Caderno Pedagogico 6.14

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NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL

Folha - Em seu livro "Os Batalhadores Brasileiros", o senhor questiona a afirmação de que o governo Lula alçou 30 milhões de pessoas à classe média e diz até que se trata de uma mentira. Por quê?

Jessé Souza - Não nego que tenha havido a ascensão social de 30 milhões de brasileiros nem que esse fato seja extremamente importante e digno de alegria. O que questiono é a leitura dessa classe como uma classe média. A classe média é uma das classes dominantes em sociedades como a brasileira porque é constituída pelo acesso privilegiado a um recurso escasso de extrema importância: o capital cultural. Seja sob forma de capital cultural técnico, como na "tropa de choque" do capital (advogados, engenheiros, administradores, economistas etc.), seja pelo capital cultural literário de professores, jornalistas, publicitários etc., esse tipo de conhecimento é fundamental. Tanto a remuneração quanto o prestígio social atrelados a esse tipo de trabalho são consideráveis.

Folha - E os batalhadores?

Jessé Souza - A vida deles é outra. É marcada pela ausência dos privilégios de nascimento que caracterizam as classes médias e altas. Não falo só do dinheiro transmitido por herança. Os privilégios envolvem também o recurso mais valioso das classes médias: o tempo.

Os batalhadores, em sua esmagadora maioria, precisam começar a trabalhar cedo e estudam em escolas públicas de baixa qualidade. Eles

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