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Figura 22: Foto de mestre-sala e porta-bandeira Marlon e Lucinha Nobre, 2019

portanto, são situadas em setores ou locais distintos dentro das narrativas, como elementos situados que as compõe, que trazem plásticas que traduzem parte da história do enredo. Personagens são encarnados pelo par com o uso das caracterizações e simulações dos principais personagens ou fotos importantes no cortejo. Signos representativos que devem informar, situar, envolver e transportar o leitor (público e jurados) das imagens que compões as indumentárias de forma rápida e clara, tudo isso aliado a criatividade exigida no julgamento26 do campeonato pelo titulo do carnaval.

Por tudo isso, que a sistematização dos processos de construção das narrativas carnavalescas para propagação de mensagens e estruturas didáticas através dos adereços das cabeças, necessitam de um diálogo entre elementos da direção da agremiação carnavalesca, equipe artística e o casal. Essa conversa deve ter a finalidade de trazer a ideação, pesquisa, estudos artísticos, a tomada de decisão para a produção do design do produto final. Ademais, deve ser também tratado para a segurança do casal no momento do bailado como a usabilidade e a ergonomia, com conforto para quem os usam e boa fixação e medidas de acordo com o espaço entre a cabeça e a bandeira, bem como, aerodinâmica de acordo com a dança do casal. Processos que serão retratados nos capítulos seguintes.

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26 Para conceder notas de 9,0 à 10,0 pontos, o Julgador deverá considerar: INDUMENTÁRIA: • a indumentária do casal, verificando sua adequação para a dança e a impressão causada pelas suas formas e acabamentos; beleza e bom gosto. DANÇA: • a exibição da dança do casal, considerando-se que não “sambam” e sim executam um bailado no ritmo do samba, Penalizar: • a queda e/ou perda, mesmo que acidental, de partes da indumentária como, por exemplo, calçados, esplendores, chapéus e etc. Disponível em: https://liesa.globo.com/downloads/carnaval/manual-do-julgador-2020.pdf. Acesso em: 20/12/2020.

Capitulo II

Os processos de criação do design dos adereços de cabeças do casal de mestre-sala e porta-bandeira

2. A pesquisa para a narrativa dos adereços de cabeças do casal de mestre-sala e porta-bandeira

O presente capítulo traz literaturas que dialogam com as minhas narrativas, a respeito de como desenvolver o enredo, as tomadas de decisões, as escolhas dos acontecimentos e a criação dos elementos que irão compor a trama no cortejo carnavalesco. Nessa ambiência, os adereços de cabeças do casal de mestre-sala e porta-bandeira, parte importante que compõe o vestuário, serão descritos gradualmente em sua criação. Os desenhos a serem apresentados, nesse capítulo, despontam-se como sendo um dos terrenos de diálogos entre o Carnavalesco, os casais e profissionais envolvidos na criação e na dança do casal.

Ainda nesse tópico, os desenhos e as fotos situam o leitor na descrição dos adereços de cabeças do mestre-sala e da porta-bandeira frente à temática do enredo do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha e do Grêmio Recreativo Escola de

Samba Unidos da Tijuca. Além do mais, o cuidado em materializar esses desenhos e o produto final deles, bem como descrever os materiais utilizados, fazem parte da narrativa do pesquisador desse mote.

Como aponta o filósofo alemão Walter Benjamin (1994), o narrador tece várias considerações que nos permitem refletir sobre a importância de uma das mais antigas formas de expressão popular, que é o ato de narrar. Para o autor, a narrativa é uma experiência acumulada ao longo das vivências, e tem, como matéria-prima, o que se pode recolher da tradição oral. Na concepção de Benjamin, narrar é intercambiar experiências, é tecer um fio que se alimenta diariamente nos fios da memória, perfaz uma rede construída com o tempo, como no trabalho manual.

Isto posto, esse tópico traz elementos metodológicos, atrelados a pesquisa de campo, que afiança que o ato de investigar traz em si a necessidade do diálogo com o fato a qual se almeja averiguar e com o diferente, um diálogo dotado de crítica, canalizador de

momentos criativos. A tentativa de conhecer qualquer fenômeno exposto dessa realidade busca uma aproximação, vista sua complexidade e dinamicidade.

Nessa conjuntura, esse modelo de análise possui aspectos teóricos, metodológicos e práticos, que transpõe o reducionismo do empirismo (PIANA, 2009). Assim, a realidade é interpretada a partir de um embasamento teórico, sem a pretensão de desvendar integralmente o real e possui um caminho metodológico a percorrer com instrumentos cientificamente apropriados e dialéticos, como aduz a autora.

2.1 A concepção e construção de desenhos no design de adereços de cabeças

O contato do pesquisador com a parte literária é de grande importância para dar segmento, realidade e veracidade ao enredo. A pesquisa de campo propicia uma aproximação social e cultural ao pesquisador, a fim de dar uma melhor ambientação com o tema, além da ampliação do campo visual sobre o objeto pesquisado (PIANA, 2009).

Isto posto, essa seção busca mergulhar na cultura do carnaval, mas não significa que se deve ocultar todos os vestígios de sua própria origem estrangeira, que, no caso do nosso carnaval, traz muito dos povos europeus e africanos. Nesse contexto, a dança do casal, que além de trazer traços do continente africano, traz, na roupa e em seus complementos, descrições que oferecem detalhes visuais das cortes europeias. Deste modo, podemos observar que até hoje temos muito das culturas estrangeiras.

Apesar dos desfiles das escolas de samba acontecerem a um longo tempo, muitas características ainda se fazem presentes e, quando elas são retiradas e/ou substituídas, há quem faça críticas às mudanças. Logo, faz-se importante, no conjunto do desfile, desmistificar alguns estereótipos acerca do casal, devido a conhecimentos equivocados com relação à plástica e à estética, materializada para o público e julgadores, e nos traços de desenhos didáticos para esses mesmos jurados, como informa Almeida (2020).

Para lidar com a tradição que cerca o casal de mestre-sala e porta-bandeira e a inovação que é constante nos desfiles, que parecem duas faces da mesma moeda, e comumente interpretadas como antagônicas, referente ao par de bailarinos, os Carnavalescos utilizam as mesmas estruturas de formação do par e suas estruturas das

vestes. Busca inovar na caracterização e interpretação de personagens sem se perder da tradição já estruturada como expostas anteriormente.

O conjunto de imagens para definições dos elementos, que visualmente poderão causar impacto no público e nos julgadores, é um grande trunfo para que a obra seja bem aceita e bem avaliada. Na busca de causar encantamento, frente à plástica exibida, faz-se imperioso que todo o conjunto seja selecionado com esmero.

A paleta de cores deve ser utilizada, no primeiro momento, sem a influência das cores da escola, mas se adequando ao recorte temático inserido e ao horário em que a escola de samba vai se apresentar, uma vez que a luminosidade natural ou artificial são fatores que, na elaboração das alternativas, pedem algumas adaptações. Somente depois disso, as cores da escola poderão ser acomodadas.

Um dos exercícios de criação mais difícil dentro dos desenvolvimentos do projeto temático-visual de uma escola de samba é o figurino de carnaval (fantasia), que requer um tempo grande do Carnavalesco e da equipe que o assiste. Esse momento de criação requer observações, conversas e ações que podem culminar em geração de ideias.

Ainda que o tema do Carnaval seja bastante interessante, para uma possível apresentação, o que se almeja destacar é a interferência que esse desenho pode causar em quem verá o desenho e em quem usará tal figurino. Quanto mais caprichada e elaborada a imagem, melhor é o laço de comunicação para vender a ideia aos casais de mestres-salas e porta-bandeiras e para o atelier, que vai confeccionar e para a comunidade carnavalesca (LUDERER, 2006).

No contexto em que os desenhos buscam identificar parte da história a ser exibida nos desfiles das escolas de samba, em que o adereço de cabeça é uma exposição significativa no conjunto da obra, traremos alguns desenhos que foram utilizados em um seleto setor do desfile de 2020, da escola de samba Unidos da Tijuca. Compete salientar que os mesmos não foram pensados para o casal de mestre-sala e porta-bandeira, porém, serão utilizados para ampliar o universo do leitor dessa dissertação. Deste modo, ficará claro que, além dos casais, todos os foliões (componentes) que participam do cortejo trazem um aspecto do enredo.

Os adereços de cabeças integram a parte mais visível das pessoas que desfilam, pois em uma ala com muitos integrantes, geralmente cem (100), é o que mais se vê, em meio ao contingente que o rodeia. Os adereços de cabeças, junto à pala e as mangas das fantasias possibilita grande visibilidade e pode auxiliar na compreensão de seu simbolismo, junto ao restante do figurino de carnaval.

Assim sendo, os momentos de assimilação e criação, apresentados nas figuras 23 (vinte e três) e 26 (vinte e seis), são croquis, ou seja, estudos para a concepção dos adereços de cabeças. As figuras 24 (vinte e quatro) e 27 (vinte e sete) reúnem desenhos, mola mestra para a geração do figurino, que, entre os lócus literários e seus significados, encontram-se implícitos os recortes imagéticos e sua força de transmissão direta da informação. Nas figuras 25 (vinte cinco) e 28 (vinte e oito), temos os adereços das cabeças, como produto final, a serem exibidos no desfile carnavalesco.

Cabe observar, conforme adverte Regal (2003), o croqui é um meio de externar uma ideia. É necessário compreender o repertório e a contextualização em que é desenvolvido e, inclusive, por quem, pois é um momento de grande envolvimento entre criador e obra.

Do francês croquis, em inglês sketch ou drafting, o croqui constitui a forma rápida e, às vezes, expressiva de materialização mediante breves traços a lápis, caneta, pincel, de uma possibilidade de sentido, a partir de uma imagem sensorial. Entendido assim, o croqui se reveste da emoção da manifestação corporal por excelência, reduto e produto da interação significativa entre órgãos sensoriais, motores e o cérebro (REGAL, 2003, p. 20).

É possível perceber que o desenho final vai além de um mero esforço aleatório, como um resultado formal. Na verdade, abarca o registro de um processo que está em ampliação num pensamento criativo, como o uso de imagens, de textos e de outros diferentes meios de expressão (REGAL, 2003).

De forma gradativa, o que é retratado por escrita passa a ser estudado (rascunhado) e desenhado, e assim, ganha forma, cores e passa a ideia da temática do setor em que o figurino de carnaval será inserido no desfile. Isto acontece após a fase da pesquisa escrita para criação do enredo, denominada como sinopse (forma sintetizada do enredo), e a boneca (forma organizada dos elementos visuais, alas e alegorias, divididos em setores). Fase seguida da pesquisa de imagens que irá gerar as fantasias (figurinos) e seus aportes, de forma a simbolizar os recortes históricos que compõem o desfile.