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PROJETO DA PREFEITURA LEVA CINEMA A PREÇOS ACESSÍVEIS PARA A POPULAÇÃO
Circuito SpCine leva telonas para locais da cidade que não são atendidos pelas salas de cinema comerciais
Fernanda Rossini e Marcela Aguiar
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Ocinema é uma arte essencial para todos, mas nem sempre essa necessidade é atendida para toda sociedade. E por isso que a Spcine, empresa de cinema e audiovisual da Prefeitura de São Paulo, desenvolveu o projeto “Circuito Spcine’’, que teve início em 2016 e hoje conta com mais de 20 salas de cinema distribuídas por toda a cidade, principalmente em locais que não têm as salas comerciais convencionais. O projeto oferece ingressos a 2 reais a meia e 4 reais a inteira. Em alguns dias, as sessões são gratuitas. Presentes em todas as regiões de São Paulo, as salas contam com programação de filmes nacionais, internacionais e títulos produzidos por produtoras independentes que estão crescendo no mercado do audiovisual. Em mais ou menos três anos, sem contar com o período de pandemia, 1,7 milhão de espectadores frequentaram as salas do circuito. De acordo com o site do Spcine, 10% da população paulistana nunca havia frequentado uma sala de cinema até 2014, antes de o projeto ser criado. As sessões, que acontecem toda semana, são muitas vezes o primeiro contato de algumas pessoas com as telas de cinema. “É impensável você conhecer alguém que nunca foi ao cinema e nessa época que eu participei do circuito SPCine, em 2016, eu conheci várias pessoas que estavam lá pela primeira vez”, relata o cineasta Marcos DeBrito, 43 anos. “Mas adoraram, porque não era nem o tipo de conteúdo que eles estavam acostumados a ver. O que é colocado na TV aberta e o que é feito por cineastas independentes têm um teor de crítica muito diferente”, completa. “A cultura é fundamental porque ela vai agregar na população de baixa renda uma formação intelectual importantíssima para o futuro dessas pessoas”, ressalta o jornalista e crítico de cinema Franthiesco Ballerini, 41 anos. De uns anos pra cá, o fomento à cultura por parte do governo diminuiu expressivamente, e um exemplo disso foi o desmonte do Ministério da Cultura, em janeiro de 2019, além da falta de destinação de verbas públicas para a produção e divulgação de filmes nacionais, o que dificulta ainda mais o acesso ao cinema pela população. “A cultura nacional dá força ao povo, e quando você identifica sua força você não aceita qualquer coisa. Hoje estão querendo que nós aceitemos qualquer um nos comandando”, afirma Marcos. Na bilheteria de cinema do CCSP (Centro Cultural de São Paulo), num domingo à tarde, uma fila de espectadores se reunia para assistir ao filme Phenomena #84, do diretor Satoshi Kon. “Acho que os filmes que passam aqui são mais diferenciados e esse filme tá de graça, então já é um grande atrativo”, conta a historiadora Laís Medeiros, 24 anos. Ela diz ser uma frequentadora assídua das salas do circuito SPCine, que conheceu por meio das redes sociais, mas afirma que muitas pessoas não conhecem a iniciativa pois a divulgação não é muito ativa. “Algumas só ficam sabendo das sessões porque já conhecem o projeto e estão no meio disso. E aí quem realmente precisava de cultura de graça acaba não sabendo”, afirma. A SpCine, além da exibição dos filmes através do circuito, também promove cursos de formação audiovisual, como o “Sampa Criativa”, que disponibiliza formação na área audiovisual, com foco em jovens que moram em bairros de maior vulnerabilidade social, além de editais de investimentos em produções independentes de curtas e longas-metragens. “A criação da SPCine foi, para mim, na área cultural, o melhor acerto do governo da época, não só como circuito de salas mas como organização que ela formou, porque trouxe para São Paulo uma profissionalização ainda maior do audiovisual nacional, inclusive porque assim temos acesso a alguns editais que são destinados a paulistanos”, ressalta o cineasta Marcos DeBrito.
Em meio ao desemprego, profissionais autônomos se reinventam e abrem empresas para garantir renda
Marco Fozter

Fábio Nogueira em um dia de trabalho em sua barbearia
Os profissionais autônomos são caracterizados por não terem vínculo empregatício com nenhuma empresa. Dessa forma, eles têm autonomia financeira e profissional, ao invés de desempenhar o papel de um funcionário efetivo, podendo até fazer as atividades em casa. Mesmo que os autônomos sejam considerados ocasionais, dependendo de como exercem suas atividades, isso pode se tornar um hábito. O número de trabalhadores por conta própria já totaliza 25,7 milhões no Brasil em 2022, um recorde na série histórica. No último trimestre, encerrado em julho deste ano, a porcentagem de autônomos cresceu 4,7%, em comparação com o trimestre anterior. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desemprego caiu em 22 dos 27 estados brasileiros no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses do ano, ainda segundo o IBGE. Cinco outros estados permaneceram estáveis. As maiores taxas de desemprego estão na Bahia (15,5%), Pernambuco (13,6%) e Sergipe (12,7%), e as menores em Santa Catarina (3,9%), Mato Grosso (4,4%) e Mato Grosso do Sul (5,2%). Na média nacional, a taxa de desemprego foi de 9,3% no segundo trimestre, ante 11,1% no primeiro trimestre, mas, conforme divulgado anteriormente pelo Instituto, o número de brasileiros sem trabalho permanece próximo a 10,1 milhões. Fábio Nogueira Rodrigues, 31 anos, é dono da barbearia Garage Barber Shop, localizada na Vila Maria, região norte de São Paulo. Ele comenta sobre o período desempregado e como conseguiu dar a volta por cima: “fiquei desempregado logo que terminei o curso de barbeiro, comprei tudo que precisava, vendi meu carro, reformei a garagem de casa, montei uma pequena e humilde barbearia, trabalhei muito e deu certo”. O barbeiro também fala de suas expectativas sobre a economia atual. “Desde o governo Dilma, a desburocratização para abrir um microempreendimento (MEI) ficou muito fácil, gerir as guias, alterar seu ramo de atividade etc. Porém, manter um negócio aberto é difícil. A energia elétrica está muito cara, os insumos estão absurdamente caros”, afirma o profissional. No Brasil, as atividades econômicas de maior crescimento no último trimestre foram os setores de construção (10,3%), alimentação (9%), serviços domésticos (7,7%), transporte, armazenagem, correio, barbearias (4,9%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (4,5%) e agricultura, pecuária, produção florestal, pesca
e aquicultura (3,2%), também de acordo com o IBGE. Rosângela Ferreira da Silva Menezes, 56 anos, é dona da doceria Tata Doces & Momentos, na Vila Medeiros. Ela explicou como consegue administrar uma doceria de sucesso na zona norte de São Paulo há quase 20 anos. “A confeitaria é uma paixão antiga, no começo só era para pessoas próximas e vizinhos, mas tive depressão pós-parto, e precisava de alguma coisa pra me tirar disso, então estou na confeitaria há 18 anos”, diz. Ela finaliza falando da dificuldade ser microempresária: “o início de tudo é difícil, você pensa que não vai dar certo, fica noites sem dormir pensando se foi uma boa ideia, tem pessoas e parentes que te colocam pra baixo, com palavras de má fé, que te desanimam, mas a minha fé é maior que tudo isso”. Cleomar Luis dos Santos, de 51 anos, é dono da Pizzaria Berlim e da panificadora Padoca do Bairro, também na Vila Medeiros. Cleomar nos conta como é a administração de duas empresas de sucesso e explica como foi o início de tudo. “Para seguir meu ramo, comecei na culinária como funcionário e me apaixonei pela profissão. Em seguida, eu e meu irmão criamos a pizzaria em 2000, sem ajuda da família. Fomos contratando funcionários e abrindo espaços cada vez maiores para os empreendimentos”, afirma. O empresário finaliza com uma dica para quem quer abrir seu negócio: “perseverança seria a melhor dica, perseverar nos sonhos e objetivos, foi isso o que eu e meu irmão fizemos há 20 anos atrás e hoje estamos aqui”.

Professores têm saúde mental colocada à prova durante a pandemia de covid-19
Diogo Costa
Apandemia de coronavírus trouxe diversos problemas para a sociedade, entre eles, questões de saúde mental. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, houve um aumento de 25% no número de pessoas que desenvolveram ansiedade ou depressão em todo o mundo. No Brasil, 53% da população vivenciou algum problema de saúde mental, segundo estudo realizado pelo Instituto Ipsos. Essa realidade também afetou os professores. Segundo uma pesquisa feita pela Fundação Nova Escola, 72% dos profissionais de educação tiveram alguma alteração na saúde mental, sendo que os distúrbios mais relatados pelos entrevistados foram estresse, ansiedade e depressão. No ano de 2021, essa mesma pesquisa relatou que o número de educadores com problemas mentais caiu para 47%. Segundo a psicóloga Patrícia Isabel Rossi, 54 anos, professores, tanto da rede particular quanto da rede pública, relatavam insegurança, especialmente relacionada ao medo de perderem o emprego. Além disso, a psicóloga afirmou que os pacientes tinham um nível de estresse muito elevado, porque os professores tiveram uma alta exigência durante esse período. Patrícia disse ainda que a maioria dos professores que ela atendeu foram diagnosticados com a Síndrome de Burnout, que, em resumo, se caracteriza por um esgotamento físico e mental intenso. Os educadores Bruno Gumieri Fernandes, 31 anos, e Luciana de Fátima Ruiz, 45 anos, expressaram a opinião deles sobre esse assunto. “Para mim, mentalmente falando, foi muito difícil enfrentar a pandemia, pois eu sempre fui um professor que gostei de manter contato com os meus alunos, e de repente, de uma semana para a outra, as aulas ficaram online”, afirma Bruno. Ele ainda disse que, depois de um tempo de pandemia, as coisas ficaram muito mais complicadas, pois ele começou a dar aulas para alunos que ele não conhecia. “E o pior de tudo é que eu não podia ajudar os alunos”, disse. Ainda para Bruno, a maior ajuda que ele teve nesse período foram os amigos, pois, em um primeiro momento, ele não quis continuar fazendo a terapia que já fazia antes da pandemia, já que os atendimentos poderiam ser feitos apenas de forma online. Várias pessoas tiveram alguma mudança na saúde mental durante os anos da pandemia, entretanto, Bruno disse que não foi diagnosticado com nenhum problema de saúde mental, mas a ansiedade que ele desenvolveu antes da pandemia se agravou significativamente. O professor também menciona que conheceu alguns educadores que tiveram problemas mentais no período. Bruno tem colegas que trocaram de profissão, pois não conseguiram se adaptar às aulas online e não queriam ficar longe dos alunos. Para a professora Luciana Ruiz, as coisas foram um pouco mais complicadas, pois, segundo ela, a maioria dos estudantes do Colégio Vicentino de Cegos Padre Chico, instituição onde dá aulas de português, são de baixa renda e não tinham os meios necessários para terem aulas de forma remota. Diante dessa situação, a professora ficou preocupada, pois não sabia se iria conseguir manter o emprego. Além disso, outro motivo de aflição era a manutenção da saúde física e mental de sua mãe. “Para mim, as aulas no modo híbrido foram o período mais difícil, porque eu me sentia completamente isolada. Às vezes eu fazia perguntas com relação à interpretação de texto e os alunos não falavam nada”, afirma Luciana. Para ela, os professores enfrentavam problemas com a saúde mental desde antes da pandemia, pois essa classe sempre teve que encarar alguns problemas particulares do setor, como o fato de ter que trabalhar de manhã, à tarde e à noite para conseguir um salário decente para o sustento da família. Sobre a procura de algum auxílio psicológico, Luciana afirma que não procurou ajuda durante o período online, mas sim depois que ela voltou a dar aulas presencialmente. Segundo ela, as sessões eram usadas mais para expor questões de cunho familiar, mas às vezes ela usava o tempo com a psicóloga para falar sobre questões profissionais. Além disso, Luciana ressalta que os professores devem buscar o autoconhecimento, pois para ela, o fato de ter começado a cuidar da saúde mental antes da pandemia contribuiu para que ela não desenvolvesse algum transtorno relacionado à saúde mental durante as aulas remotas.
