Jornal Maranduba News #33

Page 10

Página 10

25 Janeiro 2012

Jornal MARANDUBA News

Depois de 50 anos caiçara fala de seu sequestro e dos filhos com a “Capóra” EZEQUIEL DOS SANTOS e WAGNER JOSE Braz Manoel de Oliveira, 72 anos, natural do Sertão da Quina, caiçara típico dos sertões, quando jovem matou onça, enfrentou touro bravo, morou no mato, pescou de tudo e aos 18 anos foi trabalhar para a Petrobras abrindo a picada do caminho que liga Caraguatatuba a Salesópolis. Os nativos diziam que o lugar era assombrado, como desbravadores gostavam do que faziam. Eles acompanhavam uma máquina que ia rasgando a floresta e abrindo um caminho, que existe até hoje. Era 1958 e os camaradas viviam alertas por conta dos bichos que viam na floresta. “O povo de “primero” (antigamente) era até bão (bom), a gente só tinha receio de bicho, principalmente de onça”, comenta Braz Manoel. Valente como um Tupinambá enveredava sem medo por grotões e espigões da floresta, era o primeiro a passar o facão em algo que não conheciam ou chumbo grosso a quem mostrasse algum perigo. Mas tinha algo que eles temiam, viam, atiravam, mas não conseguiam acertar. Diziam na época que para matar um destes era necessário derreter vela benta no chumbo. Segundo ele por varias vezes o grupo viu algo como humanos se mexerem na floresta, percebia que estes seres vinham sempre por volta das seis da tarde e os observavam. Braz que além de valente é curioso nato, aproximou-se de três destes seres, era por volta do “cerão da noite”, eles não esboçaram nenhuma reação, portanto parecia que não eram agressores. Por três dias eles fizeram o mesmo ritual,

Foto: Wagner José

só que no dia seguinte Braz resolveu chegar mais perto. Começa aí uma história de contos de aventura, um dos seres o capturou e o levou a uma caverna. No escuro, preso pelos fortes braços do “ser” e viajando em alta velocidade pela floresta não conseguia marcar o “carrero” (caminho) do bicho para voltar, caso tivesse êxito na fuga. Pela manhã estava aninhado no fundo de uma caverna escura sobre um acolchoado de palha e folhas, a sua volta utensílios de cozinha feitos de madeira e conchas, frutas e bicho do mato para

saciar a fome. “Comi, tava com fome”, quando saiu viu a sua frente seu algoz - uma Capóra, em carne, osso e cabelos. “Era um ser alto, forte e veloz, tinha cabelos até os tornozelos, não falava, comunicava-se através de ameaços com os braços e mãos, pés para traz e era uma fêmea, só dava para ver partes do rosto, olhos, nariz e boca quando afastava os cabelos”, descreve o aventureiro. Braz como bom caçador, se fez de caça, ficou pra observar seus costumes, seu ritual, seu jeito, os horários de saída e chegada, o local onde estava,

sempre planejando uma rota de fuga. Por outro lado, os companheiros de serviço e a empresa empreitaram busca ao seu valente funcionário. Mas foi em vão! Com o tempo todos pensavam que Braz havia morrido. Ele descobriu que o ser tinha medo de água da chuva, do rio e do mar e que suas unhas serviam como navalhas e que com o tempo ganhava liberdade para tomar banho no rio e colher frutas. Caçar ela não deixava, buscar lenha também, com o tempo ele foi sendo mais bem tratado e que ela era na realidade uma mulher que não falava de cabelos longos. “Tinha tudo que uma mulher tinha e tava tudo em cima, só que tinha os pé virado, me botava no colo, trazia comida, botava eu pra dormir, trazia lenha, frutas, caça”, alguns destes detalhes não puderam ser publicados. Sem noção do tempo ele foi ficando e acabou descobrindo a direção do mar. Conta que em um dado momento pintou até um romance, um clima e com ela teve dois filhos. Segundo Braz também havia Capóra macho, que seqüestravam mulheres. Para ele os seres buscavam companheiros para procriarem e que, no caso dele, no momento da procriação era “igualzinho a uma mulher que conhecemos” e que até a amamentação e o trato das “coisas” (partes intimas) parecia muito com a dos humanos. “Um dia avoei no mato, não quis saber, acompanhei o rio e quando cheguei na préia via ela atrás vindo a galope, me pinchei na água do mar e lá fiquei, ela me mostrou a criança, com o braço me chamava, margulhei bem fundo e ela foi-se embora”, descrevendo a fuga. Nadei

pra outra praia, achei a picada de Ubatuba a Santos e segui “adiente”, encontrei uma casa simples, dentro uma senhora me socorreu barbudo e com fome. “A sopa d’água estava uma delicia, fazia tempo que eu não comia algo tão gostoso”, desabafou pra senhora. Ele contou o caso à dona da casa que falou da existência da Capóra e que seria o único humano que conhecera com vida fugido das garras deste ser da floresta. Braz conta que uma mulher também cabeluda havia aparecido na Ilha do Montão de Trigo em São Sebastião, ela havia fugido de uma Capóra macho e chegou a ilha com vida. Aos 21 anos Braz se reapresenta a empresa, recebe todos os anos atrasados e recomeça a vida em outra função. A vida segue e agora em 2012 confessa que a Capóra foi sua primeira mulher e que sente falta dos filhos que com ela teve. Já tentou voltar, mas sua mãe não permitiu. Braz teve mais cinco mulheres, a última o acompanha por 41 anos e que o fez “segurar o facho”. Braz é conhecido como Braiszinho do Fidencio, cujo pai, assim como o filho tem também muita história para contar. Braz deu dicas de várias outras aventuras, que para deleite de nossos leitores publicaremos em outras edições.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.