Extra Bella

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www.abril/extrabella.com.br

Extra Modos de usar

B

ELLA

Os anos 1950, 60 e 70 em looks atuais.

Especial óculos e relógios

Para todas as ocasiões.

Especial perfumes Nova fragrâncias e embalagens.

DIOR

SÉCULO XII

Entramos no ateliê da grife francesa que planeja se tornar a marca mais sedutora do planeta Ano 5 N º 6 Junho 2013 R$ 14,00

GUERRA DECLARADA Acabe com a celulite

JULIA IN LOVE Julia Roberts em seu melhor momento


Editorial Bem vindos ao inverno 2013 A chegada do inverno, trás novas tendências para nossos caros leitores. Aqui trazemos direto das passarelas os itens que vão abalar na estação! Agradecemos por continuar lendo nossas revistas, atenciosamente Abril

Sumário It people

Moda

94 Talitha Getty

226 Jogo de dama

O ícone da moda Soho chic.

Saia rodada, cintura marcada… Be a lady!

Repórter Avant Garde 100 O mundo encantado de Jum Nakao

236 Ela neosurf Peças inspiradas nas roupas das mulheres surfistas.

As criações de sonho do designer.

104 De primeira! A segunda marca de Lino Villaventura.

107 40 Anos de Cavali.

Décor

Comemoração de primeira.

260 Estilo Máximo

112 O rei do street

O olhar do francês Ora-Ito

Alexander Wang aumenta a sua linha T.

Gourmet

Homem 142 Javier Bardem Expediente Editora Abril Colaboradores

O ator está mais apaixonante que nunca.

264 Le Chef Chico Ferreira faz comida francesa sem frescura

Jaejoong, Taegoon, Hyuna Localização

Atitude

Viagem

Projeto Gráfico

147 Anos incríveis

Vivian Kato e Natália Luz

O sucesso da série Mad Man

268 Sagrada Catalunha

Rua do Rosário, 90, Centro, Rio de Janeiro-RJ, Brasil.

Impressão Berau Rio Tiragem 100 mil Site www.albril/extrabella.com.br

O charme da região dividida entre a França e a Espanha.


Na Capa

136 172 Beleza

Star

Guerra declarada

Julia in love

Acabe com a celulite

211 Especial perfumes Nova fragrâncias e embalagens.

Julia Roberts em seu melhor momento.

179 A OUSADIA DA DIOR

Dior do século XXI Entramos no ateliê da grife francesa que planeja se tornar a marca mais sedutora do planeta

115 Moda Modos de usar Os anos 1950, 60 e 70 em looks atuais.

179 Especial óculos e relógios Para todas as ocasiões.


Extra

BELEZA

guerra

DECLAR

Você, como 99% das mulheres, deve ter — adivinhe? — celulite. Antes de escolher os biquínis e os maiôs da temporada, leia os depoimentos de quem luta contra o problema e está ganhando a batalha. Nome Manuela Biz e Bel Ascenso / Fotos Paul Empson/Elin Skohagen/IMG

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e quase todas somos atingidas por esse mal, a solução é identificar as causas e enfrentá-las com tudo que temos à disposição, concorda? Você já deve saber, mas não custa relembrar: predisposição genética, alterações hormonais, uso de anticoncepcionais, sedentarismo, stress, tbagismo e maus hábitos alimentares – ufa! – são fatores que causam o efeito de casca de laranja. Vamos ser sinceras: não dá para se livrar completa e definitivamente da celulite, mas é possível amenizar sua aparência. Para isso, nada melhor do que agir em várias frentes. Sim, continuam valendo alimentação saudável, exercícios físicos regulares, cremes específicos e tratamentos com aparelhos – tanto os já consagrados como os novos, que prometem combater com mais eficácia os terríveis furinhos. Veja a seguir as armas usadas por algumas mulheres contra a inimiga.


RADA Drenagem linfática + Pilates “Não vivo sem drenagem linfática. A diferença no inchaço do corpo, depois de cada sessão, é muito grande e as ondulações, antes bem pronunciadas, foram amenizadas depois de seis visitas à terapeuta corporal. Para estimular ainda mais o efeito na região das pernas e dos glúteos, pratico pilates duas vezes por semana.” Alessandra Hruby, 38 anos, relações-públicas, Porto Alegre Circuito + Estimulação Russa + Creme “O primeiro passo para atacar as ondulações nas coxas e no bumbum foi aderir a um treino em uma academia especializada em circuito. A aula tem apenas 30 minutos, mas é muito intensa, não se para um minuto. Os

exercícios são repetitivos, nada divertidos, mas valeu! Em um mês, perdi 3 kg. Parti para a segunda etapa: ganhar tônus. Fiz dez sessões, duas ou três vezes por semana, de estimulação russa, que não doeu, pois a intensidade dos choques é controlada. Depois de tudo isso, percebi a redução de quase 70% na celulite de coxas e glúteos e ganhei firmeza nas pernas. Também uso diariamente o Bye Bye Celulite, da Nivea, para melhorar a textura e a firmeza da pele.” Laila Cury, 22 anos, estudante, São Paulo Creme + Drenagem + Estimulação Russa “Sempre apelei para um milhão de coisas para combater o efeito de casca de laranja e acho que compensa. Costumo investir em bons cremes, como o da Adcos, para usar diariamente e em 5


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BELEZA

sessões semanais de drenagem linfática. Já me submeti à estimulação russa, duas vezes por semana, por um mês, em um ‘projeto verão’. O tratamento deixou a musculatura das minhas pernas mais definida e diminuiu muito a flacidez. A intensidade da corrente elétrica do aparelho de estimulação é regulável, então não sofri durante o tratamento.” Daniela Cardoso, 33 anos, publicitária, Porto Alegre Velashape Apesar de ser magra e fazer musculação três vezes por semana, os furinhos teimavam em aparecer na parte interna das coxas. Optei pelo aparelho Velashape por indicação do meu dermatologista. O programa, com oito sessões de 40 minutos, cada uma, me surpreendeu — tive 80% de melhora! Não senti dor e vi a diferença a partir da sexta visita à clínica. Também gostei do efeito Cinderela que o equipamento dá — a pele fica firme —, ideal para o dia em que a gente quer deixar as pernas de fora. Claudia Costa Almeida, 29 anos, defensora pública, Belo Horizonte Exercícios Aeróbicos + Creme “Tenho furos visíveis, aqueles que aparecem mesmo sem pressionar a pele. Já tentei de tudo, mas percebi que o que conta é ser metódica. Vou à academia três vezes por semana e combino 30 minutos de exercícios aeróbicos com um treino específico para pernas e bumbum. Outro fator importante é usar os cremes de tratamento e não deixá-los no armário. Não sou fiel a marcas, mas os produtos da Nivea e L’Oréal Paris têm um ótimo custo/ benefício. Alternei os dois por duas semanas, todos os dias, de manhã e à noite, e minha pele ficou 50% mais firme e lisinha. Quando paro de usar, o aspecto casca de laranja volta.” Juliana Aprigio de Oliveira, 30 anos, professora, São Paulo 6

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Dieta + Manthus + Velashape “Estou seguindo uma dieta com o objetivo de queimar gordura e diminuir os furinhos que apareceram por causa do aumento de peso. Para acelerar o processo, fiz um pacote de oito sessões com o Manthus, que não me causou dor, só um leve aquecimento. Não acreditava muito em aparelhos, mas, por sugestão da minha dermatologista, decidi experimentar e gostei. Agora resolvi incluir no meu programa outro aparelho, o Velashape. Na segunda sessão (preciso fazer mais seis), percebi uma redução no aspecto de casca de laranja e senti a pele do bumbum e das coxas mais firme.” Cecília Freitas, 30 anos, advogada, Rio de Janeiro Manthus + Spinning “Depois de ter meus dois filhos, os furinhos se acentuaram, assim como a flacidez e a gordura localizada. Meu problema é a falta de tempo para cuidar do corpo. Em um mês de tratamento, fazendo duas sessões semanais com o aparelho Manthus, aliadas à prática de spinning duas vezes por semana, minhas roupas ficaram folgadas e o tônus muscular aumentou muito e mais rápido, principalmente nas coxas e no bumbum. Senti um pequeno desconforto com o equipamento, mas valeu a pena.” Nagila Godinho, 40 anos, advogada, Belo Horizonte Massagem + Carboxiterapia + Manthus “Tento fazer pelo menos uma sessão de massagem modeladora ou uma de drenagem linfática uma vez por semana e uso diariamente o creme redutor da Adcos para amenizar as ondulações no bumbum e nas pernas. Já experimentei sessões de carboxiterapia em uma clínica — a pele ficou lisa, mas, depois de um mês, resolvi parar porque o método era muito dolorido. Na verdade, o que mais gostei foi fazer um pacote de oito sessões, combinando Manthus com drenagem linfática. Não senti ne-

nhuma dor, só um leve formigamento, e tive a redução de 80% de flacidez e celulite!” Marina Amaral, 25 anos, advogada, São Paulo Velashape Associa a luz infravermelha com radiofrequência bipolar e sucção para quebrar as moléculas de gordura pelo calor. Há uma versão mais nova, o Velashape Plus, com potência maior. Sessões: de oito a 12, duas por semana. Preço por sessão: 300 reais. Estimulação Russa Também conhecida como corrente russa, é um estímulo elétrico com intensidade regulável, que causa a contração dos músculos. Ativa a microcirculação, amenizando o aspecto da celulite, e dá firmeza à região de glúteos, coxas e abdômen. Sessões: pelo menos dez, duas ou três por semana. Preço por pacote (dez sessões): a partir de 400 reais. Manthus Esse equipamento computadorizado utiliza terapias combinadas — um potente emissor de ultrassom, que quebra as células de gordura, e a corrente elétrica, para estimular a ação dos vasos linfáticos. Sessões: são necessárias cerca de oito, uma ou duas por semana. Preço por sessão: a partir de 300 reais. Carboxiterapia Injeção de gás carbônico na camada subcutânea da pele, com o objetivo de aumentar a circulação, reduzir a gordura e eliminar líquidos. Para minimizar a dor, há uma versão do tratamento com gás aquecido. Sessões: de oito a dez, uma por semana. Preço por sessão: de 80 a 150 reais.


Novas e poderosas máquinas Além dos tratamentos mencionados nesta reportagem, os especialisatas sugerem, para furos e ondulações visíveis, os seguintes procedimentos:

Accent Ultra Indicado para reduzir medidas e melhorar a flacidez, tem como efeito colateral a redução da celulite. O aparelho aquece a pele em profundidade, quebrando as moléculas de gordura e estimulando a formação das fibras de colágeno. Sessões: cerca de quatro, uma por semana. Preço por sessão: 500 reais.

Apollo A radiofrequência do aparelho promove a quebra do tecido fibroso da pele e a regeneração do colágeno, diminuindo furos, ondulações e flacidez. Sessões: cerca de seis, uma por semana. Preço por sessão: 500 reais.

Powershape Laser, sucção e radiofrequência reunidos em um único aparelho. Esse trio ativa a circulação sanguínea, combate os furinhos e estimula a produção de colágeno e de fibras elásticas. Sessões: oito, duas por semana. Preço por sessão: 300 reais.

Smoothshapes Uma luz específica aumenta a permeabilidade da célula adiposa e as ondas do laser de diodo quebram a gordura no seu interior. Os rolos e a sucção garantem a penetração do laser e da luz e movem a gordura para o sistema linfático, eliminando-a. Sessões: pelo menos oito, uma ou duas vezes por semana. Preço por sessão: a partir de 300 reais. * Preços pesquisados em setembro de 2010

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Julia Love in Como a protagonista de Comer, Rezar, Amar, Julia Roberts esbanja carisma e parece ter entrado definitivamente na melhor fase da sua vida. Nome Will Blythe / Fotos Tom Munro

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ão são muitas as atrizes que chegaram ao patamar de Julia Roberts. Linda, carismática e segura, ela é capaz de arrastar multidões às salas de cinema independentemente do filme. Imagine, então, quando a história é a adaptação de um best-seller mundial? O livro Comer, Rezar, Amar, de Elizabeth Gilbert, figurava havia tempos no primeiro lugar das listas de mais vendidos em todo o mundo quando anunciaram a versão cinematográfica dessa história de autodescobrimento. E quem melhor para viver a protagonista do que Julia? O ex-marido da escritora, Michael Cooper, que prepara sua resposta sobre a própria iluminação pós-casamento no livro Displaced, deve estar queimando neurônios para encontrar um ator à altura para fazer contraponto a Julia – isso, claro, se sua história também acabar indo para as telonas.

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É uma pena vivermos em uma sociedade tão dismorfa, em que as mulheres nem se dão a oportunidade de ver o rosto com mais idade

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Comer, Rezar, Amar é uma história corajosa de autodescobrimento: uma relação e um casamento desastrosos, que são redimidos por meio de muita comida na Itália, meditação na Índia e, finalmente, amor em Bali — ao lado de um brasileiro atencioso e de coração partido, que diz coisas como: “Quantas vezes mais eu vou ter que dormir antes de você voltar para mim?”, “Estou gostando de me apaixonar por você, querida” e “Parece tão natural, mas, na verdade, não me sinto assim em relação a ninguém há quase 30 anos”. O filme é fiel ao quociente de romance de conto de fadas do livro. Mas, de acordo com Gilbert, Julia foi esperta em mudar o foco da narrativa de uma busca espiritual para uma história a respeito de como é difícil superar uma desilusão amorosa. “Afinal, por quanto tempo dá para ver uma pessoa meditando?”, disse a escritora.

Estamos em Malibu, em um restaurantezinho na Pacific Coast Highway, perto da casa de Julia. Nem bem começo a entrevista, chega uma mensagem de texto do marido da atriz, o diretor de fotografia Danny Moder, que ela conheceu no set de A Mexicana, em 2000. Eles têm três filhos, Phinnaeus e Hazel, gêmeos de 5 anos e meio, e Henry Daniel, 3. “Temos sorte de nos amarmos tanto que explodimos e formamos 10 EXTRA BELLA JUNHO 2013

mais três pedaços”, conta. Então, lê a mensagem em voz alta: “Sinto muito saber que seu dia foi tão ruim (ela, de fato, chegou meio irritada, vindo de uma longa sessão de fotos), queria estar com você”. Quer dizer que vocês são o tipo de casal que troca mensagens de texto o tempo todo? “Não. Normalmente, nós só ficamos nos agarrando”, ela diz. “Mas ele está em Toronto, trabalhando em um filme.”

A história, em muitos aspectos, faz paralelo com a própria trajetória de Julia. Quando seu agente lhe enviou o livro de Gilbert, a atriz estava feliz no casamento e tinha acabado de ter um filho. E, apesar de “estar determinada a não gostar de uma coisa só porque todo mundo gosta”, ela se sentou na frente da janela para ler e se apaixonou. Talvez tenha se apaixonado por aquilo que milhões de mulheres adoraram no livro. Comer, Rezar, Amar fala sobre ser fiel a uma voz interna que faz a gente fugir de uma relação ruim, que nos permite comer muito macarrão, que sanciona a busca solitária pela sabedoria e que acaba com a chegada de um amor duradouro. “Você reza hoje em dia?”, pergunto. “Rezo sim”, ela responde. Julia explica que seus pais se divorciaram quando ela era pequena. “A minha mãe era católica, e meu pai, batista. Eu aprecio o catolicismo


– me faz pensar em ovos mexidos e rosquinhas esfareladas. Mas a quietude, a reverência silenciosa, não é isso que eu sou. Então, a ideia batista – o apreço expressivo pela reunião, pela comunidade – é o que eu entendo. Envolver-me na vida espiritual com os meus filhos faz todo o sentido desde que esses dois elementos estejam presentes.” “Que vida espiritual é essa?” “É muito hinduísta”, ela responde e se inclina na minha direção para mostrar os colares hindus que tem ao redor do pescoço. “Em família, nós vamos ao templo e entoamos mantras e rezamos. Posso dizer que sou uma hinduísta praticante”, diz. Na cosmologia hinduísta, o Universo é criado e destruído de maneira perpétua, algo parecido com a carreira dos atores de Hollywood. A alma pode renascer em dúzias de outros corpos. Julia observa a filha, por exemplo, e sente a presença de outra alma, mais velha. “Hazel se senta de um jeito específico”, ela diz, “e eu sei que há alguém ali que eu não tive o prazer de conhecer, que tinha o costume de se sentar daquele jeito.” A atriz não hesita quando pergunto se ela se lembra de alguma vida passada. “Com certeza, fui uma camponesa revolucionária”, fala com a mesma naturalidade de alguém que descreve o trajeto de casa para o trabalho. Talvez seja mais preciso dizer que a primeira religião de Julia é o ofício de atuar.

do ele morreu. Na época, ela tinha 9 anos. Foi criada em Smyrna, no estado da Geórgia. Seu pai vendia aspiradores, e a mãe era secretária e depois virou corretora de imóveis. A paixão da família, no entanto, era o teatro, e a mãe gerenciava uma oficina de atores em Atlanta. Ela acredita que o pai iria se orgulhar dela: “Ficaria maravilhado de me ver no show business, mas ele tinha objetivos mais elevados. Era mais literário, escritor”. Julia é a mais nova de três irmãos. Quando adolescente, conta, não foi nem um pouco rebelde. Aliás, ela se descreve como “adequadamente passiva”. Não fez teatro no ensino médio, mas se apaixonou por atuação depois que um professor passou

cinema David Thomson classificar a personagem dela como “o tipo de prostituta adorável que qualquer homem de respeito poderia levar à ópera e mandar para a faculdade”. O consenso, desde então, é o de que Julia está na lista dos atores americanos – com Tom Cruise – que se conectam diretamente com o público, utilizando uma força de personalidade que a câmera reconhece primeiro e a massa adora. Estima-se que os filmes dela tenham arrecadado mais de 2,3 bilhões de dólares. Talvez para se adiantar às críticas, Julia censure sua falta de técnica de atuação sempre que eu pergunto a respeito de escolhas que ela fez em uma cena específica. “Eu não tenho técnica”, ela diz. “E não tem nada mais chato do que atores que se reúnem para falar de atuação.” Mas ela completa: “Se alguém chegasse para mim e dissesse que sabe exatamente o que eu estou fazendo, eu imploraria para que nunca me explicasse porque eu poderia acabar com tudo em segundos”. É verdade que o carisma de Julia é monumental, diz Ryan Murphy, diretor de Comer, Rezar, Amar e criador da série de TV Glee, mas ele argumenta que seu talento de atriz não pode ser subestimado. “Ela conhece cada luz, cada ângulo. Nunca fiz mais do que dois takes com ela. Se eu dizia: ‘Quero que você chore e que a lágrima chegue até o meio da sua bochecha’, ela respondia: ‘Sem problema’. Ela é tecnicamente brilhante.”

“Quero que meus filhos saibam quando estou brava, quando estou feliz. O rosto da gente conta uma história”

Levando em conta sua família, ela entrou no ramo com naturalidade, como se tivesse sido criada em uma trupe de ciganos ou funcionários de parque de diversões. Hoje, aos 42 anos, está com a idade do pai quan-

o filme Becket, o Favorito do Rei (1964), com Richard Burton e Peter O’Toole. Depois de terminar a escola, foi atrás da irmã, com quem tinha dividido o quarto em casa durante 12 anos, em Greenwich Village, Nova York, onde alugaram um apartamento em King Street. Julia trabalhava na loja Athlete’s Foot da Broadway com a 77th Street. Ela não frequentou um curso de atuação, mas não demorou muito até causar sensação em Três Mulheres, Três Amores (1988), como uma moça do interior que trabalhava em uma pizzaria. Então, em 1990, assumiu o papel que faria sua fama, o da prostituta divertida e de coração aberto que se relaciona com o executivo de classe alta representado por Richard Gere em Uma Linda Mulher – performance que fez o historiador do

Existe um quê de moleca em Julia — ela solta a todo momento a risada que ouvi tantas vezes em filmes, aquela gargalhada que as pessoas acham que ela força, da mesma maneira que EXTRA BELLA JUNHO 2013 11


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acreditam que criou seu sorriso. Ela é o tipo de garota capaz de andar com meninos, brincar com eles e, então, surpreendê-los com o fato de ter se transformado em uma linda mulher. No set de Comer, Rezar, Amar, Julia se deleitou com o esforço de seu colega espanhol Javier Bardem de fazer um sotaque brasileiro convincente. “Nós nos conectamos por meio do humor”, diz Bardem. “Algumas palavras são engraçadas para ela. A maneira como eu digo enlightenment (iluminação). Ela passava o dia inteiro fazendo piada com aquela palavra. Existe uma relação bacana da mulher que faz piada com o homem e do homem que gosta do fato de a mulher fazer piada com ele. Significa que ela se importa com você.” Bardem, por sua vez, gostava de fazer Julia dar risada ao se fingir de Al Pacino.

carar a mortalidade abriga os medos adequados para mim. Mas os meus medos estão mais ligados ao fato de ser mãe. A gente faz essas pessoas e as ama e quer que fiquem perto de você mil anos e quer estar lá para dar apoio a elas pelos mil anos”. Nesse ponto da noite, com a névoa do Pacífico ao redor do restaurante, as confissões chegam fácil, em uma intimidade do tipo que acontece entre estranhos em uma longa viagem noturna de avião ou ônibus. Nós nos pegamos falando a respeito da forma inesperada que a vida é capaz de assumir e que a gente só vai enten-

sou absolutamente infeliz ou nunca fui tão feliz, ou estou totalmente apaixonada ou completamente desencantada com o amor... Mas todo mundo passa pelas mesmas coisas.” Eu me lembro de uma frase que Ryan Murphy me disse a respeito de Julia: “Ela não tem o narcisismo que a maior parte das atrizes tem. Na Índia, as mulheres, nos menores vilarejos, sabiam quem ela era porque tinham assistido a Uma Linda Mulher. E ela segurava a mão delas e conversava sobre os filhos. Seu dom é a empatia”. Durante a entrevista, quando não estava tirando uma da minha cara, ela perguntava sobre os meus irmãos, a minha vocação, os meus livros preferidos, a minha vida amorosa e até o meu signo (“Eu sou de Escorpião”, ela diz, “mas não do tipo que dá vontade de matar.”). Falo a ela sobre caminhar no bosque do Bronx, pássaros negros, pântanos. Ela me fala de sua fazenda no Novo México, do deserto, de seu casamento. Assuntos comuns, de pessoas comuns... Parece que Julia deseja que todos fiquem bem, até mesmo uma pessoa que estará com ela apenas uma noite, como é o meu caso. Ela se inclina para bem perto do gravador e deixa um recado inesperado para a minha namorada: “Case com ele”. Parece que ela não deseja que eu fique à deriva. E diz: “Não foi Sócrates quem disse que, para a vida de um homem ser completa, ele precisa fazer três coisas: escrever um livro, construir uma casa e criar um filho?” Sócrates disse isso? Não faço ideia. Mas foi o que Julia Roberts falou antes de partir pela noite da Califórnia.

“Quando você acaba em um casamento feliz, percebe que até os relacionamentos malfadados trabalharam lindamente para fazer você chegar até ele”

Menciono um artigo que li em que diretores de elenco reclamam de estar tendo dificuldade para encontrar atores que não acabaram de fazer aplicação com toxina botulínica, limitando suas expressões. “É uma pena vivermos em uma sociedade tão dismorfa, em que as mulheres nem se dão a oportunidade de ver o rosto com mais idade”, diz Julia. “Quero ter ideia de como vai ser minha aparência antes de corrigir as imperfeições.” E completa: “Quero que meus filhos saibam quando estou brava, quando estou feliz. O rosto da gente conta uma história”, reflete. “E não deve ser a respeito do seu trajeto até o consultório do médico.” Envelhecer, ela afirma, “é uma combinação de genética e de apoio cheio de amor – ou da amiga que diz: ‘Porra, você está de piada?’ Ficar mais velha e en12 EXTRA BELLA JUNHO 2013

der muitos anos depois. “Quando você acaba em um casamento feliz, percebe que até os relacionamentos malfadados trabalharam lindamente para fazer você chegar até ele”, diz a atriz. “Acho que Julia passou a vida toda buscando algum tipo de paz”, diz o ator Richard Jenkins, que vive o texano que contracena com ela na parte indiana de Comer, Rezar, Amar. “E agora ela percebe que encontrou e se sente grata.” A família de Julia é o bastião contra o mundo superficial de Hollywood. A atriz está naquele universo, mas não faz parte dele. Seu “casulo de amigas”, como ela coloca, vem do backstage do cinema. São as esposas dos colegas e dos amigos do marido. “As pessoas acham que a vida é de algum modo diferente para um ator”, diz. “Elas projetam um contexto mais radical sobre a gente: ou


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A D I O R DO SÉCULO XXI Visitamos o ateliê mítico da Avenida Montaigne, onde o estilista Raf Simons costura novos looks para tornar a grife francesa a mais sedutora, influente e exclusiva do grupo LVMH Nome Silvano Mendes, de Paris / Fotos Cristian Striffe

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or treze meses, ficou vaga certa cadeira de rodinhas de metal na sala com vista para a Avenida Montaigne, o segundo mais caro metro quadrado comercial de Paris, atrás apenas da Champs-Elysées, e o mais cobiçado pelas marcas classudas. Das consumidoras de Christian Dior a quem jamais comprou o perfume J’adore, bestseller da grife, muita gente especulou quem se sentaria no lugar do estilista John Galliano, ejetado do assento em março de 2011 por insultar frequentadores de um bar da capital francesa com frases antissemitas. Presidente da marca instalada no número 30, Sidney Toledano foi quem mais se preocupou com a cadeira vazia do 20 andar. Em quinze anos, Galliano quadruplicou o número de lojas e de vendas. Cabia ao executivo encontrar um costureiro capaz de seguir na multiplicação dos números e apagar a mancha na história do ateliê que há 66 anos estabeleceu o modelo do negócio de moda — global e além da roupa. As cifras indicam que Toledano escolheu certo. Com as portas abertas em fevereiro no Shopping Cidade Jardim, 16 EXTRA BELLA JUNHO 2013

cuja decoração mimetiza o térreo da Montaigne, São Paulo se soma à lista de mais de 200 butiques. O faturamento cresceu 24% e bateu o 1,24 bilhão de euros em 2012. É o ano em que o estilista belga Raf Simons passou a ocupar a cadeira-chave do único logo do grupo LVMH com poder de competir com a Chanel. Simons se provou um alvejante e tanto. Em duas coleções de alta-costura — cujo feitio ilustra esta reportagem —, deu um novo look à Dior. Saíram de cena a explosão de cores e de bordados e os vestidos volumosos que fizeram dos desfiles da era Galliano um espetáculo irresistível de ver e impraticável na vida real. Entraram na passarela preto, calças cigarrete e shorts que fariam corar o velho Christian, defensor de barras a 40 centímetros do chão, mas que caem como uma luva para a geração de 30 anos que bate perna na rua. “Sugeri a Raf ler Christian Dior et Moi para entender a sensibilidade do criador”, diz Toleda- no, sobre o livro de memórias que Dior publicou em 1956, meses antes de morrer, aos 52 anos, de um ataque do coração. O estilista 0 leu no verão


passado, na Puglia, na Itália. “Raf sabe o que se passa na cabeça das mulheres de hoje e adaptou o espírito Dior ao século XXI.” A estratégia de marketing também foi ajustada. Para reforçar a imagem moderna, cult e antenada — adjetivos com apelo para o novo público-alvo das roupas —, a grife bolou uma exposição em torno de uma de suas peças icônicas: a bolsa Lady Dior, criada em 1995 e com as costuras que imitam a trama da palha indiana (chamada de cannage e inspirada nas cadeiras de estilo Napoleão III, tomou-se um dos códigos da grife). Pelas lentes e mãos de 85 artistas contemporâneos, a bolsa, adotada pela princesa Diana — daí o nome, uma brincadeira entre “Di” e Dior — e com jeito de acessório de vovó, figura em fotos ousadas, esculturas inusitadas e vídeos. A mostra Lady Dior As Seen By é itinerante e acompanha cada abertura de endereço. Começou em 2011, em Xangai, e passou por Pequim, Tóquio e Milão, até desembarcar na capital paulista, no mês passado. A próxima parada ainda não está definida.

Simons recebeu a reportagem de VEJA LUXO no ateliê da Montaigne dois dias antes de a mai- son desfilar a segunda coleção de alta-costura, o verão 2013, numa tenda armada no Jardim das Tulherias. Desde abril de 2012, ele dá expediente no mesmo estúdio e nas mesmas salas de corte, costura e prova onde Christian criou a silhueta de saia godê e cintura de pilão, batizada de New Look, que virou a página do visual austero da II Guerra Mundial. Se Galliano gostava do lado romântico e nostálgico do fundador, seu quarto sucessor se interessa pela simplicidade, praticidade — as saias de baile levam bolsos embutidos — e pela construção arquitetônica da roupa. É econômico no estilo e no temperamento. “Tudo tem sido bem mais tranquilo nos últimos tempos”, deixa escapar um dos artesãos, que circula pelos corredores, em meio a modelos, maquiadores e cabeleireiros, no leva e traz de roupas entre as salas de costura e prova. No cabide de madeira, carrega um costume preto. O destaque é o paletó de cintura ajustada, uma releitura com menos botões,

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lapelas maiores e muito mais decote da jaqueta Bar, icônica da coleção de estreia, em 1947. Simons está no estúdio, sentado na cadeira de rodinhas, com estilistas assistentes e as chefes de costura, Florence Chehet e Monique Bailly. Em silêncio, passeia os olhos pelas roupas. Cada look aprovado é acompanhado de um sorriso da equipe. No fim de um labirinto de corredores estreitos, peças prontas “esperam” no meio do ateliê. Metros de organza, renda, cetim e tafetá se acumulam ordenadamente nos cantos. Por trás dessa organização estão Florence, chefe do ateliê fiou (fluido, em francês), e Monique, da equipe tailleur. No fiou são feitas as peças de tecidos como musselina, seda ou tule. Do tailleur, saem as roupas estruturadas, como as calças e os casacos. Juntas, elas dirigem trinta pessoas — cinquenta nas semanas que antecedem o desfile —, entre modelistas e aprendizes. Cada artesão segue minuciosamente a realização de uma silhueta do início ao fim. A confecção pode ultrapassar 600 horas, caso das peças bordadas. Muitas contam com a colaboração de até oito artesãos externos, entre pintores e especialistas em plissagem. “Raf faz croquis precisos, às vezes acompanhados de fotos de inspiração”, diz Florence, às voltas com o verão 2013 desde outubro do ano passado. Uma peça passa pelo crivo do estilista até seis vezes antes de chegar ao patron, a peça-piloto de algodão bruto. Dois dias depois, nos bastidores do desfile, marcado para as 14I130, Florence diz que a equipe fiou terminou o difamo vestido âs 13 horas. “Há sempre alguns que são montados na última hora”, admite. Na sala nos Jardins das Tulherias transformada em bosque, o produtor de desfiles Alexandre Betak dá as últimas orientações às modelos. Simons assiste ao ensaio com Camille Miceli, responsável pelas bijuterias, a maquiadora Pat McGrath e o cabeleireiro Guido Palau, que imaginou as perucas curtinhas — um pesadelo para a produção, que não distinguia as modelos de longe para saber quem estava maquiada. “Não quero que elas pareçam robôs”, sussurra o estilista no ouvido de Alexandre de Betak. “Quero leveza, quase como se estivessem dançando.” Os vestidos levam bordados de flores diversas e delicadas. Tema recorrente para o velho Christian, é a inspiração do belga para as duas primeiras coleções — e um sinal claro de que, nos jardins montados a cada temporada, floresce uma nova Dior.

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Não quero que elas pareçam robôs. Quero leveza, quase como se estivessem dançando.


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