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Gira
P/ Carlos Fofaun
Escuta essa música, sente a nota, o ritmo, a voz
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É só uma vontade de dançar
Não é pra você Planetas colidiram e ficou esse fundo no peito, punhal fincado no ombro
Dançar sobre marcas de pneus até chegar no mar
Nunca foi pra você
Repara A música, o corpo, a voz, o coração bem aqui, batendo mais forte e o chão pra cair de cara
Dançar e parar de escrever letras pra canções de amor
Dançar e parar de escrever letras pra canções de amor
Dançar feito louca pra saciar meu afeto, minha fome sua
Dançar, dançar, dançar, dançar pra avivar meus demônios, dançar pra renunciar a remissão cabal da minha [entrega, rejeitar todo deleite, transmutar dor em alívio no boteco da esquina, dançar até os pés sangrarem a dor dilacerante da menina de 10 anos dançar e renunciar o amor três vezes dançar e renunciar o amor três vezes dançar e renunciar o amor três vezes dançar, dançar, dançar feito louca girar, girar, girar
Um movimento pra esquerda, forte, outro pra esquerda, bem forte
Dançar pra não chorar, não ligo se chorar, quero chorar, danço e choro, danço e choro, danço, danço, danço Tirei a cabeça da boca do leão, nem dentes ele tinha, quem quer saber de poesia, pudim com calda de goiabada, nem do vírus eles querem saber? Danço pra não enlouquecer e que vá tudo para o inferno, já que o inferno é aqui, a viagem não será tão longa
Sabe aqueles dias que tudo poderia ser perfeito, mas não é? Sua intenção de anjo não dobra a língua dos inimigos Seu cabelo parece um estorvo e você quase o cortou com uma faca Seus pares estão distantes e as crianças brigam Você deve saber Os confins estão logo ali dobrando a esquina e nem uma linha reta te satisfaz Você se sente uma estúpida O cara por quem você está completamente enlouquecida não te escuta Você está imóvel Trancada, mesmo que o lugar seja lindo, você está trancada Saca esse turbilhão de idiotas querendo soltar o vírus e você de mãos atadas? Pois então Por mais que ouça as canções de seus amigos, leia os livros atrasados, faça pão, bolo, troque receitas, arrume as gavetas, decore poemas, que visite Nina, Sara Martin, Clara Smith, Robert Johnson, Celso Blues Boy, King Você não tem fome, os sapatos apertam, a máquina de lavar quebrou, o seu cigarro acabou, você acha um cigarro e perdeu o isqueiro Sua unha está encravada Sabe aqueles dias que você se sente sufocada por essa gente insana, você mesma está insana pois aceitou cantar Sabe aqueles dias que nem roupa você precisa vestir e você bate panelas pra ninguém ouvir e, dentro da imensidão de sua solidão, você não tem mais voz e a pouca voz que parecia restar está quebrada pelas lágrimas pois esses dias estão afogados em dor de tantos irmãos mortos e você passando *kiboa em tudo, até na casca da banana e não pode ao menos beijar seu filho “Maior é o medo que a mente me apressa, da pena que aqui embaixo cumpre a gente; tanto que aquele fardo já me pesa ” E esse é o cammin di nostra vita Nunca o inferno de Dante caiu tão bem Sabe aqueles dias que você não pode despir suas roupas para poder amar e, nem pedindo os poderes da feiticeira de Cólquida, consegue teclar “fica comigo” pois hoje preciso de você entrando em mim Pois então Você já não pode quebrar a cara em bares nada civilizados (e isso não é uma fala literária) e obrigatoriamente você percebe que os valores que deveriam pairar sobre nosso governo caíram por terra e você está trancada É esse o dia Vou seguir os passos de **Jardelina Com licença que vou lá fora gritar e volto já
* Marca de água sanitária comum na região Sul do Brasil
** Artista popular paranaense cuja obra desafiou as intenções classificatórias e a noção de beleza