Jornal A notícia por quem vive - Ed. 5

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A N O T Í C I A P O R Q U E M Cidade V I V E | de N ODeus VEMBR O ‐ DEZEMBR O 2012

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Novembro ‐ Dezembro de 2012 ‐ Ano III ‐ No 5

Você conhece a dislexia?

A dislexia afeta muitas crianças e pode aparecer na idade escolar. Fique atento.

09 Como vão as obras na Cidade de Deus?

O Bairro Maravilha já está atuando com obras na CDD, mas como está o andamento? Qual a qualidade dessa intervenção?

03 Moradores pedem cuidado com CIEP que também é EDI

Moradores do Pantanal II pedem melhorias para o CIEP Luiz Carlos Prestes – que também funciona como um EDI – e seu entorno. A área está em total abandono.

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E MAIS... Editorial................................................................2

Livro Registro Eterno de Nossas Memórias..................12

Banco Comunitário da Cidade de Deus.........................4

Charges e receitas..................................................13

GAL ACOPROVI recebe certificação do UNICEF...............5

Casa de Cultura Cidade de Deus................................14

Cidade de Deus e Maré na Rio+20...............................7

Feira de saúde da Cidade de Deus.............................16

A militância poética na Cidade de Deus......................10

10 anos ASVI........................................................16


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A NOTÍCIA POR QUEM V IVE | NOVEMBR O ‐ DEZEMBR O 2012

Editorial por SOLTEC ‐ UFRJ

Muito trabalho e mais um jornal está nas ruas da Cidade de Deus Mais uma vez vem às ruas o jornal A notícia por quem vive. Este jornal é resultado de muito trabalho, esforço e dedicação de cada membro que o compõe, todos moradores da Cidade de Deus. Todos moradores interessados em trocar com seus vizinhos e mostrar para os olhares externos o que se passa nesta favela para além do olhar da grande mídia comercial (os jornais mais acessados nas bancas, as redes de televisão). Nesta edição, o leitor vai

saber como anda a situação de abandono do CIEP Luiz Carlos Prestes, um dos EDIs (Espaços de Desenvolvimento Infantil) da Prefeitura, na matéria de Maria do Socorro. Também vai ver qual a real situação dos moradores com as obras do Bairro Maravilha, segundo o olhar de Cilene Vieira, repórter do jornal. E vai ainda saber como anda o funcionamento do Banco Comunitário inaugurado em 2011 na Cidade de Deus, em matéria de Joana Campos. A Cidade de Deus participou, em junho, do evento da ONU que reuniu diversos países para discutir questões socioambientais, a Rio +20. Aqui, o leitor poderá acompanhar o evento nas fotos de Angélica Ponciano. E ainda

conhecer a Casa de Cultura da Cidade de Deus, o sarau Poesia d'Esquina, saber como foi a participação da comunidade na FLUPP (Festa Literária das UPPs) e na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty). São tantas coisas que a Cidade de Deus tem para contar! Acompanhe o jornal A notícia por quem vive. Leia. Divulgue. Colabore como repórter, conheça este grupo e esta proposta independente. O jornal está na internet, no site do Portal Comunitário da Cidade de Deus. É só visitar www.cidadededeus.org.br e nos enviar uma mensagem. A CDD sempre teve voz, agora tem por onde gritar.

Expediente Novembro a Dezembro de 2012 FUNDADORES:

Colaboradores:

Ariana Apolinário, Celso Alexandre Alvear, Cilene Vieira, Dara Bandeira, Dayse Vieira, Felipe Brum, Joana da Conceição Campos, João Carlos Souza, José Alberto, Julcinara Vilela, Landerson Soares, Leila Martiniano, Maria Angélica Ponciano, Marília Gonçalves, Mônica Rocha, Rita de Cássia, Rosalina Britto, Valéria Barbosa da Silva

Valéria Barbosa, Wellington de Moraes França, Ana de Almeida Ribeiro, Anderson Augusto de Souza Pereira, Maria Luiza Tavares Benício

Membros do jornal: Maria Angélica Ponciano, Cilene Vieira, Felipe Brum, Joana da Conceição Campos, José Alberto, Julcinara Vilela, Mônica Rocha, Rosalina Britto

Revisão de textos: Marília Gonçalves, Camille Perissé e Amanda Azevedo Diagramação: Isis Reis Agradecimentos: Ao Bairro Educador e, especialmente, aos diagramadores deste jornal: Isis Reis, nesta edição, Diana Helene, Alan Tygel e César Campos nas demais. Apoio: CDD, SOLTEC/UFRJ e ASVI Este jornal foi diagramado utilizando somente programas de computador livres: Scribus, Gimp, LibreOffice e Ubuntu. Use Software Livre!!

Visite o Portal da CDD >> http://www.cidadededeus.org.br


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A NOTÍCIA POR QUEM V IVE | NOVEMBR O ‐ DEZEMBR O 2012

Como estão as obras na Cidade de Deus? por Cilene Regina Vieira da Cruz

Segundo informações dos moradores, as obras da Cidade de Deus iniciaram em julho de 2011, para que as necessidades fossem supridas na comunidade, acabando com as valas de esgoto que corriam em algumas partes dela. Mas tem alguns problemas que não estão agradando os moradores. Várias ruas estão sendo quebradas de uma só vez, dificultando o trâmite da população; os paralelepípedos, que já têm quase meio século de existência, estão sendo retirados e não sabemos para onde estão sendo levados. Nessa

substituição, o material que está sendo posto é de uma inferioridade tão grande que, quando um automóvel subir a calçada, o mesmo se rachará. O que nos preocupa demais é o desperdício de material, algumas calçadas são feitas numa semana e na outra já é tudo quebrado novamente para ser refeito. Há buracos abertos nas ruas com a tubulação das redes fluviais junto a máquinas que ficam ligadas durante horas, nos trazendo uma poluição sonora horrível, que mal dá para ficarmos dentro de casa. Sem

falar da quantidade de poeira a que estamos expostos, com uma grande probabilidade de nossas crianças e idosos contraírem doenças respiratórias. Então mudaremos para outra problemática que é a saúde, que, infelizmente, está doente. Essas obras de melhorias na Cidade de Deus não são gratuitas, não. Pagamos os nossos impostos para obtermos conquistas em todos os sentidos: Saúde, Educação, Habitação e Lazer.


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Banco Comunitário da Cidade de Deus por Dona Joana

O Banco pratica a Economia Solidária, serve para promover o desenvolvimento local, financiando a produção e o consumo, formando redes locais de produtores, consumidores e atores sociais. É o primeiro banco na Cidade do Rio de Janeiro que fortalece a história da comunidade de lutas e melhorias. A moeda se chama “CDD”, para espelhar a identidade dos moradores e sua comunidade, fortalecendo suas lutas e conquistas. Serve para estimular o consumo local gerando redes empreendedoras, pois só se pode gastar a moeda “CDD” no comércio local. Já existem várias moedas em circulação: um CDD vale um real (R$ 1,00) e mais de 170 comerciantes já aderiram à moeda. O objetivo é que todos possam fazer o mesmo. Os empreendimentos cadastrados podem fazer a troca do real pelo CDD no Banco Comunitário. Esta moeda só é válida na comunidade da Cidade de Deus.

Qualquer morador pode ir ao Banco Comunitário e solicitar a troca do real por CDD, como também pode fazer empréstimos.

Os consumidores ganham descontos na rede de empreendedores cadastrados e poderão comprar em outros empreendimentos, fazendo assim a moeda circular, estimulando o comércio local e economizando. Para solicitar a adesão tem que se dirigir ao Banco Comunitário, ele funciona como correspondente Bancário da Caixa Econômica Federal. Podem ser pagas contas e receber benefícios, contribuindo para a circulação do dinheiro no próprio bairro e para o desenvolvimento sustentável da comunidade. O funcionamento é das 9h as 17h. Venha e participe!


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GAL ACOPROVI recebe certificação do UNICEF por Julcinara Vilela

Em 2008 foi criado na Cidade de Deus o GAL ACOPROVI – Grupo de Articulação Local Amigos Comunitários Promotores da Vida. O grupo, formado por oito instituições locais, tinha como objetivo pensar junto com a comunidade, a partir do levantamento de demandas com relação a saúde, educação, lazer, etc., soluções para essas necessidades da CDD, a fim de que pudessem conquistar um espaço e os moradores se tornassem protagonistas de sua história. O GAL ACOPROVI é formado pelas seguintes instituições: ASVI (Associação Semente da Vida), Grupo de Teatro Raiz da Liberdade, CIA TREVO, Coopforte CDD, CDI Comunidade ASVI, CRAS Elis Regina, CIEP Luiz Carlos Prestes e ABOSEP (Associação Beneficente Obra Social Estrela da Paz). Foi realizada, a partir de 2009,

uma “consultinha”, com crianças e adolescentes, e uma “consultona”, com os adultos, a fim de se descobrir quais eram essas demandas. Depois, foi feito um fórum para que, juntos, instituições e moradores lançassem propostas para melhorar a qualidade de vida da comunidade. Após intenso trabalho, unindo forças das diversas instituições, no final de 2011 foram apresentados os resultados em um último fórum, onde as respostas de uma nova consulta foram avaliadas. No dia 31 de Maio de 2012, após 3 anos de intensa ação, articulação e dedicação para que todas as crianças e todos os adolescentes da cidade pudessem crescer e se desenvolver com saúde, aprender mais, ter acesso à cultura, se divertir, praticar esportes e estar sempre protegidos contra qualquer tipo

de violência, o GAL ACOPROVI, junto com mais 42 GALs, foi reconhecido pelo UNICEF com uma certificação pela sua atuação na comunidade. Essa certificação assinada pela UNICEF mostra o empenho que o grupo teve ao longo dos 03 anos desenvolvendo diversos projetos na comunidade dentro das demandas apontadas desde o seu início. O GAL ACOPROVI não tem um endereço fixo, pois ele vem a partir de várias instituições, mas outras informações podem ser encontradas no blog http://por‐ dentrodacidade.blogspot.com.br/ Saiba mais sobre a Plataforma dos Centros Urbanos: http://www.unicef.org/brazil/pt /where_13615.htm


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Cidade de Deus e Maré na Rio +20 por Maria Angélica Ponciano

Antecipando a Rio +20, as comunidades Cidade de Deus e Maré realizaram nos dias 15 e 16 de junho a Jornada de Educação Socioambiental, no Ciep João Batista dos Santos e na Praça Pe. Julio Grooten, na Cidade de Deus. Lá foram discutidos os temas: educação, cultura, economia, saúde, sociedade e meio ambiente. A Jornada aproveitou o

acontecimento em que a cidade do Rio de Janeiro foi temporariamente a capital mundial das Nações Unidas, quando recebeu dirigentes mundiais e suas comitivas, para elaborar e assinar o documento sobre a “Sustentabilidade Ambiental do Planeta”, a Rio +20, que aconteceu entre os dias 20 e 22 de junho. Paralelamente, os povos de diversos países

também faziam exposições culturais e discutiam o futuro do planeta em diversas partes do Rio, na Cúpula dos Povos. A Cidade de Deus e a Maré promoveram palestras abordando: a urbanização de favelas; a sustentabilidade; conflitos ambientais urbanos; participação comunitária; saúde pública e meio ambiente; políticas de prevenção; gestão de


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A NOTÍCIA POR QUEM V IVE | NOVEMBR O ‐ DEZEMBR O 2012 resíduos e inclusão social dos catadores de materiais recicláveis; Economia Solidária e economia verde no contexto das favelas; responsabilidade socioambiental e práticas de gestão empresarial sustentável; educação socioambiental e, por fim, relatos de experiências. Ocorreram as oficinas

“Estratégias para práticas de Educação Ambiental”, “Planejamento Ambiental nas Favelas”, “Consumo x Consumo”, “Educação Indígena” e “Oficina de Memória”. Ainda teve feira de artesanato com materiais recicláveis. Nos intervalos se sucederam apresentações culturais: danças,

músicas, peças teatrais, audiovisuais, artes plásticas, desfiles com materiais recicláveis e exposição de trabalhos das escolas. O evento reuniu alunos das escolas, das comunidades e visitantes, mostrando que a sustentabilidade pode, muito bem, vir deste tipo de atividade.

Opinião

Rio +20 na Cidade de Deus: o que não deu certo por Cilene Regina Vieira da Cruz

Nos dias 15 e 16 de junho de 2012, aconteceu a Jornada de Educação Socioambiental Cidade de Deus e Maré rumo à Rio +20. Neste evento aconteceram várias atividades, como palestras, teatro, dança, música, oficina de artes, entre outros. Devido a esta jornada, realizada numa sexta‐feira, que foi o primeiro dia da Rio +20, a participação da comunidade foi muito pequena. Sentimos uma grande deficiência na divulgação

da Jornada, que mesmo tendo sido realizadas várias reuniões para a organização, na prática não aconteceu como deveria. O material para divulgação só chegou na semana do evento e em pequena quantidade, não contemplando todas as instituições participantes. O evento aconteceu em dois espaços – no CIEP João Batista e na Praça principal da Cidade de Deus –, mas os artistas que se apresentaram na praça tiveram

que concorrer com o barulho dos carros e chamar o público para assistir as apresentações, já que, pela falta de divulgação, o público não foi satisfatório. Mesmo com toda a precariedade, os artistas mostraram o que fazem de melhor para exibir para o seu público, em especial levar um pouco de cultura e lazer para a Cidade de Deus.


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Moradores pedem cuidado com CIEP que também é EDI por Maria do Socorro Melo Brandão

Já foram várias tentativas de buscar melhorias. Em 2010, a área foi visitada por alguns representantes do poder público para fins de mapeamento e para saber junto aos moradores quais as suas demandas, suas necessidades. Os moradores pediram melhorias para uma pracinha que fica próximo à escola e era muito utilizada para que as professoras fizessem

atividades com os estudantes. Após essa visita, soubemos que haveria melhorias e que as casas na frente do CIEP seriam retiradas, pois estavam numa área de risco. Em meados de 2011 soubemos que a Região Administrativa seria responsável por um projeto já aprovado para a área. Como o ano de 2012 iniciou e nada foi realizado, no dia 1º de

maio, o Zelador do Jornal Extra esteve na mesma praça para mais uma vez junto com os moradores solicitar melhorias para a área. Houve grande mobilização dos moradores com muitas solicitações etc.. Hoje, estamos em no final de 2012 e o que observamos? Que nada foi feito. Quem chega à escola se depara com a área em frente cheia de mato, entulhos, lixo, etc., podendo levar para os moradores da área e os estudantes da escola várias doenças como, por exemplo, a dengue. Queremos maior atenção para a área e mais cuidado com o acesso a escola, pois, além disso, o CIEP agora também é um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) e atualmente a escola tem aproximadamente 570 estudantes. Maria do Socorro Melo Brandão Gestora de Núcleo do Bairro Educador Cidade de Deus.


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Você conhece a dislexia? por Cilene Regina Vieira da Cruz

Dislexia: “Dificuldades de ler, soletrar ou até mesmo identificar as palavras mais simples. Muito mais do que preguiça, falta de atenção ou má alfabetização, pessoas com esses sintomas podem ter dislexia.” (Eduardo Petrossi) “Crianças com o diagnóstico de dislexia estão mais propensas a desenvolver sintomas depressivos, da mesma forma que correm mais riscos de ter algum transtorno psicológico na idade adulta”. Essas são conclusões de um trabalho de dissertação de mestrado do neuropsicólogo Ricardo Franco de Lima, da UNICAMP. Lima chegou a esse resultado ao avaliar 31 crianças com diagnósticos de dislexia e compará‐las com resultado de avaliação realizada com outras 30 crianças, estudantes de uma escola pública de Campinas (SP), sem nenhum tipo de problema de saúde. “Em geral, os grupos envolvidos na questão não atentam para este tipo de avaliação, mas ignorar estes aspectos no trabalho da dislexia pode acarretar consequências emocionais graves, inclusive fazer com que o transtorno permaneça ao longo dos anos”, afirma Lima ao Jornal da UNICAMP. Ainda segundo o estudo, os sintomas depressivos podem

estar relacionados a funções cognitivas, isto é, comportamentos relacionados ao conhecimento. A evidência, portanto, indica a necessidade de avaliação e intervenção nesta área, como forma de diminuir o sofrimento da criança com dislexia na escola, por exemplo. As crianças estudadas tinham entre 7 e 14 anos de idade, sendo que o grupo com dislexia foi atendido no Hospital das Clínicas da Unicamp durante 3 anos. “Quando a criança chega com a hipótese, só na minha área são realizadas seis sessões de uma hora, para observar o paciente. Após avaliações de todos os membros da equipe, é que a hipótese se confirma ou não”, explica Lima ao jornal. “Dos casos atendidos anualmente no Hospital das Clínicas, em apenas 2% o diagnóstico é confirmado. No entanto, essas crianças muitas vezes possuem apenas dificuldades escolares de ordem pedagógica e não um distúrbio relacionado ao sistema nervoso central, que leva a criança a desenvolver o défcit no aprendizado”, afirma o neuropsicólogo. Pelos padrões internacionais, no transtorno específico de aprendizagem, a criança apresenta comportamento na aquisição e desenvolvimento na linguagem escrita. Mas, no

trabalho do estudioso, ele dá atenção também para as avaliações dos sintomas emocionais, uma vez que o estudo indica a vulnerabilidade das crianças disléxicas pelas dificuldades apresentadas na escola. “As crianças sempre relatam sentimentos de que não conseguem vencer as suas limitações, se sentem inferiores em relação as outras, comparando o seu desempenho com o de seus pares. Em alguns casos podem até apresentar humor deprimido e ideias suicidas”, complementa. Diante desse quadro, o pesquisador faz um alerta: "Os pais precisam estar atentos a esta questão e se munir de informações para lidar com a situação". Então, pais e responsáveis, assim que perceberem que seus filhos, sobrinhos, netos e afilhados sinalizam dificuldades no aprendizado, é importante procurar a Orientação Educacional e Pedagógica onde a criança estuda, para ajudar não só as crianças, mas também seus familiares. Matéria baseada em texto e apuração de Raquel do Carmo Santos publicado no Jornal da UNICAMP em agosto de 2011. Disponível em http://www.unicamp.br/unicam p/unicamp_hoje/ju/agosto2011 /ju501_pag8.php#


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A militância poética na Cidade de Deus por Wellington de Moraes França

O grupo POESIA DE ESQUINA, formado por moradores da CDD, realiza mensalmente no TICO’S BAR & KARAOKE – esquina da Carmelo com a Edgard Werneck – um encontro de poetas e pessoas que curtem escutar, ler e degustar poemas e petiscos bem acompanhados com vinho, cerveja, refri, sorvete, paqueras e familiares. Para melhor acomodar o público, que aumenta a cada evento, os organizadores passaram a montar mesas e cadeiras na rua em frente ao bar tendo que interditá‐la parcialmente ao trânsito de motos e carros. Fazem parte da equipe de produção do Sarau Poesia de Esquina e do fanzine Palavra Solta: Viviane de Sales, Wellington França, Mônica Rocha, DJ Fulano, Ricardo Rodrigues e Rosalina Brito. “A ação é parte de um planejamento que inclui consulta popular local com um abaixo‐ assinado e ofícios à Região Administrativa e ao comando da UPP. Tudo documentado e autorizado tintim por tintim. Mesmo

assim, sempre encontramos obstáculos vindos do céu e da terra. Temporais e engarrafamento. Moradores e não moradores que, vez por outra, dizem, dando carteirada: ‘sabe com quem você está falando?’ ou ‘Quer ver como eu quebro esse teu ofício?’, constrangendo convidados e obrigando a abrir espaço aos seus carrões turbinados alegando direitos de ir e vir, etc. e tal”, declara o escritor Wellington Guaranny, fundador do sarau em parceria com a poetisa e estudante de Ciências Sociais na PUC, Viviane de Sales. Uma edição especial do POESIA DE ESQUINA aconteceu – a de nº 9 ‐ na Quadra do Coroado na tarde de sábado de 1º de setembro deste ano. Faz parte de um conjunto de ações culturais, exposições e debates para reflexões sobre os impactos sociais do filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (nos seus dez anos de lançamento) e estudos sobre as influências da cultura na formação das diversas identidades da comunidade.

Assim, o jornal A NOTÍCIA POR QUEM VIVE abre espaço nesta edição para uma série de entrevistas com moradores da Rua Carmelo e entorno, com destaque para opiniões dos dois lados: os que gostam de poesia e aprovam o fechamento da rua para o evento e os que não concordam com a interdição, expondo suas razões. A primeira entrevista foi com Seu Antônio, 79 anos, capixaba, casado com Dona Maria Valdinéia. Ele vive na Cidade de Deus desde 1968. Até os 15 anos de idade foi criado em fazendas. Pai da Rosineide, da Rosenir, do Antônio Mauricio, da Andreia, da Carla Patrícia e do Denílson. Cinco passarinhos, quatro tartarugas, uma rã. Um soberbo pé de café, uma rechonchuda moita de acerola. Lindas e bem cuidadas, plantas ornamentais completam a poesia do lar e da família deste flamenguista e cultivador de sonhos. ANPQV – O senhor gosta de poesia. Já teve participação em saraus? Seu Antônio – Na minha juventude costumava participar nos fins de semana de rodas de amigos para contar histórias, piadas e declamar poemas. Não escrevia, mas apreciava os encontros. No tempo de infância era difícil aprender ler e escrever. Minhas primeiras leituras foram histórias em quadrinhos. Os gibis da Marvel e da Disney. ANPQV – E além destes encontros, que outras atividades ocupavam seu tempo de lazer? Seu Antônio – Gostava muito de gafieira. Ia a todos os bailes. Lá se dançava samba, bolero, tango e outros ritmos. Agora, aposentado. Filhos criados, prefiro viajar com minha esposa.


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A NOTÍCIA POR QUEM V IVE | NOVEMBR O ‐ DEZEMBR O 2012 ANPQV‐ Como o senhor entende a importância de se despertar desde cedo o prazer pela poesia, seja falada ou escrita? Seu Antônio – Muito bom. Incentiva o estudo da leitura. ANPQV – E o que o Sr. Senhor acha do movimento literário e da realização de um sarau de poesia nas ruas da Cidade de Deus? Seu Antônio – Um movimento pela literatura na Cidade de Deus pode lutar, por exemplo, pela melhoria da qualidade de ensino com a vinda para a Cidade de Deus de uma escola de ensino médio de dia. Tem à noite, mas não tem durante o dia. Eu só fui aprender melhor a ler e chegar à 4ª série com a ajuda da Professora Yara, sobrinha de consideração, que junto com minha filha (bióloga), administra o ALFAZENDO, aliás, também sou um dos criadores desta ONG que trata da educação e do meio ambiente. O Sarau Poesia de Esquina acontece mensalmente com microfone aberto ao público e entrada franca.

Uma publicação, O PALAVRA SOLTA divulga o evento e publica textos dos participantes. É distribuído dentro e fora da CDD. Interessados podem postar seus textos ou conversar com a organização no Facebook pelo E‐ mail: poesiadesquina@gmail.com ANPQV – E o senhor é contra ou a favor de fechar a Rua Carmelo para eventos literários? Seu Antônio – Aqui na Travessa Aquim, de vez em quando fechamos para eventos sem problemas. A Rua Carmelo, por ser uma das principais vias de acesso é muito movimentada. Cada lado tem suas razões que devem ser respeitadas. Seria bom se ela fosse fechada de vez em quando como lazer para as crianças. Por mim não tem problema. Tem outras ruas para passar! Quanto ao Francisco, que conheço há muito anos, no lugar dele abriria a porta do bar para o lado da Edgard Werneck. Melhoraria o espaço e não precisaria mais tomar parte da Rua Carmelo, evitando conflitos.

SEGUNDA ENTREVISTA A despedida da residência do Sr. Antônio se deu de forma emocionante e com aquele gostinho de quero mais. Mas havia pressa para encontrar alguém com pensamento contra o fechamento da esquina da rua para carros e abertura para a poesia da Cidade de Deus lançada ao mundo. Encontramos então o Sr. Geraldo Perpétuo, que diz: “Pode pôr aí no seu Jornal! Sou contra!”. Deu um pouco de trabalho, mas a conversa acabou recheada de curiosos causos e boas e emocionantes descobertas musicais e poéticas. Mas... bem, terá que ficar para a próxima edição do jornal. Wellington de Moraes França ‐ graduado em Administração, Professor. Autor do livro de poemas TEMPORAIS – CBJE 2012. Pai da Mariana e do Wellington Junior – Diretor da Casa de Cultura Cidade de Deus, colaborador convidado para o Jornal A NOTÍCIA POR QUEM VIVE.


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A NOTÍCIA POR QUEM V IVE | NOVEMBR O ‐ DEZEMBR O 2012

Livro Registro Eterno de Nossas Histórias por Valéria Barbosa Em foco a literatura das favelas sendo fonte de inspiração para duas publicações: o Poesia Favela, movimento que nasce do curso de mestrado da UERJ em 2010; e “Os Grande Mestres Comunitários da Cidade de Deus – Fazedores de Destino”. Como produto de um evento, o livro “Poesia Favela In Livro” é lançado em 2012 na UERJ. O segundo livro, saindo na primeira quinzena de agosto para o Pelourinho, Bahia, para o sarau Bem Black, tem como objetivo a valorização da arte e compromisso de 10 idosos da CDD. Estes dois livros tem em comum o compromisso com a voz oprimida de pessoas das favelas cariocas. Crianças, jovens e idosos são protagonistas, escritores do livro Poesia Favela. No livro dos mestres estão as explicações para a manutenção do sentimento lírico nas comunidades; o compromisso da pessoa mais velha e experiente com as causas sociais e desenvolvimento local. Vários atores fizeram parte do processo de criação destas obras. Entrevistamos a professora da UERJ, Mirna Aragão de Medeiros.

Como surgiu a proposta do livro poesia favela? Eu comecei a trabalhar no LerUERJ (programa de leitura da UERJ) em agosto de 2010 e o projeto do evento poesia favela já estava em construção. Lembro‐me do professor Victor Hugo (coordenador do LerUERJ) dizendo: "Mirna, hoje à noite vai ter uma reunião para a organização de um evento que vai reunir a poesia da periferia aqui na UERJ, você se interessa em participar?". Participei da reunião, me encantei com o projeto e "mergulhei de cabeça" na organização do evento Poesia Favela. Depois veio a ideia de 'eternizar' aquele momento tão especial vivido por tantas pessoas em outubro de 2010 de forma impressa. Então eu, o professor Victor Hugo A. Pereira e a professora Adriana Facina nos mobilizamos para que esse sonho se tornasse realidade.

Quais foram os desafios da sua equipe?

maiores

Tivemos muitos desafios para que esse sonho se concretizasse. O

primeiro foi reunir todo material dos autores, contactar todo mundo, e o segundo foi selecionar as poesias do varal de poesias, que eram todas inspiradoras, mas não havia espaço no livro para o conjunto total, pois o recurso financeiro que conseguimos possibilitava um formato de livro de 180 a 220 páginas. A participação da Aline Deyques e a Ana Paula Martins nesse processo foi muito importante. O terceiro, a confecção do dvd, como conciliar o dvd e o livro no mesmo espaço. Mas no final ficou tudo perfeito!!! Além de tudo, é claro, acreditar e acreditar sempre que iria dar certo no final. Quais as suas grandes surpresas? Quando será feito o Poesia Favela 2?

Tive muitas surpresas no decorrer do processo. A primeira foi trabalhar

em conjunto com o pessoal da Editora Encantarte, localizada no Hospital Psiquiátrico Nise da Silveira. Fiquei encantada com o trabalho e dedicação deles em tornar o nosso livro muito além de especial. Outra grata surpresa foi o resultado do livro, que ficou lindo tanto esteticamente quanto em termos de conteúdo. E o que tem me chamado muita atenção é o retorno das pessoas quanto ao livro, a alegria de ver o trabalho publicado. Gostaríamos muito que o Poesia Favela 2 acontecesse, mas ainda não temos previsão. O que tem em comum o Poesia Favela e o livro Os Grandes Mestres Guardiões da Cidade de Deus ‐ Fazedores de Destino? Acho que é um grande sonho realizado em ambos os livros, e o fato de termos uma visão da periferia junto com a poesia antes não conhecida pelo grande público. O senhor Belmiro Carlos Nunes, superintendente da Cruzada do Menor, fala com orgulho sobre a participação dos jovens do curso de Introdução ao Mercado de Trabalho da ONG Cruzada do Menor no evento e livro Poesia Favela. “A participação dos jovens no

projeto Poesia Favela é uma prova eloquente de que os jovens quando incentivados e apoiados têm capacidade de mostrar ao mundo a sua versatilidade, a sua capacidade de surpreender aqueles que não convivem com o dia a dia das comunidades. São artistas natos, pedras semipreciosas, precisando apenas de um pouco mais de apoio, que é o que a Cruzada procura fazer. A prova disso está no livro Poesia Favela que mostra um pouco da arte desses jovens, que têm muito para mostrar pro mundo.” Para a jornalista Gizele Martins, responsável pelo jornal “O Cidadão” da Maré e uma das juradas na fase inicial do concurso de poesias organizado pela Cruzada do Menor, que resultou na indicação da participação dos jovens e seus poemas no evento e livro Poesia Favela, “participar dessa construção foi uma grande experiência. Li diversas histórias maravilhosas. As poesias falavam com a alma sobre a vida e a história de cada um, sobre a história da favela. Parabenizo aos jovens por terem participado com tanta dedicação desta construção, com certeza deve ser uma grande emoção ver suas histórias, seu trabalho dentro de um livro. Parabenizo também quem projetou e construiu esta história que vai ficar guardada para muitas e muitas outras gerações que abrirão o livro e se deliciarão com tantas histórias de jovens talentosos moradores de favela.” O livro Os Grandes Mestres Guardiões da Cidade de Deus – Fazedores de Destino, tem em seu enredo histórias de vida de idosos moradores da Cidade de Deus compromissados com a sua comunidade, responsável pelo repasse cultural, empreendedorismo, resgate cultural e de memória, verdadeiros mestres do saber. O senhor Severino Gomes, um dos citados na obra, com brilho nos olhos dá o seu relato: “Fiquei muito feliz em fazer parte do livro, foi uma emoção muito grande pois eu vi que as minhas atitudes como cidadão não passaram despercebidas. O trabalho que venho


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A NOTÍCIA POR QUEM V IVE | NOVEMBR O ‐ DEZEMBR O 2012 fazendo desde 1970, desde que cheguei aqui na CDD, desde a construção da Casa da Paz até a transformação do boteco em Centro Cultural Tupiara está registrado. Eu me senti valorizado e reconhecido sabendo que, mesmo quando estamos abandonado pelo governo, vale a pena fazer a nossa parte e se tornar uma pessoa que realmente quer fazer o bem pela comunidade. A Senhora Jandira Tavares, catequista durante longos anos na

Igreja Pai Eterno São José, professora de dança, Teatro das Crianças daquela época é uma das Mestres do livro. Entre risos e lágrimas resume em um frase toda a sua felicidade. “Eu nunca pensei que alguém fosse escrever um livro sobre a minha vida. Muito linda a minha história”. Para a autora do livro independente sobre os Grandes Mestres e desta matéria, Valéria Barbosa, cabe uma afirmação: este é apenas o 1° dos

muitos livros que escreverei sobre nossas histórias. Este livro retrata forma lúdica uma pequena parte história de dez personalidades Cidade de Deus.

as de da da

Para maiores informações sobre o livro: valcdd@hotmail.com

Experimente nossas receitas por Dona Joana ARROZ COLORIDO

SUCO QUE AJUDA NO FUNCIONAMENTO DO ORGANISMO

‐ ½ kg de arroz cozido ‐ 250 gramas de vagem ‐ 03 cenouras médias ‐ 01 lata de ervilha ‐ ½ kg de frango ‐ Azeitonas picadas

‐ 01 xícara de mamão ‐ 01 xícara de morango ‐ 01 xícara de melancia ‐ Suco de ½ limão ‐ Açúcar a gosto Bata tudo no liquidificador e sirva.

Tempere o frango com alho, cebola, limão, pimentão e sal. Cozinhe. Cozinhe a vagem e a cenoura picadas. Desfie o frango e misture com os outros ingredientes. Coloque as azeitonas picadinhas. Junte o arroz cozido, misture bem e sirva. DICA: Água mantém seu intestino ativo e elimina toxinas. Abuse dela no frio ou no calor!

Charges por Rosalina Brito


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A NOTÍCIA POR QUEM V IVE | NOVEMBR O ‐ DEZEMBR O 2012

Casa de Cultura Cidade de Deus: Arte de cuidar da vida por Ana de Almeida Ribeiro, Anderson Augusto de Souza Pereira, Maria Luiza Tavares Benício "A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte!" (Titãs)

Uma história, tantas vidas A Casa de Cultura nasceu a partir das atividades sociais da Paróquia Pai Eterno e São José, que desenvolve ações de solidariedade nesta comunidade há muitos anos; a começar pelo saudoso Padre Júlio Grooten e por todos os outros missionários do Sagrado Coração que por aqui deixaram parte de suas vidas. A Casa fica na Travessa Jessé, nº 84, na casa onde moraram as irmãs Carmelitas da Divina Providência e, muitos anos antes, o saudoso e querido Pe. Júlio. Algumas pastorais passaram a cuidar deste espaço que carecia de constantes reformas. A casa onde morou o Pe. Júlio deu lugar à sede da Pastoral da Criança e o outro prédio começou a ser utilizado com oficinas de arte e artesanato, além de abrigar um pequeno acervo de livros. Estas pequenas atividades deram origem ao sonho de um espaço cultural, para o resgate da memória da nossa comunidade, com espaços adequados para atividades artísticas, culturais e de geração de renda. Além de tudo, arte e cultura são direitos de todos! Direito de ter acesso aos bens artísticos e culturais e de partilhar das suas riquezas e potencialidades. Assim, o trabalho teve início com oficinas de arte e artesanato, depois surgiram parcerias com instituições como SENAC Rio, SUDERJ e SESI: aulas de capoeira, ginástica, karatê, dança folclórica, dança de salão e vários cursos profissionalizantes.

Um desafio e as parcerias Com o tempo, veio o desafio da manutenção da estrutura. Foram feitas algumas reformas emergenciais. Para isso, utilizamos ajuda financeira de uma associação italiana, Ca’ Forneletti, que muito tem colaborado com as obras sociais da nossa Paróquia. Hoje a Casa de Cultura desenvolve várias atividades para a comunidade. As parcerias se ampliaram e algumas precisam ser fortalecidas. As mais recentes são o Núcleo de Educação de Adultos da PUC‐Rio e o Observatório de Favelas com a implementação do Projeto Solos Culturais. Uma boa iniciativa foi a criação dos “Amigos da Casa de Cultura”. É um grupo de pessoas de dentro e fora da comunidade que estão contribuindo mensalmente para que nossas atividades possam continuar. O Estatuto Outro passo importante nestes dois últimos anos tem sido o processo de elaboração, aprovação e regulamentação do Estatuto da Casa, que se encontra em fase de conclusão. O registro viabilizará a elaboração de projetos e captação de recursos que irão fomentar as atividades e consolidação da Casa. Um dos projetos prioritários é a implantação de uma cozinha industrial que vai permitir a produção de uma alimentação alternativa, bem como a qualificação, o empreendedorismo e a geração de renda nessa área.

O Projeto Pedagógico da Casa de Cultura Cidade de Deus É uma demanda recorrente da coordenação e colaboradores da Casa a necessidade de construirmos uma unidade de pensamento e ação no desenvolvimento das atividades que se realizam na Casa. Com esse objetivo, no ano de 2012, estamos nos propondo a desenvolver o processo de Construção Coletiva da Identidade da Casa de Cultura Cidade de Deus, através da reflexão de três grandes questões: Quem somos? O que fazemos? Como cuidamos da Casa? O projeto de resgate e registro da memória vai começando a tomar corpo. O Café Cultural Escolhemos iniciar o registro da memória desta comunidade Cidade de Deus e de sua gente no ambiente de um Café Cultural. O Café Cultural, portanto, é uma ação da Casa, onde recebemos os amigos que fizeram e continuam fazendo a história deste lugar através de suas lutas, suas estratégias de produção e superação das desigualdades sociais, suas formas artísticas e literárias de expressão. No Café Cultural passa um outro filme “Cidade de Deus”, tão real quanto o de Fernando Meirelles, mas com uma outra face – uma cidade feita de homens e mulheres corajosos, trabalhadores, talentosos e empreendedores, gente que faz história. É esta outra face da Cidade de Deus que se revela no Café Cultural. Essas histórias estão dispersas e grande parte


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A NOTÍCIA POR QUEM V IVE | NOVEMBR O ‐ DEZEMBR O 2012 delas guardadas apenas de memória por seus protagonistas, os antigos moradores da Cidade de Deus. A ideia da Casa é reunir esta memória dispersa e quase sempre oral, e registrá‐la, por escrito e por imagens, para que todos possam conhecer melhor a história deste lugar e conhecendo‐a, orgulhar‐se dela e das pessoas que a construíram e assim, se perceberem também como sujeitos que fazem e podem interferir nesta história. O Café Cultural também é um lugar de conviver, partilhar e alegrar‐se. Um lugar onde cada

um pode mostrar o que gosta e sabe fazer – um lugar onde cantamos, tocamos algum instrumento musical, apresentamos nossas poesias, contamos “causos”, preparamos e saboreamos bons quitutes, tudo isso acompanhado de um bom e amigo café... A história contada através das fotos da comunidade – outra ação que vem se materializando é a pesquisa de fotos antigas da comunidade junto a seus próprios moradores. Esta ação será feita por um grupo de jovens colaboradores da Casa, integrantes da Comissão de

Multimídia, ligados à Pastoral de Comunicação da Paróquia Pai Eterno e São José. Queremos agradecer a todos e todas que, nessa caminhada em mutirão, têm doado tempo, trabalho, oração e muito, muito amor para manter vivo este sonho e torná‐lo realidade. E você, que quer fazer parte deste mutirão, entre em contato conosco! E‐mail: casadeculturacdd@gmail.com Telefone: 3432‐0582

II FESTIVAL PONTO DE CULTURA ITINERANTE CIDADE DE DEUS por Cilene Regina Vieira da Cruz O Ponto de Cultura Itinerante da Cidade de Deus é um Coletivo de artistas formado na comunidade, no ano de 2010. Apoiado pela Secretaria Estadual de Cultura do RJ, dentro do Projeto mais Cultura (MINC), o Coletivo reúne canto, artes cênicas, artes plásticas, audiovisual, música, dança e literatura. A Casa de Santa Ana, instituição presidida por Maria de Lourdes Braz é a proponente do projeto. Em 2011, o grupo se capacitou em elaboração e formatação de projetos culturais, através de seminários promovidos pelo próprio Ponto, e pelo Curso Cultura Portátil, realizado pela Farmanguinhos/Fiocruz. Nesta segunda etapa, o grupo tem por objetivo articular e transmitir seus processos criativos, no intuito de levar à comunidade reflexões e propostas relativas ao ambiente e à história da Cidade de Deus, promovendo assim a recuperação, caracterização e manutenção da cultura local. Está sendo realizado um circuito de eventos com apresentação coletiva, que ao longo do ano se estenderá a todas as áreas da Cidade de Deus. O II Festival Ponto de Cultura Itinerante da CDD se realizou no dia 17 de março, sábado, de 15h às 19h, na Quadra do Karatê. Um evento DA comunidade PARA a comunidade! Este

II Festival foi tudo de bom para a Cidade de Deus. A começar pelo Coral Intergeracional e pelo grupo de Balé da Casa de Santa Ana, que se apresentaram maravilhosamente bem, fazendo com que o público interagisse com o que foi apresentado. As apresentações tiveram direção musical de Neuma Morais e coordenação de Maria de Lourdes Braz. O Grupo Teatral Raiz da Liberdade apresentou o espetáculo “As Largadas”, de autoria e direção de Victor Costa, com as atrizes Dayse Vieira e Cilene Vieira, que puderam mostrar a realidade da solidão e a falta dos familiares quando a idade vai avançando. Mas existe a solidariedade de alguns para reverter a situação. O público ficou bem atento e gostando do que viu. O artista plástico Gilmar Ferreira e seu curador Roberto Cabral deram oficina de Artes para quem quisesse expressar seus dons artísticos através da pintura. Dessa forma todas as gerações interagiram harmonicamente. A escritora Jurema Batista apresentou seu livro “Sem passar pela vida em branco”, mostrando a importância da mulher na sociedade, em especial a mulher negra, que, em sua maioria, é chefe de família nas

comunidades de baixa renda. O professor de artes marciais e escritor Wellington mostrou algumas técnicas de defesa pessoal, e o público ficou muito impressionado com o que viu. Wellington fechou a sua apresentação recitando algumas poesias suas. A Companhia de Dança Trevo apresentou o espetáculo “Pesadelo”, com direção e coreografia de Lúcio Santos. Os bailarinos deram um show de interpretação, com um trabalho corporal magnífico que chamou a atenção de todos os presentes. Os cineastas Julio Pécly e Paulo Silva mostraram alguns curtas metragens, que o público gostou bastante. Neste II Festival fizemos concursos de dança e de artes plásticas com uma premiação simbólica. Os integrantes adoraram participar desse evento. FICHA TÉCNICA Produção de Base: Wilson Carlos de Freitas Produção Executiva: Paulo Silva e Lúcio Santos Administração: Luciano Bouças Coordenação Geral: Maria de Lourdes Braz Consultoria Técnica: Juliana Mattar (Far‐ manguinhos / FIOCRUZ)


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Feira da Saúde da Cidade de Deus A Feira de Saúde é uma ação da Casa de Cultura, ligada à Paróquia Pai Eterno e São José – Cidade de Deus, e acontece anualmente. Tem como objetivo principal o debate e a proposição de políticas públicas voltadas para a saúde e o bem estar da comunidade. Já em sua VI edição, a Feira, nestes dois últimos anos, assumiu um caráter diferenciado das primeiras edições, quando apenas a Paróquia e a Associação

Semente da Vida (ASVI), organização não governamental (ONG) local, cuidavam de sua organização e as atividades eram concentradas em apenas um dia. Hoje, a Feira da Saúde é resultado de um trabalho coletivo que reúne cerca de 30 instituições locais, públicas e privadas que se juntaram às pastorais sociais da Paróquia para participarem da organização/preparação do evento, formando uma grande

ASVI completa 10 anos. Parabéns! por Cilene Regina Vieira da Cruz

A Associação Semente da Vida da Cidade de Deus (ASVI CDD) comemorou 10 anos de atividades na comunidade no dia 26 de Agosto de 2012. No dia 16 de Setembro, a instituição realizou uma feijoada comemorativa, recebendo vários parceiros, amigos, crianças, adolescentes e seus pais na quadra da Escola de Samba de Jacarepaguá. Houve também a participação de várias entidades apresentando os seus trabalhos, como dança com a Companhia Trevo, apresentação do Projeto REI,

Apoios:

Patrocínio:

apresentação da orquestra de violinos com a Agência do Bem, assessoria da Escola SESC ao lindo desfile dos jovens usando roupas do Brechic, ao som de pagode. Teve também poesia com o Poesia d'Esquina, Banda LAMARCA, apresentação do novo layout do Portal Comunitário da Cidade de Deus (www.cidadededeus.org.br), oficina de pintura com Gilmar Ferreira, entre outros. Foi um dia muito bonito na história desta instituição. Agradecemos a todos que participaram e apoiaram.

rede de parceiros. A Feira é um espaço onde acontecem, durante alguns dias, rodas de conversas com especialistas ligados aos temas, exposições de artes e de produtos artesanais e manifestações culturais. A VII Feira da Saúde já está sendo preparada em reuniões semanais e acontecerá de 07 a 11 de novembro de 2012, na Praça do Lazer, em frente à Paróquia Pai Eterno e São José.


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