SUBVERTER PARA OCUPAR - Repensando Espaço Para Pessoas (TCC 2018)

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO - ITATIBA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO EM ARQUITETURA E URBANISMO

SUBVERTER PARA OCUPAR REPENSANDO ESPAÇOS PARA PESSOAS Orientanda: Luana Galani Orientadora: Prof.ª Débora Gomes dos Santos

2018




Adjetivo Característica do que destrói; daquilo que provoca subversão: propósitos subversivos. Que causa ou motiva a subversão; revolta: manifestação subversiva.

Substantivo Algo ou alguém que incita subversão; revolucionária.


Subversivo é um pobre erudito. “Moldado em Barro” - BRAZA



Lucro (Descomprimindo) Bayana System Tire as construções da minha praia Não consigo respirar As meninas de mini saia Não conseguem respirar Especulação imobiliária E o petróleo em alto mar Subiu o prédio eu ouço vaia Eu faço figa pra essa vida tão sofrida Terminar bem sucedida Luz do sol é minha amiga Luz da lua é minha instiga Me diga você, me diga O que é que sara a tua ferida Me diga você, me diga Lucro Máquina de louco Você pra mim é lucro Máquina de louco Vou botar rapadura na mamadeira Vou dar rapadura pra bater, pá pá



Agradeço primeiramente ao universo e a vida, que trouxe meu caminho até este momento. Dedico este trabalho primeiramente a minha família, meu porto seguro, meu eterno amor a vocês, mãe, pai, Lei e Napoleão. Para minha orientadora Débora Gomes do Santos, obrigada pelo o apoio, ajuda nos caminhos a seguir, livros emprestados, por me ouvir e ajudar sempre que precisei e ser tão subversiva quanto eu. Você foi e é incrível. A Prof.ª Laura Reily por trazer um novo olhar ao projeto, me fazendo mudar as perspectivas que eu tinha sobre ele e por me mostrar que temos que ser resistência a todo o momento. E a todos os demais professores que me instruíram desde o início dessa jornada, muito obrigada. Aos moradores do Ouvidor 63 que me receberam tão bem e contaram um pouco de suas histórias em um momento tão conturbado de nossa história como nação. Por último, mas não menos importante, aos amigos que a arquitetura me trouxe, que se tornaram uma família postiça e de coração, obrigada pelo apoio, o encorajamento, o ombro amigo, a cerveja no bar, as risadas e por crescerem junto comigo nessa jornada, entendendo que a arquitetura não é apenas sobre construir muros, mas sim, superar e derrubar barreiras, voltar o olhar para o outro, esquecendo da nossa bolha. Ellen, Erik, Julie Caroline e Luiz Carlos, obrigada por sonharem junto comigo.

Este trabalho é para todos vocês.





_RESUMO A crise de mobilidade urbana que afeta São Paulo hoje, é resultado de anos de medidas estruturais e leis voltadas para os carros, deixando o pedestre e o transporte público em segundo plano. Devido a isso, hoje chegamos a congestionamentos quilométricos e horas perdidas no trânsito para se ir e vir de qualquer ponto da cidade, fazendo que o trabalhador perca em torno de 4 horas por dia se locomovendo. Devido ao enorme contingente de carros particulares nas ruas hoje, estacionamentos surgem em todos os lugares, se utilizando de terrenos que poderiam ter função habitacional, principalmente no centro da cidade. Questiona-se o real uso dos carros, e qual o papel dele na vida do paulistano. Será que ainda hoje ele é tão necessário? E quem habita o centro, usa qual meio de transporte? E para onde todos esse carros vão quando não estão na rua? Utilizando um prédio de estacionamento e transforma-lo em moradia, mostra que podemos subverter o uso do edifício, e mudar a dinâmica do local em prol de quem ali habita. De edifício para carros parados, para pessoas que precisam habitar a cidade. Fazendo com que o carro perca seu protagonismo e possamos usar de melhor forma o espaço antes destinado a eles, colocando em pauta novas formas de mobilidade existente e reinventando a forma de habitar o centro da cidade.

Palavras Chave: Mobilidade Urbana, Habitar, Ocupar, Direito á Cidade, Centro, São Paulo.

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O centro da cidade de São Paulo foi escolhido como cenário deste trabalho por contar com diversas camadas de informações, diferentes épocas arquitetônicas e inúmeras situações morfológicas e antropológicas – que se cruzam no mesmo espaço. Tudo isso é devido à grande quantidade de história que a maior cidade da américa latina tem para nos contar por entre suas ruas e vielas. Em 1554, em uma das colinas recobertas por mata atlântica, os padres jesuítas, guiados por índios guaranis, escolheram onde fundar um colégio, sendo o início da cidade de São Paulo, a primeira construção da capital. A vila teve desde sua criação a miscigenação como um dos pontos de sua fundação, pois ela era predominantemente habitada por índios e portugueses, mas foi apenas na era do café que a então província de São Paulo teve um dos seus primeiros grandes crescimentos. Com a implantação da estrada de ferro entre Santos e Jundiaí, se tornou o mais importante posto de escoamento de café, entre o interior do estado e o porto de São Paulo. (Rolnik, 2017, p.18) Com seu crescimento acelerado, a cidade atraia um forte fluxo imigratório, a cidade viveu seu primeiro surto industrial, baseado, sobretudo nas indústrias têxteis e alimentícias, que ocuparam as várzeas por onde passavam as ferrovias, constituindo as grandes regiões operárias de São Paulo (Rolnik, 2017, p.21), é nesta mesma época que as primeiras mudanças urbanísticas, principalmente no centro da cidade, foram implantadas, porém, visavam apenas as elites, com investidas de apropriação e reformas discriminatórias, onde se segregava espacialmente áreas para o proletariado, os tirando do centro e levando para locais e regiões mais periféricas da cidade.

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A ideia de distanciar cada vez mais a classe mais baixa do centro adentrou o séc. XX, e a cada novo plano urbano implantado na cidade, mesmo sendo áreas já totalmente habitadas, ano após ano, plano após plano, continuavam sem serviços de higiene básica e uma precária infraestrutura. Com a malha da linha de bondes e trens a demarcação de área onde

moradias populares – cortiços e outras formas de aluguel – não podiam estar ficavam mais visíveis, sendo postos em uma área onde o olhar público não chegava, como Vila Prudente, Tatuapé e Canindé (Rolnik, 2017, p.26). E é com esse ,tipo de política de privação que São Paulo chega a meados dos anos 1920, e com uma população de cerca de 600 mil habitantes, densa e concentrada como um barril de pólvora prestes a explodir. (Rolnik, 2017, p.27) A cidade nos anos 1920 vivia o seu grande momento: durante as décadas de expansão da ação cafeeira pela província, São Paulo foi o maior ponto de atração de capital e população em todo o país. Todo esse crescimento faria com que a cidade ultrapassasse a marca de um milhão de habitantes em 1930, tornando-se a maior capital cosmopolita da América. A disseminação da prática de esportes, a entrada na cidade de diversas mecânicas, dos cinemas, dos automóveis e aviões e as turnês de grandes artistas conferiram um ritmo radicalmente novo a São Paulo. A imagem futurista que sintetiza essa nova paisagem é Zeppelin sobrevoando em 1928 o edifício Martinelli, primeiro arranha-céu de uma metrópole cujos edifícios até então não passavam de onze pavimentos. Por ter sido a capital da oligarquia do café durante a Primeira República, São Paulo abrigava a representação do poder econômico e provia o governo federal de presidentes e ministros. Seu papel era, portanto, fundamental na definição dos rumos políticos do país. (ROLNIK, Raquel. Territórios em Conflito. Editora Três Estrelas, 2017. Pág. 28)


‘001 - ZEPPELIN SOBREVOANDO EDIFÍCIO MARTINELLI.

A partir de 1930 a cidade começa o processo de verticalização e adensamento populacional, assim, gerando uma mudança efetiva dos bairros de alta renda para a região sudoeste da cidade, levando consigo comércios e serviços. Nesta época começa a implantação de grandes rodovias dos planos Prestes Maia, que fazem a ligação com o ABC Paulista e até mesmo com o Rio de Janeiro, e que geram uma nova expansão urbana, trazendo as grandes metalúrgicas e industrias têxteis para perto das mesmas, e o movimento se intensifica em 1950 com vinda das grandes montadoras automotivas. Com toda essa expansão a cidade necessita de mais mão de obra, com isso o movimento de imigração – estrangeira e interna, onde se destacam as mineiras e nordestinas – marca um dos grandes crescimentos da cidade, que chegará a seis milhões de habitantes em 1970. (Rolnik, 2017, p. 39).

“Até então, a São Paulo metropolitana contava com um único Centro, composto de duas partes: o “Centro Tradicional” (região do triangulo formado pelas ruas Quinze de Novembro, Direita e São Bento), constituído durante a primeira industrialização (1910-1940), e o “Centro Novo” (da Praça Ramos de Azevedo á Praça da República), que se desenvolveu sobretudo no pós-guerra. A vida cultural, econômica política de todos os grupos sociais da metrópole compartilhavam um espaço que abrigava a Boca do Lixo e a do Luxo, sede de grandes empresas, uma multidão de vendedores ambulantes, engraxates, pastores e pregadores do fim dos tempos, magazines elegantes da rua Barão de Itapetininga, apartamentos luxuosos da avenida São Luís e os chamados “Treme-tremes” com quitinetes superpovoados na baixada do Glicério e na Bela Vista. A formação de um novo centro só aconteceu durante o “milagre brasileiro” (1968-73), quando um poderoso subcentro implantou em torno da Av. Paulista” (ROLNIK, Raquel. Territórios em Conflito. Editora Três Estrelas, 2017. Pág. 41)

Com a saída da elite das grandes indústrias do centro, o que ali permanece é ainda o comercio, criando assim um centro, como explica Rolnik:

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Em meados da década de 60, as sedes de bancos começam a sair dali, indo na direção da Av. Paulista, é neste momento que o centro começa a se deteriorar e perde o posto de metro quadrado mais caro da cidade. Mesmo com a implantação das primeiras linhas do metro e os grandes terminais rodoviárias na cidade, o centro começa a se popularizar, sendo abandonado pelas elites, que agora, com o barateamento do carro próprio pelas montadoras ali instaladas, abandonam o uso do transporte público para usar o seu próprio carro, e fazer do centro apenas sua passagem. E são essas mesmas empresas que em 1980, começam a automatizar suas linhas de produção, dispensado a maior parte de sua mão de obra. A ideia de uma cidade que cresceria indefinidamente para cima e para os lados, fez com que um grupo de arquitetos e engenheiros, que criaram limites e propostas de adensamentos para os terrenos na cidade. Assim, em 1957 foi aprovada a lei que limitava a área de construção até seis vezes a área do terreno. Nesta mesma época foi promulgada a lei de zoneamento da cidade, que basicamente autorizou as atividades e formas de ocupações já existentes nos locais.

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002 / 003 - VALE DO ANHANGABÁU


004 - PRAÇA RAMOS DE AZEVEDO. // 005 - AVENIDA 9 DE JULHO // 006 - REI MOMO NO CARNAVAL PAULISTA

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Com o passar dos anos a lei foi sofrendo ajustes, a ponto de em 1981, e uma grande malha de transporte publico que se cruza, principalmente, destinou-se uma área de terras baratas na zona rural para a Cohab-SP nesta área central. (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo), para a construção de grandes conjuntos habitacionais. O modelo adotado é feito com um olhar excludente, condenando os moradores a locais com baixa renda, educação precária, alto nível de desemprego e serviços urbanos deficientes. (Rolnik, 2017, p.46).T O aumento vertiginoso das favelas, dos condomínios fechados, shopping centers e centros empresariais ao longo das décadas de 80 e 90 revela essa fragmentação sócioterritorial da cidade, que compartimentaliza os espaços promovendo uma vida urbana confinada em geografias controladas, protegidas ou vulneráveis, de alta e baixa renda. (ROLNIK, Raquel. Colóquio para o seminário São Paulo 450 anos, 2004. Pág. 4)

Em meados da década de 90 movimentos sociais que lutam por moradia começam a emergir, e com eles a pressão sobre o governo para a criação de políticos habitacionais que subsidiassem a reabilitação de todos esses prédios que estão vazios, desde o abandono deles pela indústria e seus donos, o que de fato aconteceu em alguns poucos casos, porém, por problemas V judiciários, e, uma política voltada para essa área foi engavetada, fazendo que esses mesmos movimentos façam as ocupações e reformas por conta própria, o que os fazem enfrentar por diversas vezes violentas reintegrações de posse.

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Mesmo com o grande número de ocupações e aumento de cortiços na região central, a partir do novo milênio, segundo o censo do IBGE de 2000, o centro começou a crescer novamente, foram cerca de 60mil novos habitantes. Esse movimento vem a partir dos novos empreendimentos imobiliários que buscam atrair os jovens adultos e famílias com rendas média/ baixa, para essa área central, que conta com uma grande infraestrutura,

007 - PRAÇA DA SÉ 1955 // 008 - PRÉDIO BANESPA 1955


001.02 - A METROPÉLO DO TERCEIRO MILÊNIO

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As quase duas décadas do século XXI são marcadas pelo intenso crescimento econômico, mudanças na cultura urbana e na relação das pessoas com os espaços públicos, porém, ainda é marcada pelo territorialização e segregação étnico-social e submissão aos empreendimentos e negócios imobiliários. A questão por moradia, que sempre foi um dos temas mais discutidos na cidade, ganha certo impulso. Os movimentos por moradia ainda estão agindo na cidade, ocupando edifícios vazios e pressionando o governo. O governo por sua vez, anunciou medidas de reabilitação de alguns edifícios para poder oferecer moradia de interesse social em diversas áreas da cidade, porém devido a problemas de cartório envolvendo a propriedade dos edifícios, e a questão da reabilitação e qualificação das edificações em normas vigentes de segurança fez com que um programa desse nível nunca deslanchou e tomou forma. Fazendo com que a maioria das ocupações sejam reformadas de forma improvisadas pelo os próprios moradores e por muitas vezes, sofrendo – violentas – reintegrações de posse. A área central ganha cerca de 60 mil novos habitantes entre os anos de 2000 e 2010. (Rolnik, 2017, p.75). A marco do início da revalorização do centro de São Paulo foi a transferência da sede da prefeitura de São Paulo do Ibirapuera para o palácio das industrias em 1992, durante a gestão da Prefeita Luiza Erundina (Partido dos Trabalhadores, 1989 – 1993) uma movimentação de cunho simbólico, com o intuito de voltar os olhos para o centro. (Helene, 2009, p. 99). 009 – A CIDADE HOJE

1. Titulo inspirado em dos capítulos do livro “Territórios em Conflito, São Paulo: Espaço, História e Política” de Raquel Rolnik, Editora Três Estrelas, São Paulo, 2017.

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010 - GRAFITES NO BAIRRO DA LIBERDADE..T

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Além das ocupações e aumento de cortiços, a indústria imobiliária lançou mão de novas opções de moradia, como apartamentos menores, com apenas um quarto, poucas vagas de garagem ou nenhuma. Tais empreendimentos tem como foco os mais jovens e de classe média, que por sua vez pressionam o governo cada vez mais para melhorias nos transportes públicos e melhoria nas vias para deslocamentos não motorizados, como a bicicleta. A questão da mobilidade também ganha foco e força nos debates, principalmente devido a crise de deslocamento que a cidade vem enfrentando. É a primeira vez desde os anos da década de 1930 que se discute uma reversão no modelo rodoviárista da cidade. (Rolnik, 2017, p.74). A forma e como a cidade irá crescer depende, agora, de seus habitantes. São Paulo, está chegando na sua idade e forma adulta, e seu envelhecimento – rápido – já é visível. Cabe agora a administração e população, tomarem medidas sábias e bem pensadas, tendo em vista as novas formas de habitar e viver a cidade.

011 - VISTA A PARTIR DO MINHOCÃO, AO FUNDO COPAN.

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Até a década de 1920 o transporte principal na vida do paulistano eram os coletivos, sobre os trilhos de bondes e trens. Segundo Mário Lopes Leão (APUD,1945) na década de 1930, a rede de bondes chegou a ter mais de 258km de extensão, maior que a extensão atual do metrô.

Em 1949 as avenidas marginais Tietê e Pinheiros começam a receber o fluxo das rodovias – função essa que desempenham até hoje. Tal medida é feita após a proposta de Robert Moses e seu “Plano de Melhoramentos Públicos para São Paulo”, neste mesmo plano ele propõem transferir o trafego para elevados, sem cruzamento em nível e sem interferência de entradas E é nesta mesma época que projetos de remodelação viária voltados e saídas de veículos em edifícios, mesmo não sendo implantadas de imepara dar suporte a carros e caminhões começam a surgir na cidade, diato, elas impactaram em obras futuras como o Minhocão. como o plano de avenidas de Prestes Maia, que propunha um sistema de avenidas, formando uma “grela radioperimetral”, que teve base no Em 1956, Prestes Maia é convidado a continuar seu projeto, mesmo que estruturamento da cidade nas décadas seguintes. Como dito por Rolnik e dessa vez ele tenha propostas para o metrô, a prioridade deveria ser Danielle Klintowitz (2011, p.91), a concepção urbanística de Prestes Maia dada ao Plano de Avenidas, ao carro. se opunha a qualquer obstáculo físico para o crescimento urbano ou a qualquer definição a priori de um limite para o crescimento da cidade. Com a expansão periférica de fábricas e habitação popular a leste, isso gerava reflexos no centro, assim o primeiro anel perimetral já não tinha Maia ainda propunha um “perímetro de irradia- mais capacidade de suportar os deslocamentos Leste-Oeste. Mesmo a ção” com um anel viário no entorno da cidade, visan- implantação não sendo como o de inicio do projeto, e sofrendo alterações do descongestionamento e a expansão do centro da cidade. ao longo do processo, áreas públicas tiverem que se submeter ao cruzamento de várias vias em níveis diferentes, como o Parque Dom Pedro II e Após 1930, seguindo o Plano de Avenidas, grandes obras viárias a Praça Roosevelt. permitiram a abertura do tecido urbano e a circulação do automóvel, por meio das avenidas radiais (São João, Rio Branco e Nove de Em 1960, São Paulo passava dos quatro milhões de habitantes e 500 mil Julho) e o Perímetro de radiação (Av. Rangel Pestana, Senador Quei- veículos, a hegemonia dos carros era visível, tanto que os investimentos na roz, Ipiranga, São Luiz, viadutos Nove de Julho, Jacareí, Dona Paulina). área de ampliação viária entre os anos de 65 e 70 representavam, em média, 27% do orçamento municipal. (Rolnik e Klintowitz, 2011, p 94). Com o rompimento de contrato com a empresa Light, que era dona de um grande monopólio dos transportes, o ônibus ganhou sua vez nos trans- Com os investimentos e melhorias na mobilidade – intensificados nos anos portes coletivos, em 1942 as linhas de bonde tinham encolhido 41km e de 1960 e 1970, resultou em processos econômico, políticos e urbanos que sua participação nas viagens diárias caíram em 63%, seu declínio con- viabilizaram o crescente numero de carros particulares novos na cidade. tinua até desaparecer de vez em 1968 (Rolnik e Klintowitz, 2011, p 92).

2. Como dito pelas autoras “No capítulo sobre sistemas de transporte do Plano de Avenidas, Prestes Maia descreve as experiências de outros países e articula argumentos contra a renovação do contrato de viação feita pela companhia Light, que detinha o monopólio da concessão de transportes coletivos em São Paulo”.

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012 - PLANO TEÓRICO DE PRESTES MAIA

De início, as mudanças viárias geraram melhorias na vida dos usuários de transportes coletivos, porém de segundo momento, houve um retrocesso no ganho de fluidez – devido o aumento da frota de automóveis, o ônibus perdeu velocidade e espaço nas vias. Por sua vez, o sistema, ao viabilizar a posse do automóvel, não apenas atendeu a um aspecto econômico-ideológico, como também propiciou o aumento da velocidade de deslocamento da classe média, já que o automóvel se desloca a uma velocidade muito superior à do ônibus

Enquanto a classe média aumentou as distâncias percorridas e sua velocidade, pois teve acesso a uma tecnologia de transporte mais rápida, o usuário de transporte coletivo permaneceu preso à mesma alternativa tecnológica, não apenas por sua impossibilidade de mudar de modo de transporte, mas também pela relativa estagnação tecnológica do transporte coletivo. A dependência da mesma tecnologia, operada com baixos níveis de eficiência, levou, então, a que os usuários de ônibus circulassem à mesma velocidade das décadas de 1930 e 1940, entretanto percorrendo distâncias muito maiores, elevando proporcionalmente muito os tempos de percurso.

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Nem a construção do metrô consegue alterar significativamente esse quadro, uma vez que representa pouco ante as necessidades globais de deslocamentos e considerando que ele próprio precisa ser alimentado pelos ônibus para ter um movimento que o justifique. Por sua vez, grande parte dos recursos públicos no setor passa a ser investida no metrô. Criou-se, assim, um “hiato tecnológico” entre o que há de mais moderno – o metrô – e o que há de mais arcaico – o sistema de ônibus paulistanos, da forma como é operado e controlado, impedindo a modernização essencial deste último. (Rolnik e Klintowitz, 2011, (I)Mobilidade Urbana, Estudos Avançados 27. Pág. 95).

Esse investimento nos sistemas viários também pode ser observado nos períodos políticos que a cidade estava submetida, nas gestões de Mário Covas (83-85) e Luiza Erundina (89-92) o investimento girou entorno dos 9%, enquanto nas gestões Jânio Quadros (86-88) e Paulo Maluf (93-96), o orçamento era de 18%, e mais de 50% dos investimentos na gestão Maluf, foram para áreas de alta renda, enquanto de Covas e Erundina os investimentos eram para áreas de baixa renda. (Rolnik e Klintowitz, 2011, p 96). A gestão Maluf deixou grandes obras – Tuneis do Rio Pinheiros, canalização do Córrego da Água Espraiada para construção de uma avenida de mesmo nome e o elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão. Todas essas obras tiveram fundos bilionários, só os tuneis custaram R$1,74 bilhão (valores em 2002), recursos esses destinados apenas ao carro particular, já que ônibus não tem acesso. (Rolnik e Klintowitz, 2011, p 97).

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Em comparação temos o governo de Erundina, que deu prioridade aos ônibus, a chamada Municipalização, que tinha por objetivo melhorar a qualidade e aumentar a oferta de transportes coletivos na periferia da cidade.t

Com o passar dos anos houve um progressivo aumento nos investimentos para a questão de mobilidade urbana, ainda assim dando preferência ao carro, sendo na gestão Kassab em 2007 a dar um levante na questão da coletividade, e concluindo obras no Expresso Tiradentes – que estava paralisado desde 2000 no governo de Celso Pitta -, as obras nos terminais Sacomã e Mercado, sendo assim 93% dos investimentos voltados para esta causa.


002.02 - MOBILIDADE URBANA ATUAL.

para novos usos – inclusive moradias – tenha sido implementada.

O paulistano hoje perde cerca de 3h diárias de sua vida na locomoção de suas tarefas diárias, são cerca de um mês e meio parado no trânsito por ano, os dados são de 2016 do Instituto Ibope.

O debate sobre a abertura dos calçadões foi feito há uns dez anos -e imagino que hoje dificilmente alguém propusesse algo do tipo-, mas mostra a força do paradigma do urbanismo dependente do automóvel que estrutura nossa cidade há mais de meio século.

Hoje é inegável o impacto do trânsito na vida na cidade, sendo uma das grandes questões que a permeiam, se sobressaindo á frente da própria questão de mobilidade urbana e qualidade de vida dos moradores. Por sua vez o centro da capital paulista se desenvolveu como um grande terminal intermodal – abrangido pelos trens da CPTM, linhas de metrô e terminais rodoviários. (Rolnik, 2017, pág. 150). Assim, facilitando o acesso de quem deseja chegar ou sair dele e queira andar a pé por seu mais de 400 m² de calçadões de acesso apenas para pedestres ou por entre as ruas e vielas da Rua 25 de março e adjacências.

(Fonte:https://raquelrolnik.wordpress. com/2014/12/15/carros-e-centros/ ,acesso em 05/09/2018).”

Com a gestão Haddad (2013-16) foi feito um grande investimento em ciclovias, aumento da política de restrição da circulação de automóveis, redução de velocidades máximas em vias expressas e aumentando as faixas expressas para ônibus, assim, fez com que o transporte coletivo e os meios de locomoção não motorizados ganhassem mais espaço e segurança.

Entretanto, a organização “Viva o Centro” há alguns anos propunha o auAlém das inúmeras ongs e movimentos de mobilidade sustentável que tem mento da circulação de carros na região, alegando que tal estratégia seria surgido na cidade de São Paulo, como a rede de apoio ao ciclista da própara “revitalizar” a área, porém tal ideia não se sustenta, como explica pria prefeitura o “SP de Bike”, ou outros como Movimento Conviva e Vá de Rolnik Bike, estimulam os moradores a repensar o uso de seus carros e irem de a “A migração de parte do setor empresarial pé ou de bicicleta pelas ciclovias da cidade. começou antes mesmo da construção dos calçadões, motivada pela abertura de novas frentes de expansão imobiliária. Neste movimento, empresas abandonaram o centro na direção da Paulista para depois seguir em direção das margens do rio Pinheiros (...) Ou seja, o que alguns definem como “decadência” nada mais é do que a popularização do centro. É certo, entretanto, que se os térreos comerciais continuam vivos, os andares superiores dos edifícios se esvaziaram, sem que qualquer política de reabilitação.

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“Deste modo enquanto nossa cidade amparada por suas leis cresce e se desenvolve, outra brota por suas lacunas: a cidade da exceção.

ambulantes, carros, pessoas fazendo compras e indo e vindo do trabalho, ao cair da noite o centro perde sua vida, e adormece.

Essa cidade “clandestina” transborda através das fissuras deixadas pelo setor “de cima”, nos interstícios, nas cavidades da desterritorialização realizada pelo capital. É edificada pela Ilegalidade dos vendedores ambulantes e diversos outros tipos de comércio informal, pela pirataria dos artigos símbolo da soberania do capital, pelas favelas, cortiços, prédios e terrenos ocupados, quadras de futebol em sobras verdes do planejamento urbano, ocupações de fábricas inativadas por desempregados etc.

Habitar o centro é trazer vida, segurança e melhores estruturas para este bairro, quanto mais usos tivermos nesta área, fazendo com que o bairro se mova tanto durante o dia quanto a noite, traz uma nova dinâmica habitacional ao bairro.

O setor “de baixo” só existe devido à inadequada sobreposição da cidade, com suas múltiplas singularidades, ao sistema de leis que mantém o “setor de cima”: estriado, gradeado e quadrado; duas peças que não se encaixam, gerando cavidades que a lei não atinge, gerando o setor excluído. “

Após o gravíssimo acidente do dia 1 de Maio com a ocupação no Largo do Paissandu, diversas famílias estão novamente sem um lar e tendo que acampar ao longo da praça, em condições cada vez mais precárias. Essas pessoas moram no centro para terem uma condição de vida mais digna, com maior mobilidade e perto de equipamentos urbanos básicos – escolas, hospitais, áreas de lazer e cultura, etc. Ao perderem suas moradias eles irão ser realocados em outros pontos da cidade, assim perdendo o que conseguiram conquistar após tanto sacrifício, e tendo que recomeçar a vida em um local totalmente novo.

Ao implantar um prédio de moradia social transitório próxima ao local do acidente, damos condição para que essas famílias continuem com suas vidas nos locais que já estão acostumados e que não os prejudicariam com distância, falta de infraestrutura e poderiam manter direitos básicos, como ter os filhos na (RAMOS, Diana Helene. Todo Espaço Mal Utilizado Será Ocupado, Trabalho Final de Conescola – pois, sem endereço fixo as escolas não aceitam a matricula, até que clusão, Unicamp. Campinas, 2005 - Pág. 5). possam encontrar um novo local de moradia junto a organizações e grupos A pertinência desse trabalho confronta-se diretamente com a realidade de luta por moradia. da área, onde ocupações para pessoas de baixa renda vem aumentando consideravelmente, e a precariedade da área em fornecer moradias dig- O intuito principal deste projeto é levar habitação e segurança para quem mais precisa dela, e aonde se necessita dela, fazendo com que pessoas que nas e decentes para essas pessoas eleva-se. se sentem a margem da sociedade possam se perceber e se sentir inclusas e O centro de São Paulo com o passar dos anos se tornou um grande termi- com seus direitos garantidos. nal intermodal, com diversos pontos de metrô, trem e terminais rodoviários, que fazem dali uma área de passagem e não mais de moradia e estadia, Mudando a forma que o centro é utilizado traz uma nova vida a área, trazencom isso temos duas dinâmicas opostas ao longo do dia, enquanto durante do para ela diversidade de habitantes, usos e espaços, faz dela uma região o dia o movimento de pessoas é frenético e incansável com vendedores menos excludente com relação a quem ali vive.

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013 - LARGO DA MISERICÓRDIA

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00.4 MANIFESTO_

Já parou para pensar em quem manda na cidade em que você vive? Será que é o Presidente da República? O prefeito? Ou a população? O prefeito, é o responsável executivo da cidade, que manda e desmanda em tudo relacionado ao município. E quem manda no prefeito? Será que é o partido? Quem votou nele? Ou a população? Para responder, temos que entender como o prefeito conseguiu se eleger. Todos sabemos, que, para ganhar uma eleição, é preciso muito dinheiro para a campanha eleitoral. A maior parte desse dinheiro das campanhas seja para prefeito, governador ou presidente - é doado por empresas. Em 2012, em São Paulo, o candidato José Serra, do PSDB, recebeu 6 milhões de reais em doações diretas para sua campanha. 4 desses 6 milhões, vieram de construtoras e empreiteiras. No mesmo ano, o prefeito Fernando Haddad, do PT, foi eleito com pelo menos 5 milhões reais em doações de empresas do mesmo tipo. Agora, voltando à pergunta: Quem de fato manda na cidade, hein? Quem garantiu que o prefeito virasse prefeito, os empresários que bancaram a campanha, sendo a maioria deles, da construção civil. Esses empresários, querem lucrar com a cidade, e realmente, lucram muito. Parece que tudo está um caos, mas na verdade, não está. A cidade tem uma lógica: Ela nem sempre foi do jeito que é hoje. Há 60 anos, São Paulo tinha apenas 1 milhão de habitantes. Os trabalhadores da cidade, moravam em bairros centrais, próximo do local de trabalho, e das casas dos ricos, mas os ricos nunca gostaram de viver perto dos pobres. A periferia, até então, não existia, eram chácaras e fazendas, só mato! Em um dado momento, os mais ricos, fizeram uma “limpeza”: Demoliram cortiços, despejaram favelas, e aumentaram o valor dos aluguéis. Ficou inviável morar no centro. A única solução, foi comprar um pedaço de mato na periferia, este pedaço, loteado pelos próprios ricos. Os mais pobres, foram jogados em locais afastados e sem infraestrutura. Além de trabalhar a semana toda, passavam o fim de semana, construindo


suas próprias casas. Para conseguirem morar na periferia, e ainda trabalhar na cidade, o governo garantia o mínimo de infraestrutura. No meio do caminho entre a periferia e o centro, sobrou muita área que parecia esquecida, mas não tinha nada de esquecida - muito pelo contrário! - Para que a infraestrutura de luz, água, esgoto e linhas de ônibus pudessem chegar na periferia, ela precisava passar por essa área. Esses investimentos do governo, acabaram valorizando os terrenos dos mais ricos, que agora, podiam vendê-los a um preço absurdo! O nome dessa jogada é: ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA.

quando milhares de famílias que não conseguem mais pagar aluguel, e que estão em situações desesperadoras, resolvem fazer algo que elas mesmas questionam: Invadir o terreno dos outros. Dos outros? Quem foi mesmo que gastou suor e cimento para construir a cidade? Pois é! Ocupar é afirmar o seguinte: Não aguentamos mais ser empurrados para fora! Vamos tomar a cidade de volta, mesmo sabendo que as construtoras vão fazer de tudo para impedir, mas temos que resistir! E vamos!

MTST, a luta, é pra valer!

Esses especuladores, deixaram e ainda deixam terrenos vazios, esperando o melhor momento para vendê-los ao maior preço possível. Enquanto isso, os trabalhadores mais pobres, são despejados em regiões totalmente isoladas, e depois que nasceu a periferia urbana, ela nunca mais parou de crescer. Cada vez mais gente chega na cidade precisando de um lugar para morar, e vai se alojando nos bairros mais afastados. Quando dá para pagar aluguel, um pouco mais perto, quando não dá, bem mais longe, em áreas que nem são regularizadas. Quem achava que morava longe, viu que dava para morar mais longe ainda. Nasce então, as periferias das periferias, e as comunidades se organizam como podem, para garantir o mínimo de estrutura. A prefeitura, intervém com obras de urbanização que deveriam atender as demandas da comunidade, ao invés de atender os interesses das construtoras. A especulação imobiliária chega nas periferias, e o preço do metro quadrado sobe! Sobe, sobe, vai pro espaço! Um cômodo, chega a custar 500 reais de aluguel. A consequência disso, é uma cidade profundamente desigual e opressora. É a cidade, do capital. A cidade se divide em duas, a dos ricos, e a dos pobres. A região dos pobres, também valoriza e encarece, a ponto de não ter como continuar lá. Tudo vira mercadoria. Cada milímetro da cidade, entra na balança, pra ser vendido, e dar lucro. Aí, estranham quando começam as ocupações,

Transcrição do vídeo: Quem manda na cidade?. Fonte: Site do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em: http://www.mtst.org/




_OCUPAÇÃO 63 Era véspera de feriado do dia 1° de Maio, dia do trabalhador, São Paulo estava frenética como sempre, e ao sair do metrô da Sé, meu GPS parou de funcionar, fui por rumo, e por onde achava estar certo, como consegui chegar até a ocupação ainda é um mistério até para mim. Após perguntar para duas ou três pessoas onde ficava a Rua do Ouvidor e nenhuma delas saber, resolvi perguntar para alguns policiais militares, que também não sabiam, porém me ajudaram com o GPS deles, eu estava próxima, mais 5 ou 10 minutos de caminhada e estaria lá.

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ela se impressiona ao saber que faço Arquitetura e Urbanismo, e não Rádio e TV ou Cinema, “A maioria dos estudantes que já vi aqui são dessas áreas, você é a primeira que vejo de Arquitetura”. Alexa aparece e me chama para conhecer o brechó, Lais fica no ateliê, ela diz que é dia de manutenção, vão reformar uma das mesas do espaço. O brechó fica na garagem do prédio, é um espaço bem amplo, diversas peças de roupas estão empilhadas, nos sentamos próximas a algumas mesas do local e começamos nossa conversa. Ela prefere não revelar sua idade, mas disse que já são vários anos vividos e isso é o que importa; vinda da Amazônia aos 9 anos para morar com uma irmã mais velha, ela me diz que foi expulsa da casa aos 15 anos, quando revelou para a irmã que o cunhado a violentava sexualmente, e foi dada como mentirosa. Apenas com alguns trocados no bolso, comprou uma passagem para o Distrito Federal, onde ficou por cinco anos, até engravidar do seu primeiro filho - que hoje mora com a mesma irmã que um dia a expulsou.

Avistei o prédio colorido logo que sai da R. Libero Badaró, a vizinhança era calma, e poucos carros passavam na rua. Meu contato dentro da ocupação é Alexa, ex-moradora de rua, que hoje cuida do brechó localizado na garagem do prédio - onde também fica um estúdio de tatuagem e o palco para as apresentações circenses da companhia 6e12 (a junção dos números dos andares onde os artistas moram). Sou recepcionada por Lais, 24 anos, baiana que há quatro meses mora na ocupação, ela se disponibiliza a me levar até o ateliê onde Alexa me encontraria depois de arrumar Os caminhos que a fez chegar até o Ouvidor foram muitos, mas o dia fatíalgumas coisas no brechó. dico foi no ano de 2014, véspera da Copa do Mundo no Brasil, morava em uma outra ocupação juntamente com outros artistas, quando foram Subimos por uma estreita e escura escada de caracol que passava por expulsos, o local ficava próximo a praça que ocorreria a FIFA Fan Fest, entre os andares, a cada andar as paredes coloridas e os avisos nos mos- “Se estávamos em um local privado e nos tiraram e agora nos deixaram travam o que acontecia naquele andar. Chegando no 4° andar onde fica na praça, um lugar público, resolvemos ficar por ali, e incomodar ainda localizado o ateliê de artes livres e também a área infantil do prédio, me mais”. Ao descobrirem por meio de repórteres da Rede Globo que seriam sento para conversar com Lais. expulsos daquele local resolveram que iriam ocupar o prédio do Ouvidor, e assim se seguiu o cortejo com mais de 100 artistas ate o imóvel, “Nem Vinda do interior baiano, Lais resolveu largar o sétimo semestre de enfer- todos foram para lá de imediato, eu mesma não fui, só depois que o prédio magem e se aventurar como a mesma diz “Pelos caminhos da vida”, ao estava mais limpo e habitável que vim com a minha filha.”. perguntar como ela conheceu a ocupação ela responde “Cheguei a São Paulo com apenas alguns trocados e vendendo meu artesanato, e acabei Pergunto se ela imagina sair do Ouvidor algum dia, me diz que sim, talvez ouvindo sobre o Ouvidor e agora estou aqui.”. Ela me pergunta sobre para ajudar sua madrinha que já é idosa, ou ir para uma nova residência minha vida e como conheci o Ouvidor, e conto sobre a faculdade e o TCC, artística, mas não para algo mais padronizado, pois não se encaixaria.


É evidente o quanto essa mulher já lutou na vida, e quanto ela tem coragem para enfrentar os problemas que a vida coloca em seu caminho, “Todo dia é uma luta diferente, agora temos também um andar com um centro de apoio a igualdade de gêneros, onde eu e mais duas amigas artistas, ajudamos outras mulheres dentro e fora do Ouvidor (...). No segundo dia que abrimos o local uma vítima apareceu. Não toleramos abusos, agressões e drogas aqui dentro, o agressor dessa mulher foi expulso na hora.”. Encerramos a conversa por conta do horário, eu tinha que continuar minha caminhada por São Paulo e ela receber algumas visitas que iriam fazer doações para o espaço infantil do prédio. Ela me convida a voltar e conversar mais vezes, “A visibilidade que vocês trazem é importante para nós!”. Ao sair do prédio, eu me pego pensando em tudo que vi e ouvi, o lugar é totalmente fora da minha realidade, da minha forma de viver e até mesmo da minha forma de pensar, porém não julgo a luta deles, pois ali é resistência e liberdade para se expressarem de diversas formas, pessoas que dificilmente encontrariam acolhimento na sociedade atual, mas que ali se sentem em casa. Foi depois de pisar ali dentro que entendi, com mais consciência, que ocupar é sim importante, um prédio antes abandonado hoje é palco de intervenções artísticas e está em uso, fazendo o seu papel urbano de dar abrigo e um lar para essas pessoas. Ainda em minha caminhada por São Paulo, resolvi passar pelo Vale do Anhangabaú, subi até a galeria do rock e cai no largo do Paissandu, ao passar por lá me lembrei da ocupação Wilton Paes de Almeida, olhei ela de longe, parei por alguns segundos e ponderei se deveria ir, olhei pro meu relógio e vi que já estava fora do meu horário e que eu ficaria muito tarde para ir embora, resolvi que voltaria ali em uma outra oportunidade.

No outro dia ao acordar e entrar na internet a ocupação tinha vindo ao chão após um incêndio, não haveria uma nova oportunidade.

014 – ESCADA EM CARACOL // 015 – DESENHO NAS PAREDES DA OCUPAÇÃO // 016 – INTERVENÇÕES 017 – ALEXA

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Temos como pano de fundo o centro da maior metrópole da América Latina, São Paulo. Com seus milhões de habitantes, a cidade não para de crescer e se desenvolver. No centro, mesmo sofrendo com o movimento de esvaziamento - e recentemente a volta da população mais abastada, nota-se a permanência de uma população seja de classe baixa que continua ali por conta da proximidade dos empregos, o que na sua maioria são informais – vendedores de rua, carroceiros, catadores de lixo, etc., seja classe média e com crescente construção de projetos imobiliários voltados, que constituem de jovens adultos e famílias com rendas maiores e mais bem estabelecidas.

Os movimentos tentam fazer valer a política urbana (Constituição Brasileira, 1988 – Art. 182) que tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Isso significa lutar para garantir o direito à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer. (Costa, Helene e Terra. A Ocupação Como Luta Pelo Direito à Cidade. In: PPLA 2008 - Seminário Política e Planejamento: Economia, Sociedade e Território: “ Estado e Lutas Sociais: intervenções e disputas no território”, 2008, Curitiba. p.05)

Os trabalhadores querem, e devem morar no centro. Pois mesmo com a degradação da área, ali ainda se concentra uma infraestrutura mais bem constituída, equipamentos urbanos, uma grande malha de transporte públiAs pessoas recorrem a ocupações como alternativa para fugirem dos altos ca - rodoviárias, terminais municipais de ônibus e estação de metrô, e maior valores de alugueis ou como ultima alternativa para não irem para as ruas, oferta de emprego. É no final dos anos 90 que os movimentos por moradia ou como primeira para saírem delas. voltam o seu olhar para o centro da cidade. Reivindicando o seu espaço Essa trágica e violenta migração interna naquela região, querendo sair da periferia, ocupando edifícios que antes é provocada por aqueles fatores apontados: estavam abandonados, trazendo para eles um novo uso. A principal frente desses movimentos é uma ação de luta que dê visibilidade para os vazios urbanos que estão parados e a espera da valorização da área e do imóvel, enquanto isso, as pessoas sem seu espaço na cidade se veem obrigados a irem para a periferia, ocupando áreas de risco ou de preservação ambiental.

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Hoje no centro de São Paulo são cerca de 100 ocupações, onde mais de 3300 famílias moram, os dados são da Secretaria Municipal de Habitação, que estima que devem ter muitas outras ainda não contabilizadas. Diversos grupos estão a frente de ocupações na região central da capital paulista, é possível encontrar bandeiras do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente de Luta por Moradia (FLM) em vários prédios deteriorados, e em algumas das ocupações os moradores são os próprios gestores, assim não se envolvendo com nenhum grupo ou liderança.

baixo salário, desemprego, finanças públicas drenadas para o setor parasitário da economia e especulação imobiliária – tem se revelado de grande eficácia, pelo fato de impedir o acesso dos trabalhadores de baixa renda à moradia, que ocorre devido aos preços extorsivos das terras e imóveis. Estes preços inviabilizam a construção de moradias populares. Assim que a região recebe investimentos públicos, fica aparelhada de equipamentos urbanos, e pronto! O preço dos imóveis dobra, os aluguéis sobem de preço.

(Fonte: http://www.portalflm.com.br/luta-historico/direitoacidade/, Portal FLM, acesso em 05/05/2018)


Coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), Guilherme Boulos confirma que a cidade passou por uma expansão de ocupações em dois anos. “De 2013 para cá, não apenas em São Paulo, mas em várias regiões metropolitanas no país, houve aumento expressivo das ocupações, o que, na minha avaliação, tem relação direta com a explosão da especulação imobiliária. A terra virou ouro no Brasil e o aluguel virou uma coisa impagável.” (Fonte: http://www.ebc.com.br/vidaemocupacao , CRUZ, Fernanda “Vida em ocupação”, acesso em 06/05/2018)

Após o trágico acidente da madrugada do dia 1 de maio de 2018, no qual o antigo prédio da polícia federal, no Largo do Paissandu, em São Paulo, que era um dos marcos arquitetônico da cidade e tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), estava ocupado desde 2015, veio ao chão e faz com que uma luz recaia sobre esta questão, e escancare o déficit habitacional que está presente na maior metrópole brasileira, onde seriam necessárias 358 mil novas habitações para atender a demanda da população, enquanto por outro lado existem mais de 1385 imóveis ociosos, subutilizados ou abandonados ou terrenos sem uso, isso apenas na área central da cidade, como é informado no plano municipal da cidade. O prédio, inaugurado em 1968, foi sede de várias empresas, até que seus proprietários endividados acabaram cedendo o edifício para a União. Desocupado, transformou-se em casa para mais de 300 pessoas quando desabou na madrugada da última terça-feira, 1º de maio. Assim como essa, muitas outras famílias que habitam a região central da cidade estão perdendo suas moradias.

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Pontualmente chamo a atenção para aquelas famílias moradoras das quadras 36, 37 e 38, área em que, por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP), vai ser construído o novo Hospital Pérola Byington. De acordo com o Plano Diretor de São Paulo, esta região é uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), e, portanto, destinada à produção ou à melhoria de habitações sociais. A recusa ao cumprimento da lei, e ao diálogo com os cidadãos, acontece neste momento em que é fundamental ampliar a política social, de apoio à moradia. Mas o que tem acontecido é o oposto: a retração dos investimentos públicos, aliada a uma política de remoções que não oferece nenhuma alternativa sustentável, de longo prazo às famílias. Com isso, para onde mais poderiam ir as pessoas que são forçadas a sair de suas casas? Que fique bem claro: cada remoção é estímulo para uma nova ocupação. E a resposta do Estado? Por enquanto, criminalizar os que mais sofrem. (Fonte: https://raquelrolnik.wordpress.com/, ROLNIK, Raquel. “A Cada Remoção, Uma Nova Ocupação”. Acesso em 06/05/2018)

“Espaço vazio não é algo difícil de se achar em São Paulo, por causa das imensas especulações de terrenos e o processo de desindustrialização. O problema na verdade é que a maioria deles não está disponível. Eles podem ser disponibilizados por intervenção do governo. O aumento dos impostos para lotes vazios na zona central já estimulou um uso mais intensivo. Há alguns anos também existe a possibilidade de ocupar um prédio caso o dono não pague os impostos por mais que um ano. Ao contrário de cidades europeias, há pouca reutilização de fábricas, galpões e terrenos industriais. O setor imobiliário não vê mercado de lofts em galpões de verdade. É mais comum seu uso para cultura. Por exemplo, o Espaço das Américas na Barra Funda e as unidades do SESC na Pompéia e no Belenzinho.” (NEFS, Marten. “Incubadoras Urbanas. Políticas de revitalização urbana através de subculturas. A Experiência paulista e o contexto internacional” Site: http://www.vitruvius.com. br/revistas/read/arquitextos/05.058/487. Acesso: 25/03/2018).

A principal questão seria trazer mais dignidade e qualidade para a vida e luta dessas pessoas, que a sociedade empurra para a margem, e faz vista grossa para as condições nas quais eles se encontram. São Paulo, como uma cidade com um superadensamento populacional, já faz tempo que começa a crescer para cima, com seus grandes empreendimentos, que não contemplam a classe com renda mais baixa, e que se estabeleceu nas periferias da cidade. Do outro lado da história temos edifícios abandonados e espaços vazios que poderiam suprir uma parcela do demanda por moradia.

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019 – MANIFESTAÇÃO POR MELHORES CONDIÇÕES DE MORADIA, ORGANIZADA PELO MTST.


Podemos encarar as lutas pela reforma urbana e o Direito à Cidade como uma trincheira em direção a transformação da cidade. Não só porque atuam penetrando nas incongruências do capitalismo (latifúndios e edifícios vazios, a pobreza e a precariedade urbana), mas porque estabelecem uma base de mudança por meio da organização popular e da formação política. (Costa, Helene e Terra A Ocupação Como Luta Pelo Direito à Cidade. In: PPLA 2008 - Seminário Política e Planejamento: Economia, Sociedade e Território: “ Estado e Lutas Sociais: intervenções e disputas no território”, 2008, Curitiba. p.12)

020 – OCUPAÇÃO DE IMÓVEL ABANDONADO NO CENTRO DE SÃO PAULO

Entender que todos tem o direito de moradias dignas a próximas aos seus locais de trabalho é uma das linhas de pensamento desse trabalho. Trazer para muitos que vivem à margem da sociedade, um pouco mais de dignidade e esperança, humanizar e reestruturar não apenas o prédio, mas a relação dessas pessoas com a cidade e a sociedade.

021 e 022 – OCUPAÇÃO DE WILTON PAES DE ALMEIDA APÓS O INCÊNDIO DO DIA 01/05/2018

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GRAFITE DE ANARKIA BOLADONA. LUTO COMO MULHER, Rio de Janeiro 2010


As mulheres, são cerca de 80% dos grupos de luta por moradia. (Helene, 2018, pág. 2034) Além da associação direta de gênero com o espaço doméstico, existe a “feminilização da pobreza”, onde a mulher aparece abaixo do homem na escala salarial. Enquanto o salário médio do homem é de R$ 2058, o salário feminino é de R$1567. Isso sem contarmos a grande quantidade trabalhando sem carteira assinada, sem remuneração ou desempregada, as informações são do PNAD/IBGE 2015. No momento que começam a tomar suas próprias decisões e se empoderar, as mulheres se percebem como sujeitos políticos, mudando assim a relação que se tem com todo o seu entorno e ate mesmo com as pessoas do seu convívio. Tinha uma mulher. Ela não era coordenadora, nada disso, só participava e trabalhava. Era uma pessoa assertiva, forte; não era quieta ou amuada. Só que alguns momentos, percebíamos que ela tinha sofrido violência em casa. Nessa época não tinha nem trabalho social, então a gente tentou ver com alguém que fosse mais próximo dela pra tentar conversar e tal, só que ela não aceitava. Não conversava sobre isso com ninguém, mas era nítido que de vez em quando algo acontecia. As vezes ela ficava sem aparecer, então sabíamos que havia uma situação ali, mas não tinha nada que a gente pudesse fazer. Durante a obra inteira ela não falou nada, não abriu a boca. Ai acabou o mutirão e foram fazer as entregas lá. Na hora de pegar a chave ela perguntou para a coordenação: “Escuta, a festa vai ser sábado. Domingo eu posso mudar?”. A maioria das pessoas ainda ia dar uma arrumada no piso, colocar cortina e tal. Mas pode né? A casa era dela. Ai ela chegou com a mudança e os filhos, passou uns dois dias e chega o marido lá, emputecido. Acho que foi umas 6h da manhã e começou a bater na porta e a xingar no meio da rua. Ainda morava pouca gente no mutirão, aí o pessoal foi ver o que tava

acontecendo. Juntou todo mundo na rua. E ela não abria a porta, não saiu pra rua. Aí uma das vizinhas foi lá falar com ela e ela falou: “Pode mandar embora, você viu ele carregando um tijolo por aqui?”. Aí os homens foram lá e colocaram ele pra fora. Aí foi aquela choradeira né? A mulherada toda foi acudir ela. Ela disse “Enquanto eu não tinha um teto para colocar meus filhos embaixo, eu nunca levantei a voz para ele. Eu entrei no movimento esperando esse dia. O dia que eu pudesse não depender mais dele e ter um lugar para colocar meus filhos. Agora ele não encosta mais a mão em mim.” (HELENE, Diana. Mulheres e direito à cidade a partir da luta dos movimentos de moradia. Relato de Evaniza Rodriguez – UNMP, 2017. ENAMNPARQ, Salvador, 2018)

O relato demonstra a importância dos movimentos de luta, e a segurança de posse para a autonomia econômica feminina, pois a relação entre gênero e como habitam a cidade se distingue muito. Enquanto o caminho do homem é mais linear e de poucos objetivos, o da mulher é mais diversificado, com muitos destinos e mais espalhadas durante o dia (Helene, 2018). Por esses motivos, quando se é mulher, a relação que se tem com a cidade e suas ruas, infraestrutura e iluminação torna-se mais dramática (Helene, 2018), onde, as mulheres muitas vezes devem pensar muito mais no caminho que vão fazer, mesmo que seja mais longo e demorado, para que possa chegar em segurança na sua casa. No caso dos movimentos de moradia que ocupam prédios em áreas centrais, podemos dizer ainda, que acontece a luta pelo direito à cidade contra a segregação socioespacial gentrificada. (Helene, 2018). Assim, percebemos que essa luta de mulheres por moradia, escancara a as diferenças entre gêneros, e como está associada a outras formas de opressão que a sociedade impõe as mulheres.

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REDESCOBRINDO UM EDIFÍCIO

vel, masculino-feminino e corpo-mente). Seus trabalhos mais recentes são baseados em espelhos, refletindo ou distorcendo o público.

A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver. - Paul Klee. Além de mudar seu uso, um dos desafios é mudar sua plástica, a forma como ele interage com o externo, com o meio urbano. Hoje o edifício já se tornou um ponto de referência na paisagem, porém, o objetivo é que ele traga atenção e tensão na área, mostrar que aquele edifício ali, perdido no meio da paisagem pode ser muito mais que apenas um descanso para carros, ele pode ser refúgio, morada, trabalho, arte, mudança, ilusão e descoberta. Para a criação da nova ca foi além da arquitetura

estética do edifício, e chegou nas artes

a busplásticas:

Anish Kapoor Nascido em Bombaim em 1954, Kapoor cursou na prestígiada Doon School, em Dehra Dum, em seu país natal. Mudou-se para a Inglaterra em 1972, onde continuou seus estudos, desta vez no Hornsey College of Art e na Chelsea School of Design. Começou a ganhar notoriedade internacional no início dos anos 80, quando foi considerado um dos escultores britânicos que vinham explorando novos estilos de arte.

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As obras de Kapoor são frequentemente simples, formas curvas, normalmente de só uma cor ou brilhantemente colorida. Em sua maioria, a intenção é prender a atenção do público, invocando um mistério através das cavidades escuras de seu trabalho, normalmente com seu tamanho e beleza simples. Ele usa pigmento em seus trabalhos e em torno deles. Essa prática foi inspirada pelos brilhantes e coloridos pigmentos nos mercados e templos indianos. Com o passar doa anos seus trabalhos começaram a ser sólidos e muito deles possuíam aberturas cavadas e cavidades, e mexendo com opostos. (como terra-céu, material-espírito, luz-escuridão, vísivel-invísi


Gordon Matta-Clark Desenvolveu seu projeto de desfazer os espaços da arquitetura moderna encenando intervenções metafóricas em edifícios abandonados ou condenados com o intuito de questionar a autonomia e a lógica econômica pós1950 nas quais os edifícios foram rapidamente lançados em detrimento de sua função pública. O artista, através desses projetos, apontou para o desaparecimento de capítulos não documentados da memória coletiva e, consequentemente, da história e da vida desses lugares. De 1971 a 1978, Matta-Clark realizou cortes estruturais e retirou elementos de tijolos e argamassa, pisos e fachadas de casas e edifícios em Santiago, Nova Jersey, Nova York, Niágara, Gênova, Milão, Paris, Antuérpia e Chicago. O processo foi registrado em fotografias e em filme e vídeo. Tais intervenções, cuja maioria foi conduzida em áreas periféricas, exigiu um esforço físico gigantesco e estavam em lugares onde o acesso era difícil ou que, devido à sua história, foram transformados em mitos. Elas agora pertencem a um corpo de trabalho ainda mais amplo do artista, que também se ramificou em experiências culinárias, estudos alquímicos, dança, performance, desenho e fotografia. Matta-Clark era uma figura proeminente na comunidade emergente de músicos, escultores, filmmakers, video-makers, cenógrafos e dançarinos na vizinhança nova-iorquina do Soho, após do minimalismo, da arte conceitual e da land art. A partir de sua interação com essas pessoas, Matta-Clark concebeu a ideia e a prática da “anarquitetura”, transmutando a energia criativa individual em ritual compartilhado. Estes artistas ocuparam instalações industriais não utilizadas e as transformou em espaços participativos, não-hierárquicos, gerando um circuito alternativo de inserção das práticas consideradas experimentais à época. 024 , 025 E 026 - INTERVENÇÕES ARTISTICAS DE ANISH KAPOOR.

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027, 028 E 029 - INTERVENÇÕES ARTISTICAS DE Gordon Matta-Clark

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030 - EQUIPAMENTO HERMÉTIVO PARA ENTRADA NOS EDIFÍOS.


TODO ESPAÇO MAL UTILIZADO SERÁ OCUPADO O projeto da Arquiteta Diana Helene se desenvolve em três diferentes fases onde abrangem a ocupação, remodelação e melhoramento de um edifício para que seja possível ocupar e habitar o mesmo. A primeira parte do projeto, ou escala como dito pela mesma, é um abrigo hermético que facilita na entrada do edifício. O casulo se adere a carcaça da construção em questão, e servindo como um barracão comunitário, seria o abre alas para a entrada. Se assemelhando a um container, o abrigo ou casulo, teria uma gama variada de funções, e podendo aumentar seu tamanho, se abrindo como 031 - MODULAÇÃO DE ESPAÇOS. uma caixa de ferramentas, e assim que não fosse mais necessário poderia A terceira parte do projeto é a criação de uma fábrica de placas, que voltar a sua forma original. seriam utilizadas na melhoria dos espaços, reabilitação do edifício, divisão A segunda parte do projeto – a qual foi usado de referência, é a verti- de áreas, também serviriam para constituição do sistema hidráulico e elétricalização da circulação na ocupação, fazendo com todos possam ir e vir, co do prédio, passando a tubulação e os fios por entre as placas. assim não criando espaços inóspitos ou de difícil acesso. É também nessa parte do projeto onde entra a divisão de usos e espaços do mesmo, levando em consideração tamanhos de famílias, quantidades de pessoas que podem ser atendidas, e até mesmo o seus trabalhos, como uma área onde é possível estacionar os carrinhos de coleta de papelão e reciclagem na garagem do edifício. É interessante observar a modulação das áreas residenciais – assim sendo mutáveis ao passar do tempo e das pessoas que vem e vão. Ela trabalhou com três espaços de módulos, onde, como peças de lego, eles se encaixam e criam uma diversidade de espaços.

032 - MODULAÇÕES DE PLACAS.

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ÁREA DE ATUAÇÃO Centro de São Paulo, 2018, um grande edifício todo fechado, com poucas ou quase nenhuma abertura para ventilação e luz do sol penetrar, se sobressai no horizonte ao descer as ladeiras da Rua 25 de Março. São 31 andares feitos exclusivamente aos carros parados, já são quase 47 anos servindo a essa função - segundo os funcionários. Localizado no coração do comercio informal paulistano, o Edifício Garagem 25 de Março, tem como única função guardar os carros enquanto seus donos fazem suas compras. Com o levantamento de dados sobre a região percebe-se que a grande maioria dos edifícios são voltados para comércios e serviços, principalmente que se estabelecem no térreo de edifícios com mais de um andar. A região é tem consolidade uma extensa rede de mobiliário urbano - como terminais rodoviários, escolas, postos de sáude, vias de acesso rápido e com diversos pontos importantes de lazer e história da capital próximo, como a Praça da Sé e o Pateo do Colégio. Podemos perceber que a quantidade de edifícios e residências de médio e alto padrão vem aumentando na região, o que acaba gerando o efeito de gentrificação³ na região, e afastando os trabalhadores da região, os levando morar cada vez mais longe do centro.

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3. Um processo de gentrificação possui bastante semelhança com um projeto de revitalização urbana, com a diferença que a revitalização pode ocorrer em qualquer lugar da cidade e normalmente está ligada a uma demanda social bastante específica, como reformar uma pracinha de bairro abandonada, promovendo nova iluminação, jardinagem, etc. E quem se beneficia da obra são os moradores do entorno e, por tabela, a cidade toda. A gentrificação, por sua vez, se apoia nesse mesmo discurso de “obras que beneficiam a todos”, mas não motivada pelo interesse público, e sim pelo interesse privado, relacionado com especulação imobiliária. Logo, tende a ocorrer em bairros centrais, históricos, ou com potencial turístico.

033 E 034 - LOCALIZAÇÃO DO EDIFÍCIO, RECORTE MACRO


USO E OCUPAÇÃO

MAPA DE EQUIPAMENTO

MAPA DE MOBILIDADE

035 E 036 - LOCALIZAÇÃO DO EDIFÍCIO, RECORTE MÉDIO

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037 - FACHADA VIRADA PARA LESTE, PARA TERMINAL // 038 - FACHADA VIRADA PARA OESTE.


039 - FOTOS REAIS DO OBJETO DE ESTUDO.

040 - FOTOS REAIS DO OBJETO DE ESTUDO.

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O edifício conta com 31 andares, 93 metros de altura, em uma área muito bem localizada, servida dos mais diversos equipamentos urbanos, onde poderia estar movimentando a região de outra forma - deixando de lado o carro parado, para dar abrigo a pessoas de movimentos e em movimento em busca de moradia . Ao subverter o edifício de uso único para um com uma pluralidade deles, fazemos com que ele ganhe novos ares e uma nova perspectiva na paisagem, além de alimentar a região. O projeto desenvolve-se para trazer auxilio para as pessoas que sofreram com reintegrações de posse e/ou estão saindo/indo para as ruas, assim nescessitando de um local estruturado parra ficar, assim elas podem ter amparo de movimentos de lutas por moradias e assessorias técnicas - que auxiliariam na reestruturação dessas novas ocupações.

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No térreo o edifício conta com seis elevadores para carros, que atendem os 31 andares, e a rampa que antigamente era usada. Neste local também temos acesso da Rua 25 de Março até a Av. Dom Pedro II, mas sendo de acesso apenas para carros e pessoas que irão utilizar o estacionamento.

041 - FECHADA COLTADA PARA 25 DE MARÇO. // 042 - FACHADA VIRADA PARA TERMINAL DOM PEDRO II

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Para começar as intervenções no prédio, a primeira mudança é no térreo, transformando ele em uma área de passagem, para não somente os futuros moradores, mas também para todos que por ali passam, criando uma travessia mais rápida entre a área comercial – 25 de Março, e a os terminais rodoviários.

043/044 - ÁREA DE ENTRADA E SAIDA DOS AUTOMÓVEIS.

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Para que haja uma distinção de quem pode usar determinados andares, os três elevadores de uso residencial recebem uma portaria digital que delimita a entrada. Os elevadores de uso para moradores tpodem parar em todos os andares, entretanto, os elevadores e rampas de uso de não moradores tem paradas em andares específicos. Com uma perspectiva parecida a de um hostel, os indivíduos ou famílias, contariam com áreas de comercio, lazer, cozinha e banho – comunitários, todos esses andares seriam de uso exclusivos para moradores. Levando em consideração as informações do texto MULHERES NA HABITAÇÃO (pág. 43, deste mesmo trabalho), criou-se andares de uso restrito para mulheres sozinhas ou mães solos, assim criando-se um ambiente mais seguro e acolhedor para as mesmas. t Para que haja manutenção alguns dos andares comerciais foram destinados para uso de não moradores, onde os mesmos pagariam alugueis para usar o espaço, e toda renda seria revertida para uso do edifício. Andares como os institucionais que oferecem cursos - dados pelos próprios moradores, ficariam a critério dos mesmo a cobrar ou não.

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A forma que o prédio é visto também sofreu alterações, como a criação de balanços de 5m, que alongariam os espaços e suas lajes utilizadas como varanda do andar superior. Elas foram estrategicamente pensadas para que se aumentasse áreas de grande uso, como cozinhas, banheiros e moradias.

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As fachadas laterais recebem enormes rasgos e rachaduras e a inserção de vidros na cor vermelha, o objetivo principal é trazer tensão e atenção para a área e para o tema das ocupações e moradias. Os vidros pelo lado de fora brincam com a ilusão de um curativo ou remendo nessas grandes fendas, tal como as políticas públicas atuais, que não atendem a todos e que são apenas remendos e medidas paliativas para a questão. É uma mudança interna e externa, de como as pessoas irão habitar e ocupar – de forma planejada e com assistência - esse edifício, e de como ele irá se mostrar a cidade, um grande marco de resistência e luta da causa por mais moradias.

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0.11 POSFÁCIO_

É madrugada do dia 21 para 22 de novembro, os últimos detalhes estão sendo dados, a criação deste trabalho se aproxima do fim. Meu celular toca e a mensagem na tela me faz estremecer: “você viu isso?”, e seguia um print screen do Instagram dos @jornalistaslivres. Mais uma ocupação estava pegando fogo. Após algumas mensagens trocadas, descubro ser a Prestes Maia, a maior o ocupação vertical da América latina. O coração se abala, lembro da Wilton Paes de Almeida. Antes do amanhecer, o fogo já tinha sido controlado, e não havia vítimas... Ou havia? Viver em uma ocupação não é uma escolha, é um respiro para sobreviver e resistir as dificuldades. A certeza é que, se pudessem, essas pessoas não viveriam daquela forma. Todos são vítimas de uma sociedade cada vez mais excludente e hipócrita, que se orgulha de acabar com programas sociais, ONGs, e de taxar moradores de ocupações de terroristas. A confluência de histórias são muitas, mas a certeza é única: falta moradia digna para essas pessoas. E voltando lá naquela mensagem que recebi, e que me fez pensar tudo isso, percebo que escolhi o tema certo na hora certa, mesmo com muita insegurança. O resultado é um reflexo do que acredito na arquitetura, que não deve ser apenas para casa de condomínio bem planejada, mas sim para todos, assim como a cidade e habita-la também o são.

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LISTA DE IMAGEM 001 - 001-VOO DIRIGIVEL GRAF ZEPPELIN SOBRE O EDIFICIO MARTINELLI (FOTO: KRAUS,ALFREDO-1935.) FONTE: http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/handle/bras/5598 ACESSO: 09/11/2018.

020 – OCUPAÇÃO DE IMÓVEL ABANDONADO NO CENTRO DE SÃO PAULO FONTE: https:// www.flickr.com/photos/elainecampos/6322367160 ACESSO 10/05/2018.

002 / 003 – VALE DO ANHANGABÁU FOTOS: WERNER HABERKORN FONTE: https://memoriadodaee.wordpress.com/2013/04/29/sao-paulo-antiga-vamos-recordar/ ACESSO: 29/04/2018.

021 e 022 – OCUPAÇÃO DE WILTON PAES DE ALMEIDA APÓS O INCÊNDIO DO DIA 01/05/2018 FONTE: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/03/politica/15253009055 _ 63422.html ACESSO 10/05/2018 ACESSO 05/05/2018

004 – PRAÇA RAMOS DE AZEVEDO FOTOS: WERNER HABERKORN FONTE: https://memoriadodaee.wordpress.com/2013/04/29/sao-paulo-antiga-vamos-recordar/ ACESSO: 29/04/2018. 005 – AVENIDA 09 DE JULHO FOTOS: WERNER HABERKORN FONTE: https://memoriadodaee.wordpress.com/2013/04/29/sao-paulo-antiga-vamos-recordar/ ACESSO: 29/04/2018. 006 – REI MOMO NO CARNAVAL PAULISTA FOTOS: WERNER HABERKORN FONTE: https://memoriadodaee.wordpress.com/2013/04/29/sao-paulo-antiga-vamos-recordar/ ACESSO: 29/04/2018. 007 – PRAÇA DA SÉ 1955 FOTOS: WERNER HABERKORN FONTE: https://memoriadodaee.wordpress.com/2013/04/29/sao-paulo-antiga-vamos-recordar/ ACESSO: 29/04/2018. 008 – PRÉDIO BANESPA 1955. FOTOS: WERNER HABERKORN FONTE: https://memoriadodaee.wordpress.com/2013/04/29/sao-paulo-antiga-vamos-recordar/ ACESSO: 29/04/2018. 009 – A CIDADE HOJE FOTO: @matheusbribeiro FONTE: https://www.instagram.com/p/BTRDqHIld0O/?utm_source=ig_embed ACESSO: 18/11/2018. 010 – GRAFITES NO BAIRRO DA LIBERDADE. FOTO: @CINZA011 FONTE: https://www.instagram. com/p/BY7b_ OSFFul/?utm_source=ig_embed ACESSO: 18/11/18. 011 – VISTA A PARTIR DO MINHOCÃO, AO FUNDO EDIFÍCIO COPAN. FOTO: @UNCAPTURED FONTE: https://www.instagram.com/p/BZGXlKShxa-/?utm_source=ig_embed ACESSO: 19/11/2018. 012 – ESQUEMA TEÓRICO PLANO PRESTES MAIA FONTE:_ _ ACESSO:_ _. 013 – LARGO DA MISERICÓDIA FOTO:_ _ _ FONTE: _ _ ACESSO: _ _. 014 – DESENHO NAS PAREDES DA OCUPAÇÃO 63. FOTO: FEITA PELA AUTORA. 30/04/2018. 015 – ESCADA EM CARACOL FOTO: FEITA PELA AUTORA. 30/04/2018. 016 – INTERVENÇÕES FOTO: FEITA PELA AUTORA. 30/04/2018. 017 – ALEXA FOTO: FEITA PELA AUTORA. 30/04/2018.

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019 – MANIFESTAÇÃO POR MELHORES CONDIÇÕES DE MORADIA, ORGANIZADA PELO MTST. FONTE: http://sociologiacienciaevida.com.br/entenda-a-luta-do-mtst/ ACESSO 10/05/2018.

018 – HISTÓRIA EM QUADRINHOS SOBRE OCUPAÇÃO. Em: https://www.facebook.com/joaoyukio. nakacima ACESSO: 29/11/2018

023 – GRAFITE DE ANARKIA BOLADONA. LUTO COMO MULHER, Rio de Janeiro 2010. FONTE: https://www.hypeness.com.br/2015/09/10-grafiteiros-brasileiros-que-fazem-sucesso-na-gringa/ ACESSO: 22/11/2018 024, 025 e 026 - INTERVENÇÕES ARTISTICAS DE ANISH KAPOOR. FONTE: http://anishkapoor.com/ ACESSO: 13/10/2018 027, 028 E 029 - INTERVENÇÕES ARTISTICAS DE GORDON MATTA KLARK. FONTE: http://mam. org.br/exposicao/gordon-matta-clark-desfazer-o-espaco/ ACESSO: 13/10/2018 030, 031 E 032 – DESENHOS DO CADERNO DE TFG DE DIANA HELENE. Unicamp, 2005. 033 E 034 - LOCALIZAÇÃO DO EDIFÍCIO, RECORTE MACRO. FOTO: GOOGLE EARTH EDIÇÃO: AUTORA. 035 E 036 - LOCALIZAÇÃO DO EDIFÍCIO, RECORTE MÉDIO. FOTO: GOOGLE EARTH EDIÇÃO: AUTORA. 037 - FACHADA VIRADA PARA LESTE, PARA TERMINAL . FOTO: GOOGLE EARTH EDIÇÃO: AUTORA. 038 - FACHADA VIRADA PARA OESTE. FOTO: GOOGLE EARTH EDIÇÃO: AUTORA. 039- FOTOS REAIS DO OBJETO DE ESTUDO. FOTO: FEITA PELA AUTORA. 30/04/2018. 040 - FOTOS REAIS DO OBJETO DE ESTUDO. FOTO: FEITA PELA AUTORA. 30/04/2018. 041 - FECHADA VOLTADA PARA 25 DE MARÇO. FOTO: GOOGLE EARTH EDIÇÃO: AUTORA. 042 - FACHADA VIRADA PARA TERMINAL DOM PEDRO II. FOTO: GOOGLE EARTH EDIÇÃO: AUTORA. 043/044 - ÁREA DE ENTRADA E SAIDA DOS AUTOMÓVEIS. FOTO: FEITA PELA AUTORA. 30/04/2018. 044 – EDIFICO PRESTES MAIA. ACESSO: http://www.saopauloantiga.com.br/cia-nacional-de-tecidos/ EM: 22/11/2018


LIVROS BONDUKI, Nábil. Habitar São Paulo: reflexões sobre a gestão urbana. Estação Liberdade, São Paulo, 2000. BONDUKI, Nábil. Origens da Habitação Social no Brasil. Estação Liberdade, São Paulo, 2013. COSTA, André D. HELENE, Diana. TERRA, Ulisses. A Ocupação Como Luta Pelo Direito à Cidade. Seminário Política e Planejamento: Economia, Sociedade e Território: “ Estado e Lutas Sociais: intervenções e disputas no território”, 2008, Curitiba. p.05 HELENE, Diana. Mulheres E Direito À Cidade A Partir Da Luta Dos Movimentos De Moradia. Simpósio Temático: Práticas, reflexões e desafios da abordagem de gênero no campo da arquitetura e urbanismo. Salvador, 2018. HELENE, Diana. Todo espaço mal utilizado será ocupado. TFG. Unicamp, Campinas, 2005. HELENE, Diana. A Guerra dos Lugares – Nas ocupações de edifícios abandonados no centro de São Paulo. Mestrado. USP, 2009. KLINTOWITZ, Danielle. ROLNIK, Raquel. (I)Mobilidade na Cidade de São Paulo. Estudos Avançados XXV, USP, 2011. MARICATO, Erminia. Habitação e Cidade. Atual Editora, 2010. MARTINS, José de Souza. A Aparição do Demônio na Fábrica. Editora 34, São Paulo, 1938.

FILMES ERA O HOTEL CAMBRIDGE. Direção: Eliane Caffé, 2016.

AUDIOS Podcast Mamilos - #146 Crise Habitacional. Criação: Equipe B9, 04/05/2018.

PERIODÍCOS VITRUVIOS – Incubadoras urbanas. Políticas de revitalização urbana através de subculturas. A experiência paulistana e o contexto internacional - http://www. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.058/487 VITRUVIUS - Zakia, Silvia P. Anish Kapoor no Grand Palais de Paris. Enquanto a obra não chega em Inhotim. – Link: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ drops/12.057/4377

SITIOS DA INTERNET Portal do movimento Frente de Luta por moradia (FLM) http://www.portalflm.com.br/ Ibope - Pesquisa De Opinião Pública Sobre A Satisfação Com A Qualidade De Vida Na Cidade E Avaliação De Serviços Públicos Https://nossasaopaulo.org.br/ portal/arquivos/irbem/irbem2016-tabelas.pdf

ROLNIK, Raquel. A Cada Remoção, Uma Nova Ocupação. PEREIRA, Oliveira de Campos Maia. A Luta por Moradia no Centro de São Paulo. Conflu- Em: https://raquelrolnik.wordpress.com/ Acesso: 05/05/2018. ência de Temas e Atores. Doutorado, USP, 2012. PERETO, Flávia T. Reabilitação Urbana na Região da Estação da Luz. TFG, USP, 2011.

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GORDON MATTA CLARK http://mam.org.br/exposicao/gordon-matta-clark-desfazer-o-espaco/

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ESSE TRABALHO FOI ESCRITO COM A MÃO ESQUERDA


INSTRUÇÕES PARA ESQUIVAR O MAU TEMPO Paco Urondo Em primeiro lugar, não se desespere e em caso de agitação não siga as regras que o furacão quererá lhe impor. Refugie-se em casa e feche as trancas quando todos os seus estiverem a salvo. Compartilhe o mate e a conversa com os companheiros, os beijos furtivos e as noites clandestinas com quem lhe assegure ternura. Não deixe que a estupidez se imponha. Defenda-se. Contra a estética, ética. Esteja sempre atento. Não lhes bastará empobrecê-lo, e quererão subjugá-lo com sua própria tristeza. Ria ostensivamente. Tire sarro: a direita é mal comida. Será imprescindível jantar juntos a cada dia até que a tormenta passe. São coisas simples, mas nem por isso menos eficazes. Diga para o lado bom dia, por favor e obrigado. E tomar no cu quando o solicitem de cima. Dê tudo o que tiver, mas nunca sozinho. Eles sabem como emboscá-lo na solidão desprevenida de uma tarde. Lembre que os artistas serão sempre nossos. E o esquecimento será feroz com o bando de impostores que os acompanha. Tudo vai ficar bem se você me ouvir. Sobreviveremos novamente, estamos maduros. Cuidemos dos garotos, que eles quererão podar. Só é preciso se munir bem e não amesquinhar amabilidades. Devemos ter à mão os poemas indispensáveis, o vinho tinto e o violão. Sorrir aos nossos pais como vacina contra a angústia diária. Ser piedosos com os amigos. Não confundir os ingênuos com os traidores. E, mesmo com estes, ter o perdão fácil quando voltarem com as ilusões acabadas. Aqui ninguém sobra. E, isto sim, ser perseverantes e tenazes, escrever religiosamente todos os dias, todas as tardes, todas as noites. Ainda sustentados em teimosias se a fé desmoronar. Nisso, não haverá trégua para ninguém.

A poesia dói nesses filhos da puta.




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