Comunidade dos Arturos - IPAC - IEPHA/MG

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INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS DIRETORIA DE PROTEÇÃO E MEMÓRIA – DPM GERÊNCIA DE PATRIMÔNIO IMATERIAL – GPI GERÊNCIA DE IDENTIFICAÇÃO – GID

PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DE MINAS GERAIS

CELEBRAÇÕES e RITOS

Sebastião. 02 ORIGENS DOCUMENTADAS OU ATRIBUÍDAS As Folias de Reis são festejos de origem europeia, comemoradas em âmbito católico como forma de rememorar a história bíblica da viagem dos três Reis Magos, que saíram na madrugada do dia 24 de dezembro à procura do Menino Jesus para presentear-lhe com ouro, incenso e mirra. O surgimento dessa tradição tem início na região da península ibérica, constituída por Portugal e Espanha. A celebração foi transportada para a América Portuguesa por volta de 1559, pelos seus colonizadores, em especial, Tomé de Sousa (1503 - 1573 ou 1579), primeiro Governador Geral da colônia, que trouxe a celebração sob a forma de canto, dança e encenação para auxiliar no processo de catequese e ensino dos africanos escravizados. Inicialmente, a maioria das folias acontecia nas comemorações litúrgicas do ciclo do Divino Espírito Santo, ou Festa de Pentecostes, uma das celebrações mais antigas do catolicismo popular, instituída em Portugal desde o século XIV. Com o passar do tempo, esse rito foi se estendendo para outras datas do calendário católico e, assim, expandiu-se o número de folias, como a Folia de Reis, a Folia de São Benedito, a Folia de São Sebastião, entre outras. Esses ritos apresentam essencialmente o canto, a dança e o teatro, e por meio dessas expressões os foliões articulam a fé com o divertimento, é a junção entre o sagrado e o profano. Diversos autores pensaram e escreveram sobre as Folias, entre ele s o clérigo e pesquisador Rafael Bluteau, que em sua obra etimológica, Vocabulario Portuguez & Latino, de 1728, apresenta uma das primeiras definições da palavra, e relaciona Folia à festa, ao canto e a alguns instrumentos como o tambor e o pandeiro. Além disso, apresenta alguns adjetivos que indicam o caráter festivo, como extravagância e confusão. Outro autor que refletiu sobre o tema é o folclorista brasileiro, Luis da Câmara Cascudo, que em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, também esclarece sobre a história e a etimologia do termo Folia. Segundo ele: “a folia era, no Portugal Velho, uma dança rápida, ao s om do pandeiro ou adufe (espécie de pandeiro

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Segundo Núbia Gomes, no livro Negras Raízes Mineiras: Os Arturos, as Folias de Reis, assim como outras práticas do catolicismo popular mineiro, foram se modificando ao longo do tempo e assumindo diferentes formatos nas regiões e comunidades que as praticavam. Um exemplo é a variação dos personagens participantes do cortejo. Esses grupos, em geral, são compostos pelos três reis, que se apresentam mascarados e são conhecidos como Baltazar, Belchior e Gaspar. Em alguns casos os reis não são dramatizados pelos grupos, sendo lembrados através de imagem presentes nas bandeiras da Folia e nas músicas entoadas. Tem-se ainda a representação dos palhaços, que em algumas folias têm o papel de aludir ao perigo. Eles são a personificação dos soldados enviados pelo rei Herodes para encontrar Jes us, que desde criança, foi perseguido e considerado um inimigo dos poderosos. A existência de palhaços em algumas folias pode variar em quantidade ou nem ocorrer. É comum encontrar ainda nos grupos de folia, a presença de Mestres, violeiros, cantores e porta-bandeiras. Geralmente esses foliões saem em procissão na noite em que se comemora o nascimento de Jesus, passando pelas casas dos devotos que creem nas bençãos trazidas pelas rezas e pela visita das bandeiras, entoando cantos de saudação e louvor a Jesus Cristo. Finalizado esse momento sagrado, começam a apresentar as danças que consistem em sapatear e bater os bastões, tais como o lundu, o guaiano, a chula, e o batuque de viola. As indumentárias variam de grupo para grupo, podendo ser en contrados foliões que utilizam trajes militares, vestes de palhaço, máscaras ou roupas comuns. Os instrumentos que conduzem os cantos baseados no Novo Testamento da Bíblia são as violas caipiras, o violão, cavaquinho, pandeiro, bumbos e caixas de folia. Nos Arturos o histórico da festividade tem início no final do século XIX, período em que, de acordo com Mário Braz da Luz, seu avô Camilo Silvério, já realizava a celebração juntamente com seu pai, Arthur Camilo Silvério, fundador da comunidade. Segundo ele, dentro da comunidade o rito começou a ser praticado a partir da promessa que seu sogro Joaquim Quadros, que era mestre de folia, fez a São Sebastião, pedindo

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quadrado de origem árabe), acompanhada de cantos ”. (CASCUDO, 1993).


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