A BORDA: FORMAL X INFORMAL Um tipo de borda que se destaca na estrutura do tecido urbano, sobretudo nas cidades brasileiras contemporâneas e para o qual o foco deste trabalho irá caminhar deste ponto em diante, é a estabelecida entre a cidade dita informal e a formal, que secciona a cidade entre regulamentada e marginalizada. Destaque, principalmente, devido ao fato de que essa situação
reflete diretamente um problema social: a desigualdade. Essa situação de borda é um reflexo recorrente do próprio crescimento das cidades, principalmente nas periferias. Segundo Villaça, a cidade formal sempre serviu às classes dominantes, portanto, o espaço legal urbano se organizou conforme seus interesses. Consequentemente, os cidadãos pertencentes a classes sociais
FIG. 16 - Foto em Petare, em Caracas, Venezuela. Imagem de Lurdes R. Basolí, 15 de abril de 2010. Fonte: BASOLÍ, Lurdes
menos privilegiadas não foram prioridade no pensamento da ocupação de novas áreas da cidade e acabaram se estabelecendo em áreas periféricas, de risco geotécnico, áreas que margeiam aquelas concêntricas geradas pela especulação imobiliária que convinha somente aos ricos. Alerto, contudo, que a intenção deste trabalho não é assumir uma posição univalente sobre os territórios formais ou informais. Discorrer sobre a borda urbana que deslinda a segregação entre favela e cidade formal resulta em uma tarefa delicada já que me encontro na dualidade entre a racionalidade rígida da arquitetura doutrinada na faculdade e a cultura singular que existe na ocupação informal, do inacabado, da espontaneidade da autoconstrução popular e principalmente, a inegável proximidade social entre seus habitantes. É importante, ainda que difícil para arquitetos e urbanistas formados sob uma doutrina mais conservadora, reconhecer o valor no modo “informal” de se construir a cidade. Usamos, sem muitos escrúpulos, a palavra “urbanização” para descrever a intervenção na cidade informal, quando, na verdade, o tecido da favela carrega, às vezes, muito mais o significado de urbe que a cidade convencional.
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