Domingo é dia de feira

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luciana fr aga de ca r valh o gomes

do mingo é d ia de feir a

baixo do tacho, para se juntar às embalagens de óleo de soja que formam um pequeno monte ao fim da feira. Não recebo olhares de desaprovação, mas compreensivos. É necessário cuidar dos outros tantos que estão na bandeja esperando por seus donos, não há tempo para pensar no alimento derrubado. Com o passar das horas, um primeiro pico de movimento ocorre no meio da manhã. Algumas pessoas começam a se dedicar ao atendimento de quem está sentado nas mesas espalhadas na calçada, esperando o pedido que é levado até lá. O bloquinho e a c aneta, companheiros de sempr e dos jornalistas, começam a ser ainda mais necessár ios para o controle do que se vende. Em um desses atendimentos, em que transferem o cuidado de uma mesa onde tr ês homens já solicitavam uma nova rodada, me pr eparo para anotar o sabor de pastel e colocar as mãos nos grandes blocos de gelo do freezer desligado, usado como recipiente para as bebidas, mas o pedido que recebo não é o esperado . “Duas coisas, moça: mais um pastel de carne e um refrigerante para cada um. E posso te f azer uma pergunta? Você tem namorado?”. Anoto o pedido, respondo a questão e saio en vergonhada em direção à barraca. A outra mesa, de jovens felizes que voltavam de uma festa, já grita pelo serviço da “estagiária”. Começo a pegar algumas manhas. O chamado “capricho” é o pastel que vai como br inde a clientes fiéis ou com pedidos grandes. Sempre de carne ou de queijo, depende do que está em maior quantidade ou do que foi frito em excesso e já está mais frio ou um pouco mais encharcado.

Porém, ao ouvir Marta perguntando a um dos meninos se já havia caprichado o pedido de um c asal que saíra, percebo que o verbo pode ter um novo sentido, de confirmação de pagamento, e passo a ficar mais atenta. A agilidade com o troco é outro fator importante. Desde a entrada na barrac a, com o pr imeiro pedido, f omos r esponsáveis pela cobrança dos clientes e por deixar o dinheiro na caixa, com a confiança de quem não par ecia estar nos conhecendo só naquele dia. Por precaução, notas maior es eram levadas à Mar ta ou a pessoas mais exper ientes para que fossem analisadas. Pelas minhas mãos, notas de vinte e cinquenta eram constantes, e até uma de cem foi entr egue. Todas originais, devidamente guardadas em estojos, de tempos em tempos, para evitar o acúmulo. Os sabores mais concorridos terminam rápido, bem antes do horário de almoço tradicional. Há gente que vem de longe pelo pastel de carne seca da pastelaria Tokuhara. Mas só quem chega cedo tem a chance de poder escolher entr e todas as opções do c ardápio, que além de pastel tem salgados como coxinha de frango, coxinha de carne, bolinho de queijo, de salsicha e espetinho empanado. Até pastel de chocolate é possível encontrar. O difícil, mais uma vez, é decorar o formato de tudo. Outro diferencial é o molho, servido em saquinhos, que contém repolho e cenoura pic ados, temperados com vinagre, cortesia que também não sobra para o fim da feira. Cabe aos atendentes a reposição dos produtos como guardanapos de papel e o ketchup da bancada.

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