Mortimer j adler & charles van doren como ler livros

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leitor? Será por causa do ritmo que as marca? Ou da rima? Ou será que são pa­ lavras repetidas ? Será que muitas estrofes parecem falar das mesmas ideias? Se for assim, será que essas ideias formam algum encadeamento? Perguntas como essas vão ajudar no seu entendimento. Na maior parte dos bons poemas há alguma espécie de conflito. Às vezes dois antagonistas - sejam pessoas, imagens ou ideias - são citados e então descre­ ve-se o conflito entre eles. Quando é assim, é fácil de descobrir. Mas muitas vezes o conflito está apenas sugerido, e não afirmado diretamente. Por exemplo, muitos dos grandes poemas líricos - talvez a maioria - falam de conflitos entre o amor e o tempo, entre a vida e a morte, entre a beleza das coisas transitórias e o triunfo da eternidade. Mas essas palavras podem não aparecer no texto do poema. Já se disse que quase todos os sonetos de Shakespeare tratam dos castigos daquilo que ele chama de "Tempo voraz". É claro que alguns tratam mesmo, pois ele diz isso explicitamente repetidas vezes. De ver que a mão cruel d o Tempo apaga soberbas pompas ricas do passado

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Isso é o que ele escreve no Soneto 64, em que ainda lista outras vitórias do tempo sobre tudo aquilo que o homem queria que lhe resistisse. Depois, ele diz: da ruína aprendi que o Tempo avança e meu amor com ele há-de partir.

Não há dúvida a respeito do assunto do poema. O mesmo vale para o fa­ moso Soneto 1 1 6, que contém estes versos: Do tempo o Amor não é bufão, na esfera da foice curva em bocas, róseos rostos; com breve hora ou semana não se altera e até ao julgamento fica a postos. 4

As traduções dos trechos dos sonetos de Shakespeare são de Vasco Graça Moura. (N. T.)

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