Laplantine, françois aprender antropologia

Page 131

Cap´ıtulo 14 Uma Exigˆ encia: o estudo da totalidade Uma das caracter´ısticas da abordagem antropol´ogica ´e que se esfor¸ca em levar tudo em conta, isto ´e, de estar atenta para que nada lhe tenha escapado. No campo, tudo deve ser observado, anotado, vivido, mesmo que n˜ao diga respeito diretamente ao assunto que pretendemos estudar. De um lado, o menor fenˆomeno deve ser apreendido na multiplicidade de suas dimens˜oes (todo comportamento humano tem um aspecto econˆomico, pol´ıtico, psicol´ogico, social, cultural. . .). De outro, s´o adquire significa¸ca˜o antropol´ogica sendo relacionado a` sociedade como um todo na qual se inscreve e dentro da qual constitui um sistema complexo. Como escreve Mauss (1960), ”o homem ´e indivis´ıvel”e ”o estudo do concreto”´e ”o estudo do completo”. ´ a raz˜ao pela qual toda abordagem que consistir em isolar experimentalE mente objetos n˜ao cabe no modo de conhecimento pr´oprio da antropologia, pois o que esta pretende estudar ´e o pr´oprio contexto no qual se situam esses objetos, ´e a rede densa das intera¸co˜es que estas constituem com a totalidade social em movimento. A especializa¸c˜ao cient´ıfica ´e mais problem´atica para o antrop´ologo do que para qualquer outro pesquisador em ciˆencias humanas. O antrop´ologo n˜ao pode, de fato, se tornar um especialista, isto ´e, um perito de tal ou tal ´area particular (econˆomica, demogr´afica, jur´ıdica. . .) sem correr o risco de abolir o que ´e a base da pr´opria especificidade de sua pr´atica. As ciˆencias pol´ıticas se d˜ao por objeto de investiga¸ca˜o um certo aspecto do real: as institui¸co˜es que regem as rela¸co˜es do poder; as ciˆencias econˆomicas, um outro: os sistemas de produ¸ca˜o e troca de bens; as ciˆencias jur´ıdicas, o direito; as ciˆencias 129


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.