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Gabriela Teodoro Portela: Como construir sonhos e memórias felizes para as crianças

A sua vida profissional desenrolou-se em várias áreas, mas descobriu a sua vocação na educação infantil, tendo fundado «A Aldeia dos Sonhos», um projeto já com 12 anos e uma equipa composta apenas por mulheres, a qual pretende educar as crianças como se fossem os seus próprios filhos.

Os primeiros anos de vida são extremamente importantes no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. Por se tratar de um período de maior plasticidade, estão extremamente suscetíveis a influências externas, quer sejam experiências positivas e/ou negativas, as quais terão um forte impacto no seu desenvolvimento global. Nesse sentido, a creche ou o infantário que frequentam, assim como a forma como são tratados ou as temáticas com as quais contactam irão, inevitavelmente, afetar e moldar o seu desenvolvimento e personalidade.

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Tendo em mente a melhor educação para os seus próprios filhos, Gabriela Teodoro Portela fundou, em 2008, a «Aldeia dos Sonhos», englobando uma creche e um jardim de infância. O seu objetivo foi criar uma creche que fosse a “extensão da família, onde as crianças se sentissem em casa e onde os pais pudessem deixar os seus filhos com tranquilidade e segurança”, como nos refere. Tal como o nome indica, ambicionam construir sonhos e memórias felizes nas crianças.

A sua vida profissional não esteve, de todo, relacionada com as áreas educativas. Quando terminou o ensino secundário, viu-se obrigada a entrar no

mercado de trabalho e, com apenas 18 anos, trabalhou no Sporting Clube de Portugal, onde foi recebida com muito carinho, ainda que fosse completamente inexperiente: “Estava numa idade em que absorvia tudo quanto me era ensinado e, por isso, trabalhar no Sporting Clube de Portugal foi, talvez, a experiência profissional que mais me marcou”, recorda, com saudade, tendo desempenhado funções em vários departamentos ao serviço do clube, entre as quais a publicidade, a contabilidade e a direção desportiva.

Trabalhou ainda no departamento de relações públicas do Automóvel Clube de Portugal durante vários anos, acumulando experiências que lhe permitiram afirmar-se como uma pessoa mais versátil e melhor profissional.

Gabriela Teodoro Portela sempre alimentou o desejo de criar um negócio próprio, mas não conseguia decidir em que área apostar. Foi então que descobriu a sua vocação numa IPSS vocacionada para a educação infantil. Assim, mesmo trabalhando na parte administrativa dessa instituição, conseguiu

“Estava numa idade em que absorvia tudo quanto me era ensinado e, por isso, trabalhar no Sporting Clube de Portugal foi, talvez, a experiência profissional que mais me marcou”

Recreio

vivenciar as dinâmicas educativas infantis, as quais lhe despertaram o maior interesse.

Durante o tempo que trabalhou nesta IPSS adquiriu um conhecimento profundo da parte burocrática e administrativa do seu funcionamento. A nível pedagógico, encetou várias formações, socorreu-se de bibliografia dedicada à pedagogia infantil, ainda que sem o objetivo de participar na direção pedagógica, mas porque considera essencial que um líder detenha noções básicas sobre todos os assuntos, não descurando a sua formação pessoal direcionada para a liderança de equipas.

Crente de que a formação é essencial, todavia, para Gabriela Teodoro Portela, a teoria e a prática são inteiramente diferentes: “O segredo de qualquer negócio é cercar-se de pessoas que gostam do que fazem, que trabalham com o coração, principalmente nesta área. Ter uma equipa estável, é meio caminho andado para o sucesso.” Neste caso, a sua equipa é composta por 11 mulheres, a qual assume não ter sido uma exigência, dado que 99% das candidaturas no processo de recrutamento foram assinadas por mulheres.

Simultaneamente, mais de metade da equipa são mães, o que reforça a visão que Gabriela Teodoro Portela aspira para a «Aldeia dos Sonhos», onde os alunos são tratados como se fossem os seus próprios filhos: “São idades muito tenras, onde devem predominar os afetos e a sensibilidade para educar cada criança na sua individualidade. Penso que, nesse aspeto, as mulheres, com o chamado ‘sexto sentido’ estão mais despertas.” Não obstante, existem, no entanto, atividades extracurriculares lecionadas por homens, tais como o judo e a natação, por exemplo.

A «Aldeia dos Sonhos» começou por ser apenas uma creche, mas, após alguns anos e a pedido dos pais, os quais desejavam que os filhos aí permanecessem até à transição para o 1.º ciclo de escolaridade, alargaram a oferta educativa para albergarem um jardim de infância. De momento, a «Aldeia dos Sonhos» possui capacidade de acolher 53 crianças, mas, segundo a sua mentora, não é suficiente para responder a todos os pedidos de entrada.

Ao longo de 12 anos, a «Aldeia dos Sonhos» foi-se adaptando às necessidades pedagógicas e outras exigências funcionais, sendo que os métodos de disciplina parental transformaram-se em virtude, in-

“O segredo de qualquer negócio é cercar-se de pessoas que gostam do que fazem, que trabalham com o coração, principalmente nesta área. Ter uma equipa estável, é meio caminho andado para o sucesso.”

clusive, do desenvolvimento tecnológico: “As novas tecnologias vieram causar um grande impacto no desenvolvimento infantil (…). O facto dos pais, fruto da sua atividade laboral, manipularem constantemente telemóveis/tablets faz com que se crie na criança um interesse e curiosidade nestes objetos. Se é verdade que alguns conteúdos podem ser estimulantes a nível cognitivo, como em tudo, quando há excessos acaba por ser prejudicial.” Para Gabriela Teodoro Portela, esta nova dinâmica interativa das crianças com as tecnologias é fruto da sociedade atual, onde os pais levam trabalho para casa e não possuem tanto tempo útil com os seus filhos, sendo muito mais fácil entretê-las com ecrãs.

Para estabelecer uma relação saudável entre as crianças e as novas tecnologias é fundamental, então, estabelecer regras muito simples: “Devemos educar com amor, mas também com limites e respeito pelo adulto e pelos pares. O amor é uma linguagem universal que deve ser sempre utilizada, mas, contudo, é importante não confundi-la com permissividade. Dizer ‘não’ também é uma forma de amar”, conclui, perentoriamente.

A pandemia interferiu, inevitavelmente, com as dinâmicas educacionais e o desenvolvimento das crianças. Apesar de tudo, simples atividades como explorar, brincar e viver em grupo são partes essenciais do desenvolvimento saudável e muitas crianças viram-se privadas dessas experiências. Com os pais em teletrabalho, o aumento do tempo em casa não se traduziu para num aumento do tempo gasto em família: “Estou certa que tenha sido uma grande frustração para os pais e demasiado cansativo tentar conciliar trabalho e atenção/cuidados que uma criança necessita.”

Essa privação reflete-se no desenvolvimento global das crianças, as quais poderão acusar, no regresso à escola, alguns retrocessos educativos em competências adquiridas, tal como o desfralde e até mesmo em questões cognitivas, exemplifica Gabriela Teodoro Portela.

De modo a diminuir esse impacto, a «Aldeia dos Sonhos» esforçou-se para manter um contacto diário com as suas crianças através de uma plataforma educativa para comunicar com os pais, o que facilitou a adaptação a novas formas educativas. Durante o primeiro confinamento partilharam propostas de atividades diárias, adaptadas a cada faixa etária, além de sessões síncronas semanais com cada turma, tentando manter o contacto com as crianças e, principalmente, para que estas pudessem ver os seus amiguinhos e partilhar vivências em comum.

Neste segundo confinamento, os responsáveis da «Aldeia dos Sonhos» decidiram ir mais longe e deram seguimento a atividades extracurriculares com sessões diárias de judo, língua inglesa, música, ballet e dança criativa com a turma do jardim de infância. Foi a melhor forma que encontraram para manter as crianças “ativas e ligadas à rotina escolar”, conclui Gabriela Teodoro Portela.

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