O grande Gatsby

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Olhamos os dois para o gramado. Havia uma nítida divisão entre o lugar em que terminava meu capinzal e começava a extensão mais escura e muito mais bem-cuidada de seu gramado. Suspeitei que ele pretendia mandar cortar a minha grama. – Há mais uma coisinha – disse ele, um tanto incerto; fez uma pausa antes de continuar. – Você prefere adiar para daqui a uns dias? – perguntei. – Ah, não, não é isso. Quer dizer... – ele parecia encabulado, atrapalhando-se, tentando começar uma frase e depois outra. – Bem, eu pensei... Ora, escute aqui, meu velho, você não ganha muito, ganha? – Não, não ganho muito. Minha resposta pareceu deixá-lo mais seguro de si e ele prosseguiu, agora com maior confiança: – Pois é, eu pensei que não, desculpe-me por me meter... Quer dizer, tenho alguns pequenos negócios colaterais, uma espécie de empresa secundária, você sabe como é. E eu pensei que, já que você não está ganhando muito... Você está vendendo ações, não está, meu velho? – Pelo menos, estou tentando. – Bem, acho que isto vai interessá-lo. Não vai tomar muito do seu tempo, mas você pode conseguir um bom dinheiro. O único problema é que se trata de uma coisa bastante confidencial. Percebo agora que, sob diferentes circunstâncias, esta conversa poderia ter levado a uma grande transformação em minha vida. Porém, uma vez que aquela oferta era uma tentativa desajeitada de me recompensar por um serviço a ser prestado, não tive escolha senão cortar o assunto na mesma hora. – Não tenho tempo para mais nada – falei. – Agradeço-lhe muito, mas não dá para pegar um trabalho extra. – Você não precisaria trabalhar com Wolfsheim – garantiu-me. Sem dúvida, ele pensava que eu estava me esquivando da “gonegsão” mencionada à hora do almoço. Mas garanti-lhe que a questão não era essa. Ele aguardou por mais um momento, esperando que eu puxasse algum assunto e prolongasse a conversa, porém descobriu que eu estava distraído demais e sem disposição para novos assuntos e assim, contra a própria vontade, ele foi embora. A noite me havia deixado feliz e com a cabeça leve; acho que caí em um sono profundo no momento em que cruzei a porta da frente. Assim, não sei se Gatsby foi ou não a Coney Island ou por quantas horas mais ficou “dando uma vistoriada nas peças” enquanto a casa fulgurava em alegria. Telefonei para Daisy na manhã seguinte, convidando-a para ir até minha casa a fim de tomar chá comigo. – Mas não traga o Tom – avisei. – O quê?


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