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ESPÍRITO SANTO EM FOCO: TRAÇANDO UM MAPA DA SOCIEDADE BRASILEIRA
ESPÍRITO SANTO EM FOCO: TRAÇANDO UM MAPA DA SOCIEDADE CAPIXABA
“Ninguém vai poder querer nos dizer como amar” Johnny Hooker9
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Para falar sobre o Movimento LGBT+ no Espírito Santo, se faz necessário, primeiramente, mapear a sociedade em que ele se insere. Sendo assim, buscamos, na primeira parte do capítulo, fazer esse mapeamento, na tentativa de ampliar o conhecimento acerca da população capixaba, e, com isso, tentar entender como é a sua compreensão sobre a população de LGBT+.
Procuramos apresentar este cenário utilizando o resultado de algumas pesquisas realizadas em âmbito estadual e nacional, na tentativa de enriquecer o mapeamento. Consideramos importante apresentar alguns dados sobre o nível de escolaridade, influência religiosa, moradia e poder de consumo dos capixabas para, posteriormente, fazer associações entre o resultado dessas pesquisas e o comportamento da população do Espírito Santo em se tratando da causa LGBT+.
Com base nessas pesquisas, por exemplo, foi possível perceber que o Espírito Santo é o estado mais evangélico do país. Tal fato pode influenciar, consequentemente, em outro dado que encontramos: a capital desse estado, Vitória, foi intitulada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cidadania (Unesco) e pelo Ministério da Educação (MEC) como a mais homofóbica do Brasil na pesquisa “Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas”.
Segundo dados publicados pela Associação Nacional de Travestis e
9 Trecho da música Flutua gravada por Johnny Hooker no álbum Coração lançado em 2017.
Transexuais (Antra) em 2018, o Espírito Santo é o sexto estado no Brasil que mais mata travestis e transexuais e o que mais mata comparando somente estados do Sudeste.
Outro dado importante encontrado durante a realização deste trabalho foi o relatório anual sobre os assassinatos de pessoas LGBT+, feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), que revelou, em 2018, que o Espírito Santo é o estado das regiões Sudeste e Sul que mais mata homossexuais quando se é comparado o número de assassinatos por número de habitantes. Somamos 2,77 mortes de homossexuais a cada um milhão de habitantes, enquanto São Paulo, por exemplo, soma 1,27.
Ainda, o Dossiê do Lesbocídio no Brasil, realizado em 2018, aponta que 3% dos lesbocídios cometidos entre 2014 e 2017 aconteceram no Espírito Santo. Em 2017 foram 6%, indicando aumento alarmante na última década. Entende-se por lesbocídio a morte de lésbicas por motivo de lesbofobia ou ódio, repulsa e discriminação contra a existência lésbica.
Quem somos, como vivemos e o que pensamos?
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do Espírito Santo passou dos 4 milhões de habitantes. Em dados exatos, o Espírito Santo em 2019 tem população estimada em 4.018.650 de pessoas. No último censo, realizado em 2010, a população capixaba era estimada em 3.514.952 de habitantes. Esse número demonstra que o crescimento no período foi de 14,3%, superior ao observado na década anterior (13,4% de 2000 a 2010).
A representatividade do povo capixaba no contexto nacional, no entanto, não se alterou muito em relação às últimas pesquisas demográficas realizadas pelo Instituto. Representamos, atualmente, 1,9% da população brasileira, que, segundo o IBGE, ultrapassou os 210 milhões de habitantes.
O cenário socioeconômico do Espírito Santo mostrado pelo IBGE é uma renda per capita de R$ 1.295 e Índice de Desenvolvimento Huma-
no (IDH) de 0,740 – considerado alto. Entre 2000 e 2010, a proporção de domicílios no Estado com saneamento adequado aumentou de 61,1% para 69,3%. Entre 2017 e 2018, a expectativa de vida foi registrada em aproximadamente 78 anos e a população abaixo da linha da pobreza correspondia a 22% dos habitantes.
No entanto, o cenário do Espírito Santo em relação a minorias sociais é de violência. De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), a Divisão Especializada de Atendimento à Mulher em 2019 contabilizou 1.299 prisões em flagrante, mais de 14 mil boletins de ocorrência e mais de 7,3 mil medidas protetivas de urgência. No estado que já apresentou a triste realidade de ser a unidade federativa que mais mata mulheres do país, com 9,4 feminicídios por 100 mil mulheres, e que continua com números alarmantes neste ponto, os homens possuem salário superior aos delas. Além disso, a população branca continuou, como no Censo de 2000, recebendo os maiores salários. Os rendimentos médios mensais dos brancos e amarelos são maiores que os grupos de pretos, pardos ou indígenas.
Feita essa breve apresentação do estado, percebemos a necessidade de ampliar dois quesitos que consideramos os mais importantes para o tema central deste trabalho, são eles: os dados sobre a educação e a religião dos capixabas.
Abordaremos esses quesitos separadamente.
Educação. Baseado nos dados do Censo 2000 e 2010 e no relatório Perfil ES, elaborada pelo Instituto Jones dos Santos Neves, é possível concluir que os capixabas estão estudando cada vez mais, tendo mais acesso ao ensino superior e ganhando melhor. Segundo os dados, aproximadamente 93% dos capixabas com 10 anos ou mais estão alfabetizados.
A reportagem “População capixaba chega a 3,5 milhões, diz IBGE”, divulgada no Jornal A Gazeta do dia 30 de Abril de 2011, apontou que em áreas urbanas, o índice ainda aumenta: cerca de 95% das pessoas que moram nesses centros sabem ler e escrever. Já a taxa de alfabetização no campo ficou em pouco mais de 85%.
Além disso, o número de pessoas com ensino superior no estado dobrou, considerando quem tem 25 anos ou mais. Em 2010, 6,3% da população já haviam concluido um curso superior, enquanto em 2000 o percentual não chegava a 3%. O levantamento do IBGE ainda indicou que mais da metade dos estudantes com idade entre 18 e 24 anos (55,4%) frequentam a universidade, seja ela pública ou particular.
O percentual daqueles que nunca frequentaram a escola caiu de 5,9% para 4,5% da população, já a proporção de pessoas que fazem cursos de especialização aumentou consideravelmente: no início da década pouco mais de duas mil pessoas faziam uma pós-graduação, enquanto no último resultado esse número saltou para mais de 17 mil.
Outro dado relevante em se tratando do acesso à informação é que o número de computadores nas casas do Estado também aumentou. O computador, presente em apenas 450 mil lares no ano 2010, agora está presente em mais de 647 mil residências, sendo 568 mil com acesso à internet.
Sintetizando, é possível perceber que o Espírito Santo teve um crescimento no campo educacional, mas esse resultado não significa que o estado não tenha o que melhorar – pelo contrário. Na educação infantil, por exemplo, apenas 57% da população que busca matrículas na rede pública de ensino encontra vagas.
Religião. Segundo o último Censo realizado pelo IBGE, em 2010, a proporção de evangélicos no Espírito Santo é maior do que a registrada no restante do país: a pesquisa apontou que 33,1% dos capixabas são evangélicos. A média nacional é de 22,2%. Em dez anos, desde a realização do Censo de 2000, eles passaram de 26,2 milhões para 42,3 milhões em todo o país.
O levantamento do IBGE mostrou também que houve uma queda significativa, de 12,2%, no número de católicos no Brasil, chegando a 64,6%. No Espírito Santo, a representação de católicos é ainda menor: 53,4%. A quantidade de espíritas no Estado é baixa, somando pouco mais de 1%.
Conforme foi apontado pela reportagem “Proporção de evangélicos no Espírito Santo é maior do que no restante do país”, veiculada no Jornal A Gazeta do dia 29 de Junho de 2012, entre os evangélicos no Espírito Santo, a predominância é dos de origem pentecostal, que tem como representante a Assembleia de Deus, Igreja Maranata, Igreja Deus é Amor, Igreja Universal do Reino de Deus, entre outras. Dos cerca de 1,2 milhão de evangélicos capixabas, 55,2% são de igrejas pentecostais.
A pesquisa Novo Mapa das Religiões, realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em agosto de 2011, também aponta o Espírito Santo como líder no número de evangélicos, com mais de 1 milhão de pessoas, totalizando 15,09% da população evangélica do país.
Ainda de acordo com essa pesquisa, enquanto o número de evangélicos cresce, principalmente a quantidade de jovens, os dados apontam que o número de católicos no Estado - e no Brasil - caiu. Em 2003, 62,77% dos capixabas eram católicos. Em 2009, o percentual caiu para 57,04%.
De acordo com o levantamento da FGV, no Espírito Santo 10.18% da população não tem religião, 0,72% são espíritas e 0.05 são de religiões afro-brasileiras. O levantamento da FGV foi feito a partir de dados de mais de 200 mil entrevistas da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE.
Nível de escolaridade e religião podem influenciar a LGBTfobia?
Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo Stiftung (RLS) – Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: Intolerância e respeito às diferenças sexuais – em 150 municípios brasileiros em todas as regiões do país, apontou que a escolaridade é um dos fatores que mais influenciam o nível de preconceito da população em relação aos homossexuais. De acordo com essa análise, quanto mais anos de estudo, maior é a aceitação do indivíduo em relação à diversidade sexual. A pesquisa, coordenada pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Gustavo Venturi, entrevistou
2.014 pessoas e foi realizada entre 2008 e 2009.
Com o cruzamento das informações obtidas nas entrevistas, foi possível perceber, por exemplo, que no Brasil as mulheres são menos homofóbicas do que os homens e que a variação de renda não tem grande impacto nesse comportamento. Já a escolaridade é um dos fatores com mais peso: enquanto entre os que nunca frequentaram a escola o índice de homofóbicos é 52%, no nível superior esse número cai para 10%.
A pesquisa identificou que um em cada quatro brasileiros é homofóbico, sendo que foram considerados homofóbicos aqueles que têm tendência - forte ou fraca - em transformar o preconceito que sentem em relação a esse público em atitudes discriminatórias. Esse perfil foi detectado a partir da resposta dada aos participantes a perguntas como “homossexuais são quase sempre promíscuos”, “homossexualidade é safadeza” ou “a homossexualidade é uma doença que precisa ser tratada”.
Também foram avaliadas as diferenças de preconceito entre as regiões, idade da população, renda e religião. Nenhuma das variáveis apresentou diferença tão drástica de comportamento quanto a educação, segundo Venturi.
O realizador do estudo, Gustavo Venturini, em entrevista ao site do IG, área de educação, no dia 26 de maio de 2011, explicou que o resultado mostra como a escola faz diferença no combate à homofobia. “Só a escolaridade maior não resolve o preconceito, mas influencia fortemente a formação dessas pessoas”, afirma. Para o pesquisador, além de ser um espaço para convivência com as diferenças, a escola pode promover o debate de forma educadora e transformar a percepção de preconceitos arraigados à população. O estudo revelou que o brasileiro ainda não é tolerante com as orientações sexuais de familiares, de colegas de trabalho ou de vizinhos: um quarto dos entrevistados admitiu ter preconceito e agir de forma homofóbica.
Em outra entrevista, dada ao portal Agência Brasil, no dia 26 de maio de 2011, o pesquisador disse que o número de aceitação da homossexualidade no ensino superior poderia ser maior ainda. “Esse efeito não é porque o assunto (a homossexualidade) esteja nos programas pedagógicos. Se estivesse, o efeito seria maior. Mas o simples fato da
convivência com a diversidade nas escolas faz com que isso se reflita em taxas menores”.
Venturini explicou, ainda, que as diferenças de preconceito de acordo com a idade e o sexo também são importantes. As mulheres são mais tolerantes do que os homens em todas as idades e um índice de homofobia que chamou a atenção do pesquisador foi entre os meninos adolescentes. Entre os rapazes com idade de 16 a 17 anos, 47% dos entrevistados admitiram preconceito contra gays, lésbicas, travestis e transexuais. “Esse é mais um sinal da importância da escola. Esse é um momento que o jovem é muito pressionado a fazer definições de identidade”, disse.
A pesquisa também entrevistou cerca de 500 homossexuais para investigar de que forma eles são vítimas de preconceito. Mais da metade – 53% – já se sentiu discriminada e os colegas de escola apareceram como segundo autor mais frequente dessa prática, depois de familiares. Quando perguntados sobre a primeira vez em que foram discriminados, a resposta mais frequente foi no ambiente escolar.
“Há uma tolerância na sociedade com a discriminação de LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais e travestis), ela se sente mais à vontade para falar que não gosta, diferente do que acontece com os negros”, compara o pesquisador, na mesma reportagem para a Agência Brasil, no dia 26 de maio de 2011, ao lembrar que estudos feitos pela Fundação Perseu Abramo sobre preconceito contra outras minorias apontaram taxas menores de discriminação.
Nesse contexto, o Espírito Santo se torna um Estado com grande potencial para a LGBTfobia já que, mesmo com índices de crescimento na área da educação, o número de habitantes que não terminaram o ensino fundamental é alto e o número de pessoas cursando a graduação é baixo.
Na época da pesquisa de Venturini, mais de 2 milhões de pessoas residentes no Espírito Santo com 10 anos ou mais de idade não frequentavam a escola e quase 1,5 milhão não terminaram o ensino fundamental. Quando observamos o ensino superior, esse número é ainda mais alarmante: pouco mais de 100 mil pessoas estavam fazendo curso superior no Estado em 2010, o que totaliza, no universo de mais de
3.392.775 habitantes no estado, um total de 3.141.898 que não possuem o ensino superior completo.
Essa mesma pesquisa também apontou a influência da religião na aceitação da população LGBT+ no Brasil. Entre os evangélicos, por exemplo, 31% têm tendência a comportamentos homofóbicos, enquanto na religião católica 24% apresentam essa tendência, que também está presente em 15% dos praticantes do candomblé e 10% dos kardecistas.
Nesse contexto, é importante frisar que, sendo o Espírito Santo o estado com maior número de evangélicos do país, o potencial para o comportamento homofóbico torna-se mais latente.
A população LGBT+ no contexto do Espírito Santo
Ao buscar dados que mostrassem numericamente o comportamento da população espiritossantense sobre a questão LGBT+, encontramos alguns números interessantes. O IBGE realizou pela primeira vez, em 2010, a contabilização dos casais homossexuais que vivem juntos no país. No Espírito Santo, embora o montante ainda seja bem discreto, a contagem é um importante passo para a luta da garantia dos direitos civis igualitários.
Utilizamos também uma pesquisa realizada pelo Instituto Futura com a população do estado que demonstra bem a posição da sociedade capixaba perante a população LGBT+. O relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB) sobre o número de assassinatos de pessoas LGBT+ e uma pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cidadania (Unesco) e o Ministério da Educação (MEC) sobre a homofobia nas escolas do país.
Dados do IBGE. Em 2010 o Censo, pela primeira vez em sua história, contabilizou os casais homossexuais que moram juntos no país. Dos 740 mil lares capixabas, 1.062 são comandados por casais LGBT+10 as-
sumidos, segundo dados da pesquisa.
Desses casais, 618 são formados por mulheres e 466 por homens e a maior faixa etária em que os casais moram juntos é entre 30 e 34 anos: 283 pessoas declararam-se homossexuais. Na faixa etária de 15 a 19 anos, foram 67; e entre os que têm mais de 50 anos, esse número chegou a 34.
No Espírito Santo, do total de entrevistados vivendo com pessoa do mesmo sexo, 26% têm ensino superior; quase metade é católica e 25,8% declararam não ter religião. Entre os casais heterossexuais que vivem em união estável, a maioria não tem religião.
Os 1.162 casais homoafetivos que vivem juntos no Espírito Santo fazem parte dos 32.202 que revelaram residir com parceiros do mesmo sexo em toda a Região Sudeste. O Espírito Santo é o Estado da Região Sudeste com menor quantidade de casais homossexuais morando juntos, mas também possui a menor população da região.
O estado de São Paulo lidera o número de casais homossexuais assumidos com 16.872. O Rio de Janeiro está em segundo com 10.170 e Minas Gerais logo em seguida com 4.098. No Nordeste, a Bahia aparece em primeiro com 3.029, no Norte o Pará está na frente com 1.779, no Sul o Rio Grande do Sul lidera com 3.661 e na Região Centro-Oeste o estado de Goiás aparece com 1.593.
No Brasil, há 60.002 domicílios comandados por casais homossexuais, o que representa um total de 0,1% das casas do país, sendo que o Sudeste concentra metade dessas uniões homoafetivas. Quando comparados os rendimentos mensais das família heterossexuais e homossexuais, o Censo revelou que, no Brasil, a maior parcela (21%) dos casais heterossexuais ganha até um salário mínimo. Na mesma faixa de renda, há somente 15% de casais homossexuais. Entre os mais de 60 mil lares homoafetivos, 25% têm renda entre um e dois salários mínimos. Essa foi a primeira edição do recenseamento a contabilizar os lares comandados por pessoas do mesmo sexo.
A distribuição por sexo das pessoas em uniões homossexuais no
de gênero, por isso que todo o conteúdo dessa pesquisa refere-se somente às relações homossexuais.
Brasil mostrou que 53,8% delas são entre mulheres e 46,2% entre homens. A maioria das uniões homossexuais – 99,6% – não é formalizada (com registro civil ou religioso).
ONU e MEC. Além do Censo, outras pesquisas também abordam o comportamento da população capixaba em relação à homossexualidade. É o caso da pesquisa “Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas”, realizada entre a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cidadania (Unesco) e o Ministério da Educação (MEC). O levantamento demonstrou que uma parcela significativa de professores e alunos de Vitória têm dificuldades em aceitar alunos e colegas de escola homossexuais. Com o resultado dessa pesquisa, a cidade ganhou um título do qual deveria se envergonhar: é a capital mais homofóbica do Brasil.
A análise foi realizada em 13 capitais brasileiras (Belém, Cuiabá, Florinópolis, Fortaleza, Goiânia, Maceió, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória) e no Distrito Federal.
Foram entrevistados 16.422 estudantes entre 10 e 24 anos, 4.532 pais e 3.099 professores de escolas de ensino fundamental e médio. O estudo foi coordenado pela professora da Universidade Católica de Brasília e coordenadora do Obervatório de Violência nas Escolas, Miriam Abramovay, e pelas pesquisadoras da Unesco Mary Garcia e Lorena Bernadete Silva.
Segundo a pesquisa, uma parcela significativa de professores e alunos de Vitória tem dificuldades em aceitar alunos e colegas de escola homossexuais. Essa análise apontou que em Vitória 47,9% dos professores declaram não saber como abordar os temas relativos à homossexualidade em sala de aula. Além disso, 44% dos estudantes do sexo masculino de Vitória não gostariam de ter colegas de classe homossexuais.
Esse estudo faz parte da coleção Educação para Todos e surgiu a partir da necessidade de ações mais abrangentes no enfrentamento da violência, do preconceito e de discriminação contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, e por fazer crescer no país a percepção
da importância da educação como instrumento necessário para enfrentar situações de preconceito e discriminação e garantir oportunidades efetivas de participação de todos nos diferentes espaços sociais.
Instituto futura. O Instituto Futura, por sua vez, realizou uma pesquisa para conhecer o posicionamento capixaba em relação à homossexualidade, no ano de 2012, com a finalidade de verificar qual é o posicionamento da população da Grande Vitória – considerando os municípios Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra – quando o assunto são as relações homoafetivas. No total, foram 401 entrevistados, com cotas por faixa etária, sexo e município de moradia. Em relação às pesquisas com o mesmo intuito realizadas nos anos de 2010 e 2011, o resultado da pesquisa em 2012 demonstrou, de maneira geral, que os capixabas se mostraram mais favoráveis às relações homoafetivas do que nos anos anteriores.
Numa visão ampla, sem dividir por faixa etária, sexo e município de moradia, quando a pergunta é o posicionamento sobre as relações homossexuais, 24,7% dos entrevistados é favorável, 25,4 % é contrário e 47,9 é indiferente (nem a favor, nem contra). A pergunta foi: “Qual é o seu posicionamento sobre relação homossexual?”. Quando questionados se as pessoas estão menos preconceituosas com os homossexuais, 65% dos entrevistados responderam que sim, 32,7% responderam que não e 1,7% não souberam responder.
Embora o número de pessoas que acreditam na diminuição do preconceito seja relativamente grande, quase metade dos entrevistados afirmaram não saber o significado da palavra homofobia. Isso pode demonstrar que o estado e os municípios precisam amplificar suas campanhas contra essa prática, para que mais pessoas saibam do que se trata e, dessa maneira, ela seja melhor combatida. Os entrevistados foram questionados também sobre a criminalização da homofobia mas, desta vez, o questionário explicava sobre o que se tratava o termo. O número dos entrevistados favorável à criminalização da homofobia foi de 63,3% – e 30,4% contrários.
Sobre o reconhecimento das uniões civis homossexuais pelo Supremo Tribunal Federal, a pesquisa demonstrou uma queda no número
de pessoas que sabiam do que se tratava, em relação ao ano anterior. Em 2011, 90,5% dos entrevistados sabiam da decisão do Supremo e em 2012 o número caiu para 74,8%. Essa diminuição pode ter se dado por conta do distanciamento do fato, que ocorreu em maio de 2011. A pesquisa em 2012 foi realizada aproximadamente um ano após o fato, quando ele já não era mais tão noticiado e comentado pela mídia, e isso pode ter contribuído para o resultado.
Em relação ao apoio dessa decisão do Supremo, entretanto, o número aumentou: eram 44,5% favoráveis em 2011 e foram 48,9% favoráveis em 2012. Para as pessoas que responderam ser contrárias à decisão, foi feita uma nova pergunta: “Por que o(a) sr.(a) não apoia essa decisão?”. Foram listadas dez possíveis respostas para a pergunta, mas só vamos citar aqui as de maior percentual. Para esta pergunta, dos 41,9% que responderam ser contra, 23% explicaram ser porque “A Igreja condena a homossexualidade”, 20,8% porque “O casamento é uma instituição entre um homem e uma mulher”, 10,1% afirmaram que “A união homossexual é contrária às leis de Deus” e 24% responderam ser por outros motivos. Para os que apoiaram a decisão, também foram listados dez possíveis motivos. 65,3% das pessoas favoráveis responderam que o eram porque “As pessoas são livres para unirem-se”, 5,6% por acreditarem que “Todos têm o direito de constituir família” e 18% por outros motivos.
A pesquisa questionou também em relação à adoção de crianças por casais homossexuais, e 47,9% dos entrevistados respondeu ser favorável à adoção; 35,9% respondeu ser contra e 13,2% disseram ser indiferentes. Dos que se disseram contra, 33% afirmou que foi porque “A criança vai sofrer preconceitos na sociedade em que vive”, 15,3% disse que “Há perigo da identificação das crianças com o modelo dos pais e também se tornarem homossexuais”. Já entre os que se posicionaram a favor, 42,4% afirmaram que “A criança vai ser amada da mesma forma”, 19,5% disseram que “Existem muitas crianças carentes que precisam de um amparo de uma família” e 21,8% afirmaram ser favoráveis por outra razão que não constava entre as dez opções.
Para obter os resultados relacionados à faixa etária, religião, sexo e município de moradia, os dados da pesquisa foram cruzados. A fi-
nalidade desse cruzamento é obter dados mais precisos em relação à pesquisa.
Dessa forma, podemos observar que, entre mulheres e homens, as mulheres se mostraram mais favoráveis – 27% das mulheres se disseram favoráveis, enquanto em relação aos homens a porcentagem foi de 22%. A faixa etária que se mostrou mais favorável foi de 20 a 29 anos, e a que se mostrou menos favorável foi de 60 anos acima.
Quanto à escolaridade, as pessoas que tinham apenas o ensino fundamental completo responderam que eram mais contrárias, enquanto os entrevistados que tinham o ensino médio afirmaram ser os mais favoráveis, ficando à frente de quem tem o ensino superior, o que gerou certa surpresa, já que é lugar comum acreditar que quanto maior a escolaridade do indivíduo, mais ele será suscetível a aceitar as diferenças. No entanto, o número de pessoas que se disseram indiferentes (Ensino fundamental – 43,4%; Ensino médio – 46,9%; Ensino Superior – 63%) foi maior entre quem tinha o ensino superior.
Em relação à classe social, as classes A/B se mostraram mais favoráveis. O maior percentual de pessoas contrárias foi encontrado nas classes D/E. A classe que mais se mostrou indiferente foi a C. No que tange as religiões dos entrevistados, os espíritas foram os mais favoráveis (40%) e os evangélicos foram os que se mostraram mais contrários (47,2%). Os católicos responderam, em sua maioria, indiferentes sobre o assunto (53,5%).
Para a pergunta “Você acredita que hoje em dia as pessoas estão menos preconceituosas com os homossexuais” a resposta foi majoritariamente “sim” independente do município, faixa etária, escolaridade, classe social e religião. Para 65,6% dos entrevistados, a população da Grande Vitória está menos preconceituosa. Contudo, o nome utilizado para expressar esse preconceito, homofobia, não é conhecido nem pela metade dos entrevistados.
Quando estes foram informados que, de forma geral, a homofobia é o ódio, preconceito, repugnância que algumas pessoas nutrem contra homossexuais, 63,3% se posicionaram favoráveis à criminalização deste tipo de preconceito. Nesse quesito, Vila Velha teve o maior percentual de pessoas que conheciam o termo (59%) e Serra teve o menor (40,6%).
Os homens conheciam mais do que as mulheres (55,5% dos homens e 45,7% das mulheres) e a faixa etária que mais respondeu que conhecia foi a de 16 a 19 anos. Entre os religiosos, os espíritas somaram o maior percentual de pessoas que sabiam o significado do termo (80%), enquanto os católicos foram os que menos souberam (45,9%). Das pessoas que souberam responder, 82,6% eram da classe A/B e 87% tinham o ensino superior completo, o que demonstra uma ligação direta da questão com a escolaridade e a condição econômica dos indivíduos.
Vitória é a cidade onde menos pessoas se manifestaram a favor das relações homossexuais – apenas 18%. Em contrapartida, foi o local onde mais pessoas se disseram indiferentes – 56% dos entrevistados. Já Vila Velha e Cariacica tiveram o maior percentual de pessoas favoráveis, ambas com 28%. Serra teve 24,8% de pessoas favoráveis.
De forma geral, os resultados da pesquisa realizada em 2012 são, aparentemente, mais favoráveis à causa homossexual. Ou seja, os percentuais estão mais altos do que na pesquisa realizada no ano anterior.
Relatório GGB. Em relação ao número de assassinatos de homossexuais por crime de homofobia, o Grupo Gay da Bahia (GGB) divulgou que no ano de 2012 sete pessoas LGBT+ foram mortas, sendo 3 gays e 4 travestis. Dos sete crimes, cinco permanecem sem resolução. O número, embora pareça ínfimo, coloca o Espírito Santo como o 14º estado brasileiro que mais mata LGBTs no país e como o campeão de assassinatos LGBT+ por habitantes na região Sudeste. O número de mortes por habitantes em São Paulo – que é um dos estados que mais mata homossexuais e transexuais no país – é de 1,07 morte para cada um milhão de habitantes. Já no Espírito Santo, o resultado foi de 1,96.
Após mapear o local em que essa pesquisa se insere, buscamos reconstruir a história do Movimento LGBT+ no Estado, no próximo capítulo.
É difícil mensurar uma data específica para o surgimento de um movimento social. Há, no entanto, uma junção de fatores específicos que vão criando um cenário propício aos acontecimentos. Com o Movimento LGBT+ do Espírito Santo não foi diferente. Precisar datas torna-se ainda mais complicado quando estamos falando de um movimento
que sequer podia existir. Se não podia existir, podia muito menos deixar rastros.
Sendo assim, o material disponível para a sua narração nos tempos atuais é muito mais encontrado nos relatos daqueles que fizeram parte da história, por muitas vezes desencontrados, graças aos lapsos deixados pelo tempo, do que em documentos e registros físicos. Sem qualquer pretensão de dar conta do todo, algo humanamente inalcançável, e ciente de que estamos lidando com um recorte da realidade, precisamos optar por um ponto de partida, um início. Embora possa não ser o começo propriamente dito, ainda mais que, se tratando de uma história feita por e para pessoas, precisão é uma característica discutível, se faz necessário elencar um primeiro momento. Aqui vamos nós!