Poesia essencial

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Roseana Murray

POESIA E S S E N C I A L

ORGANIZAÇÃO

Hebe Coimbra 2ª edição

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© do texto, 2002 by Roseana Murray Direitos de edição adquiridos por Manati Produções Editoriais Ltda. Telefax: (21) 2512-4810, 2274-2942 manati@uninet.com.br www.manati.com.br É terminantemente proibida a reprodução do texto e/ou das ilustrações desta obra, em parte ou no todo, para qualquer fim, sem autorização expressa e por escrito da editora. Revisão de originais Hebe Coimbra Revisão tipográfica Luzia Ferreira de Souza, Tereza da Rocha, Sheila Til Projeto gráfico Silvia Negreiros 1ª edição, 2002 / 1ª reimpressão, 2005 2ª edição, 2010 Obra atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

CIP–BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ M962p 2. ed Murray, Roseana,1950Poesia essencial / Roseana Murray ; organização Hebe Coimbra. – 2.ed. – Rio de Janeiro : Manati, 2010. 128p. ; 15 × 22,5cm ISBN 978-85-86218-76-7 1. Poesia brasileira. I. Coimbra, Hebe, 1948-. II. Título. 10-3623

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CDD 869.91 CDU 821.134.3(81)-1

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Sumário A FORÇA DA P ARTÍCULA E O NÃO TEM P O DE ROSEANA MURRAY , 9 Caravana, 13 • Adagas, 14 •Vento, 15 • Um chamado, 16 • Nódulo, 17 Ametistas, 18 • Espera, 19 • Humano, 20 • Armadilhas, 21 • Entrega, 22 Espanto por espanto, 23 • Gestos, 24 • Garça, 25 • Calendário, 26 Estrada, 27 • Nuvens, 28 • Tateando caminhos, 29 • Estrela e chão, 30 Entardecer, 31 • Vida, 32 • Sonhos e ossos, 33 • Escrita, 34 Moluscos, 35 • Poemas, 36 •Vento, 37 • Alguns elementos, 38 Crepúsculo, 39 • Uvas e sinos, 40 • Lamparina, 41 • Alguns gestos, 42 Nessa hora, 43 • No campo, 44 • Rede, 45 • Cais, 46 • Desejos, 47 Corte, 48 • Profecia, 49 • Flores, 50 • Despedida, 51 Desejo, 52 • Grito, 53 • Sozinha no campo, 54 • Umbrais, 55 Penhasco, 56 • Pelas ruas, 57 • Armadilha, 58 • Desamparo, 59 Ando muito só, 60 • Spleen, 61 • Passaporte, 62 • Autorretrato, 63 Genealogia, 64 • Uma semente, 66 • Uma xícara de café, 67 Água de palavras, 68 • Chama, 70 • Te enlaço, 71 • Um certo olhar, 72 Tempo, 73 • Pedras, 74 • Estilhaços, 75 • Aprendizado, 76 Voo solitário, 77 • Amigo, 78 • Para meu filho, 79 Como água que corre, 80 • Partida, 81 • Ronda, 82 • Fio por fio, 83 Osso, 84 • Caracol, 85 • Um rio, 86 • Para o amor, 87 • Cálice, 88 Labirintos, 89 • Águias, 90 •Vestígios, 91 • Momento, 92 • Poesia, 93 Gavetas, 94 • Paixão, 95 •Violenta liberdade, 96 • Azeite e vinho, 97 Pedido, 98 • Amor, 99 • A mesma fonte, 100 • Silêncio, 102 • Oferenda, 103 Mapa, 104 • Tua vida, 106 • Réquiem, 107 • Ouvir estrelas, 108 Uma planta, 109 • O cotidiano, 110• Poeira, 111 • Fragmentos, 112 Mariposas lilases, 113 • Raízes, 114 • Substância, 115 • Um retrato, 116 Tarde, 118 • Os relógios, 119 • Manhã, 120 • O pão do silêncio, 121 Praça ao relento, 122 • Navegante, 124 • Sinos, 125

BIOGRAFIA DA AUTORA , 127 • OBRAS DA AUTORA , 129

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A força da partícula e o não tempo de Roseana Murray Prazenteira, sim, mas também muito difícil a tarefa de organizar esta antologia poética. Desde a primeira leitura dos livros de Roseana Murray que nela seriam reunidos, Paredes vazadas (Memórias Futuras, 1988), Pássaros do absurdo (Tchê, 1990), Caravana (inédito, 1994) e As cidades e a casa (inédito, 1998), ficou claro que o ideal não seria a clássica disposição cronológica de obras, que apresenta a trajetória de um poeta revelando os seus possíveis vínculos com movimentos ou grupos literários, as rupturas, as influências, enfim, as diversas fases por que passa seu trabalho e as marcas desse ou daquele tempo em seu verbo. Uma antologia poética deve reificar o mundo do poeta e seu universo manifesto em poesia. Mas como fazer isso amparada na esteira cronológica se, para Roseana, “a vida começa hoje/ sempre por um fio/ a alma é um pêndulo/ leva as horas de encontro às pedras”, se do tempo sua poesia não deixa sinais? De sinais, o mais abrangente, o da liberdade. Melhor, o da leveza da liberdade. Foi então essa atmosfera de leveza, encontrada em cada um dos quatro livros, que guiou a seleção desta antologia. Uma leveza nem de longe relacionada com superficialidade. Os temas densos, a solidão, a morte, a angústia, as perdas, vêm sustentados por uma trama de sofisticados jogos de linguagem que se faz transparente para revelar apenas aquilo que é simples, delicado. Uma simplicidade que vem das palavras. Mas não se engane o leitor. Simplicidade aqui não se relaciona com fácil, e sim com uma extraordinária riqueza de sensações que as palavras provocam: sino, pássaro, estrela, nuvens, vento, silêncio, miragens, pedras, janelas, precipícios, ossos... Palavras “com seus dentes/ seu mel e veneno”. Palavras do nosso dia a dia que se repetem em versos livres, mas que, em suas diversas combinações, se turvam e se abrem para muitos significados. Durante a seleção e organização dos poemas, ficou evidente a alquimia da poeta, seu talento para perceber a poesia da partícula, para 9

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tecer um cosmos íntimo costurando palavras e silêncios com a destreza de um físico que brinca com a matéria e a antimatéria. Roseana faz poesia como quem dança com as ínfimas e superpotentes correlações da mais minúscula poeira, do mais curto dos silêncios, com um todo que ultrapassa a barreira do espaço-tempo. E o leitor, amparado em sua pena, deixa-se levar pelo encanto e aconchego do buraco negro. Daí a dificuldade de lidar com a poesia de Roseana: cada poema tirado ou acrescentado no conjunto da antologia, assim como cada alteração em sua sequência, produzia um resultado tão forte quanto o da fissura de um átomo. Assim, para manter a atmosfera de leveza, o essencial na obra da autora, esta antologia foi organizada com o cuidado de quem se sabe armando uma explosão estética, uma bomba sinestésica pronta a ser deflagrada pelo ínfimo peso do olhar do leitor sobre as páginas de um livro. A ideia não era apontar esse ou aquele tempo da vida da autora, muito menos seus vínculos com esse ou aquele lugar, com essa ou aquela obra. A ideia era fazer brotar no leitor a comunhão com a poetisa. Se esta antologia alcançar seu objetivo, ela servirá de breve apresentação ao mundo de Roseana Murray e à sua obra ainda em construção. E que venham muitos novos livros seus para abrigar os leitores desta travessia poética. Pois quem lê seus versos com um olho na partícula e outro no todo, com um ouvido no verbo e outro no silêncio, deixando-se engolir pelo buraco negro da arte para alcançar um novo e fascinante universo, de vez em quando vai sentir vontade de voltar para lá. De voltar a visitar uma poetisa brasileira chamada Roseana Murray.

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C a rava n a no meio do deserto os homens arrumam a noite para que a caravana pouse o céu é de zuarte e o silêncio anda em círculos feito lobo alguns mastigam sonhos enquanto o sono costura as pálpebras com o fio do não tempo essa é a pausa entre um século e outro entre um delírio e outro em algum lugar dorme um poço com seus anjos e demônios 13

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A d aga s hรก os que na vida se sentem confortรกveis como se a vida fosse uma velha conhecida uma vitrine eternamente posta eu por mim sou daquela tribo errante dos que jรก nascem com as veias cortadas atravessar planetas e horizontes e domesticar adagas

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Ve n t o então fiquei muda por muito tempo às vezes tocava meu pequeno sino de amealhar palavras fechava os olhos e fabricava delírios na casa e nos espelhos eu não me reconhecia eu era um voo murmurado estou cansada me ajoelho no fundo da caverna as mãos espalmadas para que venha o vento 15

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