Mediações, Tecnologia e Espaço Público

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APROXIMAÇÕES ARRISCADAS ENTRE SITE-SPECIFIC E ARTES LOCATIVAS LUCAS BAMBOZZI

Gostaria de tratar, aqui, do lugar como campo de migrações semânticas, como migrações que ocorrem em função de deslocamentos culturais, operações linguísticas, influências tecnológicas, licenças poéticas ou digressões teóricas. Convivemos com definições que poderiam ser aplicadas a muitos trabalhos artísticos que dialogam com seu entorno: seriam obras site-related, context-specific, contexto-relacionadas... site-oriented... Esses são os “lugares” da palavra, que muitas vezes aprisiona e faz reverberar ao mesmo tempo. Tais denominações compostas, que definem qualidades do lugar, encontram curioso estado movediço ao serem relacionadas com os processos de fricção da arte com a comunicação. Os “des-locamentos” e ressalvas semânticas do lugar se iniciam, para os não nativos na língua inglesa, na utilização do termo “site-specific” a partir da literalidade a que é submetido na tradução para o português — incorrendo também em riscos linguísticos. No projeto-texto “especificidade e (in) traduzibilidade”, os artistas Jorge Mena Barreto e Raquel Garbelotti propõem que a utilização do vocábulo no contexto brasileiro “deveria sofrer uma elaboração, tradução ou canibalização, sob o risco de esvaziamento do teor de reflexão e crítica implicados pelo termo”. De fato, uma tradução literal como “lugar específico” é imprecisa e errônea, ao retirar o específico como “qualidade” da obra e colocá-lo em relação ao lugar físico1. Aproprio-me desse pensamento por compartilhar da vontade de esgarçamento do termo “site-specific”, que nos serve, afinal, para as ligações que a obra mantém 1 Adotando a simplicidade da explicação de Barreto e Garbelotti: “No inglês, a expressão site-specific é usada como um adjetivo para caracterizar a especificidade da obra de arte. A expressão ‘sítio específico’, em português, qualifica o lugar físico como sendo específico, e não a obra. Funciona como um substantivo”.

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