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Figura 80: Desenho final do experimento 3, unissex do PPGDesign

padronizado com formato e cores e decorações idênticas ao do seu par, mas, que a ideia inovadora era bem-vinda. Tal novidade a agradou. Para a porta-bandeira, iniciativas novas atraem a atenção e colocam o casal em evidência.

A porta-bandeira narrou que a iniciativa dessa natureza pode não ser bem vista, pois o quesito, além de ser cobrado pela dança, é também julgado pelo que veste. Entretanto, ela gostaria de correr o risco, uma vez que sempre está aberta a inovações e, ainda mais, pelo fato de a mudança não ser agressiva e sim delicada. Ao aludir sobre o tamanho da cabeça, Polyana disse que o ideal é um adereço de cabeça médio e leve e que o tipo de amarração tenha colchetes de pressão pelo lado de fora e sem furos. Trata-se de um conforto que, para ela, não permite prender o cabelo nos recursos de encaixe do adereço na cabeça, que, por vezes, causam desconforto e dor, o que prejudica o seu bailado.

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O mestre-sala Rhodolpho Faria, antes mesmo que fosse perguntado sobre suas impressões acerca do adereço de cabeça unissex, ao ver o desenho, disse que era digno de uma peça para exposição. Rhodolpho observou, em sua narrativa, que pela sua vivência no universo das escolas de samba, o fato de igualar fantasias e adereçaria do casal seria impossível, em virtude da própria história envolver um casal nos desfiles carnavalescos. Para ele, sempre foi exigido o máximo de masculinidade do mestre-sala, uma vez que sua dança era associada ao estilo dos malandros que circulavam pela cidade carioca.

Dessa maneira, para o entrevistado, o uso de uma indumentária ou cabeça unissex não dialoga com o que se entende sobre a simbologia desse personagem nos desfiles de carnaval. “No entanto, é como minha parceira disse, eu também gosto muito de novidades, isso traz atenção para a nossa apresentação. Eu entraria nessa, usaria no desfile numa boa, sem contar que é um desenho, será um adereço de cabeça lindo!”, exclama Rodolpho. Ele ainda reforçou que sua parceira prefere cabeça leve, de tamanho médio e fixação segura, a fim de que ocorra uma melhor desenvoltura no momento do bailado.

A base de armação de arame, exposta em posições diferente nas figuras 81 (oitenta e um) e 82 (oitenta e dois), foram definidas em função do desenho elaborado e estruturado com base no enredo e após conversa com o casal. E assim, seguiu-se para o ferreiro. A estrutura foi idealizada, essencialmente, para receber os elementos utilizados

nos adereços dos casais da Unidos da Tijuca e Rocinha, bem como na hibridização dos enredos de ambas as agremiações. A escolha desse modelo se deu em virtude de a mesma suportar o peso ocasionado pela quantidade de adereços escolhidos para ser concebido o design final.

Cabe revelar que os ferreiros, de modo geral, que fazem as estruturas dos adereços de cabeças para os casais, possuem uma boa percepção das medidas a serem aplicadas e do peso a ser recebido na adereçaria. Outro fato importante é que, geralmente, esses profissionais de modelagem de arames conhecem os casais de mestres-salas e portabandeiras que desfilam na cidade do Rio de Janeiro, bem como suas preferências. Isso faz com que a base de armação de arame seja feita de forma exclusiva, quase sob medida para o casal. E nesse contexto, contamos com o ferreiro Hugo Mineiro, que tem sua oficina na Rua Sara, número 9, Santo Cristo, na região portuária do Rio de Janeiro. Ele é experiente em estruturar adereços de cabeças do casal de enamorado na festa de Momo do Carnaval carioca.

A seleção de um terceiro atelier, além dos ateliers Aquarela Carioca e Fernando Magalhães, que trabalharam com os adereços de cabeças da Rocinha e da Tijuca do carnaval do ano de 2020, foi importante para que pudéssemos trazer novas perspectivas acerca da construção do produto final do adereço de cabeça unissex, em função da nova acuidade ergonômica e do seu uso como elemento a ser possivelmente julgado em desfiles de carnaval.

Assim sendo, João Vitor responsável pelo Atelier Alecombe, situado à Rua Mont Alverne, número 99, Morro do Pinto, no bairro carioca do Santo Cristo, foi convidado para troca de experiências na elaboração do adereço de cabeça. O mesmo recebeu o convite por ser um aderecista com vasta experiência com adereçaria em cabeças do casal de mestre-sala e porta-bandeira, trazendo, como bagagem profissional, a produção dos segundos casais das escolas de sambas Portela e Unidos da Tijuca e o primeiro casal da Unidos da Ponte.

A experiência e a prática laboral da execução do adereço de João Vitor culminaram em conversas e trocas de experiências, o que se consolidaram no adereço de cabeça unissex, defendido nessa pesquisa. Assim, solidificou-se o que antes já tinha sido

pensado, escolhido e idealizado, dando significados aos materiais utilizados na confecção.

Figura 81: Base de arame do experimento 3, adereço de cabeça unissex para o PPGDesign – EBAUFRJ. Marcus Paulo. Arquivo Pessoal. 2021.

Figura 82: Base de arame do experimento 3, adereço de cabeça unissex para o PPGDesign – EBAUFRJ. Marcus Paulo. Arquivo Pessoal. 2021.

Para a confecção do adereço de cabeça unissex, os materiais de base (1) adotaram os mesmos procedimentos executados nas cabeças dos casais da Rocinha e Unidos da Tijuca. Esses artifícios constituíram significados para estruturação e definição dos elementos de decoração usados.