tão desconfortável. É o nosso corpo em funcionamento, então você deve achar o melhor absorvente que combine com sua menstruação. A enquete da Delas mostrou que 17 das 28 mulheres gostariam de experimentar outros tipos de absorventes, 7 afirmaram que já se sentem confortáveis com o que usam, e 4 ainda não conhecem outras opções Se você ainda não se sente bem, é hora de agir e tentar outros meios, não acha? A Delas não vai te deixar na mão! Separamos algumas opções de absorventes pensando em você e no seu bem estar
Descartáveis
Reutilizáveis
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Absorvente externo (com abas ou sem abas) Foto: Reprodução/ Getty Image
Absorvente interno Foto: Reprodução/Shutterstock
Coletor menstrual (de uso interno). Foto: Reprodução/Fleurity
Calcinha absorvente Foto: Reprodução/Yuper
Absorvente de tecido Foto: Reprodução
Oabsorventeexternopodefazermal?
Kivia afirma que eles não são “adequados”. “Eles possuem muitos aditivos químicos, plástico e algodão de qualidade inferior. Se não forem trocados com certa frequência, podem proliferar a colônia de fungos vaginais”, alertou a médica. O recomendado é trocar o absorvente de 4 em 4 horas, e a cada 2 ou 3 horas nos fluxos mais intensos para evitar infecções e vazamentos. De acordo com a enquete da Delas, 26 das 28 mulheres afirmaram usar o absorvente externo.
AginecologistaKiviaSantostambémrespondeuavocês:
1. De quanto em quanto tempo é ideal ir ao ginecologista?
Kivia: Após vida sexual, pelo menos 1 vez ao ano
2. Depois que eu fiz 44 anos, minha menstruação está descendo igual uma hemorragia! No mês de junho, tive que parar na emergência. [Isso é normal?]
Kivia: Nunca se deve considerar normal algo que nos obriga a procurar uma emergência! Tem que ser investigado
3 O que acontece com o organismo da mulher durante a menopausa? Quais os tratamentos atuais para ajudar nós, mulheres, a passar por essa fase?
Kivia: Durante a menopausa, principalmente nos primeiros anos, passamos por um processo de adaptação a uma condição nova no nosso organismo, que é a baixa produção hormonal, situação essa que nunca experimentamos antes. Isso traz desconfortos, e, em algumas
desconfortos, e, em algumas pacientes, agravamento de doenças como osteoporose e hipertensão! Hoje temos infinitos tratamentos para auxiliar nesse processo! Lembrando que as doses são infinitamente menores do que as usadas nos anticoncepcionais, e que reposição hormonal é sempre praticada na menor dose e no menor tempo de uso possível, somente para quem pode usar!
4 Em algum momento a mulher deve deixar de tomar o anticoncepcional pro corpo poder se "desintoxicar"? Ou pode tomar direto toda vida?
Kivia: Se o anticoncepcional agrega algum valor ao ciclo menstrual, seja reduzindo o fluxo, controlando a TPM ou melhorando a pele, pode usar a vida toda! Inclusive, se o utiliza como método de contracepção, não aconselho pausas no uso! Sempre com acompanhamento do ginecologista, pelo menos de forma anual!
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Foto: Reprodução/ Freepick
Asvozesfemininasquefazem histórianofutebol
Farias
Desde o início, o futebol é considerado um ambiente predominantemente masculino
No campo, as mulheres lutaram, e continuam lutando, para conquistar o seu espaço. Fora dele, a situação é muito mais complicada Para dar voz a uma partida, era quase inimaginável uma mulher assumir o papel, pois a função de narrar sempre pertenceu aos homens. Aos poucos, as vozes femininas, como Renata Silveira, Natália Lara e Isabelly Morais foram ganhando espaço nas transmissões dos jogos na televisão ou no rádio, e protagonizam uma mudança im-
portante no mundo futebolístico
Em 1997, Luciana Mariano fez história na narração do futebol brasileiro. Ela se tornou a primeira mulher a narrar um jogo na televisão, no canal Band Hoje, após 25 desde a primeira narração feminina em uma rede de televisão, tornou-se mais comum assistir a um jogo de futebol com a presença de uma voz feminina
No ano de 2017, a narradora Isabelly Morais consagrou-se como a primeira mulher a narrar uma partida na rádio em Minas Gerais.
Em 2018, três mulheres fizeram história ao narrarem a Copa do Mundo pela primeira vez na televi-
são brasileira Isabelly Morais, que ainda era estudante de jornalismo na época, Manuela Avena e Renata Silveira foram selecionadas através de um processo seletivo chamado “Narra Quem Sabe”, realizado pela FOX Sports
Renata Silveira, uma das narradoras do grupo Globo, é a principal influência nessa área atualmente Ela foi a primeira mulher a narrar uma partida de futebol masculino em TV aberta, no dia 20 de abril de 2022. Renata também fez história ao ser selecionada para fazer parte do grupo que irá narrar a Copa do Mundo na rede Globo.
ESPORTES DELAS | 08
25 de julho de 2022
As narradoras Renata Silveira, Isabelly Morais e Manuela Avena Foto: Reprodução/Fox Sports
Por Amanda de Sousa
As narradoras continuam se destacando e seguem ganhando mais espaço Manuela Avena, narradora, repórter, primeira mulher a narrar uma partida da Copa do Nordeste pela afiliada do SBT na Bahia e uma das vozes da Copa de 2018, diz que vê esse destaque com muita alegria: “Eu vejo com muita alegria essa representatividade das mulheres hoje na narração.
Faltadeoportunidade
Mesmo com as representações femininas ganhando espaço, as poucas chances seguem sendo um dos maiores desafios para quem também sonha em fazer história "Ainda existe a falta de oportunidade. Você não tem condição de treinar, praticar e de mostrar o seu potencial porque os espaços ainda são muito fechados, [são] muito para homens.", diz a narradora Manuela Avena. De acordo com ela, as rádios e emissoras regionais deveriam dar mais abertura para as mulheres
que desejam narrar, para que possam praticar e aperfeiçoar as suas habilidades nas narrações
De acordo com Manuela, ter seu próprio estilo não aconteceu de imediato: "Na narração, a gente não tinha muito em quem se espelhar Então eu realmente tive que me espelhar em homens que narravam e construir a minha personalidade, então o que eu fiz foi fazer um “combo” do que eu mais gostava em cada narrador, misturar tudo e tentar construir a minha personalidade na narração”. Manuela também comenta que, no esporte em geral,
não sentiu falta de repretatividade pois via mulheres como Fernanda Gentil, Glenda Kozlowski e Ana Thaís
Matos ganhando espaço no mundo esportivo
Sinto que as mulheres finalmente estão conquistando seu espaço. Eu que uma barre quebrada, sim.
DELAS | 09 25 de julho de 2022
Não dá pra pegar mulheres e colocar para narrar um, dois, três jogos e querer exigir delas um nível muito alto.”, comenta a narradora.
F o t o : R e p r o d u ç ã o / T w i t t e r
Ataquesecomentáriosdeódio
"Esse tipo de coisa no dia a dia, sinceramente, cansa. Não é todo dia que eu estou bem para lidar com isso Tem dia que eu bloqueio e viro a página, mas tem dias que é bem duro". Este é um relato da narradora Natália Lara ao site UOL. Por ainda ser um ambiente com o predomínio masculino, as mulheres sofrem quando buscam espaço nessas áreas. É o que acontece também com as narradoras Luciana Mariano, a primeira narradora da televisão brasileira, já abriu cerca de 156 processos contra os ataques que ela recebe, segundo o site Metrópoles
“A gente precisa ter a mente muito forte, precisa confiar muito em si”, comenta a narradora Manuela Avena Como ainda é um espaço muito restrito aos homens e, principalmente, com um público majoritariamente masculino também, os comentários se tornam mais rigorosos e preconceituosos A internet intensificou o número dessas “opiniões”, porque as pessoas conseguem comentar em tempo real sobre o que estão assistindo Com isso, todos os narradores estão sob o risco de lidarem com os ataques de ódio, porém, a situação piora com as mulheres, que naturalmen-
Momentoshistóricos
te já sofrem com comentários ruins antes mesmo de dar voz a partida. “É paciência. Nós mulheres precisamos ter muita paciência porque a gente não pode errar ” , comenta a narradora Manuela.
DELAS | 10 25 de julho de 2022
Foto: Reprodução/Youtube
2020
Renata Silveira se torna a primeira mulher a narrar um jogo da Seleção feminina no SporTV
2022
Renata Silveira narra um jogo de futebol masculino na Globo (TV aberta)
1997
Luciana Mariano é a primeira mulher a narrar um jogo na televisão brasileira
2018
Isabelly Morais, Manuela Avena e Renata Silveira narram a Copa do Mundo pela FOX Sports
2022
Renata Silveira será a primeira mulher a narrar uma Copa do Mundo na Globo (TV aberta).
CULTURA
Mulheresesuabuscaporespaço nomeioliterário
Por Maria Júlia de Souza Goulart
tes” e “Jane Eyre”, escondiam sua identidade feminina sob o pseudônimo “Irmãos Bell” em sua época. A presença feminina no campo da literatura vem sendo conquistada com muita luta, mas ainda assim, a busca por espaço em um ambiente que por muito tempo foi majoritariamente masculino, possui desafios a serem enfrentados
De acordo com a professora e mestre em Literatura Brasileira, Ivana Barreto, a participação feminina na literatura é importante uma vez que o meio literário ainda é machista: “Para a mulher sempre foi muito difícil o reconhecimento. A mulher tem muita importância no olhar do mundo
Um olhar diferente sobre o mundo, porque a mulher sempre foi posta em segundo plano, isso tudo reflete na literatura.”, ressalta.
Já para a escritora do livro “Conectadas”, Clara Alves, a importância da mulher na literatura é a mesma que se insere em qualquer outra área:
As mulheres vêm ganhando cada vez mais espaço no Brasil e no mundo, embora ainda não sejam a maioria em lugares importantes como a Academia Brasileira de Letras, onde dos 40 integrantes que ocupam as cadeiras, apenas 9 são mulheres. Até os anos 70, havia uma prerrogativa do Estatuto da Academia que impedia
que mulheres fossem aceitas, pois exigia membros exclusivamente do sexo masculino Entretanto, é notável um aumento nas publicações de escritoras ao longo dos anos e que tendem a crescer ainda mais, como evidencia Clara: “Acho que o mercado está mais aberto para a publicação de autoras mulheres, especialmente por ser um mercado cada vez mais ocupado por profissionais mulheres Mas ainda sinto que precisamos lutar muito para que a nossa literatura seja valorizada e divulgada da mesma forma que livros de mesmo gênero escrito por autores homens cisgênero são.”, opina.
Pormuitotempo,asmulherestiveramquesemanteremanonimatopara poderpublicaretersuasobrasliteráriasrespeitadas.
Equidade, representatividade, e valorização do papel social da mulher.”
DELAS | 11 25 de julho de 2022
Irmãs Brontë Foto: Galeria Nacional de Retratos
As irmãs Brontë, autoras de “O morro dos Ventos Uivan-
Porquelermulheres?
A literatura de autoria feminina reflete o cotidiano enfrentado pelas mulheres, possuindo tanto valor estético e conteudista quanto a literatura produzida por homens Para a escritora, a literatura feminina é mais do que “livros de mulherzinha" e deve ser consumida com seriedade: “Acredito que ainda exista um preconceito muito grande com autoras mulheres e, principalmente, com o que elas escrevem. Sinto que, para sermos valorizadas, a gente precisa escrever o que por muito tempo foi chamado de ‘alta literatura’. Se nos desviamos disso, se focamos em literatura contemporânea, em comédias românticas, em romance Young Adult (Jovem Adulto), parece que nos tornamos menos escritoras. Que nossas histórias não têm relevância ”
Desse modo, ler mulheres, além de uma forma de incentivo e valorização, é uma maneira de enxergar novas histórias narradas em perspectivas femininas Clara também ressalta a função de quem consome literatura feminina:
“Parar pra pensar criticamente: quantas autoras mulheres eu consumo? Quantas autoras nacionais tenho na minha estante? Quantas delas são da comunidade LGBTQIAP+? A quantas autoras negras já dei a oportunidade de conhecer suas histórias? Quantas autoras indígenas eu já li na vida?”, enfatiza
Além disso, movimentos e projetos realizados nos últimos anos estão contribuindo para que se conheça e leia cada vez mais obras produzidas por mulheres O “Leia Mulheres” começou em 2014 pela escritora inglesa Joanna Walsh, a partir de uma hashtag “#readwomen” Essa ação tinha como objetivo dar visibilidade às escritoras clássicas e contemporâneas pela leitura de suas obras Outro projeto é o clube “Lendo Mulheres Negras”, criado em 2016, que procura abrir espaço para a divulgação de escritoras negras.
DELAS | 12 25 de julho de 2022
O papel ideal do leitor é ter consciência ativa sobre o que está lendo e sobre os autores que consome.”
#LEIAMULHERES
Clara Alves, escritora dos livros “Conectadas” e “Romance Real” Foto: Instagram/@claraalvesg
O Quinze Rachel de Queiroz
As Meninas Lygia Fagundes Telles
As vantagens de ser você Ray Tavares
Espere até me ver de coroa Leah Johnson
Orgulho e preconceito Jane Austen
“Nãoescrevoparaagradarninguém”
Essa frase foi dita por Clarice Lispector (1925-1977), escritora e jornalista brasileira, de origem judaica, que foi reconhecida como uma das mais importantes escritoras do século XX no país A autora escreveu mais de 85 histórias e se tornou muito importante para a representação da mulher na literatura nacional Chaya Pinkhasovna Lispector foi o nome que recebeu ao nascer, na Ucrânia. No ano seguinte ao seu nascimento, toda sua família imigrou para o Brasil onde adotaram nomes portugueses Em 1939, Clarice Lispector ingressou na faculdade de Direito, formando-se em 1943. Trabalhou como redatora para a Agência Nacional e como jornalista no jornal A Noite. Seu primeiro romance foi publicado em 1944, “Perto do Coração Selvagem”. A escritora faleceu em 1977, no Rio de Janeiro, e “A Hora da Estrela” foi seu último romance, publicado em vida.
Para a professora Ivana, Lispector rompeu com os modelos narrativos tradicionais:
LeiamaisClarice
“Rompeu com a sua forma de escrever, com uma abordagem filosófica e metafísica. Ela rompeu com tudo aquilo que havia sido feito antes, inclusive por escritores Foi uma grande romancista, grande cronista, traduzida em mais de 10 idiomas. Sua importância é ímpar na literatura brasileira e na literatura mundial ” , finaliza.
DELAS | 13 25 de julho de 2022
A Maçã no Escuro
Água Viva
Todas as Crônicas Laços de Família
Clarice Lispector Foto: Acervo Instituto Moreira Salles