Filosofia em tempos de pandemia

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instâncias dedicadas a realizar todos os procedimentos necessários à obtenção da verdade do sexo por meio de uma técnica austera do fazer falar. O sexo se converte então a partir do séc. XVI em um dispositivo de controle, mas não em termos de repressão ou interdição, ao contrário, é ele próprio elemento central no desenvolvimento das técnicas normatizadoras através de uma rearticulação discursiva. Mediante o exposto, este trabalho se deterá a pensar a possibilidade do sujeito se constituir enquanto sujeito de desejo a partir de uma relação consigo mediada pela história da sexualidade, posto que essa se mostra como ferramenta de um poder-saber e se constitui de maneira não singular. Faremos uma reconstrução das formas de subjetivação a partir de regimes que incidem sobre a sexualidade, com o propósito de evidenciar que segundo a história da sexualidade de Foucault, há uma ligação, no mínimo vista sob suspeita, entre ética e sexualidade, em que os modos de subjetivação, as relações entre sujeitos, são atravessadas por dispositivos, e a sexualidade, agora questionada, é dissecada a partir de uma série de elementos externos a constituição de si mesmo.

SEXO: OBJETO DE SABER Sob uma perspectiva histórica, a tentativa de Foucault está em evidenciar que a história da sexualidade é marcada não apenas por uma interdição, mas sobretudo por uma curiosidade incandescente de saber sobre o sexo. Esta vontade de verdade se apresenta como uma petição de saber necessária ao sujeito que deve conhecer e expor o seu sexo, posto que a finalidade desta exposição reside em tentar revelar sua verdade ao sujeito e às instâncias ordenadas de poder responsáveis por analisar os discursos. A petição de saber sobre o sexo estabelece uma conexão necessária entre sexualidade e verdade, pois que a verdade de quem somos atrela-se à verdade do sexo enquanto significação da natureza histórica dos nossos comportamentos. Nesse sentido, a realocação do sexo ao campo da racionalidade uniu-se ao estabelecimento de uma lógica que põe o sujeito, seus desejos e vontades individuais em função de uma revelação do funcionamento da própria vida. O sexo passa a não ser mais vinculado somente à dimensão biológica do corpo, mas é tomado como 171


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Capítulo 20 DO TERRORISMO À PANDEMIA: UMA ANÁLISE AGAMBENIANA DA CRISE

3hr
pages 211-339

Capítulo 19 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE HISTÓRIA E LIBERDADE DENTRO DA FENOMENOLOGIA ONTOLÓGICA EXISTENCIALISTA SARTREANA

16min
pages 200-210

Capítulo 18 A ATUALIDADE DE HERBERT MARCUSE

10min
pages 193-199

Capítulo 17 A LEITURA DE JOAN TRONTO ACERCA DA ÉTICA DO CUIDADO

17min
pages 181-191

Capítulo 16 SEXUALIDADE E PRODUÇÃO DISCURSIVA: UMA ANÁLISE FOUCAULTINA

18min
pages 170-180

Capítulo 15 NÃO SE NASCE NEGRO, TORNA-SE: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DE FRANTZ FANON

17min
pages 160-169

Capítulo 13 PENSAR A EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA: REFLEXÕES A MEIO CAMINHO

18min
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Capítulo 14 FEMINISMO NEGRO E TRABALHO REPRODUTIVO EM TEMPOS DE PANDEMIA NO BRASIL

18min
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Capítulo 12 FAZER RIZOMA: OUTROS POSSÍVEIS PARA A ESCRITA NA ACADEMIA

17min
pages 126-136

Capítulo 8 FILOSOFIA E INFÂNCIA: UM DIÁLOGO ENTRE KANT E MATTHEW LIPMAN

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pages 89-95

Capítulo 10 EDUCAR PARA SER CIDADÃO? REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO, EMANCIPAÇÃO POLÍTICA E EMANCIPAÇÃO HUMANA

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Capítulo 9 A NECESSÁRIA VALORIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE E PESQUISA PÚBLICAS NO BRASIL

16min
pages 96-106

Capítulo 11 ENSINO DE FILOSOFIA, SURDEZ E CURRÍCULO: ENTRE IMPASSES E METODOLOGIAS

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Capítulo 5 O MUNDO PÓS-COVID19: O QUE SERÁ O AMANHÃ?

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pages 47-64

O QUE ESPERAR DO MUNDO APÓS A PANDEMIA? REFLEXÕES SOBRE O CAPITALISMO E A CRISE CONTEMPORÂNEA

19min
pages 65-75

APRESENTAÇÃO

3min
pages 12-13

Capítulo 3 EPISTEMOLOGIAS FEMINISTAS PARA UMA EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA

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Capítulo 4 POLÍTICA E MIMO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

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Capítulo 7 A FILOSOFIA DE RICHARD RORTY E O ENSINO DE FILOSOFIA UMA INTERVENÇÃO NA SALA DE AULA

18min
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Capítulo 2 FILOSOFIA E VIDA

10min
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Capítulo 1 FILOSOFAR EM QUARENTENA: REFLEXÕES

11min
pages 15-21
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