Tecnologia pra quê?

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Ele incentivou refletir sobre o espaço público (HABERMAS, 1984). Essa tese reconhece o debate e a apropriação da informação pelos atores sociais, tendo como locus os espaços comuns de convivência nos conglomerados urbanos, visando ao embate de questões políticas, culturais e econômicas fundamentais à vida. Este movimento acaba por fomentar, especialmente na América Latina dos anos de 1980-90, as lutas pela democratização da comunicação, encrustadas nas campanhas contra as ditaduras militares dominante nos governos centrais. O momento histórico mereceu observações diversas entre os pesquisadores da comunicação contemporânea. E chama a atenção quando observa-se a comunicação dos trabalhadores realizada no Brasil da segunda metade do século XX e encontram-se “elementos que permitem entender essas décadas como catalisadoras do amadurecimento dos movimentos sociais, comunitários e sindicais na América Latina” (BENEVENUTO JR; CASTRO, 2005, p. 337-338), apontando o crescimento do setor nos âmbitos político e social, com o apoio de instituições tradicionais, como as igrejas, as organizações federativas e as profissionais, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). O modelo de comunicação em questão foi inspirado nos movimentos de trabalhadores mineiros da Bolívia (com suas rádios comunitárias); na imprensa nanica brasileira dos anos 1960/70 e, mais tarde, recebeu a influência dos movimentos contra a carestia das associações de bairro de São Paulo, que tiveram a colaboração de religiosos ligados à Teologia da Libertação no começo dos anos 1980. Nesse período, os integrantes da resistência política investiram na realização de processos alternativos de comunicação, construindo uma imprensa própria e independente das firmas tradicionais, com a intenção de desenvolver a consciência política e criar uma resistência social às propostas e à metodologia militar. É uma comunicação que se constituiu a partir das organizações so176 Tecnologia, pra quê?


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