O enigma da graça

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sagrado constroem, pela própria ira ou ódio, a “glorificação” do totem em questão—no caso, o próprio Jó - , ainda que o escudo seja a ira. Tratar um homem assim é elevá-lo a categorias superiores, alçando-o ao nível de seres “perigosos” a Deus. E na criação não existe esse ser. Deus não corre perigo! A única maneira de se des-totemizar um totem-humano é, apenas e sobretudo, tratando-o com pura, sincera e simples humanidade. A visão totemizada que Eliú tinha de Jó, tira dele boa parte do poder para levar a verdade aprendida ao profundo nível de verdade vivida, pois, para que isto aconteça tem-se que aceitar olhar a própria face e ver seu próprio rosto refletido na palavra e na vida, ao invés de “projetá-la” no totem. Quanto mais Jó existe para Eliú menos Eliú existe para si mesmo! Por essa razão é que ele se faz “adversário” de Jó. Só se persegue a alguém quando tal pessoa passa a existir para nós mais do que nós existimos para nós mesmos, no pior sentido do que possa ser chamado de “percepção do outro”. Sem que você “saia de si” alguma vez na vida, você jamais “cairá em si” !388 Com isto, digo que sei da existência de um “eu” que não “sou eu” em mim e em você, e que são absorções inconscientes de inúmeros papéis e roteiros de personagens a encenar no palco das aparências deste mundo. Há muitos Jós na conflituosa existência de milhares de Eliús!389 388

Lc 15: 13-17 Sempre haverá muitos “irmãos-pródigos” na conflitada existência dos “amigosirmãos-mais-velhos” de Jó - ou mais novos, como era o caso de Eliú que, psicologicamente, interpreta o “irmão mais velho” do “pródigo da graça”, conforme o padrão psicológico descrito na parábola ensinada por Jesus.(Lc 15:25-32). 389


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