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Prefácio

“Sou a mãe e o pai do JEMs. Os JEMs são a minha vida." Cláudio Vaz dos Santos.

Tem já algum tempo que venho me dedicando à escrita da memória do esporte, da educação física e do lazer no/do Maranhão. Temos o “Atlas do Esporte no Maranhão” 1, o livro de memórias “Querido Professor Dimas” 2, o Blog do Leopoldo Vaz, dentre outros já disponibilizados, e outros ainda em construção3 ...

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Contar a vida de alguém requer pesquisa, entrevistas e despojamento de idéias pré-concebidas. Pela quantidade de questões que levanta, o tema é um sem fim de perguntas... Ao depararmos com um personagem emblemático, que influenciou toda uma geração, temos um bom argumento para contar uma História de Vida (FUKELMAN,2015) 4 .

A advertência de Coriolano P. da Rocha Junior – pertinente - (2015) 5 de que estudos sobre a história do esporte, normalmente, associam seu surgimento, sua constituição aos elementos da modernidade, e tendo por referências as pesquisas feitas a partir de cidades como São Paulo (SP) e mais ainda, o Rio de Janeiro (RJ). Para Coriolano:

[...] o cuidado deve estar em não querer analisar outras localidades a partir da realidade destas duas. É preciso entender as peculiaridades de cada uma, suas especificidades, que dão a elas maiores ou menores possibilidades de assumirem o esporte como uma prática cotidiana. E aqui, os estudos históricos são centrais, justo por nos darem a possibilidade de compreendermos a forma como se estabeleceu, ao longo dos tempos, o fenômeno esportivo em cada espaço.

Ainda seguindo Coriolano Rocha Junior (2015), é importante ressaltar que: [...] a investigação a partir da compreensão de um projeto de modernização local, também guarda enormes diferenças em relação a outros estados, mesmo que estes tenham servido de inspiração. As realidades locais fizeram com que houvesse diferenciações, no porte, no tipo, no período de realização e no perfil dos agentes executores.

Em “Apontamentos metodológicos: biografias de atletas como fontes” Rafael Fortes (2015) 6, afirma que livros biográficos são uma fonte pouco explorada na história do esporte no Brasil. Para esse autor, as fontes principais continuam sendo jornais e revistas, além de crônicas, obras de literatos etc. As biografias sob a forma de livro são um importante elemento da construção de representações sobre o esporte, embora não tão poderosas quanto o jornalismo periódico e as transmissões ao vivo por televisão e rádio. Faz, então, uma análise de como tais obras poderiam ser enriquecidas pela discussão existente na História a respeito da viabilidade/possibilidade da biografia como trabalho científico. Vale a pena acompanhar este debate, por proporcionar reflexões teórico-metodológicas interessantes:

1. Considerando que as biografias são obras sobre um indivíduo, que elementos são mobilizados para construir, descrever, explicar, narrar etc. sua trajetória (noção por si só rica, em termos de análise), bem como seus resultados, realizações etc.? É possível identificar traços comuns às biografias de atletas de modalidades individuais? E às de atletas de modalidades coletivas? Indo além: é possível perceber semelhanças e diferenças entre as características comuns, considerando tal dicotomia? 2. Quanto à autoria: quem é o autor da obra? O próprio atleta? O jornalista? Ambos? Parece-me haver três principais tipos, do ponto de vista formal: a) Autobiografias em sentido estrito: o atleta escreve o texto (ou, ao menos, é assim que o livro é publicado: atribuindo o texto ao esportista).

b) Autobiografias com um (co)autor (geralmente um jornalista) [...] o "com" ou um "e" seguido do nome do jornalista está estampado na capa. Fico com a sensação de que, nestes casos, o autor é o jornalista e coube ao atleta dar os depoimentos e ajudá-lo com outras informações [...] é impossível saber ao certo que papeis foram desempenhados por cada um. c) Biografias escritas por um jornalista. Neste caso, há a divisão entre "autorizadas" e "não autorizadas". As categorias são discutíveis (como, em parte, ficou evidente o debate travado em certos veículos de comunicação brasileiros há cerca de um ano e meio, a partir do grupo Procure Saber), mas há outros aspectos que podem ser analisados: os objetivos de quem escreve, os interesses da obra para a coletividade, a forma e o conteúdo.

Góis Junior; Lovisolo; Nista-Piccolo (2013) 7, ao analisarem a utilização do modelo elisiano8 em problemas de pesquisa no campo da História da Educação Física9 , e as características teóricas do processo civilizador de Elias, colocam que: “coletivamente, os indivíduos buscam no esporte, vivenciar emoções fortes, liberdade, poder”:

O processo civilizador é construído a partir da teoria das configurações sociais, ou seja, como uma configuração inicial de poder político, econômico, social se transforma em outra, e concomitantemente, são transformadas as estruturas de personalidade dos indivíduos. Se não estudamos a relação entre estrutura política, poder e a personalidade dos indivíduos em sua conduta, não estudamos o processo civilizador.(Góis Junior; Lovisolo; Nista-Piccolo, 2013, p. 777).

Utilizo-me da História Oral10 , designação que se dá "ao conjunto de técnicas utilizadas na coleção, preparo e utilização de memórias gravadas para servirem de fonte primária" (BROWNW e PIAZZA, citados por CORRÊA, 1978, p. 13) 11. Já na definição de Camargo (citado por ALBERTI, 1990) 12, é o "conjunto sistemático, diversificado e articulado de depoimentos gravados em torno de um tema", ou como

ensino a própria Alberti (1990), é o "método de pesquisa... que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participam de, ou testemunham, acontecimentos...". A História Oral é legítima como fonte porque não induz a mais erros do que outras fontes documentais e históricas13 .

Alberti (1990) chama-nos atenção da responsabilidade do entrevistador enquanto coagente na criação do documento da História Oral, já que sua biografia e sua memória são outras, e não estão em questão - é a dupla pertinência cultural (Max CAISSON, citado por ASSUNÇÃO, 1988) 14 .

Em qualquer pesquisa parte-se da questão de que há algo a investigar. Ao decidirse pelo emprego da técnica da história oral, como sendo a mais apropriada, estabeleceram-se também os tipos de fonte de dados, tendo em vista que a história oral vale-se de outras fontes, além das entrevistas (SILVA, GARCIA e FERRARI, 1989) 15 .

Foram utilizados dois tipos de fontes de dados:

1. Reportagens de jornais, crônicas, relatos e literatura acadêmica, que nos permite o estudo do processo de implantação da educação física escolar e o desenvolvimento do esporte moderno em Maranhão;

2. Entrevistas com pessoas que viveram esses processos e tiveram um relacionamento com o Cláudio Alemão16 .

Para esse item, deve-se verificar se, no universo de estudo, há entrevistados em potencial, se é possível entrevistá-los e se estão em condições físicas e mentais de empreender a tarefa que lhes é solicitada.

Estabelecidos os métodos e os entrevistados, restou-nos definir as entrevistas. Foram estabelecidas algumas categorias simples, que foram surgindo empiricamente, a partir das primeiras, utilizadas como pretexto para o entrevistado se lançar no esforço de rememoração. São perguntas de ordem genealógica, história

pessoal, sobre educação, educação física, esportes, pessoas conhecidas, relacionamento com Cláudio Alemão, enfim, lembranças "daqueles bons tempos".

Em 2001, realizei 16 entrevistas, com pessoas que conviveram com Cláudio Alemão a partir dos anos 50.

O trabalho que se pretendeu foi o de integrar a uma estrutura social elementos e fatos isolados, procurando uma explicação causal, sem esquecer a descrição história (CARDOSO, 1988) 17. Para Berkoffer Jr. (citado por CARDOSO, 1988, p. 77),

"... a História (entendida como explicativa, respondendo aos porquês?) não pode explicar totalmente à 'crônica' (que responde a perguntas do tipo 'o que', 'quem', 'quando', 'onde', 'como'?)".

O objetivo é apresentar a História de Vida de Cláudio Vaz, o Alemão, e enfatizar, também, o legado daquela “Geração de 53”, seu principal personagem e seus companheiros na revitalização do esporte moderno no Maranhão, em especial do esporte escolar, a partir dos anos 50, estendendo-se até os anos 70, e a sua influencia, como praticante, como dirigente.

Tomamos de José de Oliveira Ramos18 a seguinte descrição de nosso biografado:

Imaginemos o inventor Alberto Santos Dumont criando o 14 BIS sem as "asas". Melhor: imagine uma das mãos sem nenhum dos cinco dedos. Imagine um jogo de futebol sem traves. Imagine uma piscina de Natação competitiva sem as raias. Enfim, imagine o Esporte maranhense sem a luz divina e a criatividade inicial e pioneira - queremos manter a redundância de Cláudio Antônio Vaz dos Santos.

Imagine, também, o Cláudio Antônio Vaz dos Santos, hoje, sem o "Alemão”. (RAMOS, VAZ, 2012)

CLÁUDIO ALEMÃO, ELIR JESUS GOMES E ZEZÉ – 2014

LANÇAMENTO DO LIVRO ‘QUERIDO PROFESSOR DIMAS’