Jonas sucesso no fracasso

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visão farisaica. Os fariseus são aqueles que só amam os que são iguais a eles. São incapazes de amar o inimigo, o adversário; incapazes de orar por ele. Em resumo eu diria que, nesse aspecto, o que Jesus diz é o seguinte: “Assim são os gentios: eles só são capazes de amar os que os amam. Mas eu os chamei para algo mais; chamei-os para que a sua justiça exceda a justiça farisaica; para que sejam capazes de ver no ser distante o próximo. Quero que sejam capazes de ver o próximo no diferente, de ver o próximo no antagônico, no adversário”. Para Jonas mudou também a visão de Deus em relação à história. O excesso de ideologia lhe roubou também a visão de que o que se vê na história não é toda a história a ser vista. A história é mais do que aquilo que é possível ver nela. Talvez tenha sido por isso que Jonas pensou que por estar tudo dando certo, ter dinheiro no bolso, poder comprar o bilhete, encontrar o navio saindo, Deus lhe concedia a fuga. O excesso de ideologização sempre gera o excesso de historização, que sempre gera o excesso de imanentização, o que faz a pessoa entender a história sempre apenas dentro da história. Quando isso acontece, fica-se incapaz de ver o que está atrás da história; fica-se incapaz de ver o que está para além dela. Uma outra mudança que ocorreu na visão de Jonas foi a relacionada ao papel de Deus em relação a dar sentido à existência individual. O excesso de ideologia dá a Jonas uma visão de um Deus que nada tinha a ver com a significação pessoal da existência do indivíduo. Talvez por isso ele se entregue à morte sem oração, e peça a morte duas outras vezes. Com isso não estou afirmando que devamos pleitear o individualismo. Acho que o individualismo é pecaminoso. Estou apenas dizendo que esse coletivismo que tira a perspectiva da relação significante de Deus com o indivíduo é igualmente pecaminoso e deturpador do valor da própria vida. Por último, eu diria que se mudou a idéia da relevância de Deus no processo histórico. Excesso de ideologia fê-lo ver em Deus um agente ineficaz no processo de transformação da história, diz o cap. 4:2. Agora o que interessava eram apenas os instrumentos concretos de transformação do enfrentamento do inimigo político. Já tenho ouvido alguns irmãos dizerem o seguinte: “Precisamos de uma nova visão de Deus, uma visão capaz de nos ajudar no processo de conscientização ideológica”. Ou seja: para tais pessoas não é minha visão de Deus que deve determinar minha leitura da vida. Ao contrário: eu devo ter uma visão de Deus que venha a adequar-se às minhas necessidades ideológicas. Neste caso dizem: “Essa visão de Deus não ajuda a nossa idéia de ideologia; precisamos re-pensar Deus”. Busca-se então um Deus que favoreça a própria visão e perspectiva ideológica.


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