Cem Dias Na Prisão - Capítulo 1

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DIA 1 Acordei com a face colada ao piso. O chão da cela era mais frio que eu esperava. As cobertas não eram suficientes nem para um morador de rua. Era de se esperar. Não estamos aqui por nenhum mérito. Somos um amontoado de corpos colados uns aos outros. Não merecemos mais que isso. Fomos previamente julgados. Culpados. Justa ou injustamente, para eles, não importa. Não mais. Eles precisam culpar alguém. Não querem ouvir nenhuma desculpa esfarrapada. Muitos foram pegos no ato, sem ter a mínima chance de explicação. A justiça tarda, mas não falha. Eis o ditado mais verdadeiro. Alguns aqui ainda terão chance de ver seus bisnetos, quem sabe, netos. Outros apodrecerão atrás dessas grades. Destino. Escolha. Não sei mais em qual acreditar. Uma coisa é certa: O tempo não deixará de passar. As dores serão curadas. Os amores silenciados. Desses não temos o que julgar. São anos. Vidas perdidas aqui dentro. E eu, na flor da idade, preso. Encarcerado. Encurralado nesse mundo sem volta. Vida de cão. 89

Consequência da própria escolha, ou da falta de uma. Negros. Brancos. Índios. Aqui, não importa. Somos todos iguais. Emplacados por um número. Uma sentença. Algumas moedas furadas. Um peso morto para uma sociedade hipócrita. Um ser humano esquecido pela vida. Aquecido pelo ódio. Desejo. Falso poder. Contando as horas, dia após dia.


Esperando o tempo passar. Vendo o sol nascer quadrado. Aguardando a lua sobrepor o sol sem cansar-se da terrĂ­vel rotina que estou por enfrentar.


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