Capítulo 20
Maldito seja Valek! Maldito seja! Levava quatro dias me ignorando e, de repente, esperava que eu confiasse nele. Que admitisse um assassinato. Tinham detido à pessoa adequada. Isso era o que lhe importava. Baixei as escadas me dirigi a minha habitação. “Tenho que sair deste lugar”, pensei de repente, com repentina intensidade. Sentia um profundo desejo de partir e de mandar a passeio ao antídoto. Fugir, fugir, fugir. Um tom familiar. Já o tinha escutado antes quando estava com o Reyad. Lembranças que tinha guardado debaixo de sete chaves ameaçavam voltando a emergir. Maldito Valek! Era culpa dele que já não pudesse conter as lembranças. Fechei a porta de minha habitação com chave. Quando dava a volta, vi o fantasma do Reyad convexo em minha cama. Tinha a ferida do pescoço aberta e a camisola manchada de sangue. Pelo contrário, seu loiro cabelo estava bem penteado, o bigode bem arrumado e os olhos muito brilhantes. —Fora —lhe ordenei, sem medo algum. —Que classe de saudação é esse para um velho amigo? —perguntou Reyad. Tomou um livro de venenos que tinha sobre minha mesinha de noite e começou a folheá-lo. —Está morto —lhe disse — Não se supõe que deveria estar ardendo no fogo eterno? —É muito aplicada —disse, me mostrando o livro— Se tivesse se esforçado tanto para mim, tudo teria sido muito diferente. —Eu gosto de como saiu tudo. —Envenenada, perseguida e vivendo com um psicopata. Não me parece que isso seja uma boa vida. A morte tem suas vantagens. Assim posso contemplar sua miserável existência. Deveria ter eleito o cadafalso, Yelena. Te teria economizado tempo. —Fora —repeti, tratando de ignorar o tom de histeria que tinha na voz e o suor que me corria pelas costas. —Sabe que jamais chegará com vida a Sitia? É uma fracassada. Sempre o foste e sempre o será. Aceita-o. Fracassou em todos os esforços que nós fizemos por te moldar. Lembra-te? Lembra-te de quando por fim meu pai te deixou por impossível? Quando me deixou que ficasse contigo?