Livro 43 contos hans c andersen

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A CASA ANTIGA

do a que se diga: é um par… Ah! Sim! Aquilo é que era um livro de estampas! O ancião entrou na outra divisão para ir buscar doces, maçãs e nozes… na casa antiga havia verdadeira abundância. – Não aguento isto! – disse o soldado de chumbo, que estava de pé, em cima da cómoda. – Aqui é tão solitário e triste! Não! Quando se teve família, custa agora acostumar-se a isto aqui!… Não posso suportá-lo! – O dia é tão longo e a noite ainda mais longa! – continuou o soldado de chumbo. – Nada aqui é como em tua casa, onde o teu pai e a tua mãe falavam tão agradavelmente e onde tu e todos vós, doces crianças, fazíeis um tão bonito alvoroço. Não! Como o velho está isolado! Julgas que recebe beijos, que há olhos doces que o contemplam ou que tem ár vore de Natal? Outra coisa não tem senão o enterro!… Não aguento! – Não deves ver as coisas assim tão tragicamente! – retorquiu o rapazinho. – Aqui parece-me tudo tão belo! Todas as recordações do passado, com tudo o que podem trazer consigo, não vêm fazer-lhe visitas? – Claro que vêm, mas não as vejo e não as conheço! – replicou o soldado de chumbo. – Não aguento mais! – Mas tens de suportá-lo! – respondeu o rapazinho. O ancião voltou, com prazenteiro semblante e com doces, maçãs e nozes com um belíssimo aspecto, pelo que o rapazinho não pensou mais no soldado de chumbo. Feliz e satisfeito, regressou a casa. Passaram-se dias e passaram-se semanas. Houve acenos para a casa antiga e houve acenos da casa antiga, até que o rapazinho lá voltou de novo. Os trombeteiros de bochechas inchadas tocaram: – Tataratá! É o rapaz! Tataratá! As espadas e as armaduras dos quadros tiniram e os vestidos de seda roçagaram, as peles de porco falaram e as velhas

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