Revista +Cristão Edição04

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PEDOFILIA

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passa a espancá-la ou a fazer terrorismo emocional”, alerta a subtenente Guerreiro. A omissão da família é mais um duro golpe contra a criança que sofre abuso sexual. No lugar onde deveria se sentir amada e protegida, há quem exija o seu silêncio, enquanto outros minimizam o caso por medo das consequências de uma denúncia. Segundo Guerreiro, 90% das mães são coniventes com o crime. “Elas fingem que não veem ou, quando percebem, não abordam a situação. Muitas, por ciúmes e por julgar que foi o filho quem seduziu o marido, passam a maltratar a frágil vítima”, afirma. A subtenente, que é membro da Igreja Evangélica Quadrangular de Curitiba, diz-se radical quando trata do assunto. “Culpo 100% os pais pela negligência com seus filhos. O que me assusta não é a violência de poucos, mas o silêncio de muitos. Quem poupa o lobo sacrifica a ovelha”, resume. Em geral, as pequenas vítimas levam anos para falar da agressão ou jamais o fazem. Na maioria das vezes, a dor emocional é tão intensa que o silêncio ensurdecedor impera. Na tentativa de amenizar o sofrimento da vítima – se é que isso é possível –, a psicóloga e especialista em violência doméstica contra crianças e adolescentes, Cristina Fukumori Watarai, de Londrina, interior paranaense, utiliza em seus atendimentos, inclusive nos

Foto: Arquivo pessoal

”QUEM POUPA O LOBO SACRIFICA A OVELHA.” O nome não poderia ser mais apropriado: Subtenente Guerreiro. Sobrenome de coragem para uma tarefa tão difícil. Há trinta anos na Polícia Militar do Paraná, Tânia Mara Guerreiro é a única policial militar do Brasil especialista no combate à pedofilia e representante da ONU nessa área. Toda essa experiência credenciou-a a dar palestras país afora e pelo mundo. A convite da Interpol, já palestrou em países como Hungria, Canadá, França, Portugal e Alemanha. De norte a sul do Brasil, ela viaja para alertar pais, professores e famílias sobre a importância de denunciar. Tânia Mara Guerreiro entrou nesse perverso mundo quando coordenava a área de desaparecidos do Movimento Nacional em Defesa da Criança Desaparecida do Paraná e logo percebeu que crianças e adolescentes achados nas ruas não queriam voltar para suas casas. Intrigada, procurou as causas e se deparou com os abusos sexuais que sofriam em seus lares. “Nas ruas, eles se protegiam e ninguém avançaria os seus sonos. Mesmo assim, muitos dormiam com uma faca embaixo do travesseiro”, relembra. Quando o algoz é um parente ou tem vínculo com a família, por conta dos laços afetivos e de confiança, a criança com idade de até sete anos pode não interpretar o abuso como agressão. Como é molestada desde cedo, considera como naturais as brincadeiras sexuais. “O pedófilo é astuto. Ele inventa historinhas e jogos, brinca, dá doces e presentes e, assim, ganha a confiança. Quando a criança percebe que o ‘carinho’ que ela recebe não é o mesmo que ele dá às outras crianças, passa a considerar a atitude errada. Então ela se isola, fica triste, agressiva, urina na cama e passa a ter dificuldades escolares. Já o pedófilo impõe o pacto de silêncio e, quando a criança diz ‘não’,

Tânia Mara Guerreiro, subtenente da Policia Militar do Paraná

“Estimativas apontam que quatro em cada cinco casos de pedofilia são cometidos por familiares ou pessoas próximas.”

casos de abuso com fins de perícia judicial, atividades lúdicas, brincadeiras e historinhas. Tudo para levar a criança a relatar como foi a agressão que sofreu e quem a vitimizou. “No trabalho com crianças, conduzimos a entrevista de forma a trazer menos dano a ela. O profissional que atende às vítimas precisa ter um mínimo de experiência na área; caso contrário, o envolvimento com a parte prejudicada, a história relatada e os sentimentos despertados no profissional podem gerar ansiedade e interferir no processo de avaliação”, explica. Ainda segundo Watarai, o profissional deve ser cauteloso ao perguntar para as crianças, de forma que não as induza a responder. Cristina Fukumori Watarai, membro da Igreja Evangélica Holiness, em Londrina (PR), por vários anos atendeu no Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), da cidade paranaense. Lá chegam crianças vítimas de violência, e seu trabalho era descobrir se elas teriam sofrido também abusos sexuais. Durante o tempo em que atendeu no CREAS, ao lado da psicóloga Alessandra Rocha Santos Silva, ela ouviu histórias tristes e assustadoras de crianças e adolescentes destruídos pelos abusos sexuais.

+CRISTÃO FEVEREIRO 2014

25/02/2014 16:03:55


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