Linguagem dos jornais populares e tradicionais

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

LUIZA OLIVEIRA BARBOSA

Jornalismo Impresso e Análise Textual: Diferenças e semelhanças da linguagem utilizada nos jornais populares e tradicionais

PORTO ALEGRE 2009


LUIZA OLIVEIRA BARBOSA

Jornalismo Impresso e Análise Textual: Diferenças e semelhanças da linguagem utilizada nos jornais populares e tradicionais

Trabalho

de

Conclusão

de

Curso

apresentado à Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como exigência parcial para obtenção de grau de Bacharel em Comunicação

Social,

Jornalismo.

Orientadora: Profª. Drª. Ivone Maria Cassol

Porto Alegre 2009

habilitação

em


LUIZA OLIVEIRA BARBOSA

Jornalismo Impresso e Análise Textual: Diferenças e semelhanças da linguagem utilizada nos jornais populares e tradicionais

Monografia apresentada à Faculdade de Comunicação

Social

da

Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do título de BACHAREL EM JORNALISMO.

Aprovada em _____________ de ___________________ de ___________.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Profª. Drª. Ivone Maria Cassol

_____________________________________ Prof. Celso Schröder

_____________________________________ Prof. Me. Fabian Chelkanoff Thier


DEDICATĂ“RIA

Dedico esta monografia aos meus pais, que bancaram os meus estudos, sempre acreditando e investindo nos meus sonhos.


AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, pelo amor, carinho e compreensão; ao meu irmão, que sempre compreendeu os meus momentos de angústia; à minha madrinha, por ter ajudado nesta monografia; ao meu namorado, que ao meu lado compartilhou das angústias e conquistas desse momento; aos meus tios, por terem torcido por mim durante toda a minha vida; em especial, às minhas avós, Eulanda e Aglaci, que sempre me deram amor e apoio incondicional. À minha orientadora, pela dedicação e paciência, aos meus amigos e familiares pela ajuda e motivação ao longo do trabalho. Agradeço aos meus, mais do que colegas, grandes amigos que participaram desta caminhada comigo: Bruna Finato, Bruno Todeschini, Cassia Sírio, Daiana de Araújo, Gabriela Rodrigues, Katiana Ribeiro, Ramon Nunes e Wellington Johann.


RESUMO

Esse estudo se propõe analisar a linguagem textual empregada pelos jornais populares e tradicionais, comparando textos escritos de acordo com o público a que se destinam. As mesmas informações publicadas nos impressos de caráter popular e no convencional são comparadas para identificação e estudo das semelhanças e diferenças de linguagem textual. Como objetos de análise foram selecionadas seis edições dos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora, no período de uma semana (de 26 de agosto a 1º de setembro). Para a realização do trabalho foram utilizadas pesquisa bibliográfica e o método comparativo. Os resultados indicam as particularidades das linguagens de cada um e evidenciam quando são diferentes e as ocasiões em que se aproximam, sempre em função do perfil do leitor. Palavras - chave: jornalismo popular – linguagem textual – linguagem popular e massiva – Diário Gaúcho – Zero Hora


ABSTRACT

The purpose of this study is to analyze the textual language employed by tabloids and traditional newspapers comparing texts written according to the target public. The same pieces of information published in popular and conventional printed media are compared in order to identify and study the similarities and differences of their textual language. Six editions of Diário Gaúcho and Zero Hora newspapers printed in a period of one week (ranging from August 26th to September 1st) were selected as objects of analysis. Bibliographical research and the comparative method were used as tools for this work. The results show the peculiarities of the languages employed by each one and point out when and where they differ and also the occasions when they are closer in similarities, always taking into consideration the reader‟s profile. Key words: popular journalism – textual language – popular and mass language – Diário Gaúcho – Zero Hora


SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 8

2

JORNALISMO ............................................................................................................................12 2.1 O QUE É JORNALISMO .......................................................................................................13 2.2 A LINGUAGEM UTILIZADA NO JORNALISMO ......................................................................17 2.2.1 A pirâmide invertida..................................................................................................22 2.2.2 A linguagem do jornal ...............................................................................................23 2.2.3 A linguagem do rádio ................................................................................................24 2.2.4 A linguagem da televisão ..........................................................................................24 2.2.5 A linguagem da revista ..............................................................................................25 2.3 JORNALISMO COMO FORMADOR DE OPINIÃO ...................................................................26

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JORNALISMO POPULAR ............................................................................................................29 3.1 JORNALISMO POPULAR NO BRASIL ....................................................................................34 3.2 JORNALISMO POPULAR NO RIO GRANDE DO SUL...............................................................36 3.3 QUEM É O PÚBLICO POPULAR ...........................................................................................39 3.4 DIFERENÇAS ENTRE JORNALISMO POPULAR E CONVENCIONAL .........................................40 3.5 ESTILOS DE LINGUAGEM E ANÁLISE TEXTUAL.....................................................................41

4

ANÁLISE DE ZERO HORA E DIÁRIO GAÚCHO .............................................................................45 4.1 MÉTODO E CRITÉRIOS ........................................................................................................45 4.2 DESCRIÇÃO E HISTÓRIA DOS DOIS JORNAIS ........................................................................48 4.2.1 Zero Hora ..................................................................................................................48 4.2.2 Diário Gaúcho............................................................................................................51 4.3 DIFERENÇAS DE LINGUAGEM NOS DIÁRIOS........................................................................55 4.3.1 Dia 26 de agosto ........................................................................................................56 4.3.2 Dia 27 de agosto ........................................................................................................58 4.3.3 Dia 28 de agosto ........................................................................................................59 4.3.4 Dias 29 e 30 de agosto ...............................................................................................60 4.3.5 Dia 31 de agosto ........................................................................................................61 4.3.6 Dia 1º de setembro ...................................................................................................63

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CONCLUSÃO ..............................................................................................................................68 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................71 ANEXO A – Diário Gaúcho do dia 26 de agosto ..........................................................................75 ANEXO B – Zero Hora do dia 26 de agosto .................................................................................76 ANEXO C – Diário Gaúcho do dia 27 de agosto ..........................................................................77 ANEXO D – Diário Gaúcho do dia 27 de agosto ..........................................................................79 ANEXO E – Diário Gaúcho do dia 28 de agosto ...........................................................................80 ANEXO F – Zero Hora do dia 28 de agosto .................................................................................82


ANEXO G – Diário Gaúcho dos dias 29 e 30 de agosto................................................................83 ANEXO H – Zero Hora do dia 29 de agosto .................................................................................85 ANEXO I – Zero Hora do dia 30 de agosto ..................................................................................88 ANEXO J – Diário Gaúcho do dia 31 de agosto ...........................................................................89 ANEXO L – Zero Hora do dia 31 de agosto .................................................................................91 ANEXO M – Diário Gaúcho do dia 01 de setembro.....................................................................92 ANEXO N – Zero Hora do dia 01 de setembro ............................................................................94


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1 INTRODUÇÃO

As variações na construção do texto utilizado no Jornalismo Impresso em função do público alvo da publicação. Esse é o tema da presente monografia. Por meio de pesquisa e análise dos periódicos Zero Hora e Diário Gaúcho, do mesmo grupo de comunicação, e considerados, respectivamente, tradicionais e populares, pretendese expor as diferenças e semelhanças da linguagem utilizada nos jornais tradicionais e populares. A pesquisa buscará comparar a mesma informação nos dois jornais.

A escolha do tema Jornalismo Impresso e Análise Textual deve-se à afinidade que a autora do presente trabalho acadêmico tem em relação a essas duas áreas, principalmente, à língua portuguesa e sua aplicação na comunicação em geral – principalmente no jornalismo. O jornalismo popular cresceu muito nos últimos tempos e busca ter uma linguagem própria, como descreve Amaral (2006), apontando principalmente as estratégias de atração do público: Os jornais populares cresceram, mudaram e o chavão sensacionalista já não esclarece suas estratégias. As publicações destinadas às classes B, C e D integram um novo mercado a ser analisado, caracterizado por um público que não quer apenas histórias incríveis e inverossímeis, mas compra jornais em busca também de prestação de serviço e entretenimento. São jornais que atendem às regiões metropolitanas, apostam nas editorias de Cidades e não têm a pretensão de se tornarem nacionais. Utilizam como estratégia de sedução do público leitor e a cobertura da inoperância do Poder Público, da vida das celebridades e do cotidiano das pessoas do povo. (p.9)

O tema é uma análise sobre a linguagem textual do jornalismo popular, uma comparação entre jornais convencionais e populares, analisando se o texto possui diferenças de linguagem textual ou somente na linguagem visual (como em fotos e planejamento gráfico, por exemplo). O tema busca esclarecer como é alcançado o leitor popular nos jornais do Rio Grande do Sul.

Desta maneira, será possível analisar os jornais populares e tradicionais, comparando a forma de linguagem, textos escritos e como atingir o público, com as mesmas informações, mas com textos diferentes. Identificar as semelhanças entre


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os textos de linguagem popular e de linguagem convencional; e comparar os jornais Zero Hora e Diário Gaúcho, do mesmo grupo de comunicação, analisando a diferença entre os textos, a mesma informação em um e no outro jornal.

A delimitação do tema recai sobre as transformações na forma de escrever e de transmitir as informações, que fazem com que o jornalismo popular tome um espaço significativo no cotidiano de um público não só “popular”, mas do receptor em geral que precisa de um volume grande de informação diversificada com linguagem rápida, que lhe tome pouco tempo.

Segundo Amaral (2006, p.58): A imprensa popular ligada a grandes empresas de comunicação existe pela necessidade de ampliar o mercado de consumidores de jornais para um público que vive numa situação social, cultural e econômica diferente da do público das classes A e B. Os jornais assumem formas específicas porque o que move essa imprensa é, antes de qualquer coisa, a sedução do público e não a credibilidade ou o prestígio.

A

metodologia

empregada

abrangerá

levantamento

bibliográfico

e

documental, observação direta, investigação do assunto estudado e comparação. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica desenvolvida mediante análise de livros e artigos científicos, e documental, como jornais.

Como problemas de pesquisa, serão usadas a diferença da linguagem utilizada no jornal popular e no tradicional, a diferenciação de textos entre popular e tradicional e como se comunicar com o público de jornalismo popular. O período de análise será de agosto a setembro de 2009, comparando os jornais Zero Hora e Diário Gaúcho, do Rio Grande do Sul. Analisar os jornais populares e tradicionais, comparando a forma de linguagem, textos escritos e como atingir o público, com a mesma informação, mas com textos diferentes.

A analise será baseada no método comparativo descrito por Marina Marconi e Eva Lakatos (2003). O método comparativo permite analisar o dado concreto,


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deduzindo do mesmo os elementos constantes, abstratos e gerais. Constitui uma verdadeira “experimentação indireta”.

Enfim, será utilizado o método comparativo que se baseia, principalmente na investigação de objetos ressaltando diferenças e similaridades entre eles. Portanto, serão investigadas similitudes e diferenças ou ainda as variantes e invariantes que constam na informação publicada pelos dois jornais.

Esta análise pretende contribuir para o jornalismo tentando explicar o Jornalismo Popular, a diferença da linguagem utilizada no jornal popular e no tradicional, como o texto é diferenciado entre popular e tradicional e como se comunicar com o público de jornalismo popular. Pretende, ainda, verificar se o texto popular e o convencional são diferentes ou não.

Para Amaral (2006, p.16): O „popular‟ identifica apenas um tipo de imprensa que se define pela sua proximidade e empatia com o público-alvo, por intermédio de algumas mudanças de pontos de vista, pelo tipo de serviço que presta e pela sua conexão com o local e o imediato.

Esta monografia divide-se em cinco capítulos. O segundo capítulo aborda o jornalismo como um todo, com enfoque na linguagem textual, buscando explicar o texto jornalístico. Ele se subdivide em o que é jornalismo, a linguagem utilizada no jornalismo e o jornalismo como formador de opinião.

No terceiro capítulo, o foco está no jornalismo popular, passando pelo jornalismo popular no Brasil, jornalismo popular no Rio Grande do Sul, quem é o público popular, diferenças entre jornalismo popular e convencional e outro item presente no capítulo dois é o de estilos de linguagem e a análise textual.

O capítulo foca no público popular, o crescimento dos jornais populares, e quais são eles no Brasil. O que é o público popular. O capítulo passa pelas diferenças entre jornalismo popular e convencional, como escrever para os diferentes públicos


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O quarto capítulo é a análise dos textos dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho, do mesmo grupo de comunicação, um sendo considerado popular e o outro convencional. Passa pela descrição e história dos dois jornais, quais as diferenças de linguagem utilizada entre eles e busca responder se a linguagem textual é diferente ou os jornais se diferenciam somente pela linguagem visual.

Para o referencial teórico na área de jornalismo impresso recorreu-se a Beltrão (2006), Cotta (2005), Melo (2003), Mouillaud (1997), Pena (2005), Rossi (1986) e Traquina (2005). Autores como Arnt (2005), Dittrich (2003), Gomes (2001), Gomes (2000), Lage (2002), Longhi (1997), Payer (1993), Silva (1998) e Vilela (1983) sustentaram as discussões sobre a linguagem utilizada nos jornais. Nos estudos sobre o jornalismo popular, buscou-se a sustentação com os seguintes autores: Amaral (2006), Barros (1999), Ezequiel (1987) e Guareschi (2003).


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2 JORNALISMO

O presente capítulo procura mostrar o jornalismo como produção de conhecimento, voltado para diferentes públicos e explicitar sua função social, uma via de acesso à informação, com o objetivo de conscientizar, educar e transmitir a realidade com uma linguagem acessível.

A base do jornalismo é a notícia. É unanimidade entre especialistas que das notícias derivam as mais diversas matérias que compõem o jornal. Crato 1 (citado por Marconi Silva, 2001, p. 15), afirma: A notícia é o gênero jornalístico básico. A sua razão de ser é a informação dos fatos. Normalmente é curta, pois, quando a matéria o justifica dá lugar a uma reportagem, artigos, inquéritos ou subdivide-se em várias “peças”.

De acordo com Elcias Lustosa (1996, p. 35), a informação deve assumir um caráter universal, ser inteligível por pessoas de diferentes níveis culturais, profissões ou repertórios. O autor ressalta que a qualidade da notícia é essencial para o bom jornalismo, por ser a mercadoria oferecida pelos jornais: O essencial, no jornal, é a qualidade daquilo que coloca no mercado: a notícia. O jornalista produz uma mercadoria e toda mercadoria tem de ter qualidade e boa apresentação. A notícia deve ter uma boa angulação, como se diz no jargão das redações. A qualidade deve prevalecer sempre sobre a apresentação, isto é, o primordial é a informação. (p. 85)

Da perspectiva de Adelmo Genro Filho (1987, p. 65), pesquisador brasileiro, o jornalismo pode ser considerado uma forma de conhecimento, pois envolve um saber e um fazer específicos. Portanto, a notícia divulgada pelos jornais pode ser considerada uma fonte de conhecimento para os diferentes públicos, que buscam saber sobre assuntos cotidianos ou inusitados.

Para Silva (2001, p. 18), o jornalismo utiliza o conhecimento comum para se comunicar com o público. O autor caracteriza o jornalismo como uma ciência física. 1

CRATO, Nuno. A Imprensa. A iniciação ao Jornalismo e à Comunicação Social. 2.ed. Lisboa: Ed. Presença, 1982.


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O jornalismo trabalha com o conhecimento comum que envolve objetos da vida diária (como mesas e cadeiras), e coisas fora da experiência pessoal (história, geografia, jornal). É a ciência física que procura sistematizar os particulares. O grande problema para esse tipo de conhecimento é que não se pode ter muita certeza sobre ele.

Portanto, o jornalismo busca retratar os aspectos do cotidiano de seu público. Assim, pode abordar assuntos relativos ao conhecimento científico ou que dizem respeito à arte. Ao relatar os acontecimentos, surgem os questionamentos quanto à veracidade do que é dito e ao distanciamento do jornalista em relação ao fato, ou seja, se houve preocupação com tratamento imparcial.

A verdade é algo bastante subjetivo, por isso muito debatida no jornalismo. Luiz Amaral (1996, p. 46) disserta sobra a verdade, questionando sobre a necessidade explícita da sua existência na imprensa. Uma pergunta: a imprensa tem que dizer a verdade? É fato que na escolha de um jornal ou de um programa de rádio e TV a motivação do leitor, ouvinte ou telespectador nem sempre é desejo de conhecer a verdade, mas a satisfação de encontrar determinada verdade exposta, explicada, detalhada, defendida por alguém.

Do jornalista, na busca diária de notícias, exige-se cuidado com a isenção e a imparcialidade. Nessa busca constante, ele luta contra as dificuldades criadas pela sua formação, posições e preconceitos. Porém, de acordo com Ricardo Noblat (2003, p. 26), o jornalista existe “para servir antes de tudo ao conjunto de valores mais ou menos consensuais que orientam o aperfeiçoamento de uma determinada sociedade”.

2.1 O QUE É JORNALISMO

A palavra jornalismo quer dizer apurar, reunir, selecionar e difundir notícias, idéias, acontecimentos e informações gerais com veracidade, exatidão, clareza, rapidez, de modo a unir pensamento e ação. Para Juarez Bahia (1990), “o


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jornalismo é uma arte, uma técnica e uma ciência. No julgamento do cético, porém, é um tipo qualquer de comércio. No do idealista, significa compromisso e privilégio”.

Foi apenas no século XIX, segundo Nelson Traquina (2001), que o jornalismo começou a ganhar um lugar na universidade, nos Estados Unidos e na França. Já no século XX, as disciplinas foram substituídas por cursos universitários em jornalismo.

Em 1950, a publicação de um artigo na revista acadêmica mais antiga da área de jornalismo, Journalism Quarterly, constituiu um marco histórico no estudo de jornalismo. No artigo, David Manning White explica a teoria de que o processo de produção de notícias é concebido como uma série de escolhas. Assim, a década de 50 é marcada, segundo Traquina, pelos primeiros estudos sobre a circulação da informação ao nível mundial e a investigação comparativa dos jornais.

Galtung e Ruge avançam em 1965 com a primeira reflexão teórica sobre um dos aspectos fundamentais do trabalho jornalístico – a questão dos valores-notícia que os jornalistas utilizam na sua seleção dos acontecimentos. Na riqueza da investigação acadêmica sobre jornalismo que surge nos anos 70, emerge um novo paradigma: as notícias como construção. O autor Nelson Traquina (2001) explica: A pesquisa dos anos 70 constitui um momento de viragem, com a emergência de um paradigma que é totalmente oposto à perspectiva das notícias como distorção e que também põe em causa diretamente a própria ideologia jornalística e a sua teoria das notícias como espelho da realidade. (p. 60)

O avanço do estudo de jornalismo na década de 70 está relacionado diretamente com as inovações metodológicas que contribuíram de forma decisiva para a riqueza da informação. Após entender a história das pesquisas sobre jornalismo, podemos tentar entender o que é jornalismo.

Segundo a teoria organizacional, citada por Traquina (2001), o trabalho jornalístico é influenciado pelos meios de que a organização dispõe. Assim, essa teoria aponta para a importância do fator econômico na atividade jornalística. Então, vemos o jornalismo, também, como um negócio. Todas as empresas jornalísticas


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enfrentam o balanço econômico, pois o espaço ocupado pela publicidade intervém diretamente na produção jornalística, dependendo do quanto as empresas investem em publicidade e do quanto de dinheiro está disponível para que o jornalismo continue acontecendo.

Falar em jornalismo é se referir à atualidade, aos acontecimentos recentes. A alma do jornalismo é o que aconteceu recentemente. Para Mayra Gomes (2000, p. 80), “a questão ética e de responsabilidade social exige que o fato seja novo”. Além de ser novo, o fato também vira notícia pela sua característica inusitada. É característica da atividade anunciar fatos.

A autora explica o uso da atualidade como elemento essencial para o jornalismo: O jornalismo é um olhar voltado para o acontecimento recente, para a atualidade. Seu exercício de seleção não pode fundar-se na escolha pela importância definida em seus efeitos. Ele aposta na importância em torno do eixo principal que é captar a atenção do leitor/espectador. No jornalismo surgem fatos de momentânea relevância, por sua curiosidade ou aberração, e que em nada consubstanciarão mudanças.

Jornalista experiente Clóvis Rossi (1986, p. 7) disserta sobre a atividade e suas implicações: Jornalismo, independentemente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida, no caso da televisão, de imagens. Mas uma batalha nem por isso menos importante do ponto de vista político e social, o que justifica e explica as imensas verbas canalizadas por governos, partidos, empresários e entidades diversas para o que se convencionou chamar de veículos de comunicação de massa.

Tentando definir o jornalismo, Pereira Junior (2006, p. 13) cita a “simbiose entre forma e conteúdo, procedimentos e convicções profissionais, de implicações nem sempre evidentes”. O jornalismo é um campo de aplicação de ética, mas também uma disciplina de verificação instrumental. Para o autor, só fará sentido se houver união entre desempenho técnico e compromisso ético e humanístico.


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Ele explica que o jornalismo é uma construção de um profissional, portanto, não se classifica como “reflexo da realidade” e, sim, como “incorporação de uma idéia segundo a qual a notícia copia um mundo”. Ou seja, a partir do olhar de um profissional que acompanhou uma realidade é passada uma impressão, com suas crenças e seus conhecimentos, ao público. Para teorizações instrumentalistas sobre a imprensa, a notícia seria, por óbvio, retrato da realidade. Mas não vemos “a” realidade quando lemos um texto, navegamos pela internet, vemos a TV, ouvimos o rádio. Com a matéria jornalística, ficamos diante de uma certa forma de contar os fatos – o que significa que eles passaram a dançar conforme o ato de contá-los. (p.19)

A finalidade do jornalismo é explicada por Bill Kovach e Tom Rosenstiel (2004), como sendo de “fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se autogovernar”. A imprensa nos ajuda a definir nossas comunidades, nos ajuda a criar uma linguagem e conhecimentos comuns com base na realidade. O jornalismo também ajuda a identificar os objetivos da comunidade, seus heróis e vilões. (p. 31)

Nilson Lage (2003, p. 22) define o universo das notícias, caracterizando-as como aparências do mundo: O universo das notícias é o das aparências do mundo; o noticiário não permite o conhecimento essencial das coisas, objeto de estudo científico, da prática teórica, a não ser por eventuais aplicações a fatos concretos.

O jornalismo também é chamado de quarto poder, sendo utilizado para denunciar os deslizes do Estado e, por isso, segundo Gomes (2000, p. 66), “no jornalismo impresso, contam-se os fatos de um terceiro por meio do verbo na terceira pessoa, em virtude de sua impessoalidade”. Ela explica como o jornalismo vigia os Poderes: O jornalismo se posta como um observador que deve denunciar os deslizes do Estado no exercício dessa palavra consignada. Novamente, se ele não fala na primeira pessoa é antes porque ele se posta como terceiro, vigiando o exercício do poder. (p.21)


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Portanto, o jornalismo é uma atividade profissional em contato constante com o público, de forma mais clara possível para transmitir informações.

Marcos Gomes (2001) explica o que é o jornalismo. O jornalismo é uma atividade profissional que tem por objetivo a apuração, o processamento e a transmissão periódica de informações da atualidade, para o grande público ou para determinados segmentos desse público, através de difusão coletiva. (p.24)

Então, para chegar ao público, seja ele qual for, o jornalista utiliza a linguagem mais apropriada, seja para atingir a grande massa ou um público específico.

Para Rossi (1986, p. 79), o fundamental na atividade jornalística é o dever do profissional com a sociedade. “O dever fundamental do jornalista não é para com seu empregador, mas para com a sociedade. É para ela e não para o patrão que o jornalista escreve”, explica.

2.2 A LINGUAGEM UTILIZADA NO JORNALISMO

Toda matéria jornalística parte de uma pauta, que é a orientação que os repórteres recebem descrevendo que tipo de reportagem será feita, com quem deverão falar, onde e como. Apesar de ser detalhada e repleta de orientações editoriais, a pauta não é rígida: o repórter pode modificar abordagens, sugerir outros entrevistados e até mudar completamente a natureza da reportagem que irá produzir levando em conta os acontecimentos factuais que presenciar depois de sair da redação em busca da notícia.

Cremilda Medina (1998, p. 73) explica que a matéria jornalística parte de uma pauta, que pode ser “intencional, procurada ou ocasional (acontecimento totalmente imprevisto) e essa pauta tem em si a primeira força do processo”. A mensagem


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jornalística pode variar de acordo com a proposta do veículo, mas a linguagem costuma ter um padrão.

Medina (1998, p. 91) esclarece, inclusive, o que é discutir a linguagem: Falar de linguagem é entrar diretamente nos problemas de comunicação humana. O termo se presta para todas as situações, já que o ato de viver é comunicação. Nosso problema, ao tentar alguns instrumentos de análise do fenômeno que é abrangente demais, reside nas diferenciações gradativas da comunicação espontânea (ato comportamental de vida) e a comunicação intencional de um meio indireto como é o jornal.

A mensagem jornalística como um produto de consumo desenvolveu uma linguagem, um componente verbal específicos, que serve para chamar a atenção e conquistar o leitor para o produto/matéria. Assim, é necessário estudar a linguagem.

Para falar em linguagem, é necessário se referir à comunicação. Para que haja comunicação entre duas ou mais pessoas é necessário, segundo Lustosa (1996), em primeiro lugar, o desejo de se comunicar. Depois, o dado mais importante é a necessidade de falarem a mesma língua, se comunicarem no mesmo idioma, do contrário um interlocutor não vai conseguir entender o outro. Assim, o autor chega à idéia de código, que é “um contrato pelo qual todas as pessoas aceitam que uma palavra tenha o mesmo significado para todos”.

O veículo de comunicação transmite uma mensagem para ser entendida por todos, seja ela lida ou ouvida. A mensagem deve ser entendida por todos, enquanto o leitor ou ouvinte é atingido em sua particularidade, não como um ser coletivo.

Ao longo do tempo, os veículos de comunicação foram descobrindo como codificar suas mensagens de acordo com os canais utilizados e o público a ser atingido. Ainda de acordo com Lustosa (1996, p. 67), “podemos identificar cinco fases de codificação do texto de notícia, que correspondem às grandes etapas da história do jornalismo”.


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Conforme o autor, de 1808 a 1827 todas as matérias publicadas pelos jornais eram comentadas e repletas de opiniões; de 1827 a 1889, prevaleciam os textos que narravam os fatos seguindo a cronologia dos acontecimentos, com redução da opinião; 1889 a 1930 foi o período em que os veículos começaram a adotar notícias quase exclusivamente informativas; a fase de 1930 a 1969 foi quando os veículos de comunicação desenvolveram uma técnica especial de construção do texto informativo, com a criação do lide2; e de 1969 até os dias atuais passa a prevalecer a linguagem visual, que define o padrão estético dos veículos impressos.

Mesmo com a valorização da linguagem visual nos dias de hoje, o autor explica que a notícia deve ser de boa qualidade, bem escrita para ser entendida por todos, apesar de não explicar o que significa, para ele, “boa qualidade” ou “bem escrita”: O essencial, no jornal, é a qualidade daquilo que coloca no mercado: a notícia. O jornalista produz uma mercadoria e toda mercadoria tem de ter qualidade e boa apresentação. A notícia deve ter uma boa angulação, como se diz no jargão das redações. A qualidade deve prevalecer sempre sobre a apresentação, isto é, o primordial é a informação. (p. 85)

Para Juarez Bahia (1990, p. 49), “toda reportagem é notícia, mas nem toda notícia é reportagem”. Isto quer dizer que a notícia não muda de natureza, mas muda de caráter quando evolui para a categoria de reportagem. “Enquanto a notícia diz no mesmo dia ou no dia seguinte se o acontecimento entrou para a história, a reportagem nos mostra como é que isso se deu”.

Héris Arnt (2005, p. 55) trabalha com a idéia de um gênero jornalístico como forma de linguagem. O gênero a que ele se refere é uma linguagem própria do jornalismo. Segundo o autor, o jornalismo cria uma linguagem própria, que não é nenhuma das outras formas de discurso; é uma forma particular de escritura; é uma tradução, em última instância, dos conhecimentos e conteúdos em linguagem informativa e acessível.

A linguagem jornalística deve ter quatro características específicas: objetividade, clareza, concisão e precisão. Para ser objetivo, primeiro o redator deve 2

Lide ou Lead é a primeira parte de uma notícia, que fornece ao leitor a informação básica sobre o tema.


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narrar o fato principal. A abertura da matéria, que é o lide, exige “a enunciação dos elementos fundamentais que determinam a decisão de fazer uma notícia” (Arnt, 2005, p. 55).

Para manter a clareza da notícia, o ideal é excluir os detalhes que não acrescentam informação. Para Lustosa, “o melhor para o redator é escrever sobre temas de amplo conhecimento, evitando os equívocos e as imprecisões” (p. 82).

Manoel Vilela (1983) explica a clareza necessária aos jornais: Os jornais procuram formular o texto das suas informações sem erros e com clareza. A clareza torna a informação acessível e, para atingi-la, os jornalistas evitam as frases longas, dando preferência a uma estrutura frasal objetiva, a que mais se aproxima do linguajar diário. (p. 69)

Para a concisão poder ser alcançada, segundo o autor: O redator não deve dizer em dez palavras o que pode dizer em duas. É preciso evitar mostrar-se envolvido e íntimo dos fatos e dizer mil coisas que todo mundo sabe e que nunca tornam a notícia mais completa e mais clara. (p. 82)

A precisão, que é mais um elemento essencial para a boa montagem da notícia, é alcançável com a máxima checagem da informação. Informações imprecisas, que confundem o leitor, só fazem o redator perder em credibilidade. Silva (1998, p. 47), explica que “a estrutura da linguagem jornalística quer refletir a estrutura da realidade”. Assim, o autor define o jogo de linguagem utilizado para atingir o público: O jogo de linguagem comporta combinação de palavras, atos, atitudes e forma de comportamento. Na realidade o que o indivíduo apreende não é pura e simplesmente uma palavra ou expressão, mas um jogo de linguagem completo, vale dizer, como usar determinada expressão lingüística em um contexto determinado para obter certos fins.

A informalidade no jornalismo, que é o principal elemento para se aproximar do público, é citada por vários autores. Gomes (2001) esclarece como é utilizado, destacando principalmente os termos do dia-a-dia do leitor:


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No jornalismo, é preciso ser informal, usar termos do dia-a-dia. O leitor de hoje está cada vez mais apressado, não tem tempo para nada. Uma linguagem bem próxima da do leitor é recomendável, contanto que se sigam as regras gramaticais básicas, indispensáveis ao bom texto. (p.11)

Portanto, o ideal é escrever um texto claro, com todas as informações, de maneira que o público se identifique com a informação e com os termos utilizados, pois a pressa do dia-a-dia exige dinamismo ao escolher o que ler. O que caracteriza a linguagem jornalística é a sua atualidade. Sua linguagem é o momento. O texto jornalístico deve conquistar o leitor através da clareza, concisão e objetividade. Sua leitura não deve oferecer dificuldade e seu vocabulário deve estar incluído num repertório mais ou menos comum. (p.22)

Gomes vai além da informalidade, explicando, também, a atualidade, o momento em que é escrita a notícia, como conquistar o leitor e retoma a clareza, concisão e objetividade, já apontados por outros autores como fundamentais para o bom texto.

Com o aparecimento das novas tecnologias, uma nova linguagem jornalística está se formando. Para Arnt (2005, p. 12), definem-se novas configurações jornalísticas. Ainda que os meios digitais reproduzam as mídias tradicionais, pode-se observar que uma nova linguagem está em formação. Se hoje já estão criando condições de se fazer um recorte de análise na área das novas tecnologias, este recorte deve necessariamente passar pelo estudo da imprensa e da literatura. Na Internet encontram-se novamente, lado a lado, as duas modalidades de escrita, a literária e a jornalística, no suporte digital do livro e do jornal.

A tendência do jornalismo digital tem sido a de complementar o jornal impresso e reproduzir a especialização, característica da divisão dos meios de comunicação.

O autor explica que, no primeiro momento, as novas tecnologias serviram somente para modernizar o processo industrial e dinamizar as redações (pela substituição da máquina de escrever pelo computador). Num segundo momento, a tecnologia começou a facilitar a comunicação interna entre os setores do jornal. Quando os jornais começaram a fazer edições on-line, não sabiam para onde iam


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nem o que faziam, mas precisavam fazer para não desaparecer. Hoje, “pode-se falar de um jornalismo digital, que amplia, redobra, multiplica o potencial do jornalismo impresso” (p. 70).

2.2.1 A pirâmide invertida

A estrutura da pirâmide invertida, utilizada principalmente no jornalismo impresso diário, é o resumo da história (lide) seguido por informações organizadas em ordem decrescente de importância. Segundo Junior (2006, p. 115), “seu formato é resultado da depuração de eventos diversos”. O autor explica: A técnica da pirâmide invertida garantiu até certa racionalidade industrial ao processo de produção jornalística ao longo da metade do século 20. Havia vantagem industrial no relato que resume o principal no início e desenvolve o secundário da história em ordem decrescente de importância dos fatos. A composição a quente, feita com blocos de chumbo dos linotipos, permitia textos cortáveis pelo pé, sem consultas ao autor original. Os profissionais da gráfica, tão longe das salas de redação, não precisavam se dar ao trabalho de ler o material todo. (p. 119-120)

Ele define o que chama de “ditadura da pirâmide invertida”, como um estilo que começou a ser revisto pelas novas tecnologias e demandas profissionais bem diferentes de quando o lide começou a proliferar na imprensa. Porém, ainda conforme o autor, a pirâmide invertida estimula a preguiça do autor e, principalmente, do leitor, que não se sente na obrigação de chegar até o fim do texto, que já saberá todas as informações.

Portanto, deve ser usada com muita cautela e só nos assuntos que a pedem, como: notícias de última hora, sobre as quais não é possível conseguir todas as circunstâncias; notícias de resultados, em que se sabe os efeitos, não as causas; e em notas breves.


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2.2.2 A linguagem do jornal

Jornal é um termo de origem latina (diurnus) que entrou no francês (diurnale, journal) com o significado de diário – tudo que ocorre no espaço de um dia. Arnt (2005, p. 33) diz que “o termo define um gênero de escrita, um relato cotidiano, um diário”. A palavra diário, do latim diarium, tem o significado de tudo o que ocorre no dia-a-dia. O termo é atribuído também ao gênero de narrativa em que são relatados os acontecimentos diários.

O jornal apresenta algumas características marcantes, como, segundo Lustosa (1996, p. 86): trata dos fatos ocorridos no dia anterior, ou seja, o que passou; oferece ao leitor um exame analítico e uma reflexão sobre os acontecimentos; é abrangente, cobrindo uma vasta gama de assuntos, combina dois códigos, o escrito – texto – e o visual – fotografias, ilustrações e apresentação gráfica; e é temporal, ou seja, só vale por um dia, no outro, será jogado fora.

Vilela (1983) explica o que o jornal precisa abordar, em suas páginas, os mais diversos assuntos para satisfazer o leitor: Os jornais são veículos que informam sobre todos os acontecimentos: do esporte à ciência, das artes à política; sobre as guerras e as invenções, como sobre o bem-estar e o progresso econômico e social. (p. 15)

Um elemento muito importante no texto do jornal é a redundância, imposta por sua temporalidade. O autor explica que “o jornal está sempre repetindo as informações básicas de matérias publicadas no dia anterior, acrescentando alguns poucos dados novos” (p. 15). Quando ocorre do leitor não se lembrar de algo sobre algum fato, a matéria deve dar a informação novamente, para que ele não fique confuso e desista de acompanhar o texto.

Gomes (2000, p. 24) ressalta a linguagem jornalística utilizada nos textos e como ela deve ser tratada para chegar o mais perto possível do real:


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Todas as matérias jornalísticas estarão sempre calcadas ora em citações, ora em entrevistas; sempre salpicadas ora pela fotografia, ora pelas tabelas de porcentagem. Trata-se do recurso aos sinais de marcação da remetência ao real.

Outro elemento importante para o texto do jornal é conter elementos que permitam ao leitor uma reflexão, um aprofundamento da notícia, pois, por circular no dia seguinte aos fatos, o jornal concorre com os veículos que já informaram o que aconteceu, como o rádio e a televisão.

2.2.3 A linguagem do rádio

Inicialmente, os radialistas liam as notícias como estavam escritas no jornal, sem haver uma linguagem própria para o rádio. Depois dos anos de 1930, segundo Lustosa (1996, p. 91), as emissoras de rádio começaram a construir uma linguagem própria. O texto para ouvinte de rádio terá que levar em consideração o fato de que não existe a possibilidade de uma nova leitura para um melhor entendimento. Assim, há sempre a necessidade de se repetir a informação básica para permitir ao ouvinte entender o que se está falando ao longo da transmissão de uma notícia.

O texto de rádio também deve conter frases curtas, que permitam ao locutor respirar e ler com fluência a matéria. A pontuação adequada também precisa ser observada, caso contrário, fica impossível para o ouvinte compreender a mensagem.

2.2.4 A linguagem da televisão

A informação da televisão tem como aliada a imagem, que muitas vezes pode explicar por si só, dizendo o que precisaria ser explicado no texto de rádio ou jornal em detalhes. Assim, o fato é mostrado pela câmera, sem necessidade de verbalização.


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É importante a fusão dos dois códigos de comunicação – visual e auditivo. Lustosa (1996, p. 100) explica: Em alguns textos, o redator não usa a linguagem visual, produzindo uma matéria absolutamente redundante, como aqueles comentaristas de futebol quem falam o que está sendo mostrado, sem agregar nenhum detalhe que não pode ser captado pela câmera de televisão. Um repórter de televisão tem que saber o que a câmera diz, para saber o que dizer. Com competência, fará a união dos dados que ele investigou com as informações que a câmera colhe na hora que realiza o seu trabalho.

Portanto, o melhor que o jornalista de televisão faz é unir a imagem com o texto, fazendo bom uso dos dois para chamar a atenção do telespectador não só pelo que está mostrando, mas também pelo que está dizendo. Texto e imagem devem se complementar e não apenas se sobrepor.

2.2.5 A linguagem da revista

A revista geralmente produz um texto interpretativo, no qual não há a construção do lide da notícia, que anuncia o fato e, sim, de um lide que destaque o mais importante da matéria que aprofunda o assunto.

Para Lage (2002) é necessário saber diferenciar o texto impresso para que seja enriquecido e ganhe o leitor: O texto impresso só ganha sentido quando lido, isto é, quando o leitor o traduz em sons. A situação emocional da leitura é incontrolável e, em princípio, neutra. O texto terá de formalizar-se, enriquecer sua sintaxe, para suprir a ausência de elementos analógicos que existem na conversa, desde a expressão do rosto de quem fala até a entonação e as pausas. (p.7)

Lustosa (1996, p. 104) diz que é preciso lembrar que o texto da revista é recuperativo: “a contextualização do fato narrado é feita a partir do processo de recuperação de vários acontecimentos”.


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A matéria da revista é geralmente uma reportagem descompromissada com o factual e com os acontecimentos rotineiros, objetivando muito mais uma interpretação dos fatos e a análise de suas conseqüências, pois raramente pode ou procura oferecer novidades no sentido do que é assegurado pelas emissoras de televisão, de rádio e pelos jornais.

Com a investigação e o estabelecimento da relação de um fato atual com vários outros históricos, a revista reconstrói um texto, para o leitor entender tudo sobre o assunto.

2.3 JORNALISMO COMO FORMADOR DE OPINIÃO

É da natureza do jornalismo levar a comunidade, direta ou indiretamente, a participar da vida social. Nesse sentido, assume uma condição de intermediário da sociedade. Para Bahia (1990, p. 11), “a opinião pública – e ainda mesmo que só o público – se orienta, quase sempre decide e raciocina não pelas coisas em si, mas pela feição que lhes damos, pelos sinais que a mídia lhes atribui”.

É natural que o jornalismo tenha deveres. Jornais, emissoras de rádio, revistas, emissoras de televisão e todos os meios de comunicação são instituições sociais que, ao reunir, escrever e divulgar as notícias, prestam serviços à sociedade. O autor explica: A missão do jornalismo se confunde com a natureza da informação. Sua prioridade básica é difundir notícias. Fora dessa função primordial, absorve muitas outras como, por exemplo, a de promover o bem comum e a de estimular a mais ampla e livre troca de idéias entre as pessoas, quaisquer que sejam suas convicções. (p. 20)

Desde o começo, o jornalismo busca influenciar e alterar padrões de comportamento, induzindo atitudes, registrando formas de produção e gerando hábitos de consumo. Para o autor, “usos levianos e tendenciosos da notícia provocam maléficas conseqüências seja no rádio, na televisão, no jornal ou em qualquer outro meio”. As pessoas que se apóiam nas notícias para tomar decisões e mesmo aquelas que apenas lêem jornais e revistas, ouvem o noticiário radiofônico


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ou acompanham os acontecimentos pela televisão de forma digestiva, querem veículos verdadeiros, autênticos, honestos, confiáveis. (Bahia, 1999, p. 37)

Assim, o autor diz que quanto mais transparente e responsável for a notícia, mais próxima de alcançar um uso da formação de opinião, de responsabilidade social de forma objetiva. Grande parte da credibilidade de um jornalista ou de um veículo está no uso que ele faz das fontes na elaboração das notícias.

Jose Marques de Melo (1994, p. 27) observa como o jornalismo tenta influenciar a sociedade: Desde os primeiros tempos, o jornalismo tem procurado influenciar o homem. O jornal esforça-se abertamente por influenciar seus leitores através de seus artigos, editoriais, caricaturas e colunas assinadas. O rádio também, abertamente, procura influenciar por meio de seus comentaristas, de suas entrevistas e muitos locutores que advogam vários pontos de vista enquanto a televisão procura impressionar os seus espectadores por meio de suas mesas-redondas, documentários e entrevistas. Paralelamente ao seu propósito sério de informar, interpretar e moldar opiniões, o jornalismo dedica um esforço crescente à sua função de entreter.

Assim, o autor entende que os meios de comunicação coletiva, através dos quais a mensagem chega à sociedade, são “aparatos ideológicos”, influenciando pessoas, comovendo grupos, mobilizando comunidades, dentro das contradições que marcam as sociedades. “São, portanto, veículos que se movem na direção que lhes é dada pelas forças sociais que os controlam e que refletem também as contradições inerentes às estruturas societárias em que existem” (p. 28).

Então, influencia a sociedade, não só levando informação às pessoas, mas também procurando fazê-las entender e pensar sobre a informação. Procura também se aproximar do seu público-alvo dos jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão. Esses vínculos com o público são ainda mais importantes no jornalismo popular, que trabalha com a dinâmica de troca de informação e participação popular nas matérias.

Amaral (2006, p. 9) explica o fenômeno do jornalismo popular: Os jornais populares cresceram, mudaram e o chavão sensacionalista já não esclarece suas estratégias. As publicações destinadas às classes B, C


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e D integram um novo mercado a ser analisado, caracterizado por um público que não quer apenas histórias incríveis e inverossímeis, mas compra jornais em busca também de prestação de serviço e entretenimento. São jornais que atendem às regiões metropolitanas, apostam nas editorias de Cidades e não têm a pretensão de se tornarem nacionais. Utilizam como estratégia de sedução do público leitor e a cobertura da inoperância do Poder Público, da vida das celebridades e do cotidiano das pessoas do povo.

Então, o próximo capítulo trata do jornalismo popular, que é objeto de análise deste trabalho acadêmico.


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3 JORNALISMO POPULAR

Conceituar o jornalismo popular e mostrar como se diferencia do sensacionalista é a proposta deste capítulo. Popular e sensacionalista têm características bem específicas e são diferentes um do outro. Neste espaço também se quer explicar a linguagem utilizada no jornalismo popular, o que o torna diverso do convencional e como lidar com o público popular, cada vez mais abrangente.

Márcia Amaral (2006, p. 58) explica a necessidade da existência do jornalismo popular e quais públicos busca atingir: A imprensa popular ligada a grandes empresas de comunicação existe pela necessidade de ampliar o mercado de consumidores de jornais para um público que vive numa situação social, cultural e econômica diferente da do público das classes A e B. Os jornais assumem formas específicas porque o que move essa imprensa é, antes de qualquer coisa, a sedução do público e não a credibilidade ou o prestígio.

Atentos às alterações e possibilidades existentes no mercado em que atuam, empresários da comunicação identificaram o nicho que se abria com a diferenciação entre os leitores, um mais exigente e outro mais interessado em temas locais e no entretenimento. Diante de pesquisas que indicavam o aumento de consumo nas classes médias e baixas, o segmento popular cresceu também na área da comunicação.

Os jornais para a classe baixa são, segundo Rosa Pedroso (2001, p. 47), aqueles que buscam a atenção de todas as classes de leitores, principalmente os das camadas de baixa renda e baixo nível cultural, classe C para baixo; restringem o número de exemplares de cada edição, vendendo-os principalmente de maneira avulsa; e desprezam a opinião editorial e a linha de sobriedade e seriedade. “Por isso, são rotulados por uma tendência de publicação de mensagens desacreditadas e sensacionalistas, nas quais a violência e o sexo quase sempre são os temas explorados”.


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Os produtos jornalísticos destinados às classes B, C e D normalmente são “condenados” ao rótulo de sensacionalistas, relata Amaral (2006, p. 15). A autora trata como jornalismo popular a imprensa mais próxima do seu público-alvo, que tem por objetivo atingir seus leitores, ouvintes e telespectadores mudando a abrangência para agradá-los. O „popular‟ identifica apenas um tipo de imprensa que se define pela sua proximidade e empatia com o público-alvo, por intermédio de algumas mudanças de pontos de vista, pelo tipo de serviço que presta e pela sua conexão com o local e o imediato. (p.16)

Portanto, o tipo de serviço prestado pela empresa jornalística é produzido com cuidado para ser acessível ao público popular, mas não necessariamente sensacionalista.

Danilo Angrimani (1995) conta a história do sensacionalismo na imprensa. Segundo o autor, o sensacionalismo faz parte desde o início da imprensa. Os jornais populares da França, no século XIX, eram conhecidos como canards, termo que significa conto absurdo ou fato não verídico. Os primeiros jornais franceses, surgidos entre 1560 e 1631, eram semelhantes aos jornais sensacionalistas atuais e traziam informações fantásticas, fatos fora do comum.

Nos Estados Unidos, o primeiro jornal, surgido em 1690, Publick Occurrences, já tinha características sensacionalistas. Mas foi no final do século XIX, segundo Amaral (2006, p. 17), que o sensacionalismo se efetivou na imprensa, com a popularização dos jornais “por intermédio do aperfeiçoamento das técnicas de impressão, da expansão do telégrafo e das redes de cabos submarinos, do desenvolvimento do telefone e do surgimento dos anúncios”. Com o telégrafo, se tornou possível ao jornal publicar notícias do dia.

Muitos jornais, que antes eram limitados à política, passaram a tratar de temas de “interesse humano”, como o relato detalhado de acontecimentos reais, crimes e dramas de família. Assim, esses impressos deixaram de lado os artigos opinativos e passaram a retratar a vida da população. Os jornais eram destinados às


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classes mais altas, quando começou circular o Sun (fundado em 1833), que atendia ao público que buscava informações ligadas ao seu cotidiano.

O marco do jornalismo sensacional americano foi o período de 1880, com o lançamento dos jornais New York World e Morning Journal, que tinham preços baixos e publicavam dramas ilustrados com títulos chamativos.

No Brasil, os primeiros elementos de sensacionalismo na imprensa foram os folhetins, a partir de 1840. O jornalista Alberto Dines (citado por Amaral, 2006, p. 20) mostrou, em uma palestra no ano de 1969, que em toda a imprensa ocorre o sensacionalismo e classificou em três grupos: o sensacionalismo gráfico, o sensacionalismo lingüístico e o sensacionalismo temático. O gráfico ocorre quando há uma desproporção entre a importância do fato e a ênfase visual; o lingüístico é baseado no uso de determinadas palavras; e o temático caracteriza-se pela procura de emoções e sensações sem considerar a responsabilidade social da matéria jornalística (p.20)

Assim, a autora diz que o próprio lide é um recurso desse tipo, por sublinhar os elementos mais palpitantes da história para seduzir o leitor. Em geral, segundo Amaral (2006, p. 21), o sensacionalismo está ligado ao exagero; à intensificação, valorização da emoção; à exploração do extraordinário; à valorização de conteúdos descontextualizados; à troca do essencial pelo supérfluo ou pitoresco. São muitas as formas de popularização da mídia costumeiramente tratadas sob o rótulo sensacionalista. O sensacionalismo tem servido para caracterizar inúmeras estratégias da mídia em geral, como a superposição do interesse público; a exploração do sofrimento humano; a simplificação; a deformação; a banalização da violência, da sexualidade e do consumo; a ridicularização das pessoas humildes; o mau gosto; a ocultação de fatos públicos relevantes; a fragmentação e descontextualização dos fatos; o denuncismo; os prejulgamentos e a invasão de privacidade tanto de pessoas pobres como de celebridades, entre tantas outras. (p. 21)

Com isso a autora expõe o que é o sensacionalismo, para depois explicar as diferenças deste com o popular. A noção de sensacionalismo, que por muitos anos pairou como explicação da estratégia dos produtos populares, está agora ultrapassada. O sensacionalismo é um modo de caracterizar essa imprensa, uma maneira


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de explicar o que ocorria na mídia num determinado momento, mas não é sinônimo de imprensa, revista ou programa popular. (p. 21)

O jornalismo popular ideal é pautado pelo interesse de setores excluídos e dá visibilidade a todas as posições políticas e econômicas encontradas na sociedade, argumenta Amaral. É viável que empresas jornalísticas façam um jornalismo com vínculo social. Mas um jornalismo popular radical (no sentido de mais completo e profundo) seria aquele que pauta os setores excluídos e dá visibilidade a posições contra-hegemônicas, ou seja, às diversas posições políticas e culturais encontradas sociedade – meta improvável de ser cumprida por parte da grande imprensa - missão dos produtos informativos produzidos pelos movimentos sociais. (p. 133)

Então, o “popular” é aquele jornalismo que é pautado pela sociedade, e por isso não se confunde com o sensacionalista. Cabe ao jornalismo popular trabalhar com dispositivos de reconhecimento e dar conta de algumas características culturais de seus leitores, sem perder seus propósitos de vista. Mas conhecer o leitor não significa necessariamente subordinar-se inteiramente aos seus interesses. Assim, fazer jornalismo popular exige vigilância por parte do profissional que deve pensar sempre em para quem está escrevendo. Não para noticiar apenas o que aparentemente interessa ao leitor, mas, sobretudo para ser simples, didático e utilizar uma linguagem próxima à da população. (p.134)

A autora concorda que o leitor pauta o jornal, mas lembra que o jornalista é quem sabe os limites éticos e viáveis da produção da notícia. Um fato será notícia na imprensa popular se puder ser narrado de maneira a ficar próximo ao leitor. Quando se trata de entretenimento, é lógico ofertar o que o público quer para se divertir, porém no momento da informação jornalística, os critérios são outros. Sem viabilidade econômica, o jornalismo popular não emplaca nas grandes empresas e, portanto, a busca de proximidade com o leitor é uma estratégia inevitável. O que os jornalistas precisam garantir nas redações é que a imprensa popular faça, efetivamente, jornalismo e se democratize. Para isso, os princípios do jornalismo ético e socialmente responsável devem ser o limite. (p.134)

Portanto, os limites entre popular e sensacionalista estão no discernimento de quem escreve a matéria, sabendo como se aproximar do público sem ultrapassar a ética e a responsabilidade social. O relato do fato implica uma abordagem que


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emocione ou cause sensação. Além da produção de informações que atendam à exigência de relatar alguma coisa, a notícia descreve fatos que emocionam e despertam interesse. Não só o texto implica construir a sensação e a emoção, mas os próprios acontecimentos narrados são colhidos pelos jornalistas entre os de mais impacto informativo e emocional.

Lustosa (1996, p. 34) detalha as razões de a notícia precisar ser atraente para o público que a consome: Notícia que não é espetáculo não merecer ser publicada e não vende jornal, como nos advertiam os velhos secretários de redação. Por isso, nossa insistência em que, além da informação, há o atrativo da embalagem para torná-la um produto à venda, a exemplo do que ocorre com a comercialização de um sabão em pó, um sabonete, um refrigerante.

Então, com frieza e sem pudor conceitual, Lustosa acredita que a informação se torna produto de consumo após ser maquiada e devidamente elaborada pelo jornalista a partir de técnicas capazes de fazê-la atraente e interessante. “A informação deve assumir caráter universal, isto é, deve ser inteligível ou passível de decodificação por pessoas de diferentes níveis culturais, profissões ou repertórios”, explica Lustosa (p. 35).

Para Amaral (2006), os conteúdos tratados em um impresso popular são os que mexem de imediato com a vida da população, a maioria pertencente às classes C, D e E. Segundo ela, uma das características da imprensa popular é a de que um fato só será notícia se puder ser narrado de maneira a ficar próximo ao leitor. A proximidade pode ser firmada de diferentes formas: pelo conteúdo, personagens e pela linguagem utilizada.

Segundo Rosa Nívea Pedroso (2001), a ligação do jornal com seu público objetiva dar voz aos que não tem, ou seja, tornar o leitor um agente ativo dentro do processo de decisão do jornal. O jornal popular, então, não se diferencia dos jornais da grande imprensa apenas por romper com os modelos tradicionais de produção e distribuição predominantes, mas porque cria suas próprias condições de existência e realiza uma nova concepção de comunicação entre jornal e leitor, na qual é possível o acesso do leitor dentro do processo de decisão do jornal. (p. 61)


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Assim, muitas vezes esses jornais, para agradar ao público, preenchem suas páginas com entretenimento, prestação de serviços e textos curtos. Eles se utilizam também de estratégias como brindes, fazendo o leitor adquirir o jornal diariamente.

3.1 JORNALISMO POPULAR NO BRASIL

O jornalismo voltado para o público popular tem um início incerto, mas não é recente. Alguns autores atribuem aos editores Joseph Pulitzer e William Randolph Hearst, a implantação deste gênero jornalístico. Porém, Danilo Angrimani (1995) defende que o sensacionalismo faz parte do da imprensa desde seus primórdios, citando os jornais franceses “Nouvelles Ordinaires” e “Gazzette de France”, surgidos entre 1560 e 1631, e que, segundo o autor, pareciam os jornais sensacionalistas feitos atualmente.

Como na Europa e nos Estados Unidos, o ingresso do jornalismo popular no Brasil ocorreu a partir do final do século XIX e surge com as características sensacionalistas. Amaral (2006) sustenta que o termo sensacionalista começou a apresentar uma definição no Brasil durante as palestras da Semana de Estudos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), ocorridas em 1969. O termo começou a ter repercussão nos artigos de Brito Broca, autor de A vida literária no Brasil – 1900, livro sobre as inovações da imprensa brasileira e do escritor Afonso Lima Barreto, que realizou uma comparação entre jornais nas primeiras décadas do século XX. Os palestrantes desse evento, há mais de trinta anos, já partiam do pressuposto de que todo o processo de comunicação é sensacionalista em si, pois mexe com sensações físicas e psíquicas e apela às emoções primitivas por meio de características místicas, sádicas e monstruosas. (p. 20)

No Brasil, a imprensa sensacionalista é também chamada de imprensa marrom. O termo foi criado para designar a imprensa amarela, que é explicado por Angrimani (1995, p. 21):


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O termo surgiu a partir de uma história em quadrinhos. O “World”, de Pulitzer, publicava aos domingos uma história em quadrinhos chamada “Hogan‟s Alley”, em cores, desenhada por Outcault. O personagem principal da HQ [História em Quadrinhos] era um menino desdentado, sorridente, orelhudo, vestido com uma camisola de dormir amarela. A fala do menino orelhudo vinha escrita em sua camisola e não em balões, como é feito hoje. Como a roupa dele era toda amarela, ficou conhecido por “Yellow Kid”. Hearst, quando passou a dirigir seu jornal, comprou o passe dos melhores jornalistas de Pulitzer, um deles era o próprio Outcault, que passou a desenhar o Yellow Kid para o Journal. Os dois jornais usavam posters do Yellow Kid para divulgação. O personagem passou a ser um registro simbólico para os críticos do estilo sensacionalista de Pulitzer e Hearst.

Assim, o Brasil se apropriou o termo e passou a utilizar “imprensa marrom”. O entendimento de que marrom é “coisa ilegal, clandestina, aparece no início do século XIX na França” (p. 22).

Atualmente, todos os grandes grupos de comunicação do país decidiram apostar no segmento popular. É o caso do Grupo Folha de São Paulo, com o Agora São Paulo; da Globo com dois jornais populares, Extra e Diário de São Paulo; do Grupo Estado, com o Jornal da Tarde, e da Rede Brasil Sul, com o popular Diário Gaúcho. Para Amaral, este não é um fenômeno brasileiro e sim uma tendência mundial. “O surgimento desses 18 novos grupos de jornais não aconteceu somente no Brasil. Muitos jornais latino-americanos e europeus seguem uma nova ordem e abrem novos mercados de leitores, pois não competem com a imprensa tradicional” (2006, p.31).

O fenômeno do popular cresceu no Brasil desde o seu surgimento, trouxe um aumento no número de leitores, por apresentar uma fácil leitura. Apesar disso, a publicação impressa continua dependente de muitas variáveis. No caso dos populares mais ainda, pois, além de apresentarem um preço acessível, têm como público um leitor muito mais suscetível aos problemas econômicos.


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3.2 JORNALISMO POPULAR NO RIO GRANDE DO SUL

A história do surgimento da imprensa gaúcha, no inicio do século XIX, tem como pano de fundo o processo político da Revolução Farroupilha. A imprensa foi uma aliada importante para o enfrentamento da subordinação do estado do Rio Grande do Sul ao poder do Rio de Janeiro. Na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a gênese da imprensa está ligada ao processo político que desembocaria na Revolução Farroupilha. No final dos anos 20, a economia pastoril entrou em relativa estagnação, que teve ressonância no plano político. Na conjuntura, saltou à vista da classe dominante local (estancieiros e charqueadores) sua subordinação política ao centro de poder do Rio de Janeiro. A pecuária constituía uma economia periférica e dependente, cujas demandas políticas e administrativas não encontravam respaldo do governo. A oligarquia pastoril sequer controlava a Província, na medida em que os presidentes eram nomeados arbitrariamente pela corte (RÜDIGER, 2003, p. 18).

O primeiro jornal gaúcho, o Diário de Porto Alegre, surgiu no ano de 1827. Basicamente, o era constituído de um boletim oficial destinado à publicidade governamental e à publicação dos atos da administração do governo. Conforme Rüdiger (2003), no período de oito anos, desde o surgimento da imprensa, foram lançados 32 jornais. Todos apresentavam formatos pequenos, tiragens que não ultrapassavam 400 exemplares, e a grande maioria circulava duas ou três vezes por semana. O autor denomina o período inicial gaúcho como pré-jornalismo, já que o “jornalismo ainda não havia formado seu próprio conceito, confundindo-se com a noção de literatura pública, de finalidade moral e política” (p. 29).

Neste período, ganham destaque os pasquins, publicações criadas por meio da subvenção de partidos políticos, que acabariam entrando para o “folclore” do jornalismo, segundo Rüdiger. Através de “ataques morais e pelos abusos de linguagem, criavam desavenças na comunidade e levantavam a raiva das autoridades” (p. 31).

A fundação do Correio do Povo, em 1895, por Caldas Júnior, representa uma fase importante do jornalismo no Rio Grande do Sul, que se fortalece a partir de 1930, com o Estado Novo, que aboliu oficialmente os partidos políticos e fechou


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diversos jornais, o que levou ao fim do jornalismo político-partidário em definitivo. Assim, surge uma nova fase chamada de Jornalismo Informativo Moderno, que resulta na multiplicação dos veículos que se apresentam como independentes e que na verdade são empresas de comunicação que buscam o lucro. Mesmo com a consolidação deste mercado – da informação como mercadoria – as ligações políticas persistem. Assim, Samuel Wainer lançou, no Rio de Janeiro, o jornal Última Hora, em 1951. Era uma empresa de comunicação privada, mas que todos sabiam ter a finalidade de apoiar o governo de Getúlio Vargas. Wainer havia prometido ao presidente um jornal que atingisse as massas. Além de abordar assuntos desprezados pela imprensa, então existente, como esporte e política, o diário também apresentava características inovadoras, como uma grande foto na primeira página, e uma seção chamada o Dia do Presidente.

Jefferson Barros (1999, p. 17) disserta sobre o nascimento do popular nessa época: A vitória de Getúlio em 1950, mais do que uma vitória eleitoral, foi uma vitória ideológica. O carisma do presidente eleito marcava, sem dúvida, o „perfil populista‟ do novo bloco ideológico. (p.17)

Aos poucos, Última Hora (UH) ganhou espaço e se expandiu. Para ajudar o governo de Getúlio, Wainer lançou Última Hora também em São Paulo, depois devido à influência política dos seus impressos, Wainer acaba aumentando a rede do jornal. No começo dos anos 60, o jornalista comandava, simultaneamente, diários em sete cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Niterói, Belo Horizonte e Recife.

Wainer e sua rede de jornais entram em crise devido ao golpe militar de 1964 e, então, o Última Hora de Porto Alegre foi adquirido pelos empresários Mauricio Sirotsky, dono da radio Gaúcha, e Ari Cunha. UH se transforma em Zero Hora, que modifica o projeto, mas mantém um apelo popular. De posse da rádio e do jornal, os Sirotsky criam um grupo de comunicação – investindo também em televisão, com a instalação da TV Gaúcha em 1962 – e assim formam a RBS (Rede Brasil Sul de Comunicação).


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A RBS percebeu a abertura do mercado popular com a investida e os preparativos para o lançamento de um novo diário em Porto Alegre, O Sul, da Rede Pampa de Comunicação, e assim decidiu criar às pressas um veículo que ocupasse o espaço que se demarcava. O ano 2000 assinala o lançamento do jornal Diário Gaúcho, cobrindo a Região Metropolitana de Porto Alegre. Repetindo o sucesso de novos jornais populares do Rio e de São Paulo, o Diário Gaúcho começou com tiragem diária de 130 mil exemplares, chegou ao pico de 200 mil em dezembro de 2001 e mantém a média de 140 mil. Como narram Pedrinho Guareschi e Osvaldo Biz (2003, p. 25), “a estratégia foi vender o jornal por um preço simbólico: 25 centavos de real. As enormes multidões das classes C, D e E iriam se sentir lembrados, atendidos e agradecidos pelo presente”. O Diário Gaúcho é “em termos de circulação, é maior do que qualquer jornal popular paulista, e só perde em circulação nos dias úteis para o carioca Extra”. (Amaral, 2006, p.38). O jornal é o expoente máximo da imprensa popular gaúcha.

Pedrinho Guareschi e Osvaldo Biz (2003) escrevem sobre o jornal Diário Gaúcho: O jornal surgiu, segundo o folclore jornalístico do Rio Grande do Sul, mais para responder a uma bravata de um diretor de uma empresa concorrente que se vangloriava, numa reunião social, que lançaria um jornal popular. (p.6)

Assim, o Diário Gaúcho foi o primeiro jornal para o público popular que se consolidou no Rio Grande do Sul e continua no mercado até hoje. Examinando a publicação, percebe-se que o jornal é feito mais à base de imagens ou letras garrafais do que por textos.


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3.3 QUEM É O PÚBLICO POPULAR

O jornalismo popular é desenvolvido para um público específico. Por isso, a necessidade de peculiaridades. Muitas vezes, serve de intermediário entre a sociedade e o poder público. Os impressos populares precisam falar do universo do seu público-alvo e são obrigados a utilizar determinados recursos temáticos, estéticos e estilísticos deslocados do discurso jornalístico tradicional.

As pessoas lêem jornais não apenas para se informar, mas também pela necessidade de pertencer à história cotidiana, à sociedade e poderem falar das mesmas coisas que as outras pessoas falam. Ler um jornal ou assistir a um programa de televisão também está associado à ligação das pessoas com o mundo.

O jornalista tem um papel social, como diz Ricardo Noblat (2003). Para o autor, a notícia que o veículo transmite deve provocar uma transformação na vida das pessoas. “Se o que é sólido se desmancha no ar, nada é menos sólido do que a maioria das notícias que os jornais publicam. O fato que provoca barulho não é necessariamente o fato importante. Importa o fato destinado a produzir mudanças na vida das pessoas” (p. 30).

Amaral (2006, p. 59) aponta os elementos de sucesso dos jornais populares ao tentarem atingir o público alvo: Entre as explicações plausíveis para o sucesso de jornais e programas populares incluem-se o desencanto com a política, a inoperância do poder público e a noção de que as notícias estão fora do alcance das pessoas do povo. Assim, são inúmeras estratégias de popularização dos produtos jornalísticos para aproximarem-se de seu leitor e conseqüentemente, muitas as distorções éticas cometidas.

De acordo com essa idéia, fica mais fácil compreender por que os jornais populares fazem sucesso, na medida em que correspondem às expectativas individuais. A imprensa popular cria um modo próprio de lidar com os conceitos de verdade, realidade e credibilidade. Assim, fazer as pessoas sentirem algo é predominante nas notícias populares, diz Amaral (2006).


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O jornal sempre projeta um leitor e busca idealizar quem é o seu público. Então, a partir desta perspectiva, a imprensa cria maneiras de se dirigir ao alvo e de vincular suas matérias de acordo com os interesses deste leitor. Amaral (2006, p. 61) disserta sobre o público popular: No caso do segmento popular, há elementos historicamente atribuídos às classes populares e observáveis até hoje na mídia. Os veículos de comunicação trabalham com um estereótipo de quem deve ser o leitor popular. Mas também é preciso considerar que há algumas características típicas do conhecimento popular apontadas em vários estudos, que se generalizam e são incorporadas pelos jornais de maneira espontânea, não consciente.

Em geral, o povo é considerado com uma cultura heterogênea. Por isso, os produtos dirigidos a essa camada social priorizam o que está relacionado com o mais próximo da vida do leitor.

3.4 DIFERENÇAS ENTRE JORNALISMO POPULAR E CONVENCIONAL

É importante ressaltar que também há entre os dois jornais, apesar de alguns autores tratarem sensacional e popular como o mesmo tipo de jornalismo. Nos jornais populares, o conteúdo editorial se baseia nos assuntos de polícia, esporte e mulheres. Nos sensacionalistas, a preferência é por escândalo, sexo e sangue. Ciro Marcondes (1986) descreve o jornalismo sensacionalista. “O trinômio escândalosexo-sangue aponta, pois, para os três níveis de maior enfoque do jornal sensacionalista, sendo a moral, o tabu e a repressão sexual e, por fim, a liberação de tendências sádicas do leitor o fundo sociopsicológico desse tipo de jornalismo” (p. 91). Para ele, isto provoca uma intimidade com o leitor, mas nenhuma melhoria no jornal. É uma imprensa que não se presta a informar, muito menos a formar, presta-se básica e fundamentalmente a satisfazer as necessidades instintivas do público, por meio de formas sádicas, caluniadoras, ridicularizadoras das pessoas. Por isso, a imprensa sensacionalista, como a televisão, o papo no bar, o jogo de futebol, servem mais para desviar o público de sua realidade imediata do que para voltar-se a ela, mesmo que fosse para fazê-lo adaptar-se a ela. (p.89)


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O jornalismo popular apresenta características de sensacionalismo, apesar de nem sempre ser realmente sensacionalista. Ele manifesta estas características para agradar o seu público-leitor. Para Amaral (2006), essas particularidades não podem ser meramente deduzidas de estratégias mercadológicas. É preciso ver que eles interpelam características culturais populares construídas ao longo da história, num movimento dinâmico entre o campo da produção e o da recepção, subordinando-se à lógica comercial. Portanto, quando um jornalista escreve para o segmento popular, está produzindo informações para pessoas com determinadas características culturais, na maioria das vezes distintas daquelas com as quais os profissionais convivem (p.58).

Assim, os populares são responsáveis, muitas vezes, pelo primeiro contato regular de leitores com o jornal diário.

Na imprensa de referência, um acontecimento terá mais chance de ser notícia se: os indivíduos envolvidos forem importantes; tiver impacto sobre a nação; envolver muitas pessoas; gerar importantes desdobramentos; for relacionado a políticas públicas; ou puder ser divulgado com exclusividade. Já na imprensa popular, um fato terá mais probabilidade de ser noticiado se: possuir capacidade de entretenimento; for próximo geográfica ou culturalmente do leitor; puder ser simplificado; puder ser narrado dramaticamente; tiver identificação dos personagens com os leitores (personalização); e for útil. Entre eles, Amaral (2003, p. 63) destaca “o entretenimento, a proximidade e a utilidade como importantes valores-notícia da imprensa popular”.

3.5 ESTILOS DE LINGUAGEM E ANÁLISE TEXTUAL

A linguagem jornalística compõe-se de uma conjugação simultânea de diversas linguagens: a verbal escrita, fotográfica, gráfica e a linguagem da diagramação.


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Para Lustosa (1996), “estabeleceu-se uma linguagem própria para cada veículo, de acordo com as peculiaridades de sua recepção por parte da massa e suas características específicas” (p. 67). Assim, as leis mais gerais da linguagem jornalística são comuns a muitos idiomas, por ser o jornalismo prática social “transfronteiras”, como define Lage (2002, p.5); a linguagem jornalística mobiliza outros símbolos, além da comunicação lingüística.

O impresso popular apresenta uma linguagem que se aproxima mais do que os outros jornais da língua falada pelo povo, com o objetivo de tornar sua leitura uma continuação da conversação do dia-a-dia. Os recursos da língua popular facilitam a interação do veículo com seus leitores, expressam as revoltas com as desigualdades sociais, atuam diretamente, convencem com maior facilidade, sem necessitar de reflexão.

No caso do jornalismo popular, é utilizada a linguagem oral na narrativa. Conforme Ana Rosa Ferreira Dias (1996), a opção pela narrativa oral acontece intencionalmente, ou seja, os jornais buscam relatar os fatos na forma falada, com o propósito de tornar a leitura uma própria conversação do dia-a-dia. Elementos gráficos de destaque na capa dos jornais, fotos de crimes ou de mulheres com pouca roupa, e manchetes grandes e chamativas acompanham o discurso de um jornal popular e de um sensacionalista. As manchetes, em especial, ganham relevância na conquista do leitor. Em princípio, é nas manchetes que se encontram as mais freqüentes marcas da oralidade, as metáforas populares de efeito, o discurso dúbio da malícia, a sexualização constante dos referentes, a violência exacerbada do discurso, a gíria, as ousadias dos vocábulos obscenos, as frases-feitas mais populares. Segundo os jornalistas, as manchetes merecem cuidados especiais porque delas depende o sucesso da venda do jornal, sendo necessário, portanto, motivar o leitor e facilitar o entendimento. (p.62)

A linguagem busca a identificação com o público leitor, buscando atender a uma expectativa da sociedade. Lage (2006) disserta sobre a linguagem jornalística em geral, do jornalismo convencional. Portanto, o que a os populares fazem é radicalizar essa características, acentuá-la ao máximo:


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As restrições mais gerais do jornalismo noticioso referem-se à linguagem jornalística, sobretudo quando impõe o uso de vocabulário e gramática tão coloquiais quanto possível nos limites do que se considera socialmente correto e adequado à abrangência do veículo. (p.23)

Portanto, a linguagem varia de acordo com o público, com o conhecimento de quem vai ler e, principalmente, com a linguagem coloquial, como as pessoas falam, mas sem abrir mão das normas lingüísticas. “Ela (a linguagem jornalística) é basicamente constituída de palavras, expressões e regras combinatórias que são possíveis no registro coloquial e aceitas no registro formal” (LAGE, 2006, p.38).

Ferreira Dias (1996, p. 79) também observa a linguagem utilizada nos impressos populares: As repetições, os marcadores conversacionais, as parentéticas e outros eventuais recursos falados, bem como um vocabulário que lembra a conversação do povo no seu dia-a-dia, não são suficientes para dar ao periódico uma unidade em seu discurso, muito menos em sua sintaxe que se mostra presa às regras da escrita culta.

Então, a imprensa popular se expressa como o povo, já que se apóia nos coloquialismos da linguagem, faz uso de gírias. E dirige-se para o povo, pois não só atende à expectativa comunicativa do leitor popular, que é a do entendimento imediato da informação, mas também aborda temas que fazem parte de seu cotidiano e são do seu interesse. “No discurso popular, a violência extrapola o „crime‟ em si e passa a referir diversos tipos de delitos sofridos pelas classes populares”, expõe Ferreira Dias (1996, p. 110). A utilização de termos gírios, léxico característico da modalidade oral da língua, é outro dado que contribui para a familiaridade do discurso, sendo mais um dos elementos responsáveis pelo fator envolvimento. Formas populares como “traçava”, “o fogo de Sarah”, “baixaria”, “fulo da vida”, “faziam a festa”, “fuck-fuck”, incorporados pelo jornal, integram o uso diário de uma camada específica da população que encontra em tais manifestações lingüísticas a expressão das emoções. (FERREIRA DIAS, 1996, p. 58)3

Para Amaral (2006, p. 112), “o fato de um jornal ser mais popular não significa que tenha que abrir mão da linguagem informativa”. O que pode determinar maior popularização da imprensa é, além da mudança de linha editorial, a utilização de 3

Os grifos são da autora.


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uma linguagem jornalística mais didática. Os manuais de jornalismo e português colecionam algumas dicas para um bom texto que, segundo a autora, “no caso dos populares, assume importância ainda maior” (p. 112).

O essencial para um texto ser entendido por todos é, segundo Amaral, ser claro, sendo compreendido imediatamente; capturar o leitor e seduzi-lo para a leitura até o final; usar palavras indispensáveis, cheias de significado e frases repletas de conteúdo; optar por termos justos e evitar palavras de sentido muito amplo; trazer ângulos diferentes do fato; ser redigido com base no princípio de que o leitor não sabe do tema; evitar a ambigüidade e os jargões; e evitar vícios de linguagem.

Escrever em uma linguagem simples e clara não significa produzir um texto pobre. Esse é um dos desafios do jornal popular: não produzir apenas o texto que se adeque às expectativas do leitor, mas levar as pessoas a apreciarem um texto de melhor qualidade. Ou seja, quem não tem hábito de leitura, provavelmente vá preferir ler textos mais curtos, mais simples e na ordem direta. “Com o passar do tempo, o leitor pode ser introduzido a um texto criativo e rico em informações”, sustenta Amaral (p. 115).

Depois de analisar o jornalismo e entender um pouco sobre sua expressão popular, passando pelas explicações sobre a linguagem utilizada, é possível ir para o quarto capítulo e analisar notícias nos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho, comparando a mesma informação em ambos os jornais, um considerado convencional e outro popular, respectivamente.

Assim, entraremos na história dos jornais e na análise textual das informações que foram colhidas durante um mês, de 25 de agosto a 25 de setembro de 2009.


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4 ANÁLISE DE ZERO HORA E DIÁRIO GAÚCHO

O capítulo quatro se dedica aos periódicos que são objetos de estudo da presente monografia: Zero Hora e Diário Gaúcho, do mesmo grupo de comunicação, RBS (Rede Brasil Sul) e considerados, respectivamente, convencional e popular. Os exemplares selecionados para formar a amostra da pesquisa correspondem a um mês, de 25 de agosto a 25 de setembro. Serão comparadas as mesmas informações que foram publicadas nos dois diários.

4.1 MÉTODO E CRITÉRIOS

Para a análise, é necessário que seja definido um método a ser aplicado. A comparação, enquanto momento da atividade cognitiva, pode ser considerada como inerente ao processo de construção do conhecimento nas ciências sociais. Segundo Sérgio Schneider e Cláudia Job Schmitt (1998), Comte, Durkheim e Weber, ainda que de modo diferenciado, utilizaram-se da comparação como instrumento de explicação e generalização. Para esses autores, a análise comparativa encontra-se estreitamente relacionada à própria constituição da sociologia enquanto campo específico do conhecimento, permitindo que esta se distancie das outras ciências sociais, demarcando seu terreno próprio de atuação.

Para Marina Marconi e Eva Lakatos (2003, p. 107), considerando que o estudo das semelhanças e diferenças entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos contribui para uma melhor compreensão do comportamento humano, este método realiza comparações, com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências. “O método comparativo é usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento”, explicam.


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O medo comparativo permite analisar o dado concreto, deduzindo do mesmo os

elementos

“experimentação

constantes, indireta”.

abstratos É

e

empregado

gerais. em

Constitui estudos

de

uma

verdadeira

largo

alcance

(desenvolvimento da sociedade capitalista) e de setores concretos (comparação de tipos específicos de eleições), assim como para estudos qualitativos (diferentes formas de governo) e quantitativos (taxa de escolarização de países desenvolvidos e subdesenvolvidos). Pode ser utilizado em todas as fases e níveis de investigação: num estudo descritivo pode averiguar a analogia entre ou analisar os elementos de uma estrutura (regime presidencialista americano e francês); nas classificações, permite a construção de tipologias (cultura de folk e civilização); finalmente, a nível de explicação, pode, até certo ponto, apontar vínculos causais, entre os fatores presentes e ausentes.

Enfim, se utiliza o método comparativo que se baseia, principalmente na investigação de objetos ressaltando diferenças e similaridades entre eles. Portanto, se busca investigar similitudes e diferenças ou ainda as variantes e invariantes que constam na informação publicada pelos dois jornais.

Para a comparação, é necessário que se estabeleçam alguns critérios, de acordo com as características dos tablóides descritas ao longo deste trabalho acadêmico. Conforme o que foi pesquisado até aqui, é possível apontar algumas características que se sobressaem nas duas formas de tratamento da informação.

Na imprensa convencional, um acontecimento tem mais chance de ser notícia se: Os indivíduos envolvidos forem personalidades de destaque; Tiver impacto sobre a nação; Envolver muitas pessoas; Gerar importantes desdobramentos; Estiver relacionado a políticas públicas; Puder ser divulgado com exclusividade. Na imprensa popular, um fato terá mais probabilidade de ser noticiado se: Possuir capacidade de entretenimento; For próximo geográfica ou culturalmente do leitor; Puder ser simplificado;


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Ser narrado com dramaticidade; Tiver identificação dos personagens com os leitores (personalização); For útil. Quanto à construção textual, objeto principal do estudo, a linguagem jornalística compõe-se de uma conjugação simultânea de diversas linguagens: a verbal escrita, fotográfica, gráfica e a expressa pela diagramação. A mensagem jornalística desenvolveu uma linguagem, um componente verbal específico, que serve para chamar a atenção e conquistar o leitor para o produto/matéria. Além disso, se manifesta de forma diferente quando esse produto se dirige aos públicos do impresso tradicional e popular.

O jornal apresenta algumas características marcantes, como tratar de fatos ocorridos no dia anterior; oferecer ao leitor um exame analítico e uma reflexão sobre os acontecimentos; ser abrangente e abordar uma vasta gama de assuntos; combinar dois códigos, o escrito – texto – e o visual – fotografias, ilustrações e apresentação gráfica; e ser temporal, ou seja, só vale por um dia, no outro, será jogado fora.

O impresso popular apresenta uma linguagem que se aproxima da língua falada pelo povo, com o objetivo de tornar sua leitura uma continuação da conversação do dia-a-dia. Os recursos da língua popular facilitam a interação do veículo com seus leitores, expressam as revoltas com as desigualdades sociais, atuam diretamente, convencem com maior facilidade, sem necessitar de reflexão. A opção pela narrativa oral acontece intencionalmente, ou seja, os jornais buscam relatar os fatos na forma falada, com o propósito de tornar a leitura uma própria conversação do dia-a-dia.

Elementos gráficos de destaque na capa dos jornais, fotos de crimes ou de mulheres com pouca roupa, e manchetes grandes e chamativas acompanham o discurso de um jornal popular e de um sensacionalista. As manchetes, em especial, ganham relevância na conquista do leitor.


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4.2 DESCRIÇÃO E HISTÓRIA DOS DOIS JORNAIS

O grupo RBS é uma empresa de comunicação social multimídia que opera no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O conglomerado foi fundado por Maurício Sirotsky Sobrinho, em 31 de agosto de 1957, em Porto Alegre. A RBS foi pioneira no modelo regional de televisão no país e também a mais antiga afiliada da Rede Globo. Com mais de seis mil funcionários, o grupo possui sucursais multimídia e escritórios comerciais no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Distrito Federal, em Minas Gerais e no Mato Grosso do Sul.

A Rede Brasil Sul (RBS) edita quatro jornais no Rio Grande do Sul: Zero Hora, Diário Gaúcho, Pioneiro e Diário de Santa Maria. Os jornais podem ser divididos por região (capital e interior), por classe social (AB e BC), por enfoque editorial (qualificado e popular, segundo qualificação da RBS) e padrão de consumo. (Amaral, 2006, p. 81)

Os jornais populares, em sua maioria, possuem uma estética um tanto diferente daquela adotada nos jornais tradicionais. Fato que pode ser observado com muita clareza no Diário Gaúcho, em especial em sua diagramação. A diagramação, como já explicado, é usada para deixar as capas e páginas dos jornais com uma aparência agradável e que facilite o entendimento do leitor.

4.2.1 Zero Hora

O jornal Zero Hora comemorou 45 anos em 4 de maio de 2009, tendo publicado sua edição número um em 4 de maio de 1964. No primeiro editorial, afirmava ser “um jornal autenticamente gaúcho, democrático, sem vínculos ou compromissos políticos, com um único objetivo: servir ao povo, defender seus direitos e reivindicações, dentro do respeito às leis”.


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O jornal passou para o controle total de Maurício e Jayme Sirotsky em 21 de abril de 1970, quando a RBS adquiriu a parte do outro sócio. Eles detinham 50% das ações desde 1967, mas o comando era de Ary de Carvalho, criador do jornal em 1964 após o fechamento da Última Hora gaúcha e dono da outra metade. No entendimento do ex-diretor de ZH Lauro Schirmer (2002, p. 73), os Sirotskys trouxeram para ZH uma nova mentalidade, moderna e criativa, que então se irradiava na televisão e na publicidade, buscando inspiração nos centros mais adiantados do mundo, enquanto a imprensa se mantinha estagnada, fiel a velhas rotinas e modelos gastos. Em conseqüência dessa estratégia, segundo Rüdiger (2003, p. 109), “Zero Hora se tornou não só a folha de maior venda avulsa no estado, mas a maior em tiragem, batendo o Correio do Povo em 1982”. Para compreender a rápida ascensão do jornal, não se pode esquecer, também, o modo como sua estratégia mercadológica e editorial se articulou com a principal mídia do grupo: a televisão. A formação de uma rede de emissoras interioranas sob sua liderança causou uma boa receptividade do jornal da empresa, que soube tirar proveito da situação, explica Rüdiger (2003, p. 111 e 112).

Uma das idéias iniciais quando da integração de Zero Hora à RBS foi a mudança de nome. Maurício Sirotsky havia adquirido os direitos da marca O Estado do Rio Grande, antiga propriedade do extingo Partido Libertador (PL) (Schirmer, p. 73). Porém, o nome Zero Hora, que existia desde 1964, quando Ary de Carvalho o criou, após o fechamento da Última Hora acabou sendo mantido. Houve apenas uma pequena alteração no logotipo, que de azul passou a ser impresso em preto. Também foram suavizadas as manchetes da capa que traziam muitos casos de sangue, rompendo os vínculos com as heranças sensacionalistas do passado.

Lauro Schirmer (2002) comenta que eram grandes os desafios dos primeiros anos da década de 1970 para quem trabalhava em Zero Hora, diante das dificuldades para enfrentar a concorrência dos jornais da todo-poderosa Companhia Jornalística Caldas Júnior, do Diário de Notícias e do Jornal do Comércio. Todo o contingente da redação não chegava a 100 profissionais, as agências de notícias contratadas eram apenas duas – Agência Estado e France Presse (AFP).


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O salto maior na circulação, no faturamento, na independência editorial e na conquista da liderança regional de Zero Hora aconteceu a partir de 1978 com o lançamento dos cadernos de classificados. Uma iniciativa muito bem sucedida que, em curtíssimo prazo, duplicou a tiragem da edição dominical e não só ampliou o faturamento como se refletiu na maior independência do jornal, pois é sabido que, quanto mais classificados em um jornal, menos exposto ele fica às pressões de agências, de grandes anunciantes e de governos.

O lançamento do primeiro caderno de classificados de Zero Hora ocorreu em março de 1979. Algumas medidas foram fundamentais para o seu sucesso, como dar comissão dos anúncios classificados para agências de publicidade, a implantação de 40 pontos de venda e o emprego de vendedores autônomos de anúncios, enquanto o Correio do Povo não comissionava as agências e tinha apenas uma loja central para receber anúncios, conta Schirmer (2002, p. 93). Para facilitar ainda mais a vida do anunciante, Zero Hora também passou a receber classificados pelo telefone.

Hoje, o jornal é líder em circulação no Rio Grande do Sul, com média diária de 166.886 exemplares e 247 mil aos domingos, de acordo com dados do Instituto Verificador de Circulação, de 24 de março de 2009. Em 45 anos de existência, a tiragem teve um crescimento de 357%. Em 1964, era de 40 mil exemplares, ultrapassando a marca dos 100 mil exemplares nos anos 80 e os mais de 150 mil jornais na década de 90 (AMARAL, 2001, p. 80).

A publicação possui 23 cadernos segmentados e cerca de 60 colunistas. Zero Hora ainda produz eventos (como o Donna Fashion Iguatemi, por exemplo) de arquitetura, tecnologia, culinária, moda e educação. Ao completar 45 anos, em maio de 2009, foi lançado o livro “45 Reportagens que Fizeram História”. A publicação apresenta reportagens que marcaram a trajetória do jornal, mostrando bastidores da produção e execução das notícias, além da repercussão à época da publicação.

No dia 26 de junho de 2009, com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foi inaugurado o Parque Gráfico Jayme Sirotsky, novo local de


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impressão dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho. Localizado na zona norte de Porto Alegre, a nova gráfica é o resultado de um investimento de cerca de R$ 70 milhões, num prédio de mais de 12 mil metros quadrados.

Em setembro de 2007, entrou no ar o site www.zerohora.com, com o trabalho de 34 jornalistas e webdesigners contratados especialmente para o novo projeto, aliados a um conjunto de mais de 200 repórteres, dentre eles os repórteres fotográficos, editores e designers de mídia impressa.

O site tem sido um espaço de crescimento do colunismo eletrônico (blogs), pois, praticamente todos os colunistas do jornal dispõem de páginas na nova mídia. Também são criados blogs temporais e relativos a eventos que a empresa realiza com forte cobertura, como por exemplo, ZH Moinhos, ZH Zona Sul, Bola Dividida, Central de Meteorologia da RBS, Emprego e Carreira, Noiva.com, Samblog, Meu Filho, Canal dos Games, Blog da Expointer, Blog do Ar Puro, Papo de Moda, Festas do Interior, Blog das Religiões, Roda de Chimarrão, Fórmula-1, Mundo Livro, A Hora do Texto, Rumos do Sul, Festival de Cinema de Gramado, Planeta Atlântida, entre tantos outros eventos jornalísticos da área de cobertura dos veículos de mídia da RBS no Rio Grande do Sul.

4.2.2 Diário Gaúcho

O Diário Gaúcho foi lançado em 17 de abril de 2000. Circula de segunda a sábado e dedica principalmente às classes populares da região metropolitana de Porto Alegre, embora esteja disponível em todo o estado. Possui equipe de editores e repórteres próprios, mas “não conta com sucursais – utiliza-se da estrutura administrativa e financeira de Zero Hora”, segundo Amaral (2003, p. 80). Com investimento de R$ 4,35 milhões, a RBS montou uma redação com 35 jornalistas e equipes de reportagem em toda a região metropolitana.


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A empresa colocou, inicialmente, 95 mil exemplares nas bancas. Dados do Instituto Verificador de Circulação mostram que em junho de 2000, dois meses depois de seu lançamento, o Diário Gaúcho (DG) possuía circulação diária de 180.337 exemplares. Em 2004, a circulação média ficou em torno de 138 mil exemplares.

Segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), o DG ocupou em 2008 a 7° posição no ranking dos jornais pagos de maior circulação, totalizando 167.157 mil exemplares diariamente. Isso aponta a legitimação, o empenho e comprometimento em transmitir informação, através de uma linguagem acessível e adequada, para o segmento popular: seu público-alvo. Outra forma de legitimação feita pelo DG, conforme Márcia Amaral (2006, p. 81), é “por intermédio da auto-referência, ou seja, das informações sobre o próprio jornal e os veículos ligados a eles”, em ações conjuntas com os demais veículos ligados ao Grupo RBS, como por exemplo, a Rádio Farroupilha.

O periódico se apresenta no formato tablóide, circula em cores e tem como uma de suas estratégias a realização de promoções. Na época de seu lançamento, a população foi convidada a escolher o nome do jornal, num concurso que tinha como prêmio um carro zero km e contou com mais 500 mil votos.

A diagramação é usada para criar um caminho de leitura segundo uma hierarquia dos assuntos. De acordo com a importância dos fatos no cotidiano, através da diagramação adotada para o jornal, eles ganham maior ou menor relevância. Os elementos presentes na capa de um jornal, por exemplo, devem ser dispostos de acordo com a importância que se pretende inferir aos fatos. A manchete do jornal possui maior destaque que uma chamada secundária, assim como as fotografias são dispostas conforme sua importância.

Considera-se que a capa do jornal, tal como um anúncio publicitário, busca despertar o interesse do consumidor, levando-o a ação: adquirir um exemplar. Logo, a capa, além de veículo de informação, é veículo publicitário do próprio jornal. É nela que o periódico deposita, dia-a-dia, suas estratégias de captação do público leitor,


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seja pelo modo que mostra os temas agendados, seja por sua composição gráfica, como os mesmos aspectos utilizados na elaboração de anúncios publicitários.

O uso das cores é marca garantida no DG, principalmente, as cores primárias (vermelho, azul e amarelo) e preto. As cores ilustram e dão sentido às matérias, reforçando a idéia de ser um jornal popular, com um dos principais objetivos, o de despertar a atenção do público.

As cores servem para dar destaque, é o caso do valor unitário do jornal que recebe destaque dentro da composição visual, talvez, pelo baixo custo do “produto”, o que certamente irá interessar ao leitor. O valor monetário do jornal encontra-se dentro de um círculo com contorno vermelho e seu interior amarelo, e os numerais todos em cor preta. Segundo Amaral (2003, p. 80), “em seu primeiro editorial, o jornal propõe-se a ser „barato, completo e digno, com linguagem clara e fácil‟, e revela sua característica popular de imediato ao afirmar que o dia do lançamento foi indicado por uma astróloga”. Quando o DG surgiu, uma pesquisa do Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) mostrava que a maioria dos leitores se situava na classe C. Parte dos consumidores do DG não eram leitores de jornal, e após o lançamento, a região metropolitana de Porto Alegre passou a ser a primeira em índice de leitura de jornais no Brasil.

Adotando características presentes numa cultura popular medieval, em que o oral é a forma de transmissão cultural por excelência, as formas simbólicas populares são atravessadas pela tentativa de estabelecer formas de comunicação. Mesmo nos casos em que são apresentadas por escrito, como nos jornais populares. A simplicidade da linguagem – relacionada à estrutura narrativa mais próxima da oralidade – é citada por muitos autores como fator de atração para um público desacostumado com a leitura e, muitas vezes, com reais dificuldades de entendimento de uma linguagem abstrata.


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Os colunistas são, basicamente, radialistas e comentaristas esportivos ligados às emissoras de rádio da RBS (rádios Farroupilha e Gaúcha). Sua linguagem lembra a do rádio, marcada pela oralidade, pela fala do leitor e pela ênfase no local. O editor-chefe do DG, Alexandre Bach (citado por Amaral, p. 82), diz que o jornal busca fazer jornalismo de qualidade: Existem jornais diferentes para diferentes segmentos. É um mercado novo que a gente não atendia. Entramos nessa linha com respeito, sem preconceito, para tratar com pessoas que consideram a família, a honra, a palavra. Sabíamos que teria de ser um jornal familiar, que o homem pode comprar e levar para dentro de casa. Em vez de a gente falar coisas para o leitor que nós jornalistas consideramos importante, demos voz a esse leitor. Em alguns espaços a gente também fala do mundo.

O jornal apresenta uma média de 28 páginas por dia. É colorido na capa, contracapa e página central e, eventualmente, na editoria de esportes. Todas as páginas trazem fotos e ilustrações. Seu logotipo usa as cores da bandeira gaúcha e as páginas são demarcadas por fios e barras em verde e preto. A manchete de capa usa fontes sublinhadas e em itálico, e as chamadas, em caixa alta, freqüentemente têm duas cores para dar ênfase a alguma expressão. O jornal é apelativo, pois nas capas e páginas centrais há diariamente figuras femininas em fotos sedutoras, seguida de legendas vulgares, como em uma foto da atriz Cecília Dassi, em que o texto diz que “a menininha cresceu”, referente ao papel que ela fará em uma novela e namorará um rapaz mais velho. A legenda da foto é: “o Véio ainda tá no páreo, então!” Personalidades e assuntos da mídia – especialmente artistas e novelas – são temas cotidianos nas páginas do jornal. O diário aborda matérias de entretenimento, até mesmo na capa, e inspira-se na relação dos ouvintes com as rádios populares. Realiza concursos como do Gaúcho Mais Sexy, shows musicais, concursos de culinária, ações beneficentes e educativas.

Além das denúncias dos leitores e das informações buscadas pelos repórteres, o DG dá grande destaque aos fatos do dia, buscando agilidade nas coberturas de acidentes, incêndios, tragédias, crimes e fatos insólitos, os chamados fait divers.


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A prática de escrever notícias e colunas está associada ao esquema utilizado pela televisão e rádio, que têm pautado a mídia impressa. Pois os próprios colunistas do Diário Gaúcho são os radialistas do Grupo RBS, tanto de esporte como de outras colunas. Este modo de abordar a informação vale como estratégia comercial, mas não satisfaz o leitor de jornal convencional, que busca esclarecimentos ou desdobramentos dos fatos, já que ele tem conhecimento deles, de modo sucinto, desde a noite anterior por meio da mídia eletrônica.

Uma das principais estratégias narrativas é a busca da dramatização, operação simbólica que constitui o melodrama e que tem fundamental importância para nossa análise de um jornal popular massivo. Segundo Martín-Barbero (1987), a centralidade da dramatização na cultura popular é demonstrada pelo sucesso que os espetáculos conhecidos como “melodrama” alcançam entre o povo na Idade Média. Uma mistura de teatro, formas de apresentação usadas nos espetáculos das feiras e os relatos de terror e mistério da literatura oral, o melodrama apela para as emoções do público através da montagem de uma cena, com a interpretação dos atores e recursos visuais que induzem a uma realidade ficcional. Para o autor, o melodrama é “o vértice do processo que leva do popular ao massivo”, constituindo um lugar de aparição das massas, mas apelando para uma memória narrativa e gestual populares, e contrariando a moral burguesa que defendia o controle dos sentimentos (Martín-Barbero, 1987, p. 125).

Segundo Amaral (2004), a espetacularização dos fatos cotidianos, através de uma linguagem extremamente coloquial, cores e imagens impactantes, é uma das principiais estratégias utilizadas por estes tipos de periódicos a fim de se aproximar e conquistar o leitor, não pela via da informação, mas sim, pela do entretenimento.

4.3 DIFERENÇAS DE LINGUAGEM NOS DIÁRIOS

Para Amaral (2003, p. 94), é difícil comparar os conteúdos e abordagens do Zero Hora e do Diário Gaúcho, pois “são raras as pautas comuns, com exceção da


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cobertura de esporte, especialmente do futebol e, eventualmente, de polícia. Quando as demais pautas coincidem, o enfoque é diferente”. Em matérias publicadas em ambos é possível perceber que, no jornal de referência, as matérias são mais contextualizadas e a linguagem diferente. Muitas matérias do DG dificilmente aparecem em ZH. Amaral (2003, p. 96) define como “um fenômeno interessante” a absorção, por parte do Zero Hora, de fórmulas usadas pelo Diário Gaúcho, como foi o caso da chamada de capa sobre as promessas de Lula para 2006, cercada com um pontilhado seguido de uma pequena tesoura – prática comum no DG quando pretende induzir o leitor a cobrar as promessas de algum órgão público.

Esses são exemplos de variantes e invariantes que se pretende identificar com análise que se processa a seguir.

Foram arquivados jornais pelo período de um mês, de 25 de agosto a 25 de setembro de 2009. Porém, para análise nesta monografia, são usados somente exemplares de uma semana, de 26 de agosto a 01 de setembro, já que uma amostra de 30 exemplares de cada tipo se revelou excessiva e desnecessária ao objetivo traçado de comparar dois impressos.

4.3.1 Dia 26 de agosto

Em 26 de agosto, a matéria sobre ataques de ladrões de motos foi assunto nos dois jornais, ganhando destaque na capa do Diário Gaúcho, com manchete 4 em letras garrafais5. Na Zero Hora, apesar de não haver menção à pauta na capa, há uma página inteira, a 49. 4

Uma manchete é o título principal, de maior destaque, no alto da primeira página de jornal ou revista, alusivo à mais importante dentre as notícias contidas na edição. Cada edição de um jornal só possui uma manchete, que é o título mais destacado, sendo por isso redundante dizer "manchete da primeira página" e errado dizer "manchete da página 5". 5 A expressão “letras garrafais” designa, em gíria jornalística, os caracteres tipográficos a partir do corpo 72.


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No DG, a manchete dizia “Ladrões de motos atacavam na sinaleira”. Na parte interna do jornal, em que foi dedicada toda a página 34 ao assunto, o título era “Quadrilha de moto atacava motociclistas”. A página está ocupada com alguns quadros e uma foto grande, deixando pouco espaço para o texto. O enfoque é o medo que os assaltantes causavam, iniciando assim “com rostos ocultos por capacetes e usando motos potentes, assaltantes impuseram medo, nos últimos meses, a motociclistas que circulavam na zona leste”. A informação de que a quadrilha foi presa por policiais após dois meses de operação vem somente no final, na última frase do texto. Os quadros servem para ilustração, sendo explicativos ao leitor. Nestes, os títulos são “as apreensões”, em que diz o que foi recolhido pelos policiais no ato da prisão; “Operação foi bem sucedida”, onde é explicado como ocorreu a operação policial; e “sinal vermelho: perigo na avenida”, que alerta os motoqueiros sobre ao riscos de parar na sinaleira.

Na ZH, não há menção ao assunto na capa. Porém, na parte interna, também é dedicada uma página inteira. Há fotos da operação no início da página e um texto sem tópicos, em parágrafos (“corrido”, como diz-se na linguagem jornalística), com as informações no restante. O título é “Crime em duas rodas: Motoqueiros eram alvo de bando”. O início do texto é parecido com o do DG, “com rostos encobertos por capacetes e usando motocicletas potentes com mais de 250 cilindradas, assaltantes passaram a impor medo, nos últimos seis meses, a outros motociclistas que circulavam na zona leste da capital”. Porém, a informação de que os ladrões foram presos pela polícia vem logo na primeira frase, obedecendo à regra da pirâmide invertida, em que se começa o texto com a informação mais importante. O alerta aos motoristas, mesmo não estando separado por quadro, também se encontra no texto, ainda no lead. É a regra do jornalismo convencional aplicada, os dados mais importantes estão logo na abertura. A oralidade e a coloquialidade – características das formas narrativas – são específicas dos jornais populares. Segundo Dias (1996, p. 39), por essa “tentativa de uma maior aproximação com o leitor das classes mais modestas da população optam por uma linguagem coloquial, popular”. Algumas estratégias lingüísticas são


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enfatizadas, como o uso da função fática, a extrema coloquialidade, o uso de gírias e o aparecimento de marcadores conversacionais.

Porém, conforme afirmou Amaral (2003, p. 96), há a absorção, por parte do Zero Hora, de fórmulas usadas pelo Diário Gaúcho, como foi o caso desta pauta, que tentou se aproximar de seu público leitor através da dramatização e da proximidade geográfica com os leitores.

4.3.2 Dia 27 de agosto

Nas edições de 27 de agosto, as manchetes são: em Zero Hora, “Europa constata que gripe A é mais letal do que a comum”, enquanto no Diário Gaúcho, “Se não fosse Alecsandro...”, uma referência ao jogo do Internacional ocorrido no dia anterior, com uma grande foto do jogador comemorando um gol. A reportagem especial de Zero Hora, para a qual são dedicadas duas páginas (4 e 5) é sobre a CPI da Corrupção, que seria instalada para investigar o Detran e cujo título é “CPI Instalada: Detran será o alvo das primeiras investigações”.

No Diário Gaúcho, o assunto é tratado na página dois, em um quadro de 15 cm de altura por oito de largura, com o título, em tamanho pequeno, “CPI começa com disputas internas”. A notícia é tratada como curiosidade, ficando próxima ao quadro de humor, ao resultado da loteria federal e a notas curtas. Enquanto a notícia “Taxistas temem ser despejados”, divulgada em meia página 3, recebe destaque e quadros explicativos. Na ZH, o assunto não aparece. A página central do Diário Gaúcho traz, em todas as edições, a sessão “Retratos da Fama”, cujas páginas, muito coloridas, tratam de pessoas famosas, como atores e cantores. Há sempre menção na capa a este assunto. Nesta edição, por exemplo, a capa traz uma foto recortada da atriz Ísis Valverde, com a cartola “Uma jóia de princesa”. É importante observar também os termos empregados pelo DG para falar da atriz. “Jóia” e “princesa” são termos metafóricos que certamente se referem à beleza da


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personagem, mas a frase é desprovida de qualquer informação. Apenas reforça o já conhecido – que Isis Valverde é uma linda mulher – não acrescenta nada de novo.

Assim, é possível dizer que o jornal popular dá mais ênfase ao entretenimento de seu público, enquanto a imprensa tradicional busca, com prioridade, informar voltada para o interesse público, embora também possa dar espaço às amenidades, ao lazer.

4.3.3 Dia 28 de agosto

O exemplar do Diário Gaúcho de 28 de agosto exibe a característica mais marcante da linguagem do jornalismo popular. A manchete “Cochilo deixa Bonja sem R$ 1,4 milhão” remete à linguagem próxima da falada pelo povo. Trata-se de uma matéria sobre o Bairro Bom Jesus, que perderá uma praça por burocracias da Prefeitura de Porto Alegre. Assim, “Bonja” é a forma como a comunidade se refere ao bairro, que foi incorporado pelo jornal para se aproximar de seu público. Então, a reportagem ocupa duas páginas do impresso. As páginas estão divididas em quadros explicativos e pequenas fotos. Como já anteriormente analisado, a manchete remete sempre à matéria da sessão Ronda Policial ou à editoria de Esportes. Zero Hora da mesma data traz como manchete “Carta de ministro acirra impasse sobre pedágios”. Como é recorrente no diário convencional, economia e política são tidas como os principais assuntos de ZH. A matéria principal ocupa duas páginas inteiras, com muito texto, duas fotos e um gráfico explicativo.

Portanto, nestes exemplares de ZH e DG pode-se notar a diferença entre um fato ser relacionado a políticas públicas, obtendo destaque na mídia convencional e utilizar uma linguagem que se aproxima da língua falada pelo povo, da oralidade, tendo destaque na imprensa popular.


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4.3.4 Dias 29 e 30 de agosto

O Diário Gaúcho não tem edição aos sábados, por isso é impresso um único jornal no fim-de-semana, com data dos dois dias. Portanto, é analisado o DG de 29 e 30 de agosto em comparação com duas edições de Zero Hora, também de 29 e 30 de agosto de 2009.

Nesta edição do impresso popular, sem fugir ao padrão, a manchete é da editoria de polícia: “Motorista reage e mata assaltante”. Trata-se de uma notícia sobre um ônibus lotação assaltado na Zona Sul de Porto Alegre. O assunto também é noticia no jornal Zero Hora de sábado, 29, embora não haja menção a ele na capa do jornal. É destinada uma página inteira, a 50, da editoria de Polícia à matéria. O título é bem semelhante: “Motorista de lotação reage e mata ladrão”.

O enfoque da matéria em ambos os jornais é diferente. Enquanto ZH trata do ângulo de o que aconteceu, informando onde e quando, o DG trata através do como aconteceu, descrevendo os passos do assaltante, reações do motorista e dos passageiros e velocidade do lotação. As informações sobre horário, local, qual a linha do lotação, apareceram ao longo do texto, porém com pouco destaque. O popular valoriza a dramaticidade do fato, a emoção dos personagens. Aqui, portanto há uma forte variação entre os dois, a diferença se evidencia.

Zero Hora utiliza o texto mais tradicional, respondendo às perguntas do lead (quem, quando, onde) e não dramatizando muito o assunto. Ambos os jornais trazem, no fim-de-semana, matérias não-factuais, grandes reportagens, que levam mais tempo do que a cobertura de um fato ocorrido no momento para serem escritos. Por exemplo, matérias especiais sobre o que leva alguém a visitar a Expointer, a maior feira agropecuária da América Latina, e que ocorreria nos próximos dias após a publicação dos jornais. ZH trata a Expointer do aspecto econômico, com o título “Expointer sem crise aposta em recorde”. O DG só fala da


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Expointer como serviço, com informações como local, preço do ingresso, mapa interno.

Portanto, pode-se concluir que se segue um padrão de publicação popular e convencional, ao menos nos impressos que estão sendo analisados, já que as características antes observadas pela autora deste trabalho e utilizadas como base para a comparação, se repetem ao longo dos exemplares estudados.

As fotos das matérias sobre o assalto do lotação, nos dois periódicos são parecidas. Nas imagens, há o veículo, com pessoas em volta, observando o movimento. Porém, na foto do Diário Gaúcho, o ângulo é mais fechado, mostrando os pés do ladrão que foi morto, com alguns policiais em volta. Já na Zero Hora a imagem utiliza o ângulo aberto, sem mostrar nem parte do corpo.

4.3.5 Dia 31 de agosto

As edições do dia 31 de agosto, por serem em uma segunda-feira, após os jogos de futebol do fim-de-semana, dão grande destaque à editoria de Esporte. Porém, a manchete de Zero Hora é sobre política, focando em outro grande evento do final de semana: a Expointer. “Reforma agrária: Ministros de Lula divergem na Expointer” é a manchete do jornal. A outra metade da capa é dedicada ao futebol, focando na dupla Gre-Nal, com fotos e resultados.

No Diário Gaúcho, a manchete ocupa mais da metade da capa, com uma grande foto do time do Internacional, e diz: “Colorado atropela Fernandão”. Novamente recorrendo à linguagem popular, utilizada entre os torcedores de futebol, com a palavra “atropela”. O time de futebol não é o Internacional, mas o Colorado, na expressão dos torcedores. A foto de capa é recortada, como na maioria das vezes ocorre no DG. A imagem é dos jogadores do Internacional abraçados, recortada em torno deles, sem mostrar o todo. Já a ZH mostra duas fotos de mesmo


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tamanho, uma com dois jogadores do Grêmio e outra com um jogador do Internacional, não recortadas.

A matéria sobre a Expointer não tem chamada na capa, mas há um quadro na página dois, em meio às curiosidades, o assunto aparece com esse título: “Polêmica na Expointer”. A maior feira agropecuária do estado é assunto do Diário Gaúcho por que houve uma discussão entre os ministros Reinhold Stephanes, da Agricultura, e Guilherme Cassel. Enquanto Stephanes diz que “não é hora de revisar índices de produtividade, Cassel defende a mudança e os prazos propostos pelo governo. Tudo indica que não pela sua importância econômica e social.

Em Zero Hora, este assunto é dedicado à reportagem especial, sendo utilizadas duas páginas inteiras, com duas fotos, um quadro e o restante em texto corrido. ZH relata a divergência entre os dois ministros, expondo os argumentos de cada um. Porém, trata do evento como um todo, citando importância econômica e social. O DG escreve uma nota sobre o assunto, contando o que aconteceu, onde e por quê, mas sem se aprofundar, focando somente na discussão.

Nota-se, mais uma vez, que o impresso popular não foca em política e economia, tratando-os como assuntos irrelevantes e como curiosidades, partindo do princípio de que o seu público não se interessa por estas pautas, e sim por entretenimento, notícias de polícia e esporte. Além de gostarem de ler aquilo que acontece próximo a eles, entrando aí a proximidade geográfica.

O diário tradicional dá atenção à política e economia, temas de entretenimento ficam limitadas às páginas da editoria de cultura e variedades ou ao esporte, mas tentando se aproximar de seu público. Porém, percebe-se que é na editoria de esportes que a Zero Hora se aproxima mais da linguagem do Diário Gaúcho. Sendo o futebol um esporte popular, há uma tentativa de se aproximar de seu público leitor, mesmo sendo um jornal dito tradicional. Expressões como “atropelar”, que na linguagem do futebol significa jogar muito melhor, vencer de maneira fácil; “tomar gol”, que é levar gol do time adversário; “golaço”, que é um gol bonito; e “goleada” são palavras encontradas em


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ambos os diários. Neste aspecto, nota-se que ZH utiliza palavras da oralidade popular, termos falados em jogos de futebol e conhecidos entre as pessoas que gostam do esporte. A característica do jornal popular está evidente nas páginas de esporte de Zero Hora.

Assim, não há muita variedade nestas características, temos visto ambos os jornais bem distintos, apesar de algumas vezes Zero Hora aproximar-se de Diário Gaúcho, popularizando em alguns aspectos.

4.3.6 Dia 1º de setembro

Os jornais do dia 1º de setembro reforçam as características observadas anteriormente. Zero Hora abre o jornal com a manchete da editoria de Economia: “Brasil abre novo ciclo do petróleo”. A matéria é abordada em cinco páginas diferentes do impresso. As páginas 4 a 6 são ocupadas pela Reportagem Especial, em que é explicado o assunto, cujo título é “Regras do pré-sal: Brasil demarca nova fronteira do petróleo”, com fotos e um infográfico com as mudanças que serão causadas pela nova regra. A página 10, que se dedica à política, da colunista Rosane de Oliveira, também cita o caso, sob o enfoque de opinião da colunista. Na página 14 está o editorial, também sobre o assunto, sob enfoque da opinião da empresa.

O Diário Gaúcho da mesma data traz como manchete o assunto de Polícia: “Dupla invade presídio e mata detento”. O assunto da manchete da ZH aparece como nota na página dois do DG, em forma de notas. Com subtítulos Pré-Sal 1 e Pré-Sal 2, as notas citam que houve anúncio do governo federal as regras que definem a exploração de petróleo em águas fundas. São citados três projetos de lei, sem ser explicados, só dizendo que existem.

ZH dá destaque à notícia na capa, explicando nas páginas internas o evento do anúncio, os projetos de lei, o que pode ocorrer. A Ronda Policial de DG dedica


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uma página inteira para o assunto da capa, ocupada com fotos e quadros explicativos. O Zero Hora cita o assunto que é capa do DG, com o título “Dupla invade cadeia e mata um preso”, com meia página dedicada ao assunto, na editoria policial, com mais três matérias na mesma página. Esta matéria, no DG inicia no lead utilizando a palavra “arrebentaram”, referindo-se à abertura dos cadeados do presídio. Já em ZH, o lead diz que três agentes faziam a segurança, mas não conseguiram evitar a invasão de dois homens. O mesmo fato, de que guardas estavam no local, só é citado na legenda de uma foto no DG.

Desta maneira, reafirmam-se as características já apontadas neste capítulo e ao longo deste trabalho. Em geral, no DG não há cobertura cotidiana da política ou economia municipal, estadual ou nacional. Os cenários políticos e econômicos e seus personagens não têm vez, a menos que se relacionem a alguma denúncia de cunho local ou que sua abordagem tenha grande importância política, como o resultado das eleições no Brasil e a corrupção no Congresso Nacional. Parte-se do princípio de que o mundo é apresentado por valores e forças morais, emocionais e pessoais, e não por forças econômicas e interesses políticos, como muitas vezes mostram os jornais de referência.

A proximidade é um importante fator de vínculo, por isso a preferência pelo local no sentido não só do local geográfico, mas do lugar onde se vive.

Nota-se que as características são padronizadas. Variam de acordo com a data, com os eventos, mas não fogem do padrão. Ao tentar adequar a informação jornalística a linguagens consideradas populares, o DG coloca, no mesmo status de informação, discursos de campos diferentes do jornalismo,

muitas vezes

subordinando-se ao entretenimento. A informação desejável não é aquela que produz conhecimento, e sim aquela que produz um efeito estético ou dramático. Os próprios leitores passam a ser personagens de histórias. “O jornalismo destinado aos setores populares, para ser de qualidade, não tem sua definição tão-somente na concessão da palavra ao povo”, define Amaral (2003, p. 105), ressaltando que, mesmo que se trate de um fato relevante, consegue dar espaço à fala popular.


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De acordo com estas características encontradas nos exemplares dos jornais, pode-se chegar ao seguinte quadro, que explica a diferença entre jornalismo convencional e popular, a partir dos diários analisados. Para ser pauta em determinado jornal, é preciso que a notícia tenha as seguintes características:

IMPRENSA CONVENCIONAL

IMPRENSA POPULAR

Ter impacto sobre o público leitor

É próximo geograficamente do leitor

Envolver muitas pessoas

Pode ser simplificado

Gera desdobramentos (por ter sido falado antes) É relacionado a políticas públicas

É narrado com dramaticidade Linguagem se aproxima da língua falada pelo povo

Indivíduos envolvidos são

Fotos de crimes ou de mulheres com

personalidades de destaque

pouca roupa

Tem impacto sobre a nação

Possui capacidade de entretenimento Tem identificação dos personagens com os leitores Expressa as revoltas com as desigualdades sociais

Assim, após analisar algumas notícias pontuais dos dois periódicos, é possível fazer uma análise mais geral dos jornais.

Os colunistas de ZH são: Ana Amélia Lemos e Rosane de Oliveira, de política; David Coimbra, Mário Marcos de Souza, Paulo Sant'Ana, Ruy Carlos Ostermann e Wianey Carlet, de esporte; Luís Fernando Veríssimo e Martha Medeiros, cronistas; Marco Aurélio, humor; Fernanda Zaffari, Mariana Bertolucci, Grazi Badke e Cláudia Laitano, de moda; Luís Augusto Fischer, Nei Lisboa, Olyr Zavaschi e Nico Fagundes; Gilberto Leal, de carros; Lurdete Ertel, de economia; Moacyr Scliar, medicina; Neyde Zys e Vanessa Nunes, tecnologia; e Roger Lerina, da Contracapa.


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Assim como no Diário Gaúcho, ZH utiliza os mesmos radialistas do grupo RBS para ser colunistas no jornal impresso. Além disto, há grande investimento na editoria de esportes para comentários. Muitos colunistas, inclusive, se repetem nos dois jornais. Esta é a parte “mais popular” de Zero Hora.

O DG, além de contar com colunistas, em sua maioria esportivos também, possui muitas seções em que “o leitor faz o jornal”, para que ele se sinta próximo e participando ativamente do conteúdo criado. Alguns deles:

Disque Notícia: Ao contrário do jornal tradicional, em que o leitor eventualmente propõe uma pauta. O leitor do jornal popular, segundo Amaral (2006, p. 86), “sugere pautas ligadas às dificuldades com seus direitos básicos, como moradia, aposentadoria, atendimento à saúde”, entre outros. Meu sonho é...: A seção convoca os leitores assim: “Se você tem um sonho, escreva para o DG. Alguém pode estar pronto para ajudar você”.

Clique do leitor: espaço dedicado para publicar fotos e textos enviados pelos leitores.

Casos do outro mundo: nessa seção, são publicados casos de assombrações e premonições enviadas pelos leitores. Convide a gente: o jornal publica fotos e textos sobre festas e eventos para os quais foi convidado pelos leitores.

Poemas do leitor: a subseção publica poemas enviados pelos leitores, ilustraos e identifica a ocupação ou o endereço do autor.

Fala, leitor: trata-se de uma seção que publica cerca de quatro cartas por dia, uma delas acompanhada de foto e legenda do leitor.


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Com estes comparativos, pode-se afirmar que o Diário Gaúcho utiliza linguagem popular não com os repórteres tentando se aproximar da fala do povo, mas dando voz aos próprios leitores, que se sentem próximos ao jornal por poderem escrever ou sugerir pautas a ele.

Assim, nota-se, também, que, principalmente ao se tratar de esportes e polícia, a Zero Hora, mesmo sendo um jornal de referência, tenta se aproximar do seu público leitor, aderindo características do jornal popular, como a utilização de colunistas que são comunicadores de rádio, tentando, assim, uma aproximação com a oralidade. Os termos utilizados na página de esportes também são bem próximos dos do DG, deiferentemente do que ocorre em outras editorias.


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5 CONCLUSÃO

Em primeiro lugar, é preciso destacar que este trabalho, ao unir a análise da linguagem textual com o estudo do jornalismo popular, foi uma experiência valiosa e de muito prazer para a autora. O jornalismo popular tem crescido recentemente no Brasil, e desempenha papel social de despertar interesse pela leitura naqueles que não tinham hábito de ler.

Através da análise das edições de 26 de agosto a 1º de setembro de 2009 do Diário Gaúcho, o jornal popular de maior relevância no estado gaúcho, e de Zero Hora, tradicional e conceituado impresso do Rio Grande do Sul, pôde-se observar que há muitas diferenças nas duas publicações, porém, como não era esperado, foram encontradas semelhanças.

A partir da amostra pesquisada, pode-se dizer que, enquanto o Diário Gaúcho “fala” para um público mais homogêneo, para uma classe específica de leitores, voltando toda a sua edição para este público, Zero Hora se releva vários jornais dentro de um só. Assim como dá ênfase às editorias de política e economia, focando em um público leitor de classes A e B, as editorias de esporte e de polícia de ZH mostram características bastante populares, com expressões que se assemelham ou até repetem as do Diário Gaúcho. Assim, pode-se dizer que Zero Hora busca atingir “a família inteira”, que procura oferecer informações interessantes aos jovens, com o caderno Kzuka, às mulheres, com Donna, os cadernos de TV e Decoração, e aos homens com o caderno de Esportes. O Diário Gaúcho se dirige a um público popular que é masculino e feminino, mas sem aprofundar a diferenciação em cadernos ou editorias. Mesmo assim, fazendo um exame mais apurado se percebe que é o Diário tende para o público masculino na medida em que dá espaços nobres e generosos, como as páginas centrais e capa, para fotografias de atrizes e modelos geralmente exibindo seus atributos físicos.


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É interessante observar que a notícia, no jornal popular, muitas vezes, subordina-se ao campo do entretenimento. Para Biz (2003): A notícia tratada de forma desconexa, sem nenhuma ligação interna, mais preocupada com o entretenimento, com o espetáculo do que a interpretação é facilmente apagada da memória do leitor. Para este só lhe resta, então, esperar pelo que será repassado na edição do dia seguinte. Vamos reconhecer que isto é muito pouco, para quem quer ser sujeito da história e não mero objeto de manipulação (p. 43).

Assim, na editoria de Esporte e no Segundo Caderno, em Zero Hora, nota-se também esta característica popular.

Os objetivos propostos no início deste trabalho foram alcançados. O esforço de pesquisa e análise demonstrou que a linguagem nos jornais popular e convencional é diferente em alguns aspectos, principalmente por não apresentarem as mesmas pautas. Porém, nota-se, cada vez mais, a incidência do formato popular nos jornais de referência, extrapolando uma regra geral do jornalismo que é oferecer uma linguagem acessível ao leitor. A característica da oralidade, que era exclusivamente no popular, ganha espaço no tradicional. Na maioria das vezes, a narratividade atua em conjunto com o predomínio da imagem e a busca da dramatização.

Um ponto que cabe ser ressaltado é a confiabilidade que os jornais populares conquistam junto aos anunciantes reconhecidos pelo mercado, talvez pelas próprias pesquisas feitas por institutos respeitados, como o IVC, que apontam o aumento de circulação dos jornais populares no Brasil.

O jornalismo popular dá ênfase aos conteúdos que envolvem o cotidiano, às peculiaridades, aos fatos isolados e espetaculares, ao sentimentalismo, não pelo fato de possuir esta tendência em seu corpo editorial, mas sim pela aceitação que assuntos deste caráter têm junto ao seu público. Pois, para o leitor de jornais populares, ver a “sua” vida estampar as capas dos jornais, ou seja, algo próximo de sua realidade, como um buraco na rua, um morador de sua comunidade, dá a segurança da informação e não o faz correr o risco de ler e não compreender os


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assuntos, às vezes tão complexos, agendados pela sociedade letrada e nas mídias de renome no país.

A linguagem jornalística compõe-se de uma conjugação simultânea de diversas linguagens: a verbal escrita, fotográfica, gráfica e a expressa pela diagramação. Chegou-se à conclusão de que as maiores diferenças entre os dois impressos não estão na linguagem textual, mas sim na expressa pela diagramação e pela escolha das pautas. A capa muito colorida, o uso de letras de corpo grande e as chamadas voltadas para as editorias policial e esportiva, são características do jornalismo popular evidentes no Diário Gaúcho.

As pautas, como priorizar polícia e futebol, inclusive para a manchete, e deixar de lado política e economia é outra diferença bem grande entre os dois impressos, pois Zero Hora, por mais que utilize a linguagem textual próxima ao popular nestas duas editorias, prioriza notícias sobre política, economia e o que tenha maior relevância à sociedade.

Espera-se que, com esta monografia, através do levantamento de dados sobre os assuntos de linguagem no jornalismo impresso popular, tenha-se conseguido contribuir, de alguma forma, para a pesquisa na área da imprensa popular e convencional, bem como, suscitar uma reflexão para efetivar algumas mudanças nesse segmento, a fim de auxiliar para uma maior inclusão das classes populares na sociedade.


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75

ANEXO A – Diário Gaúcho do dia 26 de agosto


76

ANEXO B – Zero Hora do dia 26 de agosto


77

ANEXO C – Diário Gaúcho do dia 27 de agosto


78


79

ANEXO D – Zero Hora do dia 27 de agosto


80

ANEXO E – Diário Gaúcho do dia 28 de agosto


81


82

ANEXO F – Zero Hora do dia 28 de agosto


83

ANEXO G – Diário Gaúcho dos dias 29 e 30 de agosto


84


85

ANEXO H – Zero Hora do dia 29 de agosto


86


87


88

ANEXO I – Zero Hora do dia 30 de agosto


89

ANEXO J – Diário Gaúcho do dia 31 de agosto


90


91

ANEXO L – Zero Hora do dia 31 de agosto


92

ANEXO M – Diário Gaúcho do dia 01 de setembro


93


94

ANEXO N – Zero Hora do dia 01 de setembro


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