LETÍCIA LAMPERT
8 URBE | # 04/04 | EFEMERIDADES URBANAS
sobra tempo para se cuidarem assim,
janelas dos prédios. A cidade do aves-
e contado na vida de cada um, receber
pela janela. Um olhar de carinho no
so. Já não me interessava mais pelas
um estranho em sua casa não é bem
meio de um entorno que se imagina
fachadas, pela vista de fora, conhecida
assim. Não seria um golpe, um assalto,
sempre mais hostil.
de longa data e compartilhada por to-
um louco com intenções diabólicas?
A obsessão por ver a cidade por
dos. Queria ver o outro lado, queria ver
A insegurança reina, com tantas notí-
dentro, por ver a vista da janela dos
como vê o morador lá daquela janeli-
cias de violência em todos os jornais.
outros, a estas alturas, já havia se trans-
nha que acaba de fechar a cortina. Será
Mas depois de algumas explicações e
formado em projeto (ainda bem que
que ele se incomoda com a janela do
de vencer olhares desconfiados e curio-
tudo pode virar arte!). Numa flânerie
vizinho tão perto? Será que são amigos
sos de porteiros e zeladores, eu própria
às avessas, passei a perambular pelos
ou pelo menos se conhecem?
me surpreendi com a receptividade da
apartamentos da cidade. Apartamentos
Nessas visitas e andanças, nem
maioria. Da maioria em uma certa re-
de gente que não conhecia, mas onde
todos são receptivos, é claro. Afinal,
gião da cidade, é interessante apontar.
identificava essa proximidade entre as
além do tempo, cada vez mais escasso
No centro e nas imediações, consegui