
8 minute read
JOSÉ DE RIBAMAR DE OLIVEIRA FRANKLIN DA COSTA
FRANKLIN DE OLIVEIRA203 , 204 12 de março de 1916 # Rio de Janeiro, 6 de junho de 2000
Figura das de maior realce em sua geração, poeta, crítico, jornalista e sobretudo, elegante cronista, cedo fixou residência no Distrito Federal, em cuja imprensa milita com brilho, depois de te-lo feito na sua terra natal. Pertenceu, em São Luis, ao Cenáculo Graça Aranha e ocupou na Academia Maranhense de Letras, a cadeira 38, patroneada por Adelino Fontoura. Começou a carreira de jornalista aos 16 anos, no Diário da Tarde, e em 1938 já estava no diário A Notícia, do Rio de Janeiro. Na década de 1930 trabalhou na revista Pif-Paf e, em 1944, foi para O Cruzeiro, onde tornou célebre sua coluna "Sete Dias", que escreveu por 12 anos. Em 1956, tornou-se editorialista e crítico do Correio da Manhã. Quatro anos depois, mudou-se para Porto Alegre, onde, no governo de Leonel Brizola, foi secretário-geral do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul e delegado desse estado no Banco de Desenvolvimento Regional do Extremo Sul. Exerceu cargos importantes na Petrobrás até que o governo militar instalado em 1964 cassou seus direitos políticos com base no AI-1. De volta ao jornalismo, foi redator n'O Globo e, na década de 1970, passou a colaborar com a Folha de S.Paulo, assinando artigos políticos. Em 1983, recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra, quatro anos depois de conquistar o prêmio Golfinho de Ouro de Literatura do Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro. Bibliografia – Ad Imortalitatem (1935), Sete dias (1948), A fantasia exata (1959), Rio Grande do Sul, um novo Nordeste (1962), Revolução e contra-revolução no Brasil (1963), Viola d’amore (1965), Morte da memória nacional (1967), A tragédia da renovação brasileira (1971), Literatura e civilização (1978), Euclides: a espada e a letra (1983), A dança das letras (antologia crítica, 1991), A Semana da Arte Moderna na contramão da história e outros ensaios (1993). Buzar (2013)205 escreve em seu Blog, sob o titulo Franklin de Oliveira - um Nome Nacional, traçando a trajetória desse que foi um dos maiores cronistas do país: No dia 31 de março de 1938, o Franklin de Oliveira, com 22 anos, decidiu mudar de residência. Trocou São Luis pelo Rio de Janeiro, a então capital da República.
Advertisement
203 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 244-245 204 http://pt.wikipedia.org/wiki/Franklin_de_Oliveira http://www.academia.org.br/abl/media/Texto%20sobre%20Franklin%20de%20Oliveira.pdf http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/aluisio-azevedo--franklin-de-oliveira-5455.htm 205 BUZAR, Benedito. Blog do Buzar. FRANKLIN DE OLIVEIRA: UM NOME NACIONAL, 8 de abril de 2013, disponível em http://www.blogsoestado.com/buzar/2013/04/08/franklin-de-oliveira-um-nome-nacional/, acessado em 02/05/2014
Nessa época, o Brasil vivia sob o domínio da ditadura de Getúlio Vargas, mas o jovem jornalista já estava com a cabeça politicamente organizada pelo convívio com militantes políticos e revolucionários, que atuavam na imprensa maranhense, a exemplo de José Maria dos Reis Perdigão. Com este trabalhou nos jornais A Pacotilha e Diário da Tarde e participou de embates ideológicos em favor dos trabalhadores. Seu primeiro emprego no Rio de Janeiro foi no jornal A Notícia, na função de redator. Com o decorrer dos anos, passou a desenvolver intensa atividade política e literária, colaborando em diversos jornais e revistas de circulação nacional, ressaltando-se a revista O Cruzeiro, onde ele criou a coluna Sete Dias, uma página de lirismo e voltada para assuntos do cotidiano. Em 1945, com o fim da II Guerra Mundial e do Estado Novo, restabeleceu-se no país o regime democrático, que trouxe no seu bojo as eleições diretas, para os cargos majoritários e proporcionais. Franklin de Oliveira, pelo seu destacado desempenho na imprensa carioca, recebeu convite dos partidos de esquerda para ser candidato a deputado federal. Desejava atuar na cena política, mas não mostrou interesse em disputar cargo eletivo no Rio de Janeiro. O seu objetivo era participar da vida pública do seu estado de origem. Por isso, quando os partidos e os políticos começaram a desenvolver ações com vistas às eleições de 1950, Franklin de Oliveira veio a São Luís conversar com as lideranças partidárias e sondar o quadro político maranhense. Em vez de procurar os partidos oposicionistas, o jornalista de O Cruzeiro bateu nas portas do Palácio dos Leões, onde teve uma conversa amistosa com o senador Vitorino Freire, do qual recebeu convite para filiar-se ao Partido Social Trabalhista. Pela legenda que Vitorino criara – o PST, Franklin de Oliveira concorreu às eleições de 1950, para conquistar uma cadeira no Congresso Nacional. Como estava distanciado do Maranhão há bom tempo, ele tomou algumas iniciativas para tornarse conhecido e conquistar o eleitorado maranhense. Duas merecem destaque. Primeira, convocou os novos intelectuais para se integrarem à sua campanha eleitoral. O estudante José Sarney Costa foi um dos que participou ativamente do processo eleitoral, na capital e no interior do Estado. Segunda, trouxe do Rio de Janeiro para o Maranhão uma gigantesca estrutura publicitária e um grupo de marqueteiros políticos, deixando os concorrentes perplexos e intimidados. Com recursos abundantes, instalou em São Luis e nas principais cidades, onde pontuava o eleitorado mais esclarecido, poderosos comitês políticos, dotados de modernos equipamentos de comunicação social, através dos quais os marqueteiros produziam e veiculavam peças publicitárias de bom gosto e de forte apelo popular. Nenhum candidato a qualquer cargo eletivo no Maranhão, até então, tivera a competência, a ousadia e o dinheiro para se apresentar ao eleitorado como o fizera Franklin de Oliveira. Cartazes de todos os tipos e tamanhos, coloridos ou em preto e branco, foram usados em profusão em jornais e colocados em pontos estratégicos da cidade. O que mais chamou a atenção do eleitorado foram os discos em vinil, com a música que funcionava como carro-chefe de sua campanha política. Como não havia ainda legislação restritiva à propaganda eleitoral, nada impedia o candidato de usar e abusar dos meios de comunicação. Em São Luis, ao longo do dia, só se ouvia o disco de Franklin de Oliveira, que tocava insistentemente em emissoras de rádio, serviços de alto-falantes e carros de som, novidades tecnológicas, que percorriam as ruas e os bairros, divulgando o nome do candidato e conclamando o povo a votar. A música, aliás, de boa qualidade, caiu de tal modo no gosto do povo, que passou a ser cantada por todos, fossem ou não seus eleitores. Quem lembrar a música, que solte a voz:
“Eis aí um nome nacional Sempre a serviço do Maranhão
Franklin de Oliveira cristaliza um ideal De manter viva essa terra-tradição Jornalista e escritor, homem capaz, trabalhador Indicado pela cidade de Caxias Faz jus à glória de Gonçalves Dias Nós e também você Votaremos no PST Para eleger Franklin de Oliveira Que tudo fará pela Atenas brasileira Como deputado federal ”. Mesmo com todo o aparato publicitário, de fazer inveja a qualquer candidato, Franklin de Oliveira não se deu bem nas eleições de outubro de l950. O seu marketing político, ainda que inovador, não funcionou. Resultado: sofreu impiedosa derrota, que pode ser atribuída a três fatores. 1) recebeu intensa e aguerrida campanha dos oposicionistas, que não o perdoaram pelo fato de, como escritor de esquerda, aderir ao grupo vitorinista, pelo qual sua candidatura foi homologada. 2) seu nome não foi priorizado e nem assimilado pelo esquema palaciano para ser um dos eleitos. Dos noves candidatos eleitos para a Câmara dos Deputados, cinco formavam no time dos governistas e quatro pertenciam aos quadros das Oposições Coligadas. Ele ficou numa suplência e sem nenhuma chance de ser convocado para assumir o mandato. 3) as eleições de 1950, tanto para os cargos majoritários como para os proporcionais, foram realizadas sob o beneplácito de escandalosa fraude eleitoral. O escritor maranhense não se beneficiou dos votos fraudulentos e muito menos dos votos válidos. Um final melancólico para quem lutou bravamente e empenhou-se, física e financeiramente, para ser um dos representantes do povo maranhense no Congresso Nacional. Se, por um lado, a música que Franklin de Oliveira usou na campanha eleitoral virou um tremendo sucesso popular, pois até hoje é lembrada e cantada por gerações que viveram aqueles tempos, por outro lado, proporcionou ao candidato do PST uma terrível herança política: o apelido de “Nome Nacional”, epíteto que virou galhofa popular e chegou até mesmo a irritá-lo. Nem depois de morto, conseguiu livrar-se dessa alcunha.
MISTERIOSA É A VIDA DOS LIVROS206
Misteriosa é a vida dos livros. Seu tempo não é o dos relógios e das folhinhas. Há romances que envelhecem em 24 horas e, depois, se tornam inúteis como um jornal atrasado. E não deixa de ser mágica, poética, essa faculdade de envelhecer em horas. Outros livros, porém, nasceram com a vocação da eternidade. Transmitem sempre a impressão, a surpresa, o frêmito inefável de uma primeira leitura. Nós já os conhecemos e, no entanto, eles parecem novos; cada pagina dá a sensação de um descobrimento. Assim o “Amanuense Belmiro”, de Ciro dos Anjos. Tem seus dez anos de vida bem vivida. Mas resiste heroicamente a essa experiência dramática no destino de um livro, que é a releitura. Bom livro é o livro que a gente relê dez, vinte, trinta vezes, e com que atento e apaixonado interesse. O livro é como sempre o foi. O autor não lhe alterou uma virgula, não lhe acrescentou uma frase. Mas sentimos, desde o primeiro período, que a obra-prima não será jamais a mesma. Algo se renova nas suas profundezas. O “Amanuense Belmiro” sugere essa impressão de coisas infinitamente mutável. Por quê sempre o lemos como se o fizéssemos póla primeira vez? Não há nessa obra uma página velha. Irei mais longe: não há uma frase que tenha apodrecido. Pois sabemos que, mesmo nas melhores criações, há valores que se desgastam, que se decompõem e que se tornam fétidos. O mistério do “Amanuense Belmiro”, da sua fascinação incessante, está, segundo me parece, na sua alta qualidade estilistica. A chamada língua “inculta e bela”, de soneto preconceituoso, se culturaliza. A grande lição liter´ria do “Amanuense Belmiro” pode ser resumida assim: os defeitos não são do idioma mas de nós mesmos, de nossa impotência verbal. Livros assim, deviam ser distribuídos, não às crianças de escolas, mas aos escritores que tornam inculta a nossa língua. (in SETE DIAS).