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RUBEN RIBEIRO DE ALMEIDA
RUBEM ALMEIDA239 09 de maio de 1896 # 09 de abril de 1979
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
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Nasceu em São Luis a 09 de maio de 1896; fez todos os estudos nesta Capital, do Colegio são Francisco (primário) ao Liceu Maranhense e à faculdade de Direito. Verdadeira enhciclopedia ambulante, poliglota, falava fluentemente Frances, espanhol, italiano, inglês e, evidentemente, português, além de saber o latim e noções de grego e de alemão. Escritor, jornalista, historiador, poeta, e professor,sendo o Magisterio sua verdadeira profissão. Catedratico do liceu Maranhense, através de concurso puiblico para a cadeira de Lingua Portuguesa, onde defendeu a tese “Verbos fundamentais da Lingua Portuguesa e raízes e radicais gregos existentes no Portugues” (1930). Lecionou ainda em todos os colégios de seu tempo: São Francisco (onde estudou), Nossa Senhora auxiliadora, Oscar barros, sinhá Nina, Rosa castro, São Luis, Liceu Maranhense, Centro Caixeiral, Cisne, Minerva, Instituto Vieiros, e Escola Técnica Federal. Foi um dos fundadores (1952) e professor da antiga Faculdade de Filoosofia de São Luis do Maranhão, que dentre seus cursos de Licenciatura ministrava o de letras neo-Latinas. Foitambém professor da faculdade de Direito, por concurso publico, onde apresentou duas teses: “O Indio brasileiro em fase do Codigo Civil”, e “Investigação na Paternidade – argumentos que a justificam e repelem, para a Cátedra de Direito Civil” (1934); e mais “Presidencialismo e Parlamentarismo”. Não se preocupou com a publicação de livros. Nos anos de 1912 a 1951 há artigos seus nos jornais “Diário do Maranhão”; “A Pacotilha”; “O Jornal”; “O Combate”; “Folha do Povo”; “Tribuna”; “Diário de São Luis”; e “O Imparcial”. Há, ainda, publicações em revistas especialoizadas, como os textos “A Constituição dos Antonimos para a História do Maranhão” (1947 – Revista de Geografia e História). Interessante seu trabalho intitulado “Panteon das Selvas”, onde traça biogtrafia dos mais extraordinários índios do Brasil, do Amazonas ao Rio Grande do Sul; muito bonito “Glorificação de Gonçalves Dias”, discurso laudatório, publicado em 1962; seu único livro publicado, postumamente, ‘Prosa, poesia, e Icnografia”. Não constituiu família e nem deixou descendente. Foi membhro do Conselho Estadual de Cultura; AML, fundador da cadeira 29; sócio efetivo do IHGM, cadeira 9 e posteriormente patrono da cadeira 51; membro da Subcomissão nacional de
239 OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005
Folclore; Consultor técnico do Diretorio Regional de geografia. Integrou por 17 anos a Sociedade Literaria Barão do Rio Branco; e a Legião dos Atenienses. Palestrante de valor, memória privilegiada. Detentos das medalhas do Merito Timbira, do Sesquicentenario da Independencia, e Cidade de São Luis; pela Academia maranhense de letras; as de Graça Aranha, e de Gonçalves Dias. A UFMA conferiu-lhe o titulo de professor Emerito; foi duas vezes Diretor do Liceu Maranhense e da Biblioteca Publica Benedito leite; Presidente do IHGM no período de 1967 a 1972. Faleceu em São Luis em 09 de abril de 1979.
A ÁGUIA E O ROUXINOL (ELEGIA AO PROF. RUBEM ALMEIDA) 240 RUBEN ALMEIDA, O JORNALISTA O Mestre Ruben Almeida, não foi somente Professor. No período de 1912 a 1951, exerceu com raro brilhantismo as nobres funções de jornalista, tendo militado em quase todos os jornais de São Luis, vez que a sua verve o fazia disputado por aqueles que administravam os jornais locais à época. Além de artigos em jornais, teve ainda, publicações em revistas especializadas e algumas obras, dentre as quais destacamos: “Panteon das Selvas”, “Glorificação de Gonçalves Dias” e “Prosa, Poesia e Iconografia”. Aos 17 anos de idade Ruben Almeida integrou a Sociedade Literária “Barão do Rio Branco” e a Legião dos Atenienses. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura, da Subcomissão Nacional de Folclore, Consultor Técnico do Diretório Regional de Geografia e Diretor do Liceu Maranhense por dois mandatos. Junto à Academia Maranhense de Letras, foi fundador da cadeira nº 29, e no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, foi patrono da cadeira nº 51, por nós atualmente ocupada, chegando a ser Presidente, entre os anos de 1967 a 1972, secundado pelo brilhante Promotor de Justiça, Dr. José Ribamar Seguins, seu vice. A extraordinária vida intelectual do Professor Ruben Almeida foi sempre meteórica. O brilho da sua invulgar inteligência galgou-o à Academia Maranhense de Letras241 . Como Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão sempre se houve com desembaraço, levando a bom termo as metas que se propôs realizar. Não pode concluir seu mandato por motivo de saúde. Infelizmente, a saúde precária não lhe permitiu chegar até o fim do ano acadêmico de 1972. O vice-presidente, Dr. José Ribamar Seguins completou seu mandato, tendo sido eleito inicialmente para o biênio 1972/1974. A dinâmica do seu trabalho levou os confrades a reconhecerem seus méritos e elegerem-no para sucessivos mandatos, que só foram concluídos em 1994, sendo o único acadêmico a permanecer 22 anos no exercício da Presidência. E saiu porque entendeu que era hora de ceder lugar a outro. Pelos confrades ainda continuaria mais tempo na presidência. Hoje, aliás, não são poucos os que pensam no seu retorno à presidência da Casa de Antonio Lopes. RUBEN ALMEIDA VISITANDO LIVRARIAS Peço permissão aos leitores para contemplá-los com um episódio que vivenciei em uma livraria desta Capital, ao lado do Prof. Ruben Almeida. Quem conhece São Luis, bem haverá de lembrar-se da Livraria “A Colegial”, que outrora foi parada obrigatória de estudantes e professores. A Livraria era localizada no Centro de São Luís, bem à praça João Lisboa. O Prof. Ruben Almeida era um visitante assíduo daquela fonte de saber que mantinha um considerável acervo de livros a oferecer aos estudiosos.
240 OLIVEIRA, Edomir Martins de. A Águia e o Rouxinol (eLEGIA AO pROF. rUBEM aLMEIDA). São Luis: Orlimar Grafica e Editora, 2011. 241 O imortal poeta Carlos Cunha, em seu livro “Poesia Maranhense de Hoje”, traçou um perfil biográfico do Prof. Ruben Almeida, digno da melhor das atenções, onde se refere a ele como um mestre que engrandece qualquer Instituição à qual esteja vinculado.
Estava eu a folhear um livro sobre discursos do grande Tribuno Romano Marco Túlio Cícero, quando ao meu lado escutei uma voz muito minha conhecida de sala de aula. Cumprimentei-o. Tratava-se do Prof. Ruben Almeida que pedia ao livreiro que por gentileza, lhe trouxesse um exemplar da mais recente obra que versasse sobre a língua pátria. Sendo Ruben Almeida um estudioso da língua portuguesa, nenhuma novidade havia na procura do último lançamento sobre o assunto. O que surpreendeu a todos que presenciaram o pedido foi a repentina tomada de posição do Professor Ruben. Depois de rápido manuseio do volume pedido, arrancou algumas páginas, pagou o valor do livro e pediu ao livreiro que jogasse o resto fora, vez que o livro de aproveitável só tinha as folhas que arrancara. Virando-se para mim, acrescentou: jovem leia de tudo, mas saiba escolher o que convém e só guarde o que interessa e possa lhe enriquecer. Era assim o Prof. Ruben Almeida. De certa feita, mandara que minha turma do Liceu Maranhense que ele tinha ao seu encargo, fizesse uma dissertação sobre o tema “Viagem Marítima”. Surpreendentemente, foi às raias da indignação quando um aluno menos avisado escreveu na abordagem do tema, que seria bom que a embarcação parasse no meio do mar para que os passageiros pudessem fazer outro passeio, saltando e empurrando a embarcação. O Prof. Ruben Almeida entendeu a dissertação em tela como um acinte à língua pátria e oriunda de uma imaginação doentia, acrescentando ironicamente que só faltou o autor dizer que seria bom e que os passageiros saltassem para empurrar a embarcação no próprio mar, cuja houvera parado o motor. Aí sim, completou o Mestre. A comicidade estaria completa. DEPOIMENTOS SOBRE O PROFESSOR RUBEN ALMEIDA Contou-me o Professor Tácito da Silveira Caldas, que de certa feita indo o Prof. Rubem Almeida assistir a uma reunião do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, quando era então Presidente o Dr. Seguins, foi convidado por este para compor a mesa diretora dos trabalhos, ao que o Prof. Ruben teria pedido permissão para assistir a reunião do plenário, pois gostava de ouvir olhando o orador. Em vão, o convite foi reiterado. De nada adiantaram as palavras do Dr. Seguins que tentava convencê-lo, dizendo-lhe que sua presença à mesa era uma honra das maiores. “Obrigado Presidente”, mas insisto em ficar aqui no Plenário. Despido de toda vaidade foi assim o Prof. Ruben Almeida. A sua única honra, consistia no reconhecimento da sociedade pelo que ele era, pelo que ele foi, e neste particular em tudo superior ao que ele teve. Morador da Rua dos Afogados, em um histórico Mirante, bem próximo à Rua da Cruz, quem nos conta é o Dr. Seguins, ex-presidente do IHGM, vivia, nesta segunda moradia, entre livros, estantes e escrivaninha. Ambiente de estudo nunca bem arrumado, dizia ele que arrumação necessária era somente a que residia no seu intelecto. Na sua desarrumação de livros, sabia contudo, onde estava o livro de que precisava. Havia mesmo quem dissesse que com autores já falecidos conversava ele durante o sono. De vida familiar muito restrita, teve em a Sra. Justina, conhecida na intimidade por Da. Juju, sua inestimável colaboradora e companheira. Dessa convivência nasceu ao casal um filho que os amigos próximos chamavam de Rubinho, não sendo ele na verdade batizado sequer com o nome de Ruben, antes se chamava Silvio. Acredita-se que o diminutivo Rubinho era uma forma carinhosa de contrastar com o Rubão, tão temido Prof. de Português. A criança teve vida curta. O Pai Celestial chamou-o para o seu seio, ainda no albor da juventude, ele que parecia uma promessa intelectual. É preciso ainda ressaltar que o Prof. Ruben Almeida foi Diretor da Biblioteca Pública Estadual Benedito Leite, nomeado para substituir a confreira Aryceia Moreira Lima, que mourejava também no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ela que fora designada para exercer outra função importante no Estado.
Como Diretor da Biblioteca Pública iniciou uma campanha memorável de estímulo aos jovens, incentivando-os à leitura. Emprestou inúmeros livros da Biblioteca a todos que estavam interessados em ler. O leitor podia ou não ser cadastrado na Biblioteca para estar habilitado ao empréstimo. O leitor tendo cadastro já feito, o empréstimo do livro saía mais rápido. Se não tinha cadastro precisava preencher uma ficha, dizia dos seus dados básicos, tais como nome completo, pais, endereço, sexo, escola onde estudava. Era o bastante. O leitor saía com o livro desejado debaixo do braço com um prazo estipulado para devolução. Perguntei-lhe certa vez:
“Professor, esses jovens que levam livros por empréstimo o devolvem depois?” Ao que ele me responde que os poucos que não devolviam eram tão insignificantes que sequer deveriam ser lembrados. Desprovido de toda e qualquer vaidade, trajava-se, com roupas sempre limpas e sem rasgões. Sua vasta cabeleira era o seu ponto marcante. A sua identificação era, principalmente vasta cabeleira sempre cheia, onde os cabelos eram penteados no passar entre os dedos, servindo estes como se um pente fosse. Estava assim, a cabeleira era muito bem arrumada. Os últimos anos de sua vida foram vividos em uma residência à Rua das Hortas, nesta Capital. Várias vezes ali fui visitá-lo, ansioso por tirar dúvidas e aprender um pouco mais. Sempre fui por ele atendido com alegria e prazer, respondendo aos meus questionamentos e orientando-me. Para um estudante sempre foi momento de glória aquele em que conseguia conversar com o Mestre Ruben. Um fato pitoresco da vida do Prof. Ruben Almeida merece ser registrado: morreu sem nunca acreditar que o homem pisara na lua. Dizia sempre que aquela foi a mais fantástica história de que tomara conhecimento. Nunca pode ele se convencer do feito dos astronautas que revolucionaram o mundo morreu dizendo: “foi uma farsa”. Curioso é que hoje existem pesquisadores que põem sob suspeita a certeza que se tem. Missão cumprida na terra, ajudando a formar gerações, que logo ocuparam lugar de destaque quer no cenário estadual, nacional ou internacional, o Senhor Deus o chamou em 09/04/79, aqui mesmo nesta cidade, que foi do seu nascimento, contando ele com 82 anos e onze meses de idade. O Professor Ruben não morreu. Nós que fazemos o IHGM preferimos dizer que Deus, o Pai por Excelência, fez com ele o que fazemos com nossos filhos quando adormecem: Tomamos as crianças em nossos braços quando o sono as alcança, em qualquer parte e levamos para um lugar seguro, com todo conforto. Quando o Prof. Ruben Almeida adormeceu, entendemos não ter sido diferente. O Pai Celestial tomou-o nos seus braços e levou-o para o lugar seguro que lhe estava reservado na Mansão Celestial. Graças à proposta do Historiador e Confrade Luiz Alfredo Netto Guterres Soares, que na gestão do Presidente do IHGM, José Ribamar Seguins, propusera a criação de mais dez cadeiras, com as quais pretendia homenagear nomes ilustres que haviam partido, maranhenses de escol, que precisavam ser lembrados constantemente, foi que foram abertas mais 10 vagas no Sodalício, passando o Instituto de 50 para 60 sócios, cabendo à cadeira de nº 51 ser patroneada por Ruben Ribeiro de Almeida, “o último grande gênio da língua pátria”, no dizer daquele confrade. É esta cadeira que ocupo com indizível alegria, sendo enorme a responsabilidade de substituir o seu titular, de tão saudosa memória, a quem nos habituamos a render homenagens e a cultuá-lo pela enorme contribuição à cultura da nossa terra e da nossa gente. A grandiosidade dos serviços do Prof. Ruben Almeida prestados ao Maranhão foi indescritível, quem nos acrescenta é a “Biografia Resumida de Maranhenses Ilustres”, contida na Revista nº 11 do IHGM, às fls. 41, dissertada pelo confrade Joaquim Elias Filho, em parceria com a confreira Maria dos Remédios Buna Costa Magalhães.
Dessa biografia, obtivemos as informações de que ele recebeu “Medalha Cidade de São Luís”, “Medalha do Mérito Timbira” e “Medalha Maranhense do Sesquicentenário da Independência”, todas concedidas pelo Governo do Estado do Maranhão; que a Academia Maranhense de Letras, pelos seus elevados dotes intelectuais sobejamente reconhecidos, concedeu-lhe a “Medalha Graça Aranha” e a “Medalha Gonçalves Dias”; que a Universidade Federal do Maranhão, considerando os seus elevados méritos, conferiu-lhe a comenda de “Professor Emérito”; que O Imparcial, matutino desta cidade, vinculado aos Diários Associados, rendeu-lhe também homenagens, concedendo-lhe o título “Quem é Quem”; que do Ministério da Aeronáutica, recebeu o “Medalhão do Centenário de Nascimento de Santos Dumont”; que mourejou o Prof. Rubem Almeida como jornalista nos seguintes jornais desta capital: “Diário do Maranhão”, “A Pacotilha”, “O Jornal”, “O Combate”, “A Folha do Povo”, “O Diário de São Luís”, sobressaindo-se pela sua pena brilhante, a serviço do Maranhão, em todos eles, com destaque para “O Imparcial”, matutino que ainda circula até hoje em nossa cidade. Haurimos, ainda, da Revista nº 11, já referida, que o nome do Prof. Ruben Almeida saiu da esfera local, chegou à nacional e estendeu-se à internacional, haja vista o título de membro da “Member of That Society: The National Geographic Society – Washington District of Columbia in the United States”. Do livro “Cultura em Quadros” do poeta e historiador Luiz Alfredo Neto Guterres Soares colhi sobre o Prof. Ruben Ribeiro de Almeida as seguintes pérolas acerca do mestre que aqui estamos a prestar homenagens: “Ruben Almeida – estudioso, fez História com História, profundo e meticuloso – um prodígio de memória”. Luiz Alfredo nosso confrade no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, com estas palavras sintetizou uma vida. O exemplo do Prof. Ruben Ribeiro de Almeida ficou. Que Deus nos ajude a entende-lo e a reverenciar sua memória. Ele, pelo muito que fez, eternizou-se. Nunca morrerá. POPULÁRIO MARANHENSE A Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, sob o título “Série Inéditos”, cuja série foi iniciada com a publicação do livro “Populário Maranhense, legado que nos doou o saudoso Prof. Domingos Vieira Filho, trouxe a lume o lançamento da obra “Prosa, Poesia e Iconografia”, de autoria do Prof. Ruben Almeida. Nossa pesquisa tornou-se fácil com o manuseio da obra em referência, onde fomos buscar farto material para homenagear o Prof. Ruben Almeida. Neste oportuno trabalho vamos encontrar produções dispersas do Prof. Ruben Almeida, que estavam direcionadas para plaquetas, revistas e jornais e que sem dúvida, se perderiam no tempo e no espaço, não houvesse sido feito este trabalho. Ter-se-ia perdido também a sua inestimável colaboração a temas relacionados com a etnolinguística, etnologia, problemas indígenas, folclore, antropogeografia. Com a publicação de prosa, poesia e iconografia tem-se reunido os fragmentos dos seus valiosos trabalhos, registrando-se assim, para a posteridade, um pouco da inestimável contribuição de Ruben Almeida aos estudiosos maranhenses.
Se nada tivesse nos legado o autor, os seus “Verbos Fundamentais da Língua Portuguesa” já o teriam imortalizado. Chagas Val comentando sobre o trabalho de Ruben Almeida, diz-nos que “é um sábio na última acepção da palavra, e os sábios preferem o silêncio à publicidade gratuita dos que escrevem. Aqui viveu os melhores dias de sua juventude e sofreu a infame perseguição dos tiranetes obtusos. Só porque convicto da verdade, e na mesma linha germânica de Tobias Barreto, sempre defendeu a Alemanha como país grandioso e eterno”. Registram os anais da História, que inimigos do mestre Ruben entendiam ser ele nazista e o prenderam.
Seus inimigos estão mortos, deles não se fala senão como verdugos que o tempo fez esquecer. O nome do Prof. Ruben Almeida sobreviveu às intempéries do tempo, sendo até hoje admirado e lembrado com muito respeito. O saudoso Prof. Mário Martins Meireles, imortal da Academia Maranhense de Letras, encarregado de traçar perfil necrológio do Prof. Ruben, em sessão do dia 09.05.1979 naquele Sodalício, refere-se ao Prof. Ruben dizendo que conquistou cargos, títulos e que executou serviços de valor inestimável para o Maranhão, ressaltando que “por três gerações consecutivas, todos vós o sabeis porque não há em São Luís, e no Maranhão por certo, quem não saiba o que foi e o que era, o que fez e o que fazia, o que sabia e o que ensinava”. Enfatiza ainda o Prof. Mário Meireles que merecem ser lembrados, pelo seu grande valor, “Uma palestra sobre Henrique Leal”, datada de 1928, “Raízes e radicais gregos existentes no português”, “O índio brasileiro em face da legislação”, e um trabalho versando sobre doutrina política, intitulado “Presidencialismo e Parlamentarismo”, estes dois últimos datados de 1934. Pelos idos de 1962, juntamente com o autor desse seu necrológio, pronunciou um “discurso laudatório” à memória do autor dos Timbiras, publicado pelo Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, sob o título “Glorificação de Gonçalves Dias”. Também o Prof. Sá Vale, que formava ao lado do Prof. Ruben Almeida o exercício do magistério no Liceu Maranhense, dizia sobre ele que se tratava “de um dos maiores maranhenses vivos pelo seu belo talento e enciclopédica cultura e denuncia que tinha então pronto para o prelo uma obra magnífica – “Panteon das Selvas”. O Prof. Ruben Almeida, inegavelmente, dominava a língua pátria com segurança, era um pesquisador e estudioso por excelência, acrescentando o Prof. Mário Meireles, “além do muito ou do pouco que sabia de tudo, ele era, sobretudo, como que a história viva desta terra”. PROFESSOR RUBEN ALMEIDA – DIGNO REPRESENTANTE DO ESTADO DO MARANHÃO Consta do Diário Oficial do Estado do Maranhão de 26.12.1932, Decreto que foi assinado pelo Senhor Francisco Lisboa Viana, Diretor, respondendo pela Secretaria de Estado do Maranhão, a designação do Prof. Ruben Ribeiro de Almeida para, sem prejuízo dos vencimentos do seu cargo e com o direito apenas à indenização pelos cofres públicos do Estado, das despesas que fizer com a viagem, proceder na zona compreendida entre os rios Turiaçú e Gurupi, aos estudos e investigações indicados nas instruções que lhe serão fornecidas pelo Secretário de Estado”. Recebidas essas instruções, o Prof. Ruben partiu para o cumprimento do Decreto, externando no seu relatório ter “o maior interesse de parte do Governo em reaver uma documentação cartográfica”, sendo de se ressaltar que tal documentação era portada pelo Prof. Ludovico Schwennagen, “insigne homem de ciência que veio a falecer, lamentavelmente aos 71 anos de idade” e que “se entregara com todo o ardor da sua atividade a passar a limpo os esboços dos rios, furos, ilhas, cidades, povoados e minas” que visitou com o Prof. Ruben. Desse magnífico trabalho do Prof. Ruben teve-se uma visão geográfica dos limites dos Municípios de Turiaçú e Carutapera, passando-se por Maracassumé, Rio Tromaí, Rio Iriri-Assu, Iriri-Mirim e Gurupi. Significativo também foi o registro de que não havia lagos de importância e a descrição de cidades e povoados que pertenciam à época aos Municípios de Turiaçú e Carutapera. Importante participação teve o Prof. Ruben no estudo que procedeu sobre a geologia, quando deixou patente que o “litoral maranhense fez parte na época do cretáceo superior e do oceano chamado Tetis, um dos dois (o outro era Nereis), em que dividia o Atlântico fechado na sua parte equatorial pelo istmo da Arqueamazônia e na meridional, pelo da Arqueplata (prosa, poesia e iconografia), fls.33”. Semelhante participação teve no estudo da mineralogia, donde se foi buscar a afirmativa de que “a crença geralmente aceita é que todo ouro do noroeste maranhense é ouro de aluvião, ou seja, descoberto pelo trabalho de erosão das águas pluviais ou fluviais, e por elas carreado”. Sem perder de vista a sua designação pelo Governo do Estado para proceder estudos no interior do Maranhão, teve também as suas atenções concentradas na Botânica, na Zoologia, tendo feito um profundo estudo da navegabilidade dos rios maranhenses, valendo-se no ensejo de um
respeitável estudo sobre o povoamento dos municípios do Maranhão, e destacando as vias de comunicação existentes, entre elas as vias terrestres, marítimas e fluviais. Entre as vias de comunicação pessoal havia as estações telegráficas em Turiaçú e Carutapera, destacando um uso de telefone de Maracassumé para Engenho Central e Imperatriz, que embora precariamente era o que se dispunha àquela época. Ao apresentar o seu relatório, destaca o Prof. Ruben que nas diversas palestras que teve com o Exmo. Sr. Capitão Lourival Seroa da Mota este mostrava o seu desejo de visitar a afamada região maranhense, acrescentando o Prof. Ruben na parte final do seu relatório: ”passo a lembrar a V.Exa., as exeqüíveis medidas que acho necessárias e urgentes para que o Estado do Maranhão usufruindo inteligentemente os inomináveis tesouros que jazem no seu noroeste, logre enriquecer a sua economia, libertando-se de uma vez e quiçá para sempre, da dolorosa crise em que agoniza”. Do seu relatório destaca-se:
Quanto à Geografia – “sob esse ponto de vista, o primeiro trabalho do meu relatório,, a medida de maior alcance a tomar é o levantamento cartográfico maranhense”. Quanto à Geologia – “incidentemente figura o Maranhão nas apoucadas e imperfeitíssimas cartas geológicas da América do Sul e ainda nas menos apoucadas do Brasil”, o que levou pela imperfeição dos estudos existentes, a concluir que é preciso “reintegrarmos o Maranhão no seu verdadeiro e orgulhoso título de Atenas Brasileira, que soa como o vibrar de clarins nas alvoradas festivas”. Quanto à Mineralogia: - “...nada mais vem a ser do que um simples capítulo da Geologia... lembro a V. Exa., que do mesmo passo se realizasse os trabalhos geológicos também o fossem os mineralógicos, para economia de tempo e norte do Governo”. Quanto à Botânica – “... chega a ser um verdadeiro crime deixar-se ao abandono tão inestimável tesouro..., sobretudo na margem maranhense do Gurupi, para o que poderiam ser aproveitadas as grandiosas cachoeiras no fornecimento de energia”. Quanto à Zoologia - “...sugiro a V. Exa., na dificuldade de organizar-se um Jardim Zoológico, o empalhamento por um especialista dos mais importantes tipos de nossa fauna, acompanhado o trabalho de um catálogo e fotografias”. Quanto à navegabilidade dos rios, vias de comunicação e povoamento – “... a destruição de cachoeiras por explosivo... poderia permitir a navegação do Gurupi, no que poderia ser auxiliado pelo vizinho Estado do Pará”. No tocante às vias de comunicação, “necessidade de novas estradas e melhoramento das antigas”, e no tocante ao povoamento, chamemos “os nossos irmãos cearenses... para colonização das nossas terras, dando todo o necessário em roupas, remédios, mantimentos para sua fixação, auxiliado pela Saúde Publica”. Conclui o relatório do Prof. Ruben Almeida lembrando que não podem ser esquecidas as melhores atenções aos índios, entre eles os Guajás, Guajajaras, Gaviões, Iaaes, Manajós, Tembés, Timbiras, Urubus, e traduzindo textualmente suas próprias palavras, acrescentou o Prof Ruben Almeida: “julgando assim desobrigar-me da incumbência que me confiou o Governo, sou Exmo. Sr. Interventor, de V. Exa., patrício e admirador”. A propósito do índio brasileiro, os cuidados do Prof. Ruben eram tão grandes que quando se submeteu a concurso de livre escolha para provimento da Cadeira de Direito Civil na Faculdade de Direito de São Luís, a sua tese versou sobre “O índio brasileiro em face da legislação”. Na exploração do tema, direcionou seu trabalho preliminarmente para o que a propósito encerrava o Direito Canônico, lembrando que a Santa Sé desde os idos de 1537, 1639 e 1741 procedeu a intervenções sobre o tema, destacando que o Papa Paulo III revelou o seu interesse pelo assunto. À época no Governo de Portugal encontrava-se o Rei Dom João III e na Espanha o Rei Carlos V.
Em 1639 a bula do Papa Urbano VIII confirmou o “Breve”, de Paulo III e duramente excomungava aqueles que vendessem ou escravizassem os índios.
Por outro lado, a bula papal de Benedito XIV, de 1741, intitulada “Immensa Pastorum Principis”, proibia terminantemente sob pena de excomunhão, “que qualquer pessoa, secular ou eclesiástica, possuísse índios como escravos e os reduzisse a cativeiro por qualquer forma e sob qualquer pretexto”. Na abordagem do tema, o Prof Ruben foi se abeberar também da legislação portuguesa, que no tocante aos índios tinha uma vasta preocupação com os silvícolas, daí porque inúmeros eram as leis, cartas-régias, provisões, alvarás, éditos, decretos, regimentos e diretório tudo emitido para proteger os índios. Lembra o Prof. Ruben que após a Proclamação da Independência, Lei de 20.10.1823 promulgada pela Assembléia Geral Constituinte, determinando que enquanto não fosse organizado um novo Código continuariam em vigor as Ordenações, Leis, Regimentos, Alvarás, Decretos e Resoluções promulgados pelo Rei de Portugal, no sentido de proteger os índios. Posteriormente, o Código Civil (Lei 3.071, de 01.01.1916), emendada pelo Decreto-legislativo nº 3.725, de 15.01.1919), incluiu os silvícolas, esclarecendo que ficariam sob o regime tutelar, cujo regime cessará na medida em que forem se adaptando à civilização do país. O espírito irrequieto e estudioso do Prof. Ruben levou-o a tratar de outro assunto que até hoje se constitui matéria de particular interesse no Direito da Família. Foi assim que apresentou uma segunda tese para provimento de uma Cadeira de Direito Civil na Faculdade de Direito de São Luís, e que tomou o nome de “Investigação da Paternidade, argumentos que a justificam e repelem”, lançando ainda no momento a indagação: adotou o Código Civil as cautelas necessárias? Trabalho de grande vulto sobre a investigação da paternidade, onde o Prof. Ruben concentrou suas atenções no direito à vida, no direito à paternidade, no direito à sociabilidade, no direito à reparação e no direito à sucessão. No tocante aos argumentos que repelem a investigação, alinhou o Prof. Ruben o receio de escândalos, o perigo das explorações e as expectativas de abuso. Preocupado com as cautelas necessárias ao adotar o Código Civil, o Instituto chegou a afirmar que tendo em vista a elaboração do Código à época, houveram cautelas necessárias ante as idéias “altamente retrógradas, ainda dominantes”. Na exploração do tema Investigação de Paternidade, vale a pena registrar que se trata de um belíssimo trabalho em que foram concentrados os estudos no direito anterior, nos doutrinadores, nos projetos de código, na discussão dos projetos, no Código Civil Brasileiro em vigor à época e na legislação comparada. RUBEN ALMEIDA O CONFERENCISTA Os registros históricos estão a consignar brilhante conferência proferida pelo Prof. Ruben Almeida no “Grupo Escolar Henriques Leal”, por motivo da comemoração do 1º centenário de nascimento do grande intelectual maranhense que o Grupo Escolar leva o nome. No preâmbulo de sua conferência diz o Prof Ruben que “homenagear os grandes homens é dever tão sagrado, é tão belo dever, que por isso mesmo, pela sacrossantidade que encerra e pela beleza que contem, escapa habitualmente a atenção dos contemporâneos, de contínuo solicitada por tantos e tão variados atrativos”. No decorrer desta sua conferência, o Prof. Ruben referiu-se a Antonio Henriques Leal, destacando seu comportamento como cidadão, médico, político, jornalista, amigo, tradutor, romancista, historiador, crítico, patriota, concluindo nos seguintes termos: ”E a ti, Antonio Henriques Leal, de joelhos, as nossas escusas se o preito esteve aquém do teu merecimento. Não foi nossa a culpa. Tua somente, que te alçaste a culminâncias tais, onde não podem chegar os espíritos das crianças para depor-te aos pés as palmas, os sons e as flores, a que tens inconteste direito pelo vulto do teu caráter, pelo brilho do teu gênio e pelo esplendor da tua obra”. No Instituto dos Advogados do Maranhão foi igualmente brilhante o Prof. Ruben Almeida, quando discursou abordando “Presidencialismo e Parlamentarismo”, onde concluiu
direcionando seu voto pelo presidencialismo. Pungente foi o discurso no enterro de Antonio Lobo, maranhense ilustre, onde o Prof. Ruben levou às lágrimas tantos quantos o escutaram naquele momento. Nesse discurso traçou o Prof. Ruben o perfil da vida de Antonio Francisco Leal Lobo (Antonio Lobo), fazendo referências ao magistério que ele tão bem exerceu e o destacando como Segundo Oficial da Secretaria de Governo e ainda por ter sido comissionado Oficial de Gabinete dos Governos Cazimiro Dias Vieira Junior, Manuel Belfort Vieira e Cunha Martins. Designado para prestar socorro à cidade de Codó, no interior do Maranhão, acometida que fora a cidade de uma grande enchente no Rio Itapecuru, para ali se deslocou, prestando relevantes serviços. Foi Diretor da Biblioteca Pública do Estado, do Liceu Maranhense, do qual foi “abalizado lente” e para o qual foi nomeado vitaliciamente, em seguida a um brilhante concurso. Ao concluir seu discurso fúnebre, deixou-nos a seguinte palavra ”e o mestre acaba de morrer. Mas, como acaba de morrer o mestre? Triste, como nos foi dado assistir, majestoso como não o imaginamos. Hoje a pátria maranhense se reveste de luto pela perda do filho muito amado que sempre trabalhou pela sua grandeza, honra e prosperidade”. RUBEN ALMEIDA – UM CULTOR DA LÍNGUA PORTUGUESA Visando ocupar a 2ª Cadeira de Português junto ao Liceu Maranhense, apresentou o Prof. Ruben Almeida à congregação da Escola, tese de sua livre escolha que intitulou “Verbos Fundamentais da Língua Portuguesa”. Tratava-se de um trabalho inédito que viria simplificar o estudo das conjugações. Na abordagem do tema, preocupou-se com a etimologia da palavra verbo, continuando a exploração desse mesmo verbo sob o ponto de vista téo-filosófico, passando pela teoria do verbo na téo-filosofia hindu, estendendo-se pela Pérsia, indo até à Caldaica, analisando à luz da Filosofia Ophita (uma das mais interessantes “pelas profundezas de suas cogitações”), detendose na Filosofia grega, na cristã, na druítica e na tupi. Com essas abordagens situou-se na conjugação do verbo, onde nos ensinou que os modos do verbo serão as múltiplas maneiras de manifestar-se mais acertadamente, porque “o verbo é a palavra de afirmação antes – a sua própria afirmação”. PROF. RUBEN ALMEIDA – UM GRANDE ARTICULISTA Dentre os inúmeros artigos do Prof. Ruben Almeida destacaremos alguns para deleite dos leitores.
O intitulado “Nossa Casinha”, que se tratava da própria residência do ilustre Professor, que assim a definia: “Que simpática se apresentava, vista com olhos do passado nossa casinha da Rua do Alecrim nº 10, hoje 54, entre as do Ribeirão e Cruz, lado direito de quem sobe!” Em outro artigo que intitulou “Palacete do Comendador Leite”, nos diz que não era do seu desejo, nem de leve, “arrogar-se à nobreza de solar o palacete, como o dos Belfort ou do Comendador Leite”, lembrando-se aqui que a sua casinha, citada anteriormente em outro artigo, era uma paupérrima porta e janela, porém por ele muito amada. Não se poderia olvidar o seu artigo sobre “Nossa São Luís Histórica”, onde diz textualmente:”talvez se mostre ainda São Luís, das Capitais e cidades brasileiras, a detentora dos melhores e mais profundos vestígios do passado e conclui:”ao visitante, sincero apreciador de velharias, acima do presente movimento da ruas, bancos, comércio, indústria, edifícios, automóveis, estradas – interessa sentir e viver o passado, porque dele e somente de suas glórias vivem os sanluisenses.
Em outro artigo que intitulou “Festa do Divino Espírito Santo” (“na casa de Rosaguardamor”), deixa-nos informações sobre o desenvolvimento da festa e da dona da casa, assim chamada por ser de estatura mediana, gorda, de cara larga, em casa de quem valia a pena assistir aos festejos em honra do Divino).
“Rosaguardamor” tomou esse sobrenome por haver vivido com um guardamor do Estado. No artigo, o Prof. Ruben descreve a festa com a participação de caixeiras, muitas bebidas e comidas próprias da época, salientando que a festança era em homenagem ao Espírito Santo. Merece menção especial o artigo em comemoração ao 32º aniversário da Fundação de São Luís, onde faz uma descrição do descobrimento do Maranhão e do Brasil pelo ciclo espanhol, destacando a participação de Vicente Yañez Pinzon e sua segunda viagem. RUBEN ALMEIDA E A MARINHA Os registros históricos relacionados com a SOAMAR – Sociedade dos Amigos da Marinha nos dão conta de que o Capitão de Fragata Fernando Moreira Godinho convidou o Prof. Ruben de Almeida para discorrer sobre o assunto “Marinha e Independência do Maranhão”. Destaca-se aqui a luta empenhada para reconhecer o Maranhão à Independência, entre as províncias da Bahia, Cisplatina, Piauí e Pará. Destaca o Prof. Ruben neste colóquio, entre as figuras notáveis na causa da independência de nossa província, o nome de Miguel Inácio dos Santos Freire e Bruce e no cenário nacional, Joaquim Gonçalves Ledo, educados no exterior, um na Inglaterra e outro em Coimbra, patriotas, que foram perseguidos, vítimas de queixas infundadas, despojadas do poder, embora mais tarde reintegrados, mas que são vultos que passaram para a história, merecendo toda a admiração e respeito. RUBEN ALMEIDA – O HOMEM QUE RECONHECIA VALORES SUPERIORES E LHES PRESTAVA HOMENAGENS Aqui destacamos uma homenagem que foi prestada a Domingos Quadros Barbosa Álvares, ilustre Tabelião, além de jornalista e cronista, com prestação de serviços ao “Diário do Maranhão”, “Pacotilha”, “Revista do Norte”; festejado contista e novelista, com destaque para “Mosaicos” e “Contos de Minha Terra”. De igual modo deteve-se em atenções, também, na figura de Teixeira Mendes, que traz no “Ateneu” o seu nome, destacada Escola de 2º grau, desta Capital. Diz-nos o Prof. Ruben Almeida que a despeito de sua ranzinzice e vaidade, era de uma grandeza de alma e uma finura de espírito raríssima em nossos dias. Ainda a propósito de Teixeira Mendes, diz-nos o Prof. Ruben que em 22.01.1916, no Rio de Janeiro, ao visitá-lo, na sua grandeza de espírito, recebendo a visita de um obscuro estudante que trazia como título apenas o ser maranhense, Teixeira Mendes não lhe permitiu que o chamasse de doutor, professor ou mestre, dizendo tratar-se de entendimentos entre membros da mesma fraternidade. E conclui o Prof. Ruben, tratava-se de homem de “caráter impoluto, coração generosíssimo, o maior e melhor intérprete das teorias de Augusto Comte no Brasil”. Iguais atenções dedicou também no fino trato a Coelho Neto, destacando ser ele possuidor do mais rico vocabulário já empregado pelos escritores brasileiros e portugueses, acrescentando que na oratória residia a sua maior vocação. RUBEN ALMEIDA REVELANDO PREOCUPAÇÕES QUANTO À MEMÓRIA HISTÓRICA DA CIDADE DE SÃO LUÍS Cultor da língua pátria, estudioso da história do Maranhão e particularmente da cidade de São Luís, algumas curiosidades a título ilustrativo revelamos ao público leitor, destacando a Igreja do Carmo, a Rua do Sol, aspectos da vida de Gonçalves Dias, e de alguns vultos que nas áreas das suas atividades profissionais deixaram a marca de suas presenças na história do Maranhão. No tocante à Igreja do Carmo, registra o Prof. Ruben que lamentavelmente a igreja que mantinha torres de ornamentação foram arruinadas por falta de conservação. E no que diz respeito às escadarias hoje laterais, nem sempre foram assim. Anteriormente era apenas uma escada central e que as exigências sociais ante o crescente número de fiéis, indicava a necessidade de duas escadas para facilitar o acesso dos fiéis à nave do templo e a saída ao término das celebrações religiosas.
Essas mudanças ocorreram quando da famosa festa de Santa Filomena, que rivalizava com a festa dos Remédios. O acesso à praça da Igreja, entre outros meios de transporte, dava-se também através dos bondes, que lamentavelmente alguns anos depois seriam retirados de circulação. A retirada dos bondes ocasionou também, a retirada dos trilhos, aguçando a curiosidade dos estudiosos que apelaram a ilustres homens públicos engenheiros de obras, para que cavassem subterrâneos, tentando descobrir, por essa via, uma comunicação que se dizia existir, ligando a Praça do Carmo com a Fonte do Ribeirão. Para decepção do Prof. Ruben, o subterrâneo foi descoberto, mas fechado por ordens superiores, perdendo-se assim uma inestimável parte da história que os engenheiros o faziam “com inocência angelical e candidez voltaireana”. No que respeita à Rua do Sol, o historiador maranhense consigna assim ter sido batizada em virtude dos trabalhos desta rua terem sido executados em época equinocial, “em que o sol central a ilumina por inteiro como a todas as paralelas”.
UM EPISÓDIO A QUE SE REFERIA SEMPRE COM MUITA ALEGRIA Constituiu-se verdadeiro orgulho para o Prof. Ruben ter ficado de posse, por uma semana “do livro de almaço azul inglês, no qual Gonçalves Dias copiara na Torre do Tomo, os originais da história da Companhia de Jesus na Vice-Província do Maranhão e Pará”. Registra ainda o Prof. Ruben, da sua luta para fazer a doação de tal trabalho junto à Biblioteca Pública do Rio de Janeiro, não tendo conseguido seu intento por falta de autoridades que estivessem interessadas na recepção do valoroso original, o qual acabou sendo entregue, por ordem superior, a pessoas pouco letradas, tomando então destino ignorado. Entre os vultos que mereceram destaques expressivos, está o farmacêutico Antonio Ferreira Garrido, já à época considerado o decano dos farmacêuticos maranhenses. Este farmacêutico de renomada, produzia ele mesmo, em seu laboratório, milagrosos produtos infalíveis quanto à malária, febre, queimaduras, vermífugos, pílulas intestinais de D. Lavínia, que ficou conhecida porque uma senhora de nome Lavínia apresentou-se a ele como portadora de verme e que os médicos não lograram resultado. O Dr. Garrido preparou uma fórmula com pílulas que 24 horas depois, chamado às pressas à casa de D. Lavínia se assombrou com o que viu: a expulsão, em enorme quantidade, de “ascáridas lombricóides e helmintos”. Os farmacêuticos à época de 1977 eram chamados também de boticários e apresentavam seus produtos a preços acessíveis. Com a mudança dos costumes, os farmacêuticos outrora tão prestigiados não se dão ao luxo ou trabalho de anunciar coisa alguma, vez que as receitas médicas agora prescritas são apenas atendidas pelos farmacêuticos que compram dos laboratórios para repassar os produtos aos clientes. INFORMES JORNALÍSTICOS SOBRE O PROF.RUBEN ALMEIDA
(reproduzida pelo ´Correio Atividade” ) Registram os anais históricos que o Prof. Ruben Almeida, nascido a 09.05.1890, ainda aos 81 anos de idade era homem de robustez física e que mesmo nessa faixa etária mantinha um peso de 90 kg e que conservava por trás de um ar fleumático, muito de bom caboclo maranhense, apresentando-se com seus cabelos grisalhos e fartas sobrancelhas, guardando ainda nessa idade uma memória privilegiada, que lhe permitia conceder entrevistas e delas se sair muito bem. Foi assim que ao “Correio Atividade “ do Rio de Janeiro, prestou memorável recordação que serviu de base para que se soubesse que foi ele bacharel em direito e advogado, professor da língua portuguesa no Liceu Maranhense e no Instituto de Letras e Artes, além de ter exercido seu magistério, também como Catedrático de Direito Civil junto à Faculdade de Direito de São Luís, por onde se formou, isto sem falar que foi colaborador em todos os jornais da Capital maranhense, dele ressaltando o Dr.Pires de Sabóia no seu discurso de posse na Academia
Graças ainda a essa entrevista ficou esclarecido ter o Prof. Ruben Almeida publicado “O índio brasileiro perante o Código Civil”, “Investigação de Paternidade”, “Esforço biográfico de Antonio Henriques Leal”, “A vida do barão de Coroatá”, “O Palacete”, “Porque é grande e gloriosa a história do Maranhão”. Era o Prof. Ruben avesso à poesia moderna, dizendo ser intolerável, pois “é uma nebulosidade a toda prova”. Respondendo a uma indagação do porque de ser um solteirão inveterado, relatou na entrevista que tinha uma família numerosa para sustentar, daí porque a constituição de uma família legítima iria trazer sérios problemas domésticos, tendo por essa situação optado pelo celibatarismo. Dentre as suas entrevistas concedidas para inúmeros jornais no Rio de Janeiro, os entrevistadores, descobrindo nele o poeta que era, além de o cognominarem de “um sábio vivo”, um “sábio de Atenas”, fizeram publicar alguns sonetos, entre os quais, para deleite dos leitores, nos deteremos em um que versa poeticamente sobre os corvos e que por ser inédito, transcrevemos:
VENDO PASSAR CORVOS Vendo o corvo passar, asas espalmas, Asas espalmas pelo espaço afora, Espaço níveo em que se agitam palmas, Saudando Apolo que anuncia a aurora;
E vendo-o, mais subindo está agora Voando em meio às glaucas zonas calmas, Além das nuvens, onde o raio mora, Quase bem perto de onde moram as almas,
-Dá vontade cismar (vai pontinho, lento, lento,assumir devagarinho, -mercê do vento, sem destino, ao léo),
se melhor não seria, como corvo, ter feio o aspecto, negro, imundo e torvo, mas ser feliz como ele – andar no céu.
Espero que estas anotações sirvam para relembrar alguns momentos da vida do intelectual maranhense, que sem a menor sombra de dúvidas, enriqueceu a língua pátria, a literatura maranhense, e continua ainda hoje sendo lembrado como uma águia e um rouxinol da nossa querida Atenas Brasileira. CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM ALMEIDA, R. GASPAR DE SOUSA NO MARANHÃO Ano 2, n. 1, novembro de 1948, p. 0511