Edição 4 FEV 16 Esquerda Diário impresso

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I MPRES S O

Oper ár i os da MABE ocupam f ábr i ca cont r a demi s s ões

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EDITORIAL QUEM SOMOS?

O Esquerda Diário no Brasil começou como um site que atingiu mais de 1 milhão de acessos e 1000 cidades em menos de 6 meses. Somos o site mais acessado da esquerda brasileira. Somos parte de uma rede internacional de jornais diários na Argentina, México, Chile, França, Espanha, Alemanha e outros países, com mais de 8 milhões de acessos e centenas de correspondentes na América Latina, Europa e EUA produzindo notícias em espanhol, inglês, francês, alemão e português. Em setembro de 2015 lançamos um jornal impresso para ampliar a chegada da informação e opinião pela esquerda sobre política, economia, cultura e a vida cotidiana para os trabalhadores e a juventude. Queremos ser um jornal que sirva como ferramenta de politização e para a luta concreta dos trabalhadores e da juventude. Começamos com a periodicidade a cada 3 semanas, que avançará para quinzenal. É um jornal do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT, ex-LER-QI). Somos uma esquerda que não é o PT, que há muitos anos deixou de ser de esquerda e passou para o lado dos patrões e está descarregando a crise econômica e política nas costas dos trabalhadores. Acompanhe o site, os vídeos e os áudios do Esquerda Diário na internet. Compartilhe na internet e distribua a versão impressa.

EXPEDIENTE Coordenação editorial: Marcelo Tupinambá Conselho editorial: Diana Assunção, Leandro Lanfredi, Thiago Flamé, Iuri Tonelo, André Augusto, Simone Ishibashi, Val Lisboa, Bernardo Aratu, Flávia Ferreira, Flávia Vale e Daniel Matos Diagramação: Vanessa Dias e Juan Pablo

A DIREITA, O GOVERNO DO PT E OS CAPITALISTAS ATACAM, MAS RESISTÊNCIA AUMENTA Diana Assunção

“Sem dúvidas os estudantes secundaristas de São Paulo mostraram um caminho que poderia ser seguido e generalizado, a nível nacional, não somente na luta em defesa da educação, mas contra o plano de ajustes do governo Dilma e pra avançar a resolver os grandes problemas do país.”

O começo de 2016 já mostra o que os governos e os patrões reservam aos trabalhadores e a juventude. Enquanto “nas alturas” os setores de direita querem impor um impeachment pra implementar um plano de ajustes ainda mais duro, Dilma consegue se manter no governo e responde essa pressão defesa da educação, mas contra o aumentando seus ataques. plano de ajustes do governo Dilma e pra avançar a resolver os grandes O pano de fundo de tudo isso, além das problemas do país. demissões, é o verdadeiro caos da saúde pública e o surto de zika vírus, além dos Essa espontaneidade da luta dos cortes na educação, transporte, salários estudantes, mais uma expressão e direitos. Ameaças de privatização das das jornadas de junho de 2013, foi o estatais são cada vez mais fortes. questionamento mais profundo que surgiu, a nível de massas, de forma Para que os trabalhadores não aceitem independente do PT e também da que a crise seja descarregada sobre suas oposição de direita, o PSDB. costas é preciso retomar as experiências de resistência mais avançadas. Novas lutas começaram a surgir mostrando que se avança na Sem dúvidas os estudantes secundaristas resistência operária. Os operários de São Paulo mostraram um caminho das fábricas MABE de Campinas que poderia ser seguido e generalizado, e Hortolândia ocuparam suas a nível nacional, não somente na luta em fábricas contra o fechamento e as

demissões, em São Paulo os operários da Mecano Fabril estão em greve e as terceirizadas da Higilimp, empresa que faliu, se organizaram com piquetes e atos de rua pra garantir seus direitos.

Estas são algumas das primeiras lutas operárias do ano que podem estar antecipando a necessidade que o movimento operário vai ter de, apesar das burocracias sindicais, se mobilizar pra defender seus empregos e direitos. A unidade entre a explosiva juventude com os trabalhadores é um caminho decisivo para vencer.

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NACIONAL

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CONSTRUIR UM MOVIMENTO NACIONAL CONTRA OS AJUSTES calismo rotineiro do PSTU, como estamos vendo na GM, ou do eleitoralismo do PSOL que é incapaz de colocar as forças de seu partido em uma luta operária e coloca peso em se unificar com a burocracia da CUT e CTB numa chamada Frente Povo Sem Medo. Devemos lutar contra as demissões, contra o plano de proteção ao emprego (que protege os patrões) e contra a precarização e terceirização do trabalho, todas estas maneiras de descarregar a crise sob nossas costas. É o momento dos setores da esquerda como PSOL e PSTU reverem essa política de passividade frente aos ajustes e a esquerda colocar toda sua força, seja com os sindicatos da CSP-Conlutas, Intersindical ou os parlamentares do PSOL e suas respectivas militâncias em uma grande solidariedade ao conflito da Mabe e outros conflitos operários. Este movimento tem de ser articulado em base à resistência aos ataques capitalistas, em exigência às burocracias sindicais da CUT, da CTB, da Força Sindical, que saiam de sua paralisia completa e convoquem um plano de luta unificado em todo o país.

O Movimento Revolucionário de Trabalhadores, que impulsiona o jornal Esquerda Diário, chegando a centenas de milhares pela internet, mas também com uma versão impressa, vem desde o ano passado defendendo a necessidade de construir um forte movimento nacional contra os ajustes, articulando os sindicatos da esquerda anti-governista em exigência às centrais sindicais que hoje estão atuando como braço direito do governo e só se preocupam em defender Dilma, Lula, seus privilégios e não os trabalhadores. Como parte da CSP-Conlutas consideramos fundamental que esta encabece os principais processos de resistência, não deixando nenhuma luta para trás. Infelizmente, o PSTU, direção majoritária da CSP-Conlutas que também está na direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos está deixando passar sem luta a demissão de 517 operá-

rios da GM. Em 2012 a fábrica tinha 7500, agora 4700, nesse processo os trabalhadores mostraram disposição de luta mas faltou uma direção decidida. A ocupação da MABE em Campinas e Hortolândia coloca urgência em uma ação coordenada que possa ser um passo decisivo para criar este movimento nacional contra os ajustes, articulando as entidades estudantis e operárias em solidariedade transformando em um exemplo nacional de como enfrentar, com os métodos da classe trabalhadora, os ajustes do governo Dilma e dos patrões. A partir dessa, devemos fazer o mesmo em outras lutas unindo e coordenando a resistência às demissões.A Juventude Às Ruas, impulsionada pelo MRT, a partir das entidades em que faz parte junto a centenas de estudantes independentes, está lutando pra construir uma nova juventude revolucionária a serviço desta perspectiva, buscando o caminho da luta de classes e não do sindi-

POR UMA RESPOSTA INDEPENDENTE DOS TRABALHADORES PARA A CRISE POLÍTICA

Os trabalhadores e a juventude não podem aceitar a divisão de tarefas que os sindicatos e entidades estudantis burocráticas querem impor: que lutemos apenas por salários e direitos, e não busquemos uma resposta de fundo aos grandes problemas políticos do país. É preciso rechaçar qualquer saída pela direita, como o impeachment de Dilma que reacionários como Eduardo Cunha e os políticos do PSDB querem fazer, ao mesmo tempo em que é necessário enfrentar o governo Dilma e seus ajustes, com um programa que questione esta democracia dos ricos e seus privilégios.

Que a população possa decidir a permanência ou não dos políticos eleitos através da revogabilidade dos mandatos e que todos os políticos, funcionários de alto escalão e juízes ganhem o mesmo salário de uma professora. Para avançar nestas demandas, seria necessário lutar por uma nova constituição,

diferente da constituição de 1988 que foi tutelada pelos militares da ditadura, mas sim uma que seja imposta pela força da mobilização e que avance pra encarar os grandes problemas brasileiros, desde a necessária estatização da Petrobrás e da Vale do Rio Doce sob controle dos operários, passando pela legalização do direito ao aborto até impor por exemplo o não pagamento da dívida pública para que este dinheiro seja utilizado em planos de obras públicas e em um sistema único de saúde estatal. Convidamos os leitores do Esquerda Diário, os jovens que estão atuando com a Juventude Às Ruas, as companheiras mulheres que reivindicam o Pão e Rosas e todos os trabalhadores que atuam em agrupações com o Movimento Nossa Classe e o MRT a debater estas opiniões em seus locais de trabalho e estudo, a se organizar e lutar com estas ideias.

CONHEÇA AS INVESTIGAÇÕES DO ESQUERDA DIÁRIO SOBRE A LAVA JATO

A grande mídia, porta voz da direita no país, divulga as informações buscando favorecer seus representantes. Os sites ligados ao petismo divulgam e investigam somente o que atinge o PSDB. Nossa investigação é independente. Revelamos que ela não só procura atingir o PT, a Petrobras, liberar o pré-sal ao imperialismo ou também visa acertar as empreiteiras nacionais e abrir este mercado ao imperialismo, que tem enormes interesses na Lava Jato.

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MUNDO OPERÁRIO

CERCAR DE SOLIDARIEDADE A OCUPAÇÃO DA MABE E COORDENAR AS LUTAS METALÚRGICAS EM CURSO Evandro Nogueira A ocupação da Mabe tem um grande significado no atual cenário nacional, a primeira ocupação de fábrica nesse conturbado segundo mandato de Dilma/PT, uma resposta mais dura dos trabalhadores frente ao grave cenário da indústria no país, com muitos ataques, mas com uma enorme disposição de resistência operária.

Essa ocupação se dá num contexto em que várias metalúrgicas estão em greve contra atrasos de salários e demissões, cenário comum de e patrões, o exemplo da Mabe se ergue como um anteceder um pedido de falência e calote contra os chamado à todas as fábricas com salários atrasados, trabalhadores. que venham a demitir e declarar falência. Ainda É o que acaba de ocorrer na Arteb, uma das dez está em tempo da CSP-Conlutas rever sua linha de maiores autopeças do ABC, que anunciou 300 atuação no caso das 517 demissões na GM e colocar demissões e pedido de recuperação judicial. Ainda em prática medidas concretas de solidariedade e no ABC, segue greve na Karman Ghia, contra atrasos coordenação das lutas em curso. de salário desde dezembro e na capital, greve na A CSP Conlutas deve assumir essa tarefa com Alumínio Brilhante; na Imbe e também na autopeças centralidade e tirar um plano concreto de medidas Italspeed. que fortaleçam as ocupações da Mabe, neste Todas essas greves tem em comum uma barreira momento, e outras importantes como essa que para se desenvolverem, que é o fato de serem seguirão surgindo. controladas por burocratas sindicais da CUT, CTB ou Se começamos com um exemplo de coordenação a da Força Sindical, que independente da sua relação partir da MABE e o Sindicato dos Metalúrgicos de São de apoio ou oposição ao governo Dilma, sempre José, temos mais força para impor para a burocracia favorecem as patronais, traindo as greves por sindical medidas que coordenem o conjunto da luta migalhas ou diretamente aceitando ataques como se metalúrgica em todo o país, um dos setores mais fossem concessões, como no caso do PPE, lay off ou atacados nessa crise. PDV. O MRT seguirá colocando todas as suas energias e Contra os ataques que o governo e a patronal tem instrumentos como o Esquerda Diário a serviço de desferido aos trabalhadores, buscando fazer com concretizar essa perspectiva. que esses paguem pela crise criada pelos bancos

Avançar na luta da Mecano se espelhando na luta da Mabe A Mecano Fabril lucrou milhões nos últimos anos e hoje assume um discurso de crise profunda. A empresa diz que não tem dinheiro para pagar os salários atrasados e comprar matéria-prima. Se for levar em conta este discurso do patrão a empresa tá falindo. Mas com uma simples pesquisa na internet podemos encontrar informações sobre as fazendas Mecano Fabril no Paraná. Além de industrial o patrão também é um fazendeiro e dos grandes. Uma delas se chama fazenda Canada, produz milho, trigo e soja para exportação e tem parceria com a Cargill Agrícola que cresceu 20% em 2015, com lucro de 512 milhões de dólares. Será que ele tem dinheiro? A empresa tá falindo ou isso é um projeto muito bem pensado? Não sabemos até o fim, por isso não basta a patronal falar, ela tem que provar! É preciso exigir a abertura dos livros de contabilidade e ter certeza exatamente o que a fábrica ganhou, deixou de ganhar e para onde o dinheiro está indo. São mais de dois anos sem depositar o FGTS, três meses de salários atrasados, 17 dias de greve e a empresa simplesmente diz que não tem dinheiro. Achamos que é necessário avançar ainda mais na luta para garantir o pagamento imediato dos salários. Esta greve pode ficar ainda mais forte se os trabalhadores e o sindicato votarem nesta assembléia medidas como um ato no centro de Osasco, fechamento de avenida e rodovia, assembléia no chão de fábrica, etc. E se o patrão decretar falência e fechar a fábrica? Façamos como os trabalhadores da Mabe do Brasil Eletrodomésticos que ocuparam as fábricas da empresa em Campinas e Hortolândia. Se fechar, devemos lutar pela estatização da fábrica sob controle operário.


MUNDO OPERÁRIO

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OS OPERÁRIOS DA MABE MOSTRAM O CAMINHO Danilo Magrão e João de Regina,

professores da rede estadual de Campinas Foi na última segunda-feira, dia 15 de fevereiro, que os trabalhadores da MABE de Campinas e Hortolândia roubaram a cena. Diante de um verdadeiro golpe articulado pela multinacional mexicana, que declarou falência após três meses sem pagar os salários dos trabalhadores, decidiram ocupar as duas fábricas para lutar pelos seus direitos e empregos. Um grande exemplo que vêm chamando muita atenção daqueles que não estão mais dispostos a aceitar os ataques dos empresários e governos. Em dezembro, a empresa já havia declarado férias coletivas e com os salários suspensos esses trabalhadores decidiram acampar em frente às fábricas para que o maquinário não fosse retirado. Também em dezembro a empresa, que conta com quase 2000 trabalhadores nas duas fábricas, já tinha demitido mais de 300 trabalhadores de uma forma arbitraria e ilegal, entre eles a grande maioria de lesionados com estabilidade, anunciando o que só era o inicio de seus ataques. Os operários sabem que todas as justificativas econômicas para empresa declarar a falência, em realidade tem um objetivo central, atacar os trabalhadores. Mais uma vez os juízes e as leis que favorecem primeiro os capitalistas, autorizaram o roubo de 18 milhões de reais em salários, sem qualquer responsabilização e punição dos antigos donos. Após anos e anos de exorbitantes lucros e com a MABE aumentando seus lucros mundo afora, a vida desses trabalhadores e familiares, muitos deles nos quais dedicaram 20 anos ou mais na mesma empresa, não possui qualquer relevância para os esses patrões, seus aliados na justiça e seus governos. As negociatas e fraudes são tão escandalosas que após a falência, mesmo os antigos donos podem ser acionistas da nova administradora, ou seja, estão autorizados pela

justiça a dar calote nos trabalhadores para seguir lucrando muito, um verdadeiro assalto à luz do dia. Também as marcas “Dako” e “Continental”, com nomes consolidados no mercado de eletrodomésticos, poderiam continuar existindo como “carro-chefe” dos novos produtos. Contudo o sentimento de revolta não se restringiu somente aos trabalhadores das fábricas. Nas universidades, escolas e bairros da região, um grande espirito de solidariedade imediatamente se fez sentir. Já na assembleia de ocupação, uma grande faixa com os dizeres “Nenhuma família na rua! Ontem ocupamos as escolas, hoje apoiamos os operários da MABE!” foi levado por dezenas de estudantes da Juventude às Ruas. Junto à vários professores do Movimento Revolucionário de Trabalhadores, imediatamente iniciou-se uma campanha de arrecadação de alimentos que contou com a adesão de centenas de pessoas que prontamente se colocaram a disposição da luta desses trabalhadores. Mas não foi só em Campinas e região que essa solidariedade e apoio se fez sentir. Com ampla divulgação no Esquerda Diário dezenas de fotos de trabalhadores e jovens do país começaram a ser enviadas para apoiar e fortalecer o os trabalhadores da MABE. Isso ocorre porque a ocupação da MABE aponta um caminho para os trabalhadores do Brasil, que também estão sendo muito atacados com demissões, perda de direitos e cortes nos serviços públicos. Esses trabalhadores sabem que o projeto de Dilma e o PT, não é diferente de Alckmin e do PSDB em SP, continuar atacando mais e mais os trabalhadores, para que sejamos nós que paguemos a conta da crise que eles criaram. Não à toa foram os mesmo que reduziram o IPI sobre os produtos da chamada “linha branca”, que eram os produzidos pela MABE, para engordar os lucros dos empresários, e agora nada fazem diante

das demissões de milhares de trabalhadores. E ainda contam com a ajuda das centrais sindicais patronais e governistas, como a Força Sindical e a CUT, que para proteger os empresários, entregam até a redução dos salários dos trabalhadores, como é através do PPE. Contra os milionários, governos, empresários e seus amigos na “justiça”, essa união entre os trabalhadores é a única forma na qual poderemos obter nossas conquistas. Os poderosos sempre estiveram todos juntos para nos explorar até nossa última gota de suor. São exemplos de solidariedade como esses que devemos aumentar para cercar de apoio a luta dos operários da MABE. Não há duvida que com a vitória dos trabalhadores da MABE, todos os outros trabalhadores estariam mais fortes também para se defender dos ataques que sofrem. Por isso, é fundamental que os sindicatos de luta, combativos, estejam lado a lado dos trabalhadores da MABE. O SINTUSP (Sindicato dos Trabalhadores da USP) começou uma arrecadação de alimentos em SP e tem demonstrado seu importante apoio. Mas é necessário muito mais: uma campanha nacional de solidariedade, com centenas de sindicatos país afora, articulados junto com o Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, poderia fortalecer e fazer ecoar nacionalmente a voz dos trabalhadores, ajudando essa dura luta a trilhar o caminho da vitória. Todos juntos podemos mostrar aos trabalhadores do país o exemplo que os empresários e governos mais temiam: que os operários da MABE mostrem o caminho. Em meio a estas lutas com o plano de ajustes e demissões avançando os trabalhadores vão precisar avançar pra buscar respostas mais profundas ao problema dos fechamentos de fábrica como por exemplo lutar pela estatização sob controle operário de todas as fábricas que demitirem ou fecharem. Viva a luta da MABE!

CONFIRA TAMBÉM NO SITE: - ENTREVISTA COM DIRETOR PATO ROCO DO SINDMETAL CAMPINAS ANÁLISE PROCESSO FALÊNCIA

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SOLIDARIEDADE


MUNDO OPERÁRIO RAUL GODOY, OPERÁRIO DE FÁBRICA OCUPADA NA ARGENTINA SE SOLIDARIZA COM A LUTA DA MABE 6

Sou Raul Godoy, operário de Zanon há 23 anos. Sou militante do PTS e fui eleito deputado pelo PTS na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, no Estado de Neuquen.

Sou operário de uma fábrica que em 2001 a patronal tentou fechar e deixar mais 300 famílias na rua. Nós resistimos, dissemos que os trabalhadores e nossas famílias não temos que pagar as crises geradas pelos capitalistas. Ocupamos a fábrica, colocamos para produzir sob nosso controle e pedimos muito o apoio da comunidade, mostramos à toda população que defender Zanon e a manutenção dos postos de trabalho era uma defesa de todo o povo trabalhador. Com isso, tivemos muita solidariedade de estudantes, organizações políticas e organismos de direitos humanos. Também fomos bater nas portas das casas, convidar e difundir nossa luta às organizações solidárias. E assim se foi tecendo, se formando uma solidariedade muito importante com nossa luta e Zanon se tornou uma causa popular. Esta força fez com que Zanon funcionasse por 10 anos sobre controle operário e assim conquistamos a expropriação da fábrica. Por isso quero enviar todo meu apoio à luta dos trabalhadores da MABE e todo nosso apoio desde Neuquen aos trabalhadores que ocupam a fábrica. Que tenham muita força nesta luta e a comunidade tem de entender que a luta de vocês é a luta do povo trabalhador para que a crise não seja paga pelos trabalhadores, que seja paga pelos que a geram todos

os dias, os capitalistas e seus governos. Por isso vocês tem de seguir resistindo, gerar muitos laços de solidariedade e vão ser os trabalhadores, os estudantes e o povo que defenderão a luta na MABE pelos postos de trabalho. Essa luta que tem que ser uma bandeira muito importante para todos os trabalhadores. Uma saudação militante e internacionalista porque os capitalistas e seu dinheiro não possuem fronteiras, eles fecham as fábricas e vão para outros países e os trabalhadores também não temos que ter fronteiras. Temos que exercer a solidariedade internacional que é a que nos faz fortes. Então desde a Argentina, um abraço muito forte aos companheiros e companheiras e suas famílias, que neste caso também podem cumprir um papel muito importante. Quando estava muito dura nossa luta em Zanon, faz já muitos anos, se formou uma comissão de mulheres, com esposas, irmãs e trabalhadoras que organizaram também a solidariedade. Foi muito importante também esta comissão de mulheres que assumiram este conflito em suas mãos, porque são as mulheres que sofrem duas vezes mais opressão; no trabalho, mas depois também em casa e com a família, que mais sofrem as consequências destas demissões. Por isso é importante que se somem à luta, porque quando uma mulher se soma à luta, então a

O QUE A PASSIVIDADE FRENTE ÀS 517 DEMISSÕES NA GM FALA SOBRE O PSTU?

Segundo o site G1, o número de demissões no Vale do Paraíba em 2015 foi mais de 26 mil, sendo quase 14 mil só no setor industrial. Em 2016 já foram quatro demissões em massa em fábricas na região, contando 200 demitidos com o fechamento da Maxen, em Atibaia e outros 200 para o mesmo cenário da Comil, em Lorena; 160 demitidos da Wow!, em Caçapava e os 517 demitidos da GM, em São José dos Campos (SJC). Até o momento a única coisa prática que o PSTU fez contra essas demissões foi dar eixo para essa denúncia no bloco de carnaval “acorda peão”. Não organizaram se quer uma assembleia geral dos trabalhadores da fábrica, somente uma assembleia dos demitidos, e, portanto, sem o poder de deliberar ou iniciar a organização de uma luta efetiva. Essa postura foi coerente com sua passividade ao longo dos 5 meses do lay-off, postura criticada duramente pelos trabalhadores demitidos na assembleia de 4/2 – que por sua vez é coerente com o fato de que 2800 trabalhadores foram demitidos nessa fábrica desde 2012, lembrando que o PSTU dirige o sindicato há décadas. A contradição entre a revolta que os trabalhadores demitidos expressavam na assembleia e a condução que o PSTU fazia da mesma, repetindo seus argumentos de que os trabalhadores não queriam lutar, é expressão de um profundo ceticismo em relação à classe operária e coloca esse partido em contradição com o que existe de melhor no movimento operário industrial atualmente, que é justamente uma crescente disposição de luta em defesa dos postos de trabalho.

Essa disposição de resistência nas fábricas, que acaba de se fortalecer com as ocupações nas plantas da Mabe em Campinas e Hortolândia, se desenvolve em geral pressionando as burocracias sindicais a travarem lutas mais duras do que costumam e em maior quantidade, mas ainda não se desenvolveu ao ponto de romper com essas burocracias, que no caso da GM também vem isolando a luta de São José. Essa postura passiva do PSTU frente às 517 demissões na GM não é um caso isolado, o mesmo pode ser visto frente à tragédia em Mariana, onde a CSP-Con

lutas tem importante peso de direção nos sindicatos da mineração da região, mas teve poucas iniciativas. Nos sindicatos dirigidos por esse partido dificilmente encontramos exemplos de grandes batalhas travadas. Com isso, o PSTU se mostra sem a menor capacidade de dar vazão ou de coordenar e fortalecer os elementos de espontaneidade que possam surgir nas fábricas da sua base sindical, pelo contrário. Isso seria fundamental para uma verdadeira renovação do ativismo operário, que por sua vez fortaleceria a CSP-Conlutas para de fato essa ser um polo e ponto de apoio para todas as demais lutas em curso, contribuindo para o rompimento com as burocracias sindicais.

Como MRT, em todos os fóruns da CSP-Conlutas insistimos há meses para efetivar uma campanha e agora estamos levando adiante apesar de que o PSTU não se move em nada como partido. O PSTU vai entregar as demissões sem batalha?


MUNDO OPERÁRIO

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GOVERNO, PATRONAL E BUROCRACIA SINDICAL CONTRA AS TRABALHADORAS DA HIGILIMP Marcelo Pablito Diretor do SINTUSP

Guarnieri

da CIPA da Linha 1 Azul do Metrô

Nesse carnaval, as trabalhadoras da Higilimp protagonizaram uma luta dura pelos seus salários e empregos, enfrentando patronal, governo, e a burocracia do próprio sindicato (SIEMACO). A empresa de limpeza, com contratos com instituições do Estado e Município (como USP e Metro, entre outras), sumiu e deixou mais de 3 mil trabalhadoras sem pagamento, com atrasos de até 3 meses. Siemaco: junto a Alckmin, Capez - o “ladrão das merendas” - e Higilimp

O SIEMACO é filiado à UGT, Central Sindical que na greve dos garis no Rio de Janeiro em 2014 ameaçava os trabalhadores em luta, e negociava a portas fechadas com a patronal para encerrar a greve, já agrediu trabalhadoras em greve da sua base na USP, e apoiou o PSDB nas eleições. Na Higilimp nunca foi diferente.

Quando viram que não seria mais possível enrolar as trabalhadoras, que já estavam de braços cruzados, tiveram que obedecer. O conflito tomou grandes proporções, durante 3 dias o editorial do SPTV repercutiu a sujeira no Metrô, as declarações absurdas do Presidente da companhia e de Alckmin, dizendo que “não sabiam o porquê disso estar acontecendo”, e até imagens da luta das trabalhadoras, com o âncora do jornal defendendo que “elas deveriam ser pagas”. O Metrô que, sabendo da provável falência, renovou o contrato com a empresa, teve que rescindi-lo e garantir que a nova empresa assumisse a contratação das funcionárias. Entretanto, os atrasados da imensa maioria ainda não foram pagos, e o Siemaco usou a recontratação como pretexto para encerrar a mobilização, dizendo que a única alternativa seria entrar com ações na justiça e que as trabalhadoras que continuassem em luta não seriam recontratadas. Tudo isso acordado também com os representantes do Governo e com o presidente da ALESP Fernando Capez. SINTUSP: Um novo tipo de sindicalismo que faz a diferença na luta de classes!

O único lugar em que a linha do SIEMACO não se efetivou foi justamente na USP, e não foi a toa. Lá a luta das trabalhadoras se cruzou com o sindicalismo combativo e classista do Sindicato dos Trabalhadores da USP (do qual o MRT se orgulha de ser parte), que historicamente impulsiona a luta das terceirizadas e defende sua efetivação sem necessidade de prestar concurso público, e com uma ala pró-operária do movimento estudantil, de Centros Acadêmicos como da Letras e da Pedagogia. O SINTUSP incentivou que as trabalhadoras formassem sua própria comissão de negociação, e apoiou um piquete na Reitoria. Quando a burocracia do SIEMACO quis tirar o SINTUSP da mesa

de negociação, as trabalhadoras recusaram. E com a luta arrancaram o pagamento dos salários da reitoria e a recomendação de contratação pela nova empresa.

Mesmo onde a esquerda que se reivindica classista atua, como no Sindicato dos Metroviários, a pressão ao sindicalismo oficial é muito grande. Mesmo tendo atuado na mobilização, não foi capaz de ser alternativa à burocracia sindical do SIEMACO e impôr que o Metrô arcasse com o pagamento dos atrasados.

O Sindicato dos Metroviários que estava na mobilização desde o seu início sofre agora um brutal ataque da empresa que hoje soltou uma carta aos funcionários repudiando sua atitude, mostrando o medo dos metroviários se unificarem com os trabalhadores terceirizados. Isso reforça que inclusive onde a esquerda que se reivindica classista atua, a pressão do sindicalismo oficial é muito forte. O sindicato dos metroviários, mesmo com todo seu apoio à mobilização, não foi capaz de ser alternativa à burocracia sindical do SIEMACO e impor que o Metrô arcasse com o pagamento dos atrasados. E a razão disso, é que não se trata somente de uma intervenção pontual num conflito, mas sim de criar uma tradição de defesa dos trabalhadores terceirizados e responder ao problema da unificação das fileiras operárias, com o programa da efetivação sem concurso público, que nem mesmo a CSP-Conlutas, dirigida majoritariamente pelo PSTU, defende.

AS TRABALHADORAS DA HIGILIMP DESMENTEM O MITO DA PASSIVIDADE DA MULHER NEGRA Letícia Parks

do Centro Acadêmico de Letras da USP Mais uma vez a reitoria da USP se vê confrontada por uma greve de terceirizadas que coloca em cheque seu projeto de Universidade no que diz respeito ao lugar dado à mulher negra. O metrô de São Paulo também ficou imundo por uns dias, mostrando o papel essencial que cumprem essas mulheres. As trabalhadoras da Higilimp, apesar de contratadas em um regime de trabalho análogo à escravidão, se recusaram a abaixar a cabeça ao não pagamento de

salários, mostrando pela força que não são as mulheres passivas e construídas pela ideologia racista/ escravagista da burguesia brasileira pela via de figuras como Tia Nastácia.Essa visão, herdeira da escravidão, está ligada não à realidade da mulher negra, mas à necessidade de criar uma imagem passiva que influenciasse nossa consciência.

Por trás do mito está o mais verdadeiro medo que a elite nacional tem de nossa revolta, muito mais real do que a mítica passividade. Roubadas de nossos direitos mais básicos e submetidas a cerca de ¼ do salário de um homem branco, as mulheres negras historicamente ocuparam lugares de destaque em todos os movimentos de libertação dos negros, inclusive contra os avós e bisavós da atual burguesia nacional. Dandara, Angela Davis, Rosa Parks, Harriet Tubaman igualmente.

São parte da tradição de luta das milhões de mulheres negras anônimas que lutaram contra a escravidão, que organizaram fugas, greves, atos, mobilizações, motins. No país com o maior contingente de empregadas domésticas do mundo, com a terceirização levada adiante pelos governos PSDB e PT, não se pode esperar nada menos do que o reavivamento mais radical dessa tradição, que já apareceu molecularmente nesta ou cada greve de terceirizadas que as atuais gerações testemunharam, no Brasil e África do Sul. Da organização dessas mulheres se levantarão novos cumes para a luta dos trabalhadores; uma luta que coloca a frente a efetivação dos terceirizados, a equiparação salarial entre negros e brancos como meios materiais de enfrentar-se contra o racismo intrínseco ao capitalismo.


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SOCIEDADE

CRISE NA SAUDE

MICROCEFALIA, DENGUE E O COLAPSO DA SAÚDE PÚBLICA: POR QUE O GOVERNO É IMPOTENTE? ataques contra o emprego, arrancando direitos conquistados [como o de acidente do trabalho etc] e segue privando as comunidades pobres de água [a crise hídrica não cessou], coleta de lixo, esgoto e agentes sanitários. As melhores terras rurais e urbanas estão em mãos de ricos; é a especulação imobiliária capitalista quem lança a classe pobre para regiões de risco, seja de avalanches nas chuvas, pragas ou doenças. Há um debate em torno de grandes negociatas que empresas capitalistas de produtos químicos fizeram com o Ministério da Saúde para lançar venenos nas águas de comunidades pobres a pretexto de combater o mosquito e que estariam causando microcefalia; noticia-se outros venenos e mesmo vacinas experimentais que o governo desastradamente jogou naquela região pobre onde a microcefalia explodiu e segue crescendo. É importante abrir o debate de forma independente do governo sobre esses temas, a partir da esquerda, entendendo que Monsanto e a indústria capitalista – com cobertura da ONU/OMS - são capazes de tudo em função do lucro. Basta ver que deixaram o mosquito voltar para depois gastarem nas vacinas de multinacionais os recursos que não gastaram para barrar o mosquito e vencer a microcefalia.

Gilson Dantas

Médico, doutor em sociologia e militante setentista A família trabalhadora e o povo pobre estão sendo vítimas de doenças que não precisavam existir. Milhares de casos de microcefalia, centenas de milhares de casos de dengue, com recorde de mortes, e mais a chikungunha, os três trazidos pelo mesmo mosquito, representam o abandono – pelos sucessivos governos - da saúde pública, que se alastra principalmente nas comunidades pobres. Eles governam para os ricos, os pobres sofrem as consequências. O governo alega que “está perdendo a batalha contra o mosquito”, mas a guerra sequer foi travada. Se a casta de políticos que governa para os capitalistas estivesse preocupada, ao primeiro sinal da doença e da praga do mosquito, o governo teria feito prevenção maciça, distribuindo repelentes naturais e telas/mosquiteiros para toda comunidade pobre, teria produzido em grande escala testes sorológicos/diagnóstico, teria deflagrado um plano nacional para garantir saneamento básico em cada região onde doenças como aquelas aparecem. Metade do Brasil não conta com esgoto e saneamento e nem condições de moradia dignas. O

SUS vem sendo destruído, sucateado, agentes sanitários precarizados, demitidos e com salários achatados. E diante do mosquito, diante da epidemia de microcefalia, o governo perde em todas as frentes. Se o governo estivesse preocupado com a mãe que tem sua gestação comprometida pela microcefalia, por que fica enrolando no debate sobre o direito ao aborto? Por que gasta milhões de dólares nas Olimpíadas, enquanto não existe um único centro de atenção à criança com microcefalia e sua família, que seja de qualidade, público e gratuito? Microcefalia é um quadro gravíssimo, que inclui mutilação neurológica permanente para a criança e sobrecarga igualmente permanente para familiares que já vivem carências terríveis. É o futuro roubado de toda uma geração; esta doença não é como a pressão alta, ou a artrite, que podem ser corrigidas. São danos para sempre, eis a barbárie capitalista. Foram esses distintos governos que abriram a porta para o mosquito, através da exclusão de grandes massas de moradia, de saneamento básico e de qualquer planejamento urbano, sem falarmos nas carências nutricionais crônicas [pela falta regular de ovos, carnes, o que arrasa a imunidade da família trabalhadora] e poluição.Como se não bastasse, os governos não cessam seus

Em suma: o governo não quer e nem pode resolver o problema, está de rabo preso com banqueiros, dívida pública e grandes negociatas. Senão por que não libera a licença para a gestante que queira se cuidar contra o mosquito, ou se proteger contra a microcefalia? E os bairros onde se mora no meio da água parada, do mosquito, do racionamento de água [que obriga a ter caixa de água ou algum armazenamento de água no quintal] por que não libera prédios e conjuntos habitacionais vazios? Por que não contrata na juventude frentes de trabalho para saneamento imediato dos bairros pobres? E o direito elementar da mulher para poder abortar, escolher se quer ou não ter um filho com microcefalia? E a mulher que escolha ter o filho [com microcefalia], onde estão os centros equipados com profissionais para todo tipo de atenção à criança com microcefalia? E por que o governo não produziu repelente natural em grande escala e não distribuiu em massa telas/ mosquiteiros, desde que a dengue voltou a crescer e o mosquito a se espalhar? Falta de recursos? Mentira: não faltou dinheiro para a Copa, e o governo continua gastando milhões na invasão do Haiti. E o SUS, conquista das lutas sociais, virou lugar de filas sem fim, sem leitos, sem UTIs, e a saúde foi sendo privatizada. Jamais venceremos essas pragas sem uma reestatização do SUS sob controle dos trabalhadores. E sem uma ofensiva a partir da esquerda, sindicatos combativos e centros estudantis levantando aquelas bandeiras de luta.


NACIONAL

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O PETRÓLEO BRASILEIRO SOB MIRA IMPERIALISTA Em uma completa reviravolta do discurso de anos atrás quando Lula e Dilma vestiam o macacão laranja e diziam que o Brasil precisava trilhar um caminho “soberano”, o que vemos agora é uma ofensiva de entrega dos recursos nacionais e ataque à gigante Petrobras. A operação Lava Jato e antes dela diversos escândalos envolvendo as forças da inteligência americana todas apontavam a um interesse imperialista em nosso petróleo. A província do pré-sal é uma das maiores do mundo. No mesmo dia que diversos jornais publicavam um acordo de Dilma com Renan e Serra para aprovar o PLS 131 que entrega parte do pré-sal ao imperialismo, a Shell estampou grandes matérias na Folha de São Paulo e no Globo declarando como está pronta para fazer grandes “investimentos” no Brasil. O imperialismo está à espreita.

Leandro Lanfredi, petroleiro e do Conselho Editorial do Esquerda Diário

Privatizar rápido e tudo ou muito, porém aos poucos (ou o debate PSDB x PT)

Os tucanos sempre quiseram acabar com a Petrobrás. Não conseguiram plenamente seu objetivo, mas quebraram o monopólio da empresa e seu capital foi aberto. Hoje o governo ainda tem a maioria das ações, mas boa parte dos lucros vai para os acionistas privados. Não só isto, muitos dos campos de petróleo são parcerias da Petrobras com outras empresas. O mega-campo de Libra é só 40% Petrobras. Ter 60% de participação não basta as empresas estrangeiras por isto buscam maneiras de aumentar sua participação. Serra, que aparecia no escândalo Wikileaks como um defensor dos interesses americanos no petróleo, fez um projeto de lei, o PLS 131, para retirar a obrigatoriedade da Petrobras operar os campos do pré-sal e retirar a obrigatoriedade que ela tenha no mínimo 30%, escancarando o caminho para as estrangeiras. Enquanto tucanos preveem a entrega rápida e completa dos recursos, os

BASTA DE AJUSTES CONTRA O POVO!

petistas preveem sucatear a Petrobras. Repetir na gigante estatal o que fizeram na Infraero, mantendo a empresa existindo mas lhe arrancando preciosos ativos. Na Petrobras, o governo Dilma prevê um “desinvestimento” de mais de 14 bilhões de dólares este ano, e cerca de 50 bilhões em três anos. Este total é um terço de toda a empresa. As governistas CUT e seu braço petroleiro, a Federação Única dos Petroleiros, se declaram em seus sites contra o PLS131 de Serra e o PLS555 mas não movem uma pena na base contra estes projetos. Também dizem se opor aos desinvestimentos. Mas nada fazem. Mesmo a opositora Frente Nacional dos Petroleiros (FNP) não tem organizado ações contra estes profundos ataques em gestação. É preciso urgentemente de um plano de luta, discutido em assembleias, coordenando unidades e diferentes locais do país, contra todas as ameaças ao petróleo nacional e a Petrobras. Em meio à luta defensiva contra a privatização é importante os petroleiros e trabalhadores de todo país avançarem em outros questionamentos também: a única forma de impedir esta sangria de recursos seja por mãos petistas ou tucanas, os acidentes que tiram vidas e expõe imensos riscos ambientais, é necessário lutar por uma Petrobrás 100% estatal controlada pelos trabalhadores.

AJUSTE CONTRA OS BANQUEIROS: PELO NÃO PAGAMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA! Professora de Contagem, MG

Os trabalhadores e a juventude estão sofrendo cada vez mais com a crise. Há um consenso entre os capitalistas e os governos: descarregar ainda mais a crise em nossas costas. Falam que não há dinheiro para nada, mas mantém os privilégios dos políticos e escondem a “mina de ouro” que consome quase metade do orçamento público: a dívida pública, uma verdadeira “bolsa banqueiro”. Pelo sistema da dívida pública, quase a metade do orçamento federal (47%, exorbitantes 1,3 trilhão de reais) vão parar nos bolsos dos detentores da dívida, banqueiros e acionistas da Bolsa. Claramente, a dualidade dos ajustes pactuados pelo PT, PSDB e PMDB é: desemprego, demissões, corte nas aposentadorias e inflação de um lado; enormes lucros e rendimentos do outro. Os banqueiros, que estão tendo lucros recorde, e todos os que se beneficiam da dívida ainda tem a prioridade sobre quaisquer rendas extras do governo: do pagamento de dívidas de Estados e Municípios, dos lucros das empresas estatais (Petrobras, Eletrobrás) e

toda a receita de privatizações. Para que essa situação não seja alterada, desde a ditadura militar, os bancos e as grandes empresas que possuem títulos da dívida vem financiando as campanhas e os deputados. Um exemplo é o Bradesco que sempre está no topo da lista dos maiores doadores para campanhas. Não basta apenas uma auditoria da dívida, que pode ser um instrumento de conciliação com os regimes políticos burgueses. É fundamental, para que a classe trabalhadora e a juventude possam por de pé um movimento nacional contra os ajustes e para fazer os capitalistas pagarem pela crise, partir do não pagamento da dívida pública, boicotando esta fraude e rompendo com os negócios do capital estrangeiro no país, para garantir um plano de obras públicas emergencial para atender as demandas mais urgentes, por exemplo, do povo da região de Mariana, nas regiões que mais sofrem com a seca e as enchentes e para impedir a proliferação do Zika Virus.


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SEMINÁRIO DEBATE AS DEMOCRACIAS CAPITALISTAS A PARTIR DO PENSAMENTO DE TROTSKI E GRAMSCI rico da classe operária, para o terreno dos países capitalistas com tradições “democráticas” mais arraigadas?

Iuri Tonelo Nos dias 12, 13 e 14 de fevereiro o Movimento Revolucionário de Trabalhadores realizou um seminário de formação reunindo cerca de 60 dirigentes e quadros de diversas categorias de trabalhadores e também de juventude de 5 estados. O seminário foi baseado na última elaboração teórica da Fração Trotskista (organização internacional da qual o MRT faz parte) publicada na Revista Estratégia Internacional (que sairá em breve em portugês), com o título “Gramsci, Trotski e a democracia capitalista”, elaborada por Emilio Albamonte e Matias Maiello, o qual esteve presente para coordenar o seminário no Brasil. O estudo se insere no marco geral da apropriação revolucionária que a Fração Trotskista vem fazendo sobre o pensamento de Carl von Clausewitz, clássico do pensamento militar moderno, como Trotsky e Lenin também fizeram. O intuito é reler os clássicos do marxismo à luz da articulação entre programa, estratégia e tática, como parte fundamental da tarefa de criar partidos revolucionários na atualidade. A revolução no “ocidente”

O conceito de “ocidente” é utilizado por distintas correntes do marxismo, sobretudo pelo pensamento gramsciano, mas também foi debatido já antes de Gramsci nas teses da III Internacional do começo dos anos 1920. Os países de tipo “ocidental” têm, entre outros elementos, a formação mais desenvolvida de instituições e organismos sócio-políticos que permitem o desenvolvimento da chamada democracia burguesa e dificultam a ação política dos trabalhadores contra a dominação de classe da burguesia. Nesse sentido, partindo de compreender diferenças entre a Rússia de 1917 e países de capitalismo avançado da década de 1920, buscou-se perguntar: como levar a experiência da Revolução Russa, o principal triunfo histó-

Esse debate, extremamente atual para o Brasil e para a maioria dos países no mundo hoje, foi o tema central de discussão, na qual buscamos utilizar o pensamento de Antonio Gramsci e Leon Trotski para decifrar quais são as bases materiais da manutenção da hegemonia burguesa, ou seja, quais mecanismos e bases materiais se utiliza o regime político burguês para manter a sua dominação de classe, e quais as formas de combater essas ilusões. As bases materiais da hegemonia burguesa

Leon Trotski em “Aonde vai a Inglaterra?”, de 1925, sintetizava o problema da hegemonia burguesa e o caráter mais ou menos “ocidental” dos países dizendo que “quanto mais rico e cultivado um país, mais antigas suas tradições parlamentares e democráticas, mas difícil é o partido comunista tomar o poder”, ou seja, quanto mais consolidada a “democracia” burguesa, mais fácil a classe dominante criar mecanismos de se manter no poder baseando-se nas ilusões que as massas tem nessa democracia, que nada mais é na realidade, como dizia Marx, uma ditadura do capital disfarçada.

Uma das confusões que se faz ao analisar esse tema é acreditar que a questão da hegemonia era apenas uma questão de ideologia das massas; no entanto, no seminário foi debatido que é necessário enxergar que essa hegemonia não se dá “no ar”, mas está baseada em forças materiais. Nesse sentido, entender como a formação de burocracias sindicais (setores privilegiados dos trabalhadores que atuam contra a massa) é fundamental em conter qualquer anseio político dos trabalhadores e manter a divisão ideologicamente histórica da dominação burguesa de separar o econômico e o político, ou seja, manter os trabalhadores em torno de lutas econômicas, mas os impedindo de tornarem-se sujeitos políticos, reservando esse espaço exclusivamente às instituições burguesas. Daí decorre o papel das burocracias como agentes materiais da hegemonia

burguesa e das ilusões “democráticas e parlamentares”.O mesmo se poderia dizer dos partidos democráticos da burguesia ou de setores da pequena-burguesia, que servem muitas vezes como base fundamental para desviar qualquer projeto político independente dos trabalhadores e mantê-los sob a égide das ilusões democráticas. Assim, as ilusões democráticas são forças morais a favor da burguesia, bem como as burocracias políticas e sindicais são forças materiais agindo contra os interesses do proletariado. Como minar as bases dessas ilusões na democracia dos ricos?

Debateu-se como, partindo de uma estratégia revolucionária, é decisivo levantar consignas democrático-radicais como parte de um programa transicional na luta, ainda dentro da democracia burguesa, com o objetivo de um governo de trabalhadores (ditadura do proletariado). A importância disso é a partir do anseio democrático das massas, para convoca-la a defender os elementos da democracia burguesa, quando forem postos sob ameaça, mas com os métodos dos trabalhadores e sua luta de classes, o que deve ter como objetivo constituir frentes-únicas operárias, que permitam criar as vias para a construção de sovietes, ou organismos equivalentes de auto-organização das massas. Essa é dinâmica da passagem de uma fase de acumulação de forças para ir disseminando “golpes habilidosos” (termo de Clausewitz) no regime democrático-burguês, enquanto acumulam forças com o intuito de passar a ofensiva, ou seja, ganhar a maioria do

proletariado e construir as condições para a insurreição dos trabalhadores.

Partindo da perspectiva estratégica de um governo operário, saber lutar contra os ataques bonapartistas ou fascistas ao regime democrático-burguês (aspecto defensivo), mas também levantar as consignas democrático-radicais como fim da presidência, fim do senado, câmara única, que todo os políticos ganhem o mesmo que um trabalhador, revogabilidade dos mandatos, assembleia constituinte para que possam ir minando as ilusões na farsa da democracia burguesa (aprofundando a experiência) e criando condições mais favoráveis para o proletariado tomar o poder. Essa articulação deve vir conjuntamente ao combate fundamental contra as forças materiais dessa dominação, como a burocracia sindical ou as tentativas de articulação do proletariado com organizações da burguesia, que podem culminar em frentes populares, que são também são desvios estratégicos.

Em síntese, debateu-se os fundamentos ideológico e materiais das democracias capitalistas, a hegemonia burguesa no interior dessas democracias e como os revolucionários devem atuar, articulando consignas democrático-radicais com um programa transicional, para minar essa hegemonia, criando as condições para ganhar a maioria dos trabalhadores e passar a ofensiva, ou seja, a insurreição proletária.


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COMO QUESTIONAR OS PRIVILÉGIOS DOS POLÍTICOS E A DEMOCRACIA DOS RICOS?

Marcelo Tupinamba

CONTRA O IMPEACHMENT DA DIREITA, MAS TAMBÉM OS AJUSTES E O GOVERNO DO PT Qualquer questionamento à democracia dos ricos deve ser construído independente das alternativas que nos colocam os de cima. Eduardo Cunha, PSDB, FIESP e o que existe de mais reacionário do país se apoiam na insatisfação contra Dilma para emplacar seu impeachment, seja através de meia dúzia de parlamentares corruptos ou através da justiça, para aplicar um ajuste ainda mais duro contra o povo. Essa direita fala contra a corrupção do PT, mas sabemos que todos os partidos da ordem estão enlameados. Cunha é o que existe de mais reacionário e corrupto. Não podemos confiar que a justiça seja “neutra”. Nem que do parlamento virá qualquer alternativa a este sistema político podre. Se o impeach-

ment não emplacou até agora é porque boa parte dos capitalistas estrangeiros e nacionais temem que uma maior instabilidade política no país piore a economia, então optam por manter o desgaste de Dilma e fazer uma forte ofensiva contra Lula para debilitar o PT nas eleições de 2016 e 2018.

Somos contra o impeachment, mas não podemos aceitar o que fazem os sindicatos, entidades estudantis e a intelectualidade governista, que dizer ser “fazer o jogo da direita” qualquer questionamento ao governo federal. Devemos combater o governo e os ajustes construindo uma alternativa pela esquerda ao PT. O PSOL tem composto uma frente permanente com a burocracia na Frente Povo Sem Medo, ao invés de colocar peso nas lutas concretas contra o ajuste.

O PSTU está “fazendo o jogo da direita” ao não se colocar abertamente contra o impeachment e chamar uma “derrubada do governo Dilma”, um discurso que parece de esquerda mas joga água no moinho do Aécio e cia, com sua política de eleições gerais, a mesma defendida pela corrente de Luciana Genro do PSOL. Chamamos a levar a frente uma campanha por uma resposta in-

dependente dos trabalhadores, que questione profundamente essa democracia dos ricos e faça um ajuste no privilégio dos políticos. MOBILIZEMOS PARA IMPOR QUE TODO POLÍTICO GANHE IGUAL A UMA PROFESSORA

Em 2015, o Esquerda Diário realizou uma grande campanha com esse eixo. Foram mais de 270 mil curtidas no Facebook, centenas de fotos de todo o país e envolvimento milhares de trabalhadores e jovens, além de personalidades políticas, sindicais e artísticas.

Chamamos a retomar com toda força essa campanha, para que se transforme profundamente esse regime político, ajustando os privilégios dos políticos. Chamamos o PSOL e o PSTU a colocar com força isso em suas campanhas. Política não é para enriquecer. Como parte dessa campanha, queremos questionar também os privilégios dos juízes e dos diversos cargos de alto escalão do Estado que ganham fortunas, tem superpoderes e sequer são eleitos. Que todos os juízes e funcionários de alto escalão recebam o salário de uma professora e sejam eleitos.

PELA REVOGABILIDADE DE TODOS OS POLÍTICOS QUE NÃO CUMPRAM O MANDATO POPULAR Os mecanismos do Estado brasileiro não dão opções aos trabalhadores que não sejam as eleições, onde a cada dois anos escolhemos os novos carrascos. Tanto os partidos do governo quanto da oposição de direita não cumprem nenhum mandato popular expresso pelo voto. Cumprem o mandato dos seus financiadores de campanha, dos capitalistas atados por mil laços com a corrupção. Que democracia é essa que somos reféns de figuras como Cunha e políticos que não cumprem o mandato popular dos que o elegeram? Ou de juízes que nem sabemos quem são, e que são cheios de privilégios?

Se houvessem mecanismos para que os trabalhadores revogassem diretamente os cargos dos políticos que não cumprirem mandatos que contemplem os interesses do povo, Cunha e muitos outros não estariam no poder. Somos nós trabalhadores e jo vens que temos que ter em nossas mãos o poder de revogar Cunha e qualquer outro político sempre que não cumpra com o mandato popular. Nos mobilizemos pela revogabilidade de todos os mandatos.


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JUVENTUDE

CONSTRUIR UMA NOVA JUVENTUDE ANTICAPITALISTA E REVOLUCIONÁRIA Fernanda Montagner

POR QUE A JUVENTUDE ENTUSIASMOU TANTO?

A batalha contra o fechamento de escolas em SP e contra a privatização do ensino público em Goiás, conseguiu se ligar com esse sentimento de descontentamento apontando a um questionamento à política do regime. E os secundaristas só conseguiram vencer justamente porque romperam a rotina puramente sindical, fizeram política para se ligar à população e usaram das medidas mais originais e combativas para vencer. Enquanto gritavam “não tem arrego” herdado da luta dos garis do Rio de Janeiro, não por acaso luta que também rompeu os estreitos laços da burocracia sindical, os secundas apontam uma tendência para a juventude em todo o Brasil. Como continuidade de junho, essa juventude contestou as representações tradicionais, o que a coloca em enfrentamento direto com o “modo petista” e suas entidades burocráticas, como a UNE, UMES e UBES. Seu potencial explosivo e a dificuldade de contenção das burocracias estudantis somada a uma repulsa a rotina e a vontade do combate, faz dos movimentos de juventude os mais dotados de independência frente ao PT e à direita. Romper com as burocracias é parte de romper com a separação da pauta imediata com a grande política, é o que coloca medo nas elites, a possibilidades dos jovens e trabalhadores quererem ser eles próprios sujeitos da política, sobre como resolver a crise, o caos na saúde,

educação, transporte. No movimento operário, há grandes centrais sindicais, como CUT e CTB, possibilitando ao petismo ter mais êxito em conter as lutas, ainda que com dificuldades, já vimos greves selvagens na construção civil em 2011 e 2012, garis em 2014, 2015 o ano com mais greves e 2016 já começou com greves de terceirizados e ocupação de fabrica na MABE. A juventude atua como “caixa de ressonância” dos grande conflitos operários que ainda estão por vir, ou seja, antecipam e conseguem amplificar suas demandas, mostrando uma aliança poderosa. Há uma série de exemplos históricos onde a juventude antecipou a entrada em cena dos trabalhadores, maio de 68 francês é o mais emblemático, e desse espírito vemos um pouco no Brasil. MUDAR O MUNDO, MUDAR A VIDA Estava pichado no muro: “Tudo é mágico, até virar rotina”. O inverso aqui é verdadeiro, sem rotina tudo é paixão, por isso em todos momentos de crise a quebra de rotina se expressa também na alma, e a juventude nesse caso é a mais sensível. Há décadas não víamos com tanta força o questionamento à opressão, com movimentos de mulheres e LGBTs, colocando a questão da liberdade. As denúncias em relação ao racismo e a violência policial. Recentemente a dança de Lucy realizada no Acampamento Anticapitalista da Juventude as Ruas, foi atacada por direitistas, e impulsionou

Andando pelas cidades paira insatisfação e descontentamento, seja nas pichações nos muros, nas conversas nos ônibus, nas salas de aula, existe o sentimento de o que existe hoje não pode continuar, o estado de espírito das pessoas não se enquadra mais na rotina, e seus anseios vêm se chocando com uma realidade de crise, cortes orçamentários, precarização das questões sociais. Muitos setores da esquerda estão para trás desta realidade, enquanto os jovens falam em revolução, só conseguem oferecer centros acadêmicos rotineiros e medidas que não rompem a lógica da miséria do “possível”. Mas a juventude pode muito mais.

uma grande campanha nas redes pela #esquerdaarcoires. Uma simples dança incomodou porque ela carregava em si o enfrentamento com a moral capitalista. O capitalismo para sustentar sua exploração sob os trabalhadores, e manter o que é claramente absurdo, em que 62 bilionários concentram a mesma riqueza que todo o restante da humanidade, usa também dessa moral. O combate ao regime, a liberdade sexual e rompimento com a rotina sindical são base de um sentimento anti capitalista que começa a se expressar. O movimento de secundaristas a emergir como sujeito político avançou no questionamento ao regime abrindo espaço para esse sentimento anticapitalista, contudo suas demandas, contra o fechamento das escolas, e mesmo a pauta dos transportes em junho de 2013, ainda são pautas reformistas. Para avançar e resolver não só os problemas do mundo, mas da vida, é preciso que essas pautas levem à conclusão de que é preciso acabar com o estado capitalista. Existem algumas tendências que se colocam como anticapitalistas, mas acabam não rompendo o âmbito de exigir um capitalismo mais humano. O autonomismo que ressurgiu com o 15M espanhol, parte do primeiro levante de juventude após a primavera árabe, sua expressão no Brasil mais conhecida no MPL (Movimento Passe Livre), usa de métodos radicais, mas mantém demandas políticas reformistas. Também na esquerda, correntes do PSOL como RUA, fala em anticapitalismo, mas é incapaz de romper o marco sindical.


Nós queremos construir uma juventude anticapitalista e revolucionária, que veja nos trabalhadores um aliado fundamental, que compartilhamos a mesma estratégia da vontade de acabar com a miséria e a exploração. A esquerda no Brasil é inundada pelo que podemos chamar de lógica petista de militar, ou seja, anos de aptação ao governo, atuando de forma burocrática e muitas vezes como freio das lutas. Parte do destempo que vemos na juventude universitária em relação a secundaristas, é responsabilidade das direções governistas principalmente, mas também da esquerda que não consegue apontar uma saída independente. Hoje a esquerda, PSOL e PSTU, dirige importantes entidades pelo país, contudo pouco ouvirmos falar delas, isso significa que a juventude universitária está despolitizada? Pelo

contrário, nas recentes eleições estudantis, na maior universidade do país, vimos um fenômeno de reorganização estudantil com chapas mais a esquerda ganhando. Essa politização só não foi para a ação ano passado, pela rotina da esquerda, passamos por crise no FIES, greve das federais, uma série de processos que poderiam ter mudado a correlação de forças na luta contra os cortes do governo Dilma. Nós da Juventude às Ruas estamos junto a estudantes independentes nas gestões do CAELL e CAPPF – USP, na minoritária do CACH – Unicamp, no serviço social da UERJ e na filosofia UFMG, e queremos construir uma nova tradição de movimento estudantil, contra a lógica autonomista antientidades, que igualam todas as entidades como burocráticas, e acabam não travando luta política contra as entidades do governo, e também romper

Calourada da Letras na USP teve mesa de debate sobre crise da educação com o lema “façamos como os secundaristas”. Festival “Revolucionarte” teve música e poesia.

JUVENTUDE

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com o sindicalismo e rotineirismo da esquerda, que terminam construindo a passividade entre a juventude mantendo as lutas sempre num marco corporativo. Nós queremos construir um movimento estudantil com grandes objetivos. Estamos colocando nossas entidades a serviço das lutas, junto ao trabalhadores e com os secundaristas, nas calouradas chamamos os secundaristas para um grande movimento em defesa da educação, também estamos chamando uma grande campanha de apoio aos trabalhadores ocupados da MABE e contra as demissões na GM. Nós da Juventude as Ruas, queremos construir uma nova juventude anticapitalista e revolucionária, e fazemos o convite a todos os jovens que querem transformar sua insatisfação em organização contra esse estado de miséria.

Juventude Às Ruas pella libertação dos jovens em Goiás, com Carolina Cacau e Isabela do Centro Acadêmico de Serviço Social da UERJ.

Estudantes da Juventude Às Ruas organizam campanha de solidariedade aos operários da MABE, mostrando a força de uma juventude revolucionária aliada aos trabalhadores.

Campanha da #esquerdaarcoiris tomou conta das redes sociais. Na foto Tatiane e Rebeca do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp.

Calourada da Letras USP - Centro acadêmico convoca ato contra o racismo e pelas cotas na USP.


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ARGENTINA

MACRI QUER PROIBIR O DIREITO AO PROTESTO, ESQUERDA ARGENTINA CHAMA CAMPANHA INTERNACIONAL

Publicamos abaixo declarações das principais �iguras públicas do PTS, organização irmã do MRT naquele país, denunciando o ataque de Macri. No Brasil, tentam apresentar Macri como exemplo de presidente, mas com menos de 2 meses está mostrando cada vez mais claramente como só pode ser um exemplo para a direita, nunca para os trabalhadores e a juventude. Estamos lançando uma campanha de solidariedade no Brasil, a partir do Esquerda Diário e do MRT, contra esse ataque ao direito democrático de protesto. Participe da campanha, mande declarações e sua assinatura ao abaixo assinado que faremos online, para incorporarmos como parte da campanha internacional que vamos impulsionar. Combater Macri na Argentina é parte de frear as intenções da direita aqui no Brasil, que quer aplicar ajustes

ainda mais duros contra os trabalhadores e a juventude. A deputada federal argentina pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, Myriam Bregman, militante do PTS, se manifestou contra o “protocolo antipiquete”, que ataca o direito de manifestação, instaurado por Macri pela via do Ministério da Segurança, dirigido por Patricia Bullrich. “É incrível que com uma mera resolução ministerial pretendam atacar um direito fundamental, como é o direito ao protesto e à mobilização dos trabalhadores e do povo, com o único objetivo de blindar o ajuste em curso e impedir manifestações contra as demissões, pelo salário e até contra os cortes de luz”, denunciou a deputada e personalidade do Centro de Pro�issionais pelos Direitos Humanos (CeProDH).

“O protocolo publicado parte de considerar que todo protesto constitui �lagrante delito e deixa nas mãos das forças de segurança – que os julgaria de forma sumária – de�inir quais protestos seriam permitidos e quais não, pulverizando o princípio da inocência e violando numerosas determinações judiciais que reconhecem que o direito de protesto está acima de eventuais problemas de tramitação”, assegurou Bregman. “O protocolo autoriza as forças de segurança a reprimir sem ordem judicial, baseando-se no artigo 194 do Código Penal imposto pelo general Onganía, o qual propomos derrubar mediante um projeto de lei que estamos apresentando”, adiantou a deputada do bloco do PTS na Frente de Esquerda. Por sua vez, o ex-candidato à presidência pela Frente de Esquerda, Nicolás del Caño manifestou que “Cristina Kirchner havia tentado fazer essa mesma tentativa há dois anos com seu projeto antipiquetes, mas não o conseguiu impor pela própria resistência dos trabalhadores, como os da fábrica Lear. Naquela luta operária a polícia nos reprimiu e nos baleou várias vezes, mas a própria Justiça teve que obrigá-la a que deixasse de nos reprimir na Av Panamericana (importante avenida onde aconteciam as manifestações, NdT), e que permitisse o direito de nos manifestarmos contra as demissões. Agora Macri e Bullrich nos atacam, mas devem saber que não permitiremos que retirem direitos elementares do povo trabalhador”. Myriam Bregman e Nicolás del Caño apresentarão no Congresso um projeto de resolução em que se defende “rechaçar e repudiar energicamente a resolução do Ministério da Segurança da Nação, na qual se publica um ‘Protocolo de atuação das forças de segurança do Estado em manifestações públicas”, o que constitui simplesmente um cerceamento do direito ao protesto, um avanço das atribuições das forças de segurança para reprimir qualquer manifestação social e até julgar de forma sumariamente as pessoas sobre qualquer decisão judicial, portanto uma maior criminalização do protesto, em aberta oposição aos direitos e garantias constitucionais e a tratados internacionais de direitos humanos de categoria constitucional”.

LEIA ONLINE SOBRE A CRISE ECONÔMICA INTERNACIONAL

A crise econômica é internacional e nacional. Uma grande recessão persiste na Europa, o gigante chinês encontra-se imerso em crises de incerteza, e acaba definitivamente o mito do descolamento das economias latino-americanas. Leia no Esquerda Diário as elaborações mais recentes sobre economia, utilizando o QR code abaixo (ver instruções na p. 2). UM LEHMAN BROTHER EUROPEU? O DEUTSCHE BANK NA MIRA (JUAN CHINGO) RECESSÃO GLOBAL, SEGUNDA TEMPORADA? (PAULA BACH)


INTERNACIONAL

ELEIÇÕES EUA

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O DESCONTENTAMENTO SOCIAL POLARIZA AS ELEIÇÕES NOS ESTADOS UNIDOS André Augusto

As eleições norteamericanas demonstram a polarização social e política que se instalou para ficar depois da Grande Recessão. Com a lenta recuperação da economia e uma alta taxa de desemprego, o estado de ânimo dos trabalhadores e da população é de frustração e descontentamento com os políticos tradicionais do sistema bipartidário (entre Democratas e Republicanos).

O país foi sacudido em 2014 e 2015 por movimentos importantes, desde as revoltas dos trabalhadores precarizados das redes de fast-food que reivindicam direitos sindicais e o salário mínimo de US$15/hora, passando pelo desmantelamento de grandes cidades industriais como Detroit e Baltimore com uma onda de desemprego, até as rebeliões negras em Ferguson e Nova Iorque contra o racismo institucional da polícia e do Estado, que assassinou Mike Brown, Eric Garner e Freddie Gray entre tantos outros. Neste cenário, o voto de protesto contra os candidatos identificados com a elite política é o grande protagonista. As eleições primárias (que decidem o número de delegados nos estados que elegerá o candidato de cada partido) de Iowa e New Hampshire colocaram, entre os Democratas, o senador Bernie Sanders ombro a ombro com a candidata do preferencial do sistema político, Hillary Clinton. O multimilionário Donald Trump e Ted Cruz são os favoritos contra os conservadores “moderados” de um partido Republicano fragmentado.

Com uma nova geração mais próxima da “queda do Lehman Brothers do que da queda do Muro de Berlim”, não é de estranhar que Sanders tenha êxito na juventude. Sua retórica contra Wall Street e a defesa do salário mínimo expressa distorcidamente o lema dos “99% contra 1%” que animou o movimento Occupy Wall Street. Em Iowa e New Hampshire, Sanders colheu 65% dos votos de trabalhadores que ganham menos de 50 mil dólares anuais e Hillary foi favorita entre os mais velhos e com maior renda. Apesar de usar como temas de campanhas pontos progressistas, se comprometeu a apoiar Hillary Clinton se ela ganhar as primárias, e é criticado por sua fraca denúncia da brutalidade policial por setores importantes do movimento negro (Black Lives Matter).

Sanders: “socialista” ou parte integrante do bipartidarismo norteamericano?

Por uma esquerda da luta de classes que rompa com ilusões nos discursos reformistas

Muitos brasileiros que acompanham a política dos Estados Unidos ficaram espantados com o fato de um dos candidatos se autodenominar “socialista”.Não há dúvida que os candidatos dos Republicanos, como Ted Cruz, ligado à extrema direita do Tea Party, nem falar o xenófobo e racista Donald Trump, são excrescências reacionárias e uma representação dos setores do capital financeiro que mais ódio tem contra os trabalhadores. Entretanto, esta conclusão não deve servir para ocultar os vínculos existentes entre Sanders (muito menos de Clinton) e o sistema político norteamericano, suas guerras e sua classe dominante. Isto seria funcional apenas para impedir o surgimento de alternativas verdadeiramente anticapitalistas e socialistas.

A corrente de Luciana Genro do PSOL, encantados com a “primavera Sanders”, enxergam um “impacto no realinhamento de toda a esquerda no mundo”. O mesmo “impacto” foi anunciado com a vitória de Tsipras na Grécia em 2015. Porém, o Syriza não fez nenhum “governo de esquerda”, mas se aliou à direita nacionalista grega (ANEL) e agora está aplicando o ajuste ditado pela imperialismo. Também exaltaram o Podemos de Pablo Iglesias no Estado Espanhol que rapidamente está mostrando sua adaptação ao regime propondo um governo com o PSOE à cabeça.

Depois dos ataques de 11S, Sanders se uniu ao apoio quase unânime à “guerra contra o terror” e votou a favor da resolução de Autorização do Uso da Força, que significa apoio político às intervenções. Durante a guerra do Golfo, foi defendeu sanções econômicas ao Iraque, e o primeiro bombardeio da OTAN em 1992 no país. Apoiou o bombardeio da Sérvia nos anos 90, e por isto chegou ter seu escritório ocupado por movimentos antiguerra. Em 2014 apoiou resolução unânime do Senado em respaldo ao Estado de Israel durante o bombardeio e a invasão de Gaza. Hoje, o carro-chefe da política externa de Sanders não se diferencia tanto das propostas Republicanas: que os aliados regionais dos EUA no Oriente Médio “se apliquem mais” nos bombardeios na Síria. Ou seja, defende uma política imperialista.

O retorno das lutas sociais nos Estados Unidos e a aparição em cena das camadas mais precárias da classe trabalhadora devem permitir a construção de uma força material verdadeiramente anticapitalista e socialista, anti-imperialista e apoiada nos trabalhadores, nas mulheres e na juventude. Algo que não pode ser feito sem o enfrentamento estratégico contra as ilusões dos Democratas e da burocracia sindical ligada a este “coveiro” dos movimentos sociais nos EUA. Para essa perspectiva, longe de exemplos nos Sanders, Tsipras ou Iglesias, temos um exemplo que vem da Argentina, do PTS, um partido forjado na luta da classe trabalhadora que ganhou expressou em setores minoritários de massa nas eleições com um programa anti-capitalista com Nicolás del Caño na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores.


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Envi edenúnci asdoseul ocaldet r abal hoeest udo, sej avi aáudi opar anossowhat sappouporescr i t o. Sol i ci t e uma quant i a dest ej or nali mpr esso par a di st r i bui r em seu est ado, ci dade ou l ocalde t r abal hoeest udo. Façapar t edar ededecor r espondent esnopaí sdo Esquer daDi ár i o,envi andonot í ci asdasuaci dade ouseut emadei nt er esse.


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