007: A Morte no Japão - Ian Fleming

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preto da roupa de ninja, evitava o contato com a vegetação, que emitia uma variedade de odores e aromas sempre diversos, entre os quais só pôde reconhecer, e isso graças a antigas aventuras no Caribe, o perfume açucarado da Piscidia erythrina. Chegou ao lago, vasto lençol de água prateada de onde subia a tênue nuvem de vapor que havia notado na fotografia aérea. Enquanto se detinha a contemplá-lo desprendeu-se uma grande folha de uma das árvores vizinhas e caiu a revolutear, indo pousar, por fim, na superfície do lago perto de onde êle estava. Ato contínuo, houve na água um movimento que buscava a folha direito como uma flecha, formando pequenas maretas que se apagaram tão depressa como haviam surgido. O lago continha alguma espécie de peixe, que certamente seria carnívoro. Só os carnívoros mostram semelhante alvoroço à perspectiva de uma presa. Na margem oposta deparou-se a Bond a primeira das fumarolas, poço de lama sulfurosa e borbulhante que estremecia de segundo em segundo, lançando pequenos esguichos verticais. Bond sentiu-lhe o calor de vários metros de distância. Jatos de vapor fétido subiam no ar e desapareciam como espectros. Desse ponto, podia êle já avistar acima das copas das árvores a silhueta irregular do castelo com os seus torreões em forma de pagode; continuou a avançar com redobrada cautela, prevenido contra o cascalho denunciador que rodeava a casa. De súbito, por entre os troncos, avistou-a bem à sua frente. Deteve-se à sombra do arvoredo, procurando acalmar as pancadas furiosas de seu coração. A pequena distância, a imensa mole negra e dourada elevava-se monstruosamente acima dele e os tetos recurvos de cada andar iam diminuindo progressivamente para cima, como asas de morcego contra o fundo do céu estrelado. Era ainda maior do que Bond havia imaginado, e ainda mais formidável o muro de sustentação feito de blocos de granito preto. Considerou o problema da entrada, aparentemente insolúvel. Do outro lado devia ficar a porta principal e o muro mais baixo, dando para a campina rasa. Mas acaso não possuíam todos os castelos uma segunda entrada, a “porta da traição” nos níveis inferiores, prevendo uma fuga pelos fundos? Bond avançou cauteloso, assentando no chão, de cada vez a planta inteira do pé, de modo que mal deslocava o cascalho. Os numerosos olhos do castelo, refletindo a resplandecente brancura do luar. o viam aproximar-se com indiferença do poder total. Esperava a cada instante a réstia branca de um farol ou a chama azul e amarela de uma arma de fogo. Mas alcançou sem novidade a base do muro e seguiu ao longo dele pela esquerda, Iembrando-se de ter aprendido na escola que a maioria dos castelos tinham uma saída ao nível do fosso, por baixo da ponte levadiça. 147


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