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UMDISCURSO,UMACERTEZA…DAVILA(VELHA)DEVINHAIS

LeopoldoGilDulcioVaz

InstitutoHistóricoeGeográficodoMaranhão

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AcademiaLudovicensedeLetras

O IHGM, em evento recente, (re)lançou “Dois estudos”, de José de Ribamar Caldeira[1], por ocasião da doação de sua biblioteca àquela instituição de pesquisa e guardiã da memória/história do Maranhão. No primeiro,oDiscursodeJapi-açueMomboré-uaçuéoquenosinteressa.

Ao transcrever – e analisar – os dois discursos, dá-nos informações de que A “ilha de Maranhão” e suas cercanias haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste. É de 1612 a informação da chegada dos Tupinambá à ilha grande do Maranhão, dada pelos primeiros contatos dos capuchinhos e os índios; estes ainda se lembravam da chegada à região. Claude d’Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580: Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada na região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […] (Abbeville,1614,p.261)[2].

Os discursos dos dois índios Tupinambás aparecem nos capítulos XI e XXIV da crônica “História da missão dos padres capuchinos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas”, de Claude d’ Abbeville (1975). Em seu discurso, Japi-açu[3][…]alude ao domínio dos portugueses, que os forçou a abandonar sua terra(Pernambuco e Potiu)e a refugiar-se aqui(Upaon-açú). A aversão dos Tupinamba maranhense aos portugueses era profunda e antiga. Remontava ao começo do século XVI, quando eles se transferiram de outraspartesdoNordesteparaoMaranhão.Logoapósteremaqueleseuropeusseestabelecidonelas. ConformeCaldeira(2004,p.16),relatodessesacontecimentosseencontraemAbbeville,capítuloXVIII: […] Abbeville conta que, em visita à aldeia de Eussauap, onde fora erguida uma cruz, e não obstante o bom acolhimento por parte de seus habitantes, a certa altura, quando estavam reunidos na casa grande, tomou a palavra um velho indígena, de mais de 180 anos, e disse de sua desconfiança para com a manifestada boa intenção dos pai (mair), os franceses, pois que assim também se haviam os perós em Caeté e Potiú (Rio Grande do Norte), como ele próprio, Momboré-uaçu, testemunhara.(CALDEIRA,2004,p.28)

AlfredMétraux (1927,p.6-7) [4]cita outras narrativas concordantes com adeClauded’Abbeville,a fimde assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580), especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) [5]que afirma, em 1587, que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado,segundoMétraux,umanovaextensãodosTupi(DAHER,2004) [6]:

[…] (para escaparem do convívio com esses colonizadores (portugueses) (…) optaram por migrar para Oeste – em busca da Terra sem males – fixando-se no Maranhão após terem combatido e expulsado para distante de si outros grupos indigenas por eles aí encontrados […] (CALDEIRA, 2004, p. 16).

Caldeira (2004, p. 18) afirma que os franceses incluíram visitas constantes de alguns de seus líderes às aldeias, nas quais pronunciavam discursos louvando as virtudes dos franceses e estimulando o ódio dos índios pelos portugueses, além de promessas de proteção aos indígenas contra estes, e orientação e assistênciareligiosa.

Eram encarregados de tais pronunciamentos, sobretudo Françoise de Rasilly […] e Charles dês Vaux aventureirohuguenotequeestiveranoMaranhãoporlongoperíododetemponofinaldoséculoXVIeque fora umdos principais incentivadores, juntoà cortefrancesa, para a organização deexpediçãodestinada à instalaçãodaFrançaEquinocial[…][7]

JacquesRiffault,CharlesdesVaux,DavidMigan–naturaldeVienne,noDelfinado, eAdolphedeMontville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nosmaisdiversosrecantosdoNorteeNordestebrasileiro,entreoPotengieoAmazonas.

Em1583,doiscapitãesfrancesesdisserama sirWalterRalegh conheceroMaranhão, masnuncasesaberá sesetratavadoMaranhãoilhaoudoMaranhãorio.

Era tão forte a presença francesa que muitos recantos de nossa costa foram batizados com nomes como porto Velhodos Franceseseporto Novo dos Franceses(ambos noRioGrandedo Norte), riodos Franceses (na Paraíba), baía dos Franceses (em Pernambuco), boqueirão dos Franceses (em Porto Seguro), ou praia do Francês (próximo à atual Maceió, em Alagoas). Outro ponto no qual os navios normandos ancoravam com muita frequência era a praia de Búzios, no Rio Grande do Norte, a cerca de 25 km ao sul de Natal. Ao porto localizado na praia de Búzios podiam “surgirnavios de 200 toneladas”. Os francesesusavam o porto da desembocadura do rio Pirangi (aproximadamente 25 km de Natal) para o “resgate do pau” como os portuguesessereferiamaoslocaisdecorteeestocagemdepau-brasil.

Já em 1594, Jacques Riffault, depois de Natal, veio para São Luís, no Maranhão. Junto com Charles des Vauxaporta na Ilha Grande, atual Ilha de São Luís, no Maranhão[8]. O navio de Jacques Riffault naufraga nosbaixiosdailha,maistardedenominadaSant´Ana.

Riffault e Des Vaux aqui desembarcados fundam um estabelecimento que se tornou o “refúgio dos piratas”.

Maspara osseusplanos,umsimplesestabelecimentonãosignificava grandeobra; pensaram emaí fundar umacolônia:aFrançaEquinocial.

Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão –Poste (atual Camocim)[9]-, – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe[10],deLa Rochelle[11]ede SaintMalo[12].É nesseano queo Ministro Signeleytoma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre DieppeeacostalestedoAmazonas.

Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira[13], que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba[14], os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha,nosfundosdobairroBasaemSãoLuís.Esta,emmãosportuguesas,foinomeadadeQuarteldeSão Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba[15], reduto de Migan.

Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Meireles (1982, p. 34) [16]traz tambémDuManoiremJeviré;MillardeMoisset,tambémencontrados naIlhaGrande. Oscomandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviamestadonoNortedoBrasil.

Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza[17]recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, quelhedeterminava: “[…] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios ” e “fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem“.

Riffault fora buscar recursos e permissão na Europa, partindo para a França, divulgando as grandes riquezas da terra e facilidades de conquista. Charles Des Vaux ficara em terra conquistando a confiança dostupinambás,paraaprenderasualíngua.

O interior do Maranhão era bem conhecido por eles. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú, Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a Europa. Nos outros recantos, a história faz menção a eles no constante comércio com os potiguaras, no porto do Rifoles – na margemdireitadoRioPotengi;nosdoisataquesàFortalezadoCabedelo,naParaíba,realizadasem1591e 1597.Nestaúltima,Miganfoigravementeferido,massobreviveu.

ForamelesquefundaramonúcleourbanodeViçosadoCeará[18],sendoqueacidadeaindahojeconserva os topônimos do legado francês. O Pará e o Rio Amazonas eram lugares bem conhecidos destes navegadores. Quando Francisco Caldeira Castelo Branco partiu do Maranhão para fundar Belém (1615) levou consigo Des VauxeRabeau para auxiliarem nanavegação enos primeiroscontatos com osíndiosde lá.

QuandoaesquadradeDanieldeLaTouche,FranciscodeRasillyeoBarão deSancya6de agosto de1612 veem fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias de Du Manoir e do Capitão Guérard. Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, edoNorteemgeral:umacompanhiaholandesa presididapeloburgomestredeFlessingue[19], ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur[20]e Dieppe; o Duque de Buckigham[21]e o conde de Pembroke[22]e mais 52 associados fundaram uma empresaparaexploraroBrasil;espanhóisdePalos[23].

ParaNoberto(2016):

[…] O Forte Sardinha, edificado em local estratégico, elevado e fronteiro ao porto de Jeviré, dava proteção a este ancoradouro (onde atualmente acontece desembarque de quem chega de Alcântara), à feitoria implantada pelo capitão Jacques Riffault e pelo imediato Charles d’Esternou des Vaux, e à povoação onde residia o tradutor e parente do governador de Dieppe, David Migan, no atual Vinhais Velho. E vigiava também a entrada do rio Anil, principal via aquática para o interior

[…]

OnomeIlhinha,aliás,sugereoóbvio,quetoda aquelaregião formava umapequenailha, pois margeada por um lado pelo Igarapé da Jansen, que no início dos mil e seiscentos ficou conhecido como rio da Olaria, que se juntava a Lagoa, ao Renascença e ao Jaracati, até se encontrar com o rio Maioba ou Cutim, que mais tarde receberia o nome de rio Anil, ao pé da ponte Bandeira Tribuzzi. A pequena ilha era o abrigo ideal contra invasões, poisenquantodificultavaqualquerataqueinimigo,permitiaescapeparaointeriordaIlha Grande emdireção à aldeia de Uçaguaba, que se tornou a Miganville do tradutor francês DavidMigan,primeirapovoaçãoeuropeiadoMaranhãoedetodaaregião.

Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia.OportousadonessasatividadeseraodeJeviré(Pontad’Areia).

É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Somese que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o “chefe dos negros” (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era “parente do governador de Dieppe”. Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jevirée da entrada dorioMaiove(Anil),queprotegeriaMiganville.

Noberto (2016)[24]lembra que àquela época o Brasil setentrional era completamente abandonado pelos portugueses, no território que se estendia da povoação de Natal, no Rio Grande do Norte, até a região amazônica, que no dizer do ilustre historiador maranhense João Lisboa, no Jornal do Tímon: “era um completo abandono (…) e os donatários régios de Portugal e Espanha estavam incorrendo nas penas de comisso”:

Abandonada a região pelos lusos, desde a primeira metade dos anos mil e quinhentos os gauleses da Bretanha e da Normandia se apresentavam como os maiores frequentadores da Ilha do Maranhão, sendo ilustrativa a carona que os sobreviventes da grande expedição de Aires da Cunha, naufragada em 1536 no litoral maranhense, pegaram com os franceses para retornar à Portugal, pois estes é que faziam do Maranhão o principal locus de apoio à intensa movimentação existente entre o Amazonas e os portos franceses de Rouen, Dieppe, La Rochele, Saint Malo, Cancale e Havre de Grace. No final daquele século elescomeçaramasefixarnaIlhaGrande.OnaufrágiodaesquadradocapitãoJacquesRiffaultporvoltade

1594 no Golfão Maranhense foi determinante para a ocupação, que ali edificou uma feitoria (le comptoir) nas imediações da Ponta da Areia. Muitos náufragos e novos moradores da Ilha se amasiavam com as índias e iam residir nas aldeias, que totalizavam vinte e sete, conforme a descrição do escritor capuchinho ClaudeAbbeville.

Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil(1992)[25]apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz[26], cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno[27]durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros,Migao-Ville, propriedade do intérpretedeDieppe,DavidMigan,seguramenteumpsudônimo,noentenderdePianzola:

“[…] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, SaintMalo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[…].(NOBERTO SILVA, 2011).

ContinuemoscomNobertoSilva(2011)[28]:

[…] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan. Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d’Evreux de “o sítio Pineau” em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. Era desse lugar que partia o protagonismo francês para outras regiões como a Amazônia e a serra da Ibiapaba. Foi deste pequeno núcleo maranhense que uma equipe liderada por Charles des Vaux e Adholphe de Montville partiu para criar um povoamento na Serra Grande, onde hoje está a cidade de Viçosa do Ceará, pois os mesmos tinham laços de amizades com os indígenas daquela região. Sobre esse momento o escritor cearense Gilton Barreto na sua obra História, fatos e fotos de Viçosa do Ceará (Fortaleza, 2006) escreveu que “Por volta do ano de 1590, estabeleceram-se na Serra Grande franceses provenientes do Maranhão (…). Deu-se ao lugar um certo perfil urbano com alinhamento de casebres e ruas, dentre estas a Rua de Paris (…) e a Rua Pedra Lipse…”. Deste longínquo período restaram naquele lugar as duas ruas mencionadas. A última delas dá acesso à Igreja do Céu, no topo da montanha e um dos lugares mais visitados de Viçosa e da serra da Ibiapaba.(NOBERTO, 2016)

Segundo Noberto (2016), a França Equinocial compreendia metade do Brasil atual, estendendo-se do Ceará aoAmazonas, esseeventodepassagemdas chavesda fortaleza deSão Luís,demãosfrancesaspara mãos portuguesas, representa um dos acontecimentos mais importantes da América de todos os tempos, poisaliestavasendodecididaasortedemetadedoterritóriobrasileiro:

Em 1607 o jesuíta Luiz Figueira recebeu informações dos selvagens que retornaram do Maranhão para a Ibiapaba.EleasanotouassimnasuaconhecidaRelaçãodoMaranhão:

[…] acerca dos franceses que tínhamos por novas que estavam assentados com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio Maranhão. Uma destas era o Forte Sardinha (le fort Sardine) […]. O quartel francês era comandado por um português, que emprestou seu nome ao forte, e trabalhava para bretões e normandos. Foi ali defronte, no porto de Jeviré, que a esquadra fundadora aportou em 1612. (NOBERTO, 2016).

Japi-açu, através de Migan, convida Françoise de Rasily para ter com ele em sua aldeia para tratar de assuntos importantes; lá Japi-açu diz que já estavam começando, os indígenas, a se aborrecer por não chegarem os guerreiros franceses sob o comando de um grande morubixaba; que já tinham resolvido abandonar a região com receio dos perós. Afinal, já estavam cansados de negociar com os naturais de Dieppe, “pobres marinheirosenegociantes”[29],quelhesprometiamavindadeumgrandechefeparaos proteger dos portugueses:

[…] o orador (Japi-açu) percebe que os integrantes da frota destinada a instalar a França Equinocial não eram ‘pobres marinheiros e negociantes’ – como os que viviam no Maranhão entre os indígenas desde o final do século XVI -, ‘nossos bons amigos’, referindo-se àqueles que viviam desde certo tempo entre os Tupinambá […] mas um exercito de ‘bravos soldados’ para a defesa contra os inimigos […] Do discurso de Momboré-uaçu – capitulo XXIV, intitulado Do que ocorreu em Eussauap durante a nossa visita, acontecida num domingo (20 de outubro de 1612…), após a realização de missa à qual compareceram os “habitantes de Eussauap juntamente com os franceses– este afirma que vira a chegada dos perós em Pernambuco e Potiú; e da mesma forma que com os portugueses, aconteceu com os franceses: […] Da primeira vez que vieste aqui, vós o fizeste somente para traficar […] nessa época, não faláveis em aqui vos fixar; apenas vos contentáveis em visitar-nos uma vez por ano, permanecendo entre nós somente durante quatro ou cinco luas. Regressáveis então a vosso país, levando os nossos gêneros para trocá-los com aquilo de que carecíamos. […] Agora já nos falais de vos estabelecerdes aqui, de construirdes fortalezas para defendernos contra os nossos inimigos […] trouxeste um morubixaba e vários Paí […] depois da chegada dos Paí, plantastes cruzes […](CALDEIRA, 2004, p. 38, in ABBEVILLE, 1975, p. 115115).

Poucosmesesdepois–prossegueNoberto(2016)-,oentãoativocomplexobélico-portuário-comercialsob a proteção do Forte Sardinha foi esvaziado e substituído pelo momento oficial estabelecido no Maranhão daFrançaEquinocialpelosgeneraisLaRavardièreeRazilly:

O primeiro conjunto de leis das Américas, promulgado na Praça do Forte no dia primeiro de novembro de 1612,queprevia pena de morte,dentreoutras coisas, não permitiadesobediênciasdos antigos ocupantes franceses do pequeno reduto, pois tudo e todos estavam sob as ordens do reino da França. Alguns permaneceram na Ilha a serviço do Rei, sob as ordens do governador Daniel de la Touche. As ações, a partir de então, migraram para o novo locus no promontório mais alto onde a cidade de São Luís foi implantada, na atual Praça Pedro II, local escolhido pelos novos senhores da terra para levantar a cidadela de São Luís. Tem-se, pois, que a ocupação do Maranhão com o estabelecimento de uma povoação ininterruptamente ocupada por europeus, em especial, franceses, se deu em 1594, com o estabelecimento de Miganville, mais junto á aldeia de Uassap – Eussauap – hoje, Viva Velha de Vinhais; e a missa, celebrada aquela primeira,sedeunacapelinhaaliconstruída,erezadaamissanodia20deoutubrode1612…

Nafaltadeumadatafixadanaqueleanode1594–seriamarço?–comemora-seos422anosda‘fundação’ de Miganville/Onçaguaba – Uassap – Eussauap/Aldeia da Doutrina (1617 ou 1622, dos Jesuítas)/Vila (Nova) de Vinhais (1755-1835)… Temos o dia 20 de outubro como data de comemoração, quando dos 404 anosdaprimeiramissarezadaechantadaacruz…