Mas Larga Essa Mala No Chão!

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MaS LARGA EsSA MaLA NO CH達O! Marcelo Almeida

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Copyright © 2004 Sábios Projetos e Produções Ltda. Ao abrigo da lei em vigor, são expressamente proibidas a reprodução total ou parcial deste livro (texto e imagens), as citações do seu conteúdo, ainda que mencionando a origem, o seu tratamento informático ou digital, a sua transmissão por qualquer forma ou qualquer meio, seja eletrônico ou mecânico, sua fotocópia, digitalização ou gravação sem autorização prévia e por escrito do titular do copyright. As infrações a estas ou outras regras serão punidas segundo a lei.

Texto Marcelo Almeida Projeto Gráfico Capa Monique Furtado Projeto Gráfico Miolo BR-J Comunicação Revisão de Texto

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Francisco Marques

Coordenação Editorial e Realização Sábios Projetos

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. A449m Almeida, Marcelo, 1971Mas larga essa mala no chão! / Marcelo Almeida. - Rio de Janeiro: Sábios Projetos, 2004 70p. : il. ISBN 85-98860-01-8 1. Poesia brasileira. I. Título. 04-3068.

CDD 869.91 CDU 821.134.3(81)-1

05.11.04 008242

09.11.04

MaS LARGA EsSA MaLA NO CHãO! Marcelo Almeida

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Apresentação 4

Por oitocentos anos, os árabes dominaram a península ibérica, plantando nos idiomas locais uma diversa semeadura. A influência moura amorenou e adocicou espanhóis e portugueses e deixou uma herança que prossegue em nossos lábios. Vieram do árabe palavras como baldio, mesquinho e tantas outras começadas com o artigo “Al”. Almeida por exemplo. Almeida vem do árabe “Al Majid”. Majid é um adjetivo, quer dizer glorioso. Na região de Riba Côa, os mouros tinham um castelo batizado de Al Majid. Traduzindo, o Castelo Glorioso. Em 1258, esse castelo foi tomado pelos portugueses. Ali, surgiu o sobrenome Almeida, sete séculos e meio atrás. Ali, surgiu o primeiro Almeida: João Fernandes de Almeida, sete séculos e meio atrás. Hoje,Almeida parece um sobrenome completamente português o mesmo brasileiro. Marcelo é um nome latino e, segundo os estudiosos dos nomes, deriva de Marte. Marte, o quarto e vermelho planeta, batizado para homenagear o deus romano da guerra. O que nos interessa aqui, mais do que o significado, é a origem. De certa forma, ao juntar Marcelo e Almeida estamos fazendo - com alguma licença poética - uma síntese da história lingüística do português. O latino se mistura ao portuguesa do árabe.

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Alguma licença é necessária porque aqui apresentamos um poeta brasileiro. E, se é razoável supor que o idioma de Portugal antes dos árabes era árido, nosso português aqui recebeu outras influências. No Brasil, escreveu Eça de Queiroz, falase português com açúcar. Esse açúcar no ouvido de Eça teve provavelmente origens africanas e indígenas. Para implicar com a metáfora, podemos dizer que a língua aqui se tornou mais leve. Leve é o adjetivo que resume as palavras deste livro. O título modesto, autodepreciativo, irônico é propositalmente coloquial. Não há aqui nenhuma pretensão. São versos, apenas versos, muitas vezes musicais, quase sempre ternos. Versos que não pretendem alterar a vida do leitor nem plantar movimentos literários. Versos leves, português escrito com açúcar. Gustavo Poli, 33, jornalista e escritor.

Para o Amor da minha vida.


Agradecimentos

Publicar esse livro foi bem mais complicado do que escrever versos em guardanapos de papel pelos bares e cafés do Rio de Janeiro. Versos que escorriam da caneta e aglutinavam-se, formando as 60 poesias que você vai encontrar por aqui. Eu espero pois, sinceramente, que você goste muito do meu primeiro livro. Ele foi feito com amor e fala, o tempo todo, do amor. As dificuldades para que o livro tomasse sua forma final me fazem agradecer a algumas pessoas muito especiais.

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Agradeço ao meu pai, o primeiro poeta que eu conheci. Um cara que me apóia em tudo, mesmo quando - e não foram raras as vezes - discordou das minhas decisões. E eu sei que, se as leis da física permitissem, ele continuaria me carregando no colo. E se ele foi o primeiro poeta, não deixo de agradecer à minha primeira musa, minha mãe. Ela propiciou duas coisas muitíssimo importantes para que eu pudesse me tornar um escritor e, mais precisamente, um poeta. A primeira, a caligrafia, obtida através de sessões diárias que me fizeram apreender a segunda, e mais valiosa ainda: as mulheres, criaturas maravilhosas, podem não ser tão doces quando não querem. Esse ensinamento acabou por ativar em mim uma capacidade maior de compreendê-las. Ou chegar muito perto disso. Quero agradecer também a dois grandes amigos meus: Vinícius, que acompanhou a história de cada uma dessas poesias e está do meu lado para o que der e vier há, pelo menos, 18 anos. E Alex, meu sócio e compadre, que foi talvez, o maior incentivador moral da publicação de um livro com as poesias.

Agradeço à Dra. Maria Antônia, ou simplesmente, minha amiga e comadre Tota. Porque ela cura crianças e isso faz a gente andar na direção de um mundo de poesia plena. Tenho ainda a honra de agradecer a Beta, a Ciça e ao Poli, que emprestaram seus talentos e somaram suas palavras às minhas, dando um valor maior a esta obra. Minha lista estaria incompleta se faltasse o nome da minha amiga Carol, leitora assídua das poesias, crítica, colaboradora, incentivadora e, praticamente, cúmplice neste livro. A uma outra Carol, a doce Lollypop, não poderiam faltar agradecimentos também. E, claro, o reconhecimento público de que ela é muito mais teimosa do que eu. Entre outras milhares, deteve a proeza de me fazer desistir do nome escolhido há dois anos para este livro. Ela endurece mesmo. Mas não perde a ternura jamais. E como a melhor parte do mundo parece ser repleta de Carolinas, agradeço à minha filha. Seu olhar, seu abraço, seu beijo, seu sorriso - seu amor são os maiores estímulos que eu tenho para gerar outros frutos bonitos. Como este livro. Então é isso. Beijos ou abraços, Marcelo Almeida

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APRESENTAÇÃO

DEDICATÓRIA

4 MAIS QUE PERFEITA. "Onde está essa mulher Que, há muito, em meus sonhos habita ..."

28

FEMININA. "Em um rosto de menina, Um sorriso de mulher, Um olhar que ..."

29

SONETO DA LIBERTAÇÃO. "Nunca mais vou te dizer Que és tudo o que preciso, Que não..."

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AGRADECIMENTOS

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ÍNDICE

8

ÚNICA. "Eu naveguei Os sete mares Te procurei Por mil lugares Te..."

31

GRITA. "Grita! Mas não some. Insulta, esperneia Faz greve de fome..."

12

180898."Momento solene Quando te vi Amor perene Nasceu ali? Um..."

32

SABE O QUE ME ESPANTA? "Sabe o que me espanta? É que eu tento tudo E nada adianta...."

14

INEVITÁVEL. "Não há poesia no mundo Que consiga exprimir Esse amor tão ..."

33

BANHO. "Serena. Sozinha com seus pensamentos... A luz do dia vem pe..."

34

MINHA PAZ. "Numa tarde, Em Ipanema, Triste, Andei. No peito, um co..."

16 CONDENADO. "Morro por ti, acredites! De tanto que te desejo, Meu amor ..."

35

VÍCIO. "Quando julguei-me liberto De toda a antiga agonia, De todo..."

36

DE VOLTA - (letra de música). "Onde está você Que não está me procurando? Onde está você,..."

37

COISINHAS. "Sabe aqueles dias Em que a saudade aperta E que a iminênci..."

38

VIDA. COLORIDA. "Quero baldes de tinta. Quero a minha estrada colorida Co..."

42

DESCULPA. "Olha, eu te amo desde o instante em que te vi E eu não ente..."

43

PAPO DE ANJO. "Meu anjo da guarda não guarda segredos Me deixa dormindo e ..."

44

TE AMO. "Um milhão de vezes, Te amo. Me humilhando às vezes, Te am..."

45

PALAVRA. Me dá tua palavra Qualquer palavra Eu quero o som Sussurr..."

46

ÉS."Doce, meiga e delicada, Alegre, irônica, inteligente, Tran..."

17

8 SERENIDADE. "Serenidade: Palavra perdida no espaço Saiu sem olhar pra t..."

18

QUERO TANTO. "Quero viver todo dia do teu lado Muito feliz porque sou teu..."

19

NO TEU TEMPO. "Te amo incondicionalmente Mas tenho medo de que isso te agrida..."

20

RIDÍCULO. "Ridículo É como me sinto Diante deste teu, parece, instint..."

21

KEEP WALKING! "Keep Walking! - Disse-me Johnnie Embalado pelo solo Do sa..."

22

MEUS POETAS. "A me proteger da tua Indelicada frieza, E inexplicável esc..."

24

VUOTO. "Oggi io ti ho cercato nella moltitudine.Tra i tanti che..."

26

PONTE AÉREA. "Tenho no peito um amor puro Forte e incessante. Sincero. A..."

47

TAGLIATELLE - (letra de música). "Alma quebrada. Que brada Com o coração sombrio. Sem brio. ..."

27

MOÇA NA FOTO. "Eu me perdi nesse teu olhar Doce e sereno. Sinto-me tolo..."

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10

NÃO! - (letra de música). "Não é possível Que tenha sido tudo em vão O que li nos teu..."

49

A LUA E O POETA. "Pobre lua Que se deita, insone, nua Em seu leito, ao léu, ..."

67

AINDA. "Não consegui te esquecer Nem mesmo sei se tentei Por tanto..."

50

FICO. "Hipnotizado, Perplexo, Paralisado e Sem nexo Descontro..."

68

DOIDO. "Corta o silêncio noturno O grito de um coração Que trota u..."

51

ESFINGE - (letra de música). "Eu devia ter desconfiado Desses olhos de leão Que escondem..."

69

DESEJO! "Desejo! Que me pulsa no peito Desejo! Em toda vez que me ..."

52

SANDÁLIA - (letra de música). "Quando passar por aqui qualquer dia Deixa pra mim lá na por..."

70

SENTE. E MENTE. "Não sei se tudo o que sinto Em teu íntimo tu sentes Mas, p..."

53

TALVEZ - (letra de música). "Volta Nem que seja pra mentir que estragamos tudo Nem que ..."

71

SIGA. "Não sintas pena de mim Sei suportar minha dor Melhor que p..."

54

TÃO DIFÍCIL - (letra de música). "Vai ser difícil... Viver sem teu bom-dia Vai ser difícil....."

72

VITÓRIA - (letra de música). "Escute que eu vou dizer que você está errando Desculpe mas ..."

55

OLHA PRA MIM - (letra de música). "Olha pra mim mais uma vez Que eu esqueci de perguntar A tu..."

73

SORBONNE. “Filha da puta, Pára e me escuta Porque eu te amo,...”

56

TEUS DIAS. "Sinto tua falta. E mesmo sem saber se um dia Hei de rever-..."

74

SAUDADE - (letra de música). "Saudade não é saudável... Tão ingrata emoção É doença incu..."

57

EU QUERO VOCÊ - (letra de música). "Eu quero você de todos os jeitos Com todas as suas manias ..."

75

MEIO SEM JEITO. "Fecho meus olhos E enxergo os teus: É sonho. Penso em teu..."

58

JANELA. "Ah! Eu preciso abrir a janela Eu preciso ver o sol Eu quer..."

76

PERDIDA MENTE. "Estou perdido E, olhando nos seus olhos, Busco sentido Pr..."

59

HOJE. "Hoje foi um daqueles dias Em que você vem, não sei de onde,..."

77

PRESENTE DE GREGO. "Não é de Pandora A caixa de um homem que só te adora. N..."

60

ONIPRESENÇA. "Mesmo tão distante, Tão presente… Se me distraio um instan..."

78

LINDA! "Lindo é o poema de amor Se lindo é o amor do poeta Que não..."

61

SONETINHO. "Eu quero tanto segurar a tua mão Que chego a tropeçar na an..."

62

DESCARTO DESCARTES. "Quanto mais eu penso Menos existo. Porque me consumo Em d..."

63

MACHUCA. "O que mais machuca Não é a distância, A ignorância Sobre ..."

64

FUI FELIZ. "Já fui feliz Já tive beijos Tive sorrisos Já tive abraços..."

65

FOI-SE. "Foi-se! E eu fiquei Na companhia de apenas Umas poucas lá..."

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Grita! Mas não some. Insulta, esperneia Faz greve de fome, Incendeia. Mas fica! Briga! Perde a linha, Diz que não é minha 12

E chora. Só não vai embora. Fica.

Tenha a santa paciência,

Fica

Ou a puta indecência,

Porque pode ser que um dia,

Tanto faz.

Com a cabeça mais fria,

Não interessa,

Você me explique

E eu nem tenho pressa,

E eu entenda,

Eu só tenho a certeza

Peça desculpas,

Que se você for embora,

Sele a fenda

A gente vai jogar fora

Que nos separa. Mas pára Com essa mania De todo dia Querer sair Quando se irrita. Grita! Mas não some... Xinga, provoca,

GRITA!

Erra meu nome Mas fica, não vai Porque dói, como dói, Quando um amor que se constrói Cai.

Um amor. E jogar amor fora É pecado. E dos piores. Olha, dias melhores Virão. Grita, reclama, Diz que não me ama,

Mas larga essa mala no chão!

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14

SABE O QUE ME ESPANTA?

Amo a sua mão

Sabe o que me espanta?

Fez a comunhão

É que eu tento tudo

Mais honesta, mais correta,

E nada adianta.

Mais justa,

É você que ainda

Que eu conheci.

Continua linda

Amo o seu perfume,

Em todos os cantos

Amo o seu gosto,

Do meu pensamento.

Sua simples existência,

Por mais que eu mereça,

Sua inteligência,

Por mais que eu conheça,

Rara,

Milhares de Mulheres Melhores É você que eu amo. Amo os seus olhos Que enxergam em mim Tantos defeitos. Amo seus seios,

Que, com a minha mão,

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Quintessência. Amo o seu charme Que desequilibra Porque embriaga. Amo o seu abraço E o seu beijo. Amo a sua voz E, às vezes,

Deslumbrantes, perfeitos,

Seu atroz

Esculpidos por Michelangelo.

Jeito de Leão.

Amo sua boca,

Amo, quando você se entrega,

Sabe, o que me espanta

Berço do sorriso

Sua alma desnuda,

É tudo o que me encanta,

Mais maravilhoso

Linda,

E cada dia mais,

Que eu já pude ver.

Como um verso de Neruda.

Em você.


Acelerei o passo, era preciso.

Numa tarde, Triste, Andei.

Paz, Paz, Paz… - pensei Senhor, me mostra onde encontro a minha… Não foram necessários mais que dois minutos Ou alguns passos.

No peito, um coração

Para aparecer diante de mim,

Carregado de saudade e tristezas 16

Ritmava meus passos Preguiçosos.

Ainda incrédulo,

MINHA PAZ

A cabeça atormentada, perdida, Estranha a mim mesmo, Que lutavam Incessantemente Entre si. E eu andava.

Sem saber exatamente o que procurava... Da N. Sra. da Paz Sem ser capaz De entrar.

Em lugar tão improvável,

Em uma hora verdadeiramente incomum,

Era habitada por tribos de pensamentos

Me percebi diante

Depois de tanto tempo,

Você. Despenteada, linda. A minha paz.

N. do A.: Presuntinha é uma brincadeira, particular, com mais uma qualidade: presunçosa.

Em Ipanema,

Doce, meiga e delicada, Alegre, irônica, inteligente, Tranqüila, bem-humorada, Tímida, irreverente. Teimosa, precisa, adorável, Esperta, calma, instintiva, Colorida, indecifrável, Incrivelmente criativa! Verdadeira, sensível, Engraçada, correta, de paz, Compreensiva, imprevisível, Controlada até demais! Curiosa, obstinada, Persistente, difícil, Ansiosa, iluminada, Especial desde o início! Fofa, comunicativa, Diferente, dengosa, Rara, introspectiva, Exageradamente charmosa! Pura, desconcertante, (E, agora, mais presuntinha...) Suave, apaixonante Linda e, claro, minha!

ÉS 17


Quero viver todo dia do teu lado Muito feliz porque sou teu namorado Quero passar o sábado no edredom Te ouvindo ler os versos do Drummond

SERENIDADE Serenidade: Palavra perdida no espaço Saiu sem olhar pra trás, Ligeira, apertando o passo Não deu notícias. Jamais. 18

Serena idade? Tolo, imaginei-me aos trinta Calmo, tranqüilo e maduro Desilusão fez que eu me sinta Bem mais frágil. Inseguro.

Quero acabar meu sorvete de casquinha Sem você nem ter saído da provinha Quero andar de mãos dadas, distraído (E ser saudado pelo desconhecido) Quero te ver pedindo saladinhas Só pra depois engordar com lajotinhas (E passar a semana reclamando

QUERO TANTO

Mas gastar as calorias me amando) Quero bater papo sobre o U2

E, pra implicar, comparar com o Pato Fu Quero ficar calado dias inteiros Pra não te atrapalhar em teus roteiros Quero fazer um risotto diferente

Serenidade, Por que tu foste embora? Volta pra cá, por favor Acalma meu peito que chora Porque é vazio de amor.

E servir num jantar chique, só pra gente Quero dar a volta ao mundo contigo E ser pra sempre o seu melhor amigo Quero guardar rolhas, fósforos, momentos Quero aplaudir de pé os teus talentos Quero entregar meu sono nos teus braços E ilustrar meus sonhos com os teus traços Quero você em paz comigo. Mais nada. Quero você pra minha namorada.

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Te amo incondicionalmente Mas tenho medo de que isso te agrida E te imploro desesperadamente: Nunca te sintas presa à minha vida.

Ridículo É como me sinto Diante deste teu, parece, instinto De me condenar Ao ostracismo Me empurrar No abismo Da solidão. Não é possível Que estejas insensível A perceber Aquele nosso amor maiúsculo, Hoje tão ralo, crepúsculo, Inerte músculo Que padece Que carece Do menor carinho Pra viver.

NO TEU TEMPO

Tu és livre e é livre que te amo. Presa és triste... o mundo tão medonho. Sorri sempre! Atenta ao que clamo: Não tenhas pesadelo com meu sonho.

Por isso, muito além do sentimento Olho para o tempo o tempo inteiro E respeito muito, linda, teu momento. Antes de amante, sou teu companheiro.

Abre teus olhos, Abre teu peito, Deixa pra trás o que foi feito E começa o novo, De novo.

Não vamos mais viver tantos tormentos Sei que o que sinto não é passageiro... Mas só matando as dores, os sofrimentos, Para o amor não ser mais prisioneiro.

RIDÍCULO

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O amor é lindo, eterno, cristalino Quando respeita os dois (e cada um). Para entender o amor genuíno: Se não é bom pra ambos, não é pra nenhum!

Eu errei, E, talvez, tenhas errado Mas nunca o bastante Pra não querer-te um instante Ao meu lado.

Deixa de orgulho! Pelo amor de Deus, Muitos dos teus sonhos Também são meus. Vamos vivê-los, Vamos aquecê-los Com aquele amor Ardente, Verdadeiro, Transparente Que um dia nos uniu.

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Faz tanto tempo que eu Nem te vejo E ainda é presente o desejo De beijar a tua boca. Já tentei te esquecer, Te amaldiçoei. Mas tudo de concreto Que aconteceu Foi ter que abrir a porta pro amor Que não morreu. E recebê-lo aqui, Nessa apertada solitária... Eu com ele, nesse escuro cubículo, Me sentindo triste, turvo E ridículo.


Então, Quando acabar de ler este poema, Saiba que ele foi escrito,

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Keep Walking! -

Com o que há de mais bonito

Disse-me Johnnie

Daquilo que sente um homem.

Embalado pelo solo

Todas as mágoas somem,

Do saxofone

As angústias se vão

Meio rouco,

E fica apenas o amor de sempre,

Meio louco.

Sincero,

Pouca luz...

No coração.

Talvez isso tudo seja mesmo Blues.

Vão embora a dor

E eu aqui.

E a frustração. E o que toma meu pensamento

Dentro de mim,

E, agora, eu digo

Além do exagerado teor

É que eu só queria você aqui,

De bebida

Comigo.

Que anestesia,

Porque eu te amo!

Entorpece, Há um monte de coisas bonitas

Segurando a tua mão,

Que a gente não esquece

Escutaria, então,

E quer dizer, a qualquer custo,

Um mais doce,

Que sente.

Menos aflito, Grito Do oxidado saxofone. Keep walking! Diria, pra gente, o Johnnie.

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KEEP WALKING!


MEUS POETAS

A me proteger da tua

E o que seria de mim

De Shakespeare, os sonetos,

Vivo, assim, eu, pois, melhor que ti!

Indelicada frieza,

Sem Fernando Pessoa

Poderosos amuletos,

O poeta por mais que sofra, sorri!

E inexplicável escassez

Que, às vezes disfarçado,

Para a guerra

Tu, com teu silêncio

De caráter,

É incansável, é valente,

Pela vida.

Inescrupuloso,

Apenas o exército de poetas

Ao meu lado.

Injusta vida

Orgulhoso,

De versos,

Se desprezado,

Longe de ti.

Teimoso,

Diversos,

Quase sucumbo ao ataque,

Contundentes,

Mas rogo,

Estrondosos,

Pela força de Bilac,

Que invoco, em apuros.

Que não foge À mais violenta

Quando a solidão, 24

Das batalhas.

Cruel carrasco, Me enforca,

Quando a tristeza é

Salvam-me as palavras

Mais forte

De Garcia Lorca,

E, já beirando a morte,

Que traz consigo sempre

Rendo-me e

A inestimável ajuda

Sinto saudade,

De seu amigo de língua,

Curam-me os poemas

Pablo Neruda.

De Carlos Drummond de Andrade.

Cecília Meireles, meu escudo,

Sá-Carneiro, amigo,

Contra teu ódio, indiferença,

Tantas vezes abrigo

Quase tudo,

Do perene perigo

Não abandona a luta.

Da sala vazia.

É guerreira,

Do calor que nos unia,

Como os heróis de trincheira,

Perigosos resquícios...

Mário de Andrade

Prontamente eliminados,

E Bandeira.

Por Vinícius.

Desastroso, Estilhaços de dúvidas e a incerteza, Se invadem a fortaleza Em que me escondo, Num ato hediondo, Levam-me ao chão. Febril, não mantenho o controle Da mente Novamente Insana Mas guia-me ao meu leito, Mário Quintana. Hosana! O breve murmúrio De um homem De luto, Cansado da luta. Quem escuta? Quem ampara esse Pobre poeta que já nem sabe o que quer? Manoel de Barros, Gonçalves Dias E Charles Baudelaire!

Viras cárcere, Condenada por Camões, Que te leva aos porões. Menotti Del Picchia te tranca, Bocage insulta, E Florbela espanca!

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VUOTO

Oggi io ti ho cercato nella moltitudine. Tra i tanti che andavano, Tanti che venivano, Ho ricercato, attento, Ansioso, Una luminosità Che potesse denunziare il tuo sguardo La tua presenza. Ho atteso che la brezza del mare Portasse, rinvolta,

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Come regalo, Il tuo profumo. In mezzo alle voci e rumori Del cotidiano affrettato Ho tentato sentire La piú semplice Manifestazione della tua voce... Ma tu non ti sei fatta vedere. E, per rincontrarmi con te, Ancora una volta Ho mosso tutto quello Che é nostro Che ho mantenuto guardato Dentro me.

Alma quebrada. Que brada Com o coração sombrio. Sem brio. Sem amor, sem ódio. Só nada. Quieto, tolo, fraco. E frio. Coração sem cor. Sem ação. Coração carente. Que chora. Coração doente Que piora. Coração demente Se apavora. Coração dormente Ignora As súplicas da alma Que implora Por inesgotável calma Nessa hora!

TAGLIATELLE E que o coração desista de desistir Que o coração insista na insistência Porque se a alma gêmea demora a vir Quem pode ir buscá-la é a paciência. Mas o coração vazio, vadio, Vagueia vagaroso. Acuado. Desconfiado, arredio. Seco, oco, roto. Derrotado. Bate por bater. Dentro do peito. Sem ritmo, sem força. Tão triste. E num instante ímpar, imperfeito, Abandona a alma. E desiste.

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Onde está essa mulher

MAIS QUE PERFEITA

Em um rosto de menina, Um sorriso de mulher, Um olhar que me ilumina E a boca que não me quer

Que, há muito, em meus sonhos habita, Que faz de mim o que quer, Me encanta, me envolve, me excita?

Num corpo de mulher, Segredos de uma menina Me transformam em voyeur De um belo que fascina

Com lábios que me enlouquecem Com olhos que me atiçam Com braços que me aquecem Com seios que me enfeitiçam Sem medo de ser feliz 28

Sem pudor de ser mulher Sem complicar o que diz Sem reprimir o que quer Com mãos que me acariciam Com palavras que me prendem Com beijos que me saciam Com lágrimas que me rendem Sem manias e sem vícios Sem traumas e sem pavores Sem manhas ou artifícios Sem saudosos amores Com o perfume que eu quero Com o sabor que eu adoro Com formas que eu venero Com tudo por que imploro.

FEMININA

A mulher me enlouquece, Seu perfume me domina, Sua presença me aquece E me lembra a menina... A menina que me acalma Num dia triste qualquer. Me fala coisas com a alma E me lembra da mulher A menina encantadora... A mulher da minha vida... Numa face a protetora E na outra, a protegida. A mulher que me seduz. A menina? Me dá carinho. Uma é a minha luz A outra, o meu caminho. Quero a mulher e a menina, Quero tudo que puder... Quero a paixão genuína. Quero a menina e a mulher!

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Nunca mais vou te dizer Que és tudo o que preciso, Que não saberei viver Por não ter o teu sorriso! Teu olhar nada me diz A partir deste momento.

ÚNICA

Sobreviveu ao teu frio

Eu naveguei Os sete mares Te procurei Por mil lugares Te encontrei Entre milhares Me apaixonei Em dois olhares

Livrou-se do teu veneno

Lindos e ternos. Eternos.

As juras de amor que te fiz Foram-se, agora, no vento! 30 O meu coração, vazio, Ficou mais calmo, sereno...

Seguirá novo, sadio, Em busca de um amor pleno!

SONETO DA LIBERTAÇÃO

Na lembrança. Na saudade De te ter. Na esperança. Na vontade De viver.

31


180898

Momento solene

Chegaste,

Quando te vi

Sorriste,

Amor perene

Ficaste.

Nasceu ali? Aprendemos,

32

Uma hora antes

Sofremos.

Ou séculos depois

Vivemos.

Finalmente instantes De só nós dois...

180898

Não há poesia no mundo Que consiga exprimir Esse amor tão profundo Que eu insisto em sentir. Não há versos que alcancem Seu sentido ou dimensão, Tampouco rimas que entrancem O sentimento e a razão. É um amor inefável, Uma paixão inenarrável, Um desejo inexplicável... De um poeta inexorável Com uma força inesgotável E uma ânsia incontrolável Pela musa inestimável De alma inabalável E coração inescrutável. Tragédia inevitável?

INEVITÁVEL 33


BANHO

Serena. Sozinha com seus pensamentos... A luz do dia vem pela janela E antecipa o fim de maus momentos, Por todo o quarto o cheiro de canela.

CONDENADO Morro por ti, acredita! De tanto que te desejo, Minha alma põe-se aflita E morro pelo teu beijo!

Mais que o corpo, recompôs a alma No banho, imersa em tantas memórias Que se misturam e resultam em calma. Esquece as dores. Lembra das vitórias. 34

Com a toalha áspera na pele macia Remove medos, traumas e liberta. Já não se sente tão distante e fria, E já intui, com a mente mais aberta. E ela escuta o próprio coração Que antes do banho estava tão calado Mas agora bate com a emoção De um alegre recém-libertado. Entrega-se a moça, revigorada, A um destino muito mais bonito. Segura, em sua nova estrada De amor lindo, puro e infinito.

Morro também de saudade! Quando tu vais e demoras, Para mim a eternidade Cabe em um par de horas... 35 Maior ainda é a desgraça Se sentem o teu perfume, Se alguém te beija ou te abraça, Morro (e como!) de ciúme! Ou quando percebo-te triste Para mim, tenhas certeza, É a pior dor que existe E morro, também, de tristeza! Mas se tu beijas meu rosto Ou seguras minha mão Eu morro com todo gosto Porque morro de paixão!


Onde está você Que não está me procurando? Onde está você, amor?

Quando julguei-me liberto De toda a antiga agonia,

Cheguei a nenhum lugar... vi o desconhecido... Ou você vem me achar... ou tô perdido

De todo o passado incerto,

Perdido...

Daquela vida sombria... 36 Quando pensei ser o fim De tanta insônia e dor, Que o sol nasceria pra mim, Doando-me luz e calor, Percebi-me na verdade Preso em uma armadilha: Não há mais felicidade Sem teu cheiro de baunilha.

Solto nesse meu mundo de tédio... Preso nessa sempre-mesma-vida... Sem graça... Desgraça descabida... Doente de amor... E sem remédio...

37

Já não rio. Já não gozo. Já não sonho. Já acho o arco-íris enfadonho... Já não enxergo nem respiro poesia E é amargo o pão-meu de cada dia... Já não tô achando nada bom Nada disso aqui me satisfaz Tô achando Tom fora de tom E os versos de Vinícius, imorais... Onde está você Que não está me procurando? Onde está você, amor? Eu quero de volta o amor da minha vida Eu quero o amor da minha vida Só quero o amor da minha vida...

DE VOLTA

VÍCIO

Fui andando, desejando te esquecer, Machucado, eu caminhei a esmo... Só queria ir pra longe de você, Me afastei devagarinho... de mim mesmo...


38 39 40

Sabe aqueles dias Em que a saudade aperta E que a iminência da lágrima É quase certa? Nesses dias eu largo a dor Em um qualquer banco de praça Torno-me cúmplice do tempo Que não passa E acho engraçado Como mesmo longe Você continua Do meu lado Como são as coisas (bonitas e tantas) Que te trazem aqui Um simples quindim, Um teste de Q.I. Ou Beatles Na voz da Rita Lee. Loucuras de Gaudí, Couvert com Biskuí Ou o miolo doce Do abacaxi. Filmes de Woody Allen, Filmes com Al Pacino, Água com gás, Cappuccino, Bolhas de prosecco, Rolhas de vinho tinto. Espreguiçadeira pra dormir, Restaurante indiano Pra fugir. Avenida Niemeyer Pra gritar. Tangerina, Neosaldina, Sorrisos de neném, Fricotes de menina, E a Michelle Pfeiffer também... Muitas coisas que me fazem lembrar Aquilo que eu nem sonho esquecer Caixa com laço, Abraço de palhaço. Bandaid No calcanhar Canções do Bono Rir, até chorar, Na hora do sono. Tiramisu, Ironia, Fla x Flu E poesia. Muitas coisas que não me deixam esquecer Aquilo que não canso de lembrar. Menino Jesus De Praga. Gérberas, Girassóis, Ninja, Gueixa, Docinho, De ameixa Do Mundo Verde E tudo verde Água de coco, Anjo da Guarda, Piada da Arara, Piada Do macarrão Orangotango, Urso E leão. Muitas coisas que me fazem te querer, Muitas coisas que me fazem te amar. Gavetas arrumadas, Roupas combinadas, Iogurtes Saladas Idéias desenhadas Lingerie Como são as coisas Que te trazem aqui! Telepatia, Jeep e pôr-do-sol, Surpresa, Bombom de cereja, Canecas pra cerveja. Provérbios, Homem-aranha, Casquinha de siri, Tudo isso faz você estar aqui. Kahlua E a lua Que é da cor da tua pele E me lembra você nua. E as estrelas Milhares Como fossem os inúmeros Olhares Que trocamos. Sem palavras, Com palavras Que integram, Que entregam Os momentos, Os tormentos, Os diversos sentimentos Que senti. Tantas coisas, Belas coisas Que te trazem Novamente Aqui. Sabe aqueles dias Em que todas as pessoas São estranhas? Em que você perde o rumo, Perde o sumo Perde a calma Vende a alma? Sabe aqueles dias em que Você deseja morrer Ou ser argentino E não se emocionar Com o violino Que traz lembranças? Nesses dias Eu escrevo um poema Que não quer acabar Pra falar de um amor Que não vai acabar. Nunca.


VIDA COLORIDA Quero baldes de tinta. Quero a minha estrada colorida Com o amarelo do Vincent, O azul do Pablo E o vermelho da Frida.

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COISINHAS

Quero cor, Quero amor, Quero vida. Quero despir-me o quanto antes, Já nos próximos instantes, Da alma ranzinza, Feia, Como roupa de cadeia, Opaca, triste. Cinza. Quero o sol, laranja, Impressionante, Ultrapassando, soberano, O basculante Enquanto tomo banho E me livro do último resíduo, Do desbotado indivíduo Que não quero ser. Quero novos olhos Para ver, no mundo, O que eu não conseguia. O que a minha obtusa mente, Já não percebia. Quero novas cores. Novos amores. Quero alegria.

Olha, eu te amo desde o instante em que te vi E eu não entendo como isso pode acontecer Tudo o que te amei foi também tudo o que sofri E ainda foi melhor do que eu te fiz sofrer... 42

Errei!

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DESCULPA

E conviver com o próprio erro é muito duro Abala a confiança, o amor próprio, tudo. E deixa mesmo o mais forte, frágil e inseguro Assustado, deprimido, desconfiado. E mudo. Mudei!

E hoje eu só queria te contar dessa mudança Que fez de mim um homem melhor. Mais doce e tranqüilo E que encheu meu peito com um tipo de esperança De poder viver nosso amor, sem ter que reprimi-lo.


Um milhão de vezes, Te amo.

TE AMO

Me humilhando às vezes, Te amo. Em toda circunstância, Te amo. E a qualquer distância, Te amo.

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PAPO DE ANJO Meu anjo da guarda não guarda segredos, Me deixa dormindo e, sobre teu leito, Te conta em sonhos meus males, meus medos, Te faz minha dona. Me dá imperfeito. Te traz de presente meu tempo passado. Te mostra quem sou. Com pureza, verdade. E, à revelia, te diz meu pecado: Te amo. E já faz uma eternidade.

Te amo porque amo amar-te. Te amo e desejo desejar-te. Te amo por inteiro. Cada parte. Te amo. Insaciável em saciar-te. Te amo com amor puro. Inocente. Te amo com amor puto. Indecente. Te amo. E para sempre te amarei. Mas nunca me perguntes como sei, Porque não sei. Eu só sonhei Te amar para sempre. Como sempre amei.

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Eu quero aproximação Eu quero a próxima ação (Que não seja o fim!) Que seja o sim Que seja o som Das palavras Parece absurdo Mas estou ficando surdo De tanto que não escuto A tua voz Tuas palavras Eu quero o som Que tudo fique claro Quando você disser Que tudo fique, claro, Como Deus quiser.

BOCA CALADA

PALAVRA ABSURDO SOM

SURDO

BEIJADA

AÉ RE A

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DEUS

VOZ

PO NT E

Me dá tua palavra Qualquer palavra Eu quero o som Sussurro ou grito Que algo seja dito Pela boca Amada Beijada Hoje calada Qualquer palavra

Tenho no peito um amor puro, Forte e incessante. Sincero. Amor pronto, intenso. Maduro. Te amo, te adoro. Te quero!

E tenho na alma a saudade Que me arrebata. E eu choro. Volta! Traz teu amor de verdade. Te quero, te amo. Te adoro! Mas tenho na mente a certeza Que entenderás que eu te chamo Pois manténs minha chama acesa. Te adoro, te quero. Te amo!

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Eu me perdi nesse teu olhar Doce e sereno. Sinto-me tolo, frágil e Tão pequeno, Um menino, Entregue à vontade soberana Do destino. Eu sei... É só um retrato… Mas o que sinto é mais Que poesia, Fantasia, É fato. É mais que alegria, Euforia, É raro. 48 É tão bonito, Que o que eu penso em dizer-te Deve ser dito: Eu te amo! Mesmo tão distante, Já neste instante, Eu amo. Pensam que mal te conheço, Mas já absorvi-te Até o avesso… E pago o alto preço De dizer-te que te amo Mesmo antes De tocar teu rosto, Sentir, nos teus lábios, O teu gosto E abandonar de vez o meu juízo Pela conquista da jóia mais rara, preciosa… O teu sorriso.

NÃO! Não é possível Que tenha sido tudo em vão. O que li nos teus olhos Não foi mera ilusão, À toa não foi, à toa não foi, À toa, não! Só conheci o amor quando peguei a tua mão,

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À toa, não. Eu não posso entender E nem quero querer Que você suma e tudo se resuma Em versos perversos, Ditos, malditos e Pesados pesadelos Que eram sonhos E jamais serão Tratos abstratos Que se vão. Não foi em vão. Não foi em vão. À toa, não. Não!

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AINDA

Não consegui te esquecer, Nem mesmo sei se tentei, Por tanto tempo chorei… Quem sabe, quero sofrer? Talvez, amanhã, eu te esqueça Mas hoje, no pensamento, Vou viver cada momento Por mais duro que pareça.

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Cada beijo, cada olhar, Cada instante bonito Que parecia infinito Mas que solveu-se no ar Lembro, claro, do teu rosto, Da tua pele, teu riso, Do teu querer indeciso. Sinto, de novo, teu gosto, Teu cheiro. Tua boca na minha, Minha mão sobre a tua E quando te deixei nua? Aquele frio na espinha… O teu jeito charmoso De querer mais carinho E o suspiro baixinho Ritmando teu gozo, Esquecer? Sei, é possível… Mas desistir de tentar Pra sempre te conquistar, É inadmissível!

Corta o silêncio noturno O grito de um coração Que trota um tanto soturno Em busca de sua paixão. Incansável, persistente, Corajoso (ou insensato?) Persegue, inconseqüente, Um amor findo e ingrato, Foi desprezado uma vez E ainda assim, insistiu, Tudo em vão, o que fez O amor da vida, partiu. Um reencontro tão lindo… Então julgou ser eterno, Viu, de novo, o amor indo, Esteve mil anos no inferno.

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Esse coração calejado Bate como o de um menino, Segue em frente, apaixonado, Desafiando o destino. E é essa obstinação Que faz dele tão forte, Só desiste da paixão No instante após a morte.

DOIDO


DESEJO

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Desejo! Que me pulsa no peito Desejo! Em toda vez que me deito Desejo! Que a memória me traz Desejo! Que a tua falta me faz Desejo! Que mantém minha chama Desejo! Que me invade e inflama Desejo! Que dá luz à minh´alma Desejo! Inquietude que acalma Desejo de uma pele macia Desejo de uma mão que acaricia Eu desejo Teu corpo vibrante Tua linda risada Malícia no semblante De uma timidez ousada… Meu desejo Cada dia é mais forte, Em mim, faz o que quer... Ou me levará à morte Ou te fará minha mulher.

Não sei se tudo o que sinto Em teu íntimo tu sentes Mas, por defesa, tu mentes Pensando que, antes, eu minto.

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Ou talvez tu nada sintas E só quem sente sou eu… E se o sentimento é só meu Não há razão pra que mintas. E se nem mentes nem sentes Lá se vai a minha crença Que não via diferença Em expressões diferentes. Quero crer, então, que sentes Exatamente o que eu sinto. Melhor seguir meu instinto Do que ter atos prudentes.

SENTE. E MENTE.


SIGA SIGA SIGA SIGA SIGA SIGA SIGA SIGA SIGA Não sintas pena de mim Sei suportar minha dor Melhor que podes supor Ainda estou longe do fim

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Jamais me olhes com dó É pior que indiferença Já aceitei minha sentença De morrer, por viver só Não me tenhas como amigo Te juro, prefiro o nada Mas não te sintas culpada Nem te preocupes comigo Guarda qualquer falsa flor Prefiro até teus espinhos Eu não quero carinhos O que procuro é amor.

Escute que eu vou dizer que você está errando Desculpe mas você sabe muito bem do que eu estou falando Se hoje você está livre Com a morte de um grande problema Amanhã de manhã o sol nasce E renasce o seu mesmo dilema Porque eu sei que ainda existe Um pouco de amor E ele vai te seguir (pode crer) Aonde você for Eu sei que o destino assusta Eu sei que às vezes dá medo Mas pense antes de desistir Se ainda não está muito cedo

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Mas Se você quer ter a certeza Que nós dois chegamos ao fim Eu lhe digo com toda franqueza: Não vai ser fugindo assim!!! Tudo bem que o passado é suspeito Pelo seqüestro do presente Mas nesse crime hediondo e imperfeito Nosso futuro é inocente Eu acho que dá pra gente ser feliz Com toda a paz que você sempre quis E algo me diz que, seguindo, Insistindo com a nossa história, Lá na frente alguém está esperando: É a nossa Vitória.

VITÓRIA


Filha da puta, Pára e me escuta Porque eu te amo, Caralho. Como é que você não percebe, Parece até que não bebe!!! Tão insensível, obtusa... Vê se entende de uma vez Essa merda toda, O mundo que se foda, 56

Porque eu te quero, Porra! Mas, antes que eu morra, Porque depois não adianta... Defunto não beija, Presunto não abraça... Se eu morrer, fodeu, já era... Você senta e espera.. Aí só na próxima! E se você sair do inferno, Que é pra onde vai Quem fode Com a vida dos outros.

SORBONNE

Até quando vai durar Esse faz-de-conta De que está feliz? Olha na minha cara, caralho, E me diz! Porque eu duvido! Larga esse fodido Que não te merece. Porque eu não agüento mais essa Merda na minha garganta, Me sufocando.

SAUDADE Saudade não é saudável... Tão ingrata emoção É doença incurável É a solidez da solidão Saudade, insano vazio Que preenche o coração Saudade é um dia frio Bem no meio do verão

Vê se presta atenção, Deixa de ser burra, Você merecia uma surra, Mas não bato em mulher. Ainda mais a que eu amo, A que eu venero. Se o problema é tempo, Eu espero, Mas me diz até quando, Pra não parecer que está Cagando Pra essa coisa bonita Que eu trago no peito E chamo de amor.

Saudade é forma de dor Que dói no peito que espera Saudade é jardim sem flor Mesmo em plena primavera Saudade é falta de sorte Saudade é prima da morte Saudade derruba o forte Saudade... Maldade... Saudade é medo. É trauma De viver longe de ti, Saudade é minha alma Quando não estás aqui.

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MEIO SEM JEITO Fecho meus olhos E enxergo os teus: É sonho. Penso em teus lábios Encontrando os meus: Desejo.

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Se amo-te Não sei dizer-te. É desigual O que sinto agora, De tudo aquilo Que senti outrora. O teu toque Me devolve a paz. Teu sorriso Traz minha alegria, Tua voz É a melodia Que enche meu peito De um bem-querer Tão incomum. Cada abraço teu Traz-me certeza, Necessidade De mais um.

O teu sorriso Faz o meu sorriso, É perfeito, É do jeito Que eu preciso Pra viver. Se amo-te? Penso que sim. Mas tenho medo. E, para ser sincero, Não encontro a forma De dizer-te Que te quero…

Estou perdido E, olhando nos seus olhos, Busco sentido Pra tudo aquilo que até agora julguei Ter aprendido Mas nada sei. Nem mesmo posso explicar o que se passa No meu peito Cada vez que você passa Como um furacão Que não derruba casas Mas enche de asas A imaginação Deste poeta De coração Incerto, Temendo te assustar, Inseguro, Te afastar, Rodeado, escondido Te perder. Por um muro Estou perdido... De pedras. E sem coragem para achar o caminho Com medo de amar. Até você. Não sei dizer o que eu sinto... Até sua boca. Mas se disser que é nada, O que que eu faço? Minto. Se já não escondo mais minhas vontades? É muito mais que nada, Se já não controlo mais os meus desejos? É quase tudo... Se já não deixo de pensar nos teus carinhos? Tão forte, tão bonito, Nem nos teus beijos... Que nem acredito Estou perdido. E fico mudo... E a única mensagem de socorro Que me vem em mente É gritar que eu te quero Perdidamente!

PERDIDA MENTE

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LINDA

PRESENTE DE

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Não é de Pandora A caixa de um homem que só te adora. Não é a caixa que te apavora. Nem o homem que, só, te adora. E importa pouco seu conteúdo. O melhor de tudo Está fora... Então não peça de presente A minha ausência Embrulhada em cara Carência Encharcada com uma Essência De incerteza Porque não te cabe Porque não combina Com uma mulher tão bonita Uma alma de chita Rasgada Um coração apertado Um roto sorriso Um olhar opaco, Impreciso.

GREGO Preciso Dar, sim, o meu melhor presente, Único, Diferente: Esse amor enorme, lindo, Quente. Feito à mão por Deus, Pessoalmente, Para cobrir teu corpo, alma E mente. E te fazer feliz.

Lindo é o poema de amor Se lindo é o amor do poeta Que não cria, Interpreta Palavras que se ocultam Nos doces modos da musa. O poeta não faz nada Além de garimpar A sua doce amada. Cada olhar, sorriso. Cada gesto Num instante, torna-se O mais puro manifesto De amor. Linda é a poesia Se linda é a musa, que cria A cada instante, Dia-a-dia... As palavras Que o poeta escreve, Mas não se atreve A inventar... Os versos, o poeta respira, E vêm da musa, que transpira, Sedução, Ternura, Paixão. Linda é a tua poesia, Porque linda tu és... Porque louco por ti é o poeta, Que tu tens aos teus pés!

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DESCARTO DESCARTES Quanto mais eu penso Menos existo. Porque me consumo Em dúvidas, Lacunas. Porque me esgoto Em perguntas Sem respostas. Porque me esvazio Da coragem, Da esperança. Quanto mais eu penso, Mais me perco.

Eu quero tanto segurar a tua mão Que chego a tropeçar na ansiedade 62

E derramo, espalhando pelo chão, A minha, já escassa, sanidade.

Em jardins em que, outrora, nós andamos. Te encontro e, de súbito, te beijo... Na loucura, novamente, nos amamos. Quero criar com toda essa loucura Um novo e certo ponto de partida... Fazer desses delírios nossa cura Pra essa, então, desesperada vida Vir com a paixão, agora, renascida.

E já não sinto Saudades, Dor.

Quanto mais eu penso, Menos respiro, E sem achar de volta Menos choro, O caminho, Menos quero, Faço do labirinto Menosprezo. Um lar. Quanto mais eu penso, Menos acho a razão. Paradoxo. Pára tudo.

E, louco, em delírios, eu te vejo

E deixar a paz que tanto se procura

De certa forma, Me liberto.

Que razão há de existir, Se a razão de existir foi embora?

SONETINHO

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O que mais machuca Não é a distância, A ignorância Sobre a tua vida. Não são os golpes precisos Das más lembranças. Nem das boas. Não é pisar nos cacos De cada sonho Destruído. Não é ser estrangulado, Sufocado Pelas mãos frias, firmes, Implacáveis Do fracasso. Não é ser pisoteado por um Exército impiedoso de Dúvidas.

MACHUCA

Não é ser queimado vivo Pela inquisidora paixão Que ainda sinto. Não é ser lentamente torturado Pelo meu amor próprio e Pelo meu próprio amor Que um dia vi nascer, pequeno e indefeso, E criei. Não é ter que engolir a seco Todas as pedras que eu mesmo atirei. Não é ter meu ego extirpado. Nem é ver minha alma Violentada no cárcere. O que mais machuca, meu amor, São os profundos lanhos Dessa navalha afiada Do teu silêncio.

FUI FELIZ

FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI FUI

Já fui feliz Já tive beijos Tive sorrisos Já tive abraços Tivemos sonhos Tivemos laços Tivemos tempo E mil motivos Pra estarmos vivos Vivermos juntos Tantos suspiros Tantos assuntos Tantas histórias Tantas memórias Tantos planos e poesias. E muito amor. Amor. Agora vivo (ou sobrevivo) Sem notícias Sem carícias Sem contato, sem tato Sem nenhum sentido Não faz sentido Ficar sentido Ficar sentado Nesse estado De desespero De desatino Que nem menino Abandonado. Apavorado, Apaixonado. Me dá um beijo Dá um sorriso Me dá um abraço. Me faz feliz.

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A LUA E O POETA FOI-SE

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Foi-se! E eu fiquei Na companhia de apenas Umas poucas lágrimas Mais cinco ou seis palavras Presas na garganta. Foice! Que rasga o coração. Sangra o coração Pobre coração. Antigo lar de tantos belos sentimentos De sonhos e sonetos De esperanças, Danças, canções. Emoções. Foi-se! E o que era amor Virou saudade? Virou tristeza? Virou vazio?

Que virem, sim, Velozes, constantes As folhas desse ordinário Calendário Que dias passem em segundos. Voem! Que o tempo seja, na frente de tudo, Meu amigo. E que antes, bem antes, De eu enxugar meu rosto, Possa de novo (pra sempre) Sentir o gosto Do teu beijo. Que beijo! Definitivo, permanente. Eterno. Impregnado em cada milímetro Da minha memória. Beijo puro. Beijo doce. Beijo meu. Beijo da vida. Beijo que me deu vida. Vivo pra isso. Por isso. Foi-se! Te espero. Te quero. Te amo.

Pobre lua Que se deita, insone, nua, Em seu leito, ao léu, na rua Esperando a alvorada Desesperada, Coitada. Quase apagada, Não é mais que uma vela E ainda assim revela, Quando reflete na poça O poeta e a moça, A musa, Que recusa Viver o amor tão bonito Que jamais fora escrito Pelo poeta, Aflito Ao ver nos olhos da moça Uma poça: Lágrimas de orgulho E, num mergulho, O poeta tenta a sorte, Escapa, por pouco, da morte Afogado, Minguante como a lua, Pobre lua Que, insone, deita nua Sobre o poeta. Na rua.

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FICO Hipnotizado, Perplexo, Paralisado e Sem nexo,

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Descontrolado, Ofegante, Alucinado e Delirante. Intrigado, Indefeso, Abobado e Surpreso. Instigado, Confuso, Sufocado e Obtuso. Encantado! Muito feliz E apaixonado… Quando sorris!

ESFINGE Eu devia ter desconfiado Desses olhos de leão Que escondem o coração De pedra De uma esfinge Que finge Nem me notar. Não me querer. Eu que tentei decifrar Desde o segundo segundo em que a vi Mesmo quando o que eu mais queria Era ser devorado. Era ter transformado Esse meu amor quase platônico Em um romance faraônico De final feliz (Juro que eu quis) Mas tudo o que resta do sonho É o deserto De escassas lágrimas pelo amor que não deu certo De remotas esperanças de tê-la de novo por perto Pra descobrir, pra conquistar Mais do que a aparência. Muito mais, a sua essência, O seu lindo coração, Protegido, escondido Pelos olhos de leão.

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De um nunca mais Quando passar por aqui qualquer dia Em vez de deixar o envelope com o Zé, Sobe, quem sabe eu te faço um café Daqueles que a gente tomava à tardinha Enquanto falava das nossas vidas Que eram tão próximas Tão pouco sofridas Lindas de viver

SANDÁLIA

Quando passar por aqui qualquer dia Esquece que um dia saiu apressada Lembra que aqui ainda é seu lugar Fecha os olhos e sonha de novo, Deixa a sandália voltar pro seu pé Acende uma vela e toma um café Abre o envelope e põe a alegria De volta no lugar

TALVEZ

Quando passar por aqui qualquer dia Deixa pra mim lá na portaria Um envelope com a minha alegria Que você levou por engano Quando, enganada, saiu Quando se foi apressada e aflita Deixando pra trás preciosos pertences: Meu coração e a sandália de dedo Enchendo a sala de dor e de medo

Volta Nem que seja pra mentir que estragamos tudo Nem que seja pra exigir que eu fique mudo Nem que seja pra falar o que eu não posso ouvir Nem que seja pra não assumir... ...o amor... Seja lá o que isso for (Mas) Volta E desvia o seu olhar do meu Diz de novo que já me esqueceu E tenta acreditar no que você me diz E nas tantas teorias sobre ser feliz Volta E murmura que já desistiu Ignora a canção do Gil Explica que não dava mais Porque eu roubei a tua paz! Talvez, Talvez você esteja certa Mas por via das dúvidas A porta vai ficar aberta... (Pra você voltar...)

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TÃO DIFÍCIL

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Vai ser difícil... Viver sem teu bom-dia Vai ser difícil... Ou talvez seja impossível Sorrir sem teu sorriso Respirar sem teu perfume Imaginar sem tua inspiração Vai ser difícil Outro rosto no porta-retrato Outros olhos pra me dar coragem Outra boca pra fazer silêncio (Vai ser difícil...) Chegar em Ipanema Escrever mais um poema Falar de cinema com alguém Vai ser difícil ficar sem… Vai ser difícil ficar bem... Tão difícil... Vai ser tão difícil... Tão difícil... Achar graça em agosto E beber sozinho Essa bebida sem gosto Que já foi... o nosso vinho... Vai ser difícil...

OLHA PRA MIM Olha pra mim mais uma vez Que eu esqueci de perguntar A tua música favorita O teu número da sorte Em que deus cê acredita E esqueci de te falar Que você tá tão bonita Que tenho medo da morte E que a vida é esquisita Se você não está. Fica só mais um instante Que eu esqueci de perguntar Se essa lágrima que escorre Foi casual, um mero cisco Ou se corremos o risco De ser de dor. É de doer. É de matar Essa saudade que ainda vou sentir Essa tristeza que ainda vou chorar Essa verdade que eu vou dizer, Olha pra mim pra não esquecer, Que eu te amo e vou sempre amar.

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TEUS DIAS

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Sinto tua falta. E mesmo sem saber se um dia Hei de rever-te, Desejo que teus desejos Tornem-se reais, Que teu peito seja lar para o amor E tua alma Para a paz. Que nos teus dias Não caiba o medo, Não caiba a dor, Não haja sequer a sombra Da incerteza E que teus passos sejam firmes, constantes, Seguros Na direção, não necessariamente do paraíso, Mas do que, tu, julgues preciso Para viver. Que a sagrada luz Que brota dos teus olhos Ilumine a tua estrada Para que torne-se serena Tua jornada. E que em todas as manhãs O perfume inconfundível Da felicidade Faça-te perceber teus sonhos, Tornando-se Realidade.

Eu quero você de todos os jeitos Com todas as suas manias E defeitos Com todos aqueles seus pretextos pretéritos Mais que imperfeitos Que fazem tanta falta Num dia como hoje Em que o maior de todos meus desejos É caprichar na retórica Pra lhe pedir dois beijos Um pra agora E outro pra levar Porque daqui a meia hora Eu sei que vou sentir saudade Eu sei que vou sentir vontade De novo de você E vou lhe querer Com todos os seus vícios E artifícios Com todos os seus medos E segredos Com todos os seus risos E improvisos Com toda a sua imensa Toda a sua intensa Vontade de viver Eu quero hoje, amanhã e sempre, Eu quero você

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EU QUERO VOCÊ VOCÊ VOCÊ VOCÊ VOCÊ VOCÊ VOCÊ


JANELA

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Ah! Eu preciso abrir a janela Eu preciso ver o sol Eu quero acabar com essa profana agonia De todo santo dia... Desde o dia em que você foi embora Desde aquela hora, Eu me calei. Todo esse tempo Mudando e mudo Em todo esse tempo eu só escuto Caetano. Calado, como um velho sábio monge Tibetano, Vendo a minha desbotada eloqüência Deixar nascer uma bem-vinda paciência, Vendo o meu orgulho imenso Queimar como um incenso Que impregnou o ar com um perfume de baunilha E nostalgia, Poderosa amônia A despertar minha indiscreta insônia Que, ontem à noite, sem eu perguntar, me disse Que é vazia e inútil A metamorfose, se o amor foge Pra longe, pra onde Você não vê. Por isso hoje eu abro a janela Fujo desse estéril castigo Que, errado, julguei ser o meu abrigo E pra cada um que passa eu digo Como se fosse o meu melhor amigo Que eu amo você, Que agora eu já entendi E eu te quero aqui.

Hoje foi um daqueles dias Em que você vem, não sei de onde, Escancara as portas cerradas, Seladas, Geladas, Do meu pensamento, Olha nos meus olhos em rápido Movimento, Sem-cerimônia, Sem perguntar se é o melhor Momento Para ficar. E fica. Deitada na espreguiçadeira De velha madeira. O dia inteiro, Para meu completo, cruel e Indiscreto Desespero De quem não esperava visita, De quem se preparou para estar só. E sem ação, Nem opção. Fico sem voz, Voz, voz... Como eu sabia! Eu não devia Ter escutado o Gilmour... Tão convincente, De jeito manso, amigo E eloqüente... Eu perguntando uma razão – só uma –

Para existir E ele veio com aquela história De Wish You Were Here. E agora? Eu não consigo mandar você Embora, Fico olhando, Querendo pegar no colo, Pedir ao Roger mais um solo E, antes do último acorde, Acordar você Com um beijo E um abraço... Meu Deus, o que eu faço Para essa mulher sair do meu pensamento Para invadir, tomar de assalto Meu apartamento, Acabar de uma vez com essa parcimônia De carinhos, Pegar a minha mão, Me entregar seu coração Para sempre? Meu Deus, o que eu faço Para que hoje Seja passado? E distante.

HOJE

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Tão presente... Se me distraio um instante Não mais que de repente Você aparece E, sempre que acontece, Tudo se renova, Tudo põe à prova 78

O que quero crer. Há sempre alguém Para falar seu nome, Para lembrar seu jeito, Citar suas palavras. Há sempre uma pergunta, Sempre alguém que junta, Tantos retalhos. Muitos atalhos Até você. E tudo gira em torno Em belo contorno Da sua silhueta

ONIPRESENÇAONIPRESENÇA ONIPRESENÇA ONIPRESENÇA

Mesmo tão distante,

Projetada na parede, Saciando a sede Que a saudade causa. Uma breve pausa No distanciamento, No meu sofrimento. Um raro momento, Para sorrir. Frágil miragem! Rápida viagem Ao passado. (O que eu fiz de errado?) Mas há algo de bem triste Nisto que insiste Em me possuir. Quando volto a mim, Eu só vejo o fim. Eu só sinto a dor.


Este livro foi impresso na primavera de 2004, no Rio de Janeiro, em papel offset 90gr, fonte Geneva Fotolitos: Upgrade – Gráfica: Artes Gráficas Concord



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