Bandeira de Mello

Page 1

1


2

3


CAIXA Cultural Rio de Janeiro | Galeria 2 27 DE OUTUBRO DE 2009 A 17 DE JANEIRO DE 2010

4

5


PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Silva MINISTRO DA FAZENDA Guido Mantega PRESIDENTA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Maria Fernanda Ramos Coelho

CAIXA Cultural Rio de Janeiro | Galeria 2 27 DE OUTUBRO DE 2009 A 17 DE JANEIRO DE 2010

FICHA CATALOGRÁFICA A791

Bandeira de Mello / organização de Rio de janeiro: Modo , 2009 272 p.: il Texto em português e inglês Cronologia: p 100- 120 Bibliografia: p0 234-2121

ISBN 85-11111-01-1

1.Artes plásticas - século XX 2. Mello, Bandeira, 1935

6

CDU 70000

7


êNDICE

1 - 7 | APRESENTACAO CAIXA 10 - 23 | TEXTO Angela Ancora Luz 24 - 47 | PINTURAS 48 - 63 | PROJETOS 66 - 78 | TEXTO Antonio 64 - 135 | DESENHOS 136 - 143 | CRONOLOGIA 144 - 155 | ENGLISH VERSION 156 - 157 | FICHA TÉCNICA 8

9


A CAIXA CULTURAL TEM A HONRA DE APRESENTAR A EXPOSIÇÃO “BANDEIRA DE MELLO – EU EXISTO ASSIM”.

Antigos são os laços de amizade e admiração mútua que unem a CAIXA ao grande artista Lydio Introcaso Bandeira de Mello ou Bandeira de Mello ou simplesmente Bandeira, como o chamam 10 entre 10 alunos de belas-artes que tiveram o privilégio de tê-lo como professor. Em 1970, Bandeira de Mello venceu o concurso promovido pela CAIXA para execução dos murais do novo edifício-sede da instituição. Executados em 1972, os dois painéis foram refeitos pelo artista depois de um incêndio que consumiu parte do prédio, em 1977. Atualmente, as monumentais pinturas podem ser apreciadas no mezanino da CAIXA Cultural Rio de Janeiro, no mesmo edifício-sede. Bandeira de Mello é um dos grandes artistas de sua geração ainda em atividade. De sua paleta nasceram obras dramáticas com forte temática social. Mestre por natureza e por opção, ainda hoje, aos 80 anos, em seu ateliê da Rua das Laranjeiras, ensina o traço em “crayon” aos jovens artistas interessados em apreender o preciosismo técnico do desenho. A mostra reúne 65 trabalhos, entre pinturas, desenhos, estudos e projetos, e ainda um depoimento do artista no curta homônimo “Bandeira de Mello – eu existo assim”. Algumas peças, inéditas, são provenientes do acervo pessoal do artista e foram restauradas especialmente para esta exposição. São retratos em grande formato, nus femininos, o cotidiano de camponeses, caçadas e pescarias, paisagens do Sertão e obras com temática religiosa, entre as quais são apresentados os projetos para os afrescos da igreja do Santuário de Poggio Bustone, na Itália. A CAIXA, consciente de sua responsabilidade para com a cultura e a sociedade brasileiras, procura com a mostra “Bandeira de Mello – eu existo assim” contribuir para a democratização, a ampliação e o fortalecimento da cultura nacional. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

10

11


12

13


NO PORÃO DAS LEMBRANÇAS DE BANDEIRA DE MELLO: DESENHOS E PINTURAS Ângela Âncora da Luz Diretora da Escola de Belas Artes | Historiadora e Crítica de Arte Bandeira de Mello iniciou sua prodigiosa navegação aos seis anos de idade, em sua cidade natal, Leopoldina (MG), quando uma vizinha lhe emprestou algumas tintas e com elas ele experimentou o fascínio da criação. Logo seu pai traria de viagem o primeiro material de pintura com o qual foi se lançando mar adentro, embarcado em suas vivências e lembranças, sem conhecer estaleiros e nem fazer escalas. A continuidade de sua carreira está registrada nas centenas de obras realizadas e nos estudos e reflexões que ele transfere generosamente aos seus muitos discípulos. Ainda menino recebeu seu primeiro aprendizado artístico pelas mãos de Funchal Garcia, que ele define como alguém que possuía a inventiva técnica do pintor, mas também a fantasia heroica de D.Quixote, sempre disposto a levantar sua lança na defesa dos fracos e oprimidos. Todas as vezes que Funchal Garcia ia a Leopoldina aproveitava para dar conselhos e levar ensinamentos ao menino pintor. Aos dezessete anos, Bandeira de Mello informou a sua família o desejo de vir para o Rio de Janeiro, pois queria estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Decisão tomada, o artista, ainda adolescente, chega ao Rio para dar início a sua formação acadêmica. Deixa para trás a Zona da Mata que povoou de imagens sua infância, mas o faz com a permissão paterna e a bênção da mãe, sua grande incentivadora, que se alegra, pois antevê a viagem vitoriosa que o filho iniciava. Lydio define o pai como escritor, filósofo e matemático, deixando vivo o sentimento de admiração que mantém intacto pela formação humanística e plural que ele possuía e pela sensibilidade de propiciar as condições para que o filho seguisse o destino das artes. A Escola Nacional de Belas Artes era o grande centro do estudo da arte no Brasil. Ela foi criada pelo decreto de 12 de agosto de 1816, assinado por D. João, como Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, para receber a Missão Artística Francesa e dar início ao ensino oficial da arte no Brasil. Com o Império ela passaria a chamar-se Academia Imperial das Belas Artes e, a partir da República, Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), que é hoje a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1947, ano em que Bandeira de Mello inicia seus estudos na ENBA, a escola fervilhava de discussões entre a tradição e a modernidade, pois no ano anterior o Salão Nacional de Belas Artes não acontecera; fato inusitado, mas explicado pela força da tradição que não via com bons olhos a Divisão dos Modernos, que fora criada como parte do salão oficial em 1940. Mas Bandeira de Mello não se alinhava com a geração dos modernistas, que desprestigiava a regra e a norma, buscando a verdade na arte por um novo viés. Muito pelo contrário. Ele chegara ao Rio para buscar o domínio da forma na estrutura do ensino oficial. Desenhar e pintar: meta que iria perseguir apaixonadamente por toda a vida. Pela arte o homem rompe o estado de clausura da consciência e se religa ao universo, segundo palavras do próprio artista, estabelecendo uma ponte entre interior e exterior, singularidade e universalidade. Esta é a grande função da arte para ele. É preciso que o testemunho, através da obra, permaneça sendo proclamado e, para tanto, é necessário que a consciência se liberte de modo a poder grafar sua identidade autoral. Portanto, segundo Lydio Bandeira de Mello, não pode haver qualquer concessão para aquele que deseja seguir nesse caminho. O jovem artista tem de adquirir o conhecimento das técnicas, tem de submeter a mão ao domínio da mente, até que ela se torne a própria extensão de seu pensamento criador. Era exatamente o que defendia Matisse, quando, em carta a Henry Clifford, datada de 1948 (época em que Bandeira de Mello iniciara, oficialmente, seus estudos na tradicional escola), proclamava a necessidade de que o “futuro pintor” começasse seu estudo pelo desenho, pois, para Matisse, se este procedia do espírito, e a cor, dos sentidos, era “preciso desenhar primeiro, cultivar o espírito e ser capaz de conduzir a cor pelos caminhos espirituais”.1 Isto tornava possível usar a cor com “discernimento”. Bandeira de Mello defende essa necessidade do aprendizado técnico, pois, para ele é sobre esse conhecimento que o artista poderá construir a própria linguagem com segurança. 1

14

Herschel B. Chipp. Teorias da arte moderna. São Paulo: Martins Fontes. 1988, p. 137.

15


Desde os primeiros registros gráficos nas cavernas o homem demonstrou a necessidade de oferecer sua obra aos olhos de um fruidor. No início, as pinturas rupestres eram dadas à contemplação do sobrenatural, das divindades capazes de retribuir a oferta com o animal vivo, no campo, pronto para ser capturado e assim alimentar os homens em sua luta pela sobrevivência. Foram necessários muitos séculos para que se verificasse a migração do olhar dos deuses para o dos homens e que as obras pudessem receber a crítica que, afinal, todo o artista deseja para sua obra. Há um embate no campo da produção. Uma conquista ou uma rejeição. Ali está primeiramente o olhar do autor, a primeira contemplação que, em muitos casos, é a mais severa. Depois os demais olhares. Às vezes o tempo se encarrega de transformar a derrota em triunfo, quando chegam novos olhares, capazes de aplaudir e consagrar o que ainda não havia sido reconhecido, pois a obra está pronta a ser instaurada como arte a qualquer momento. Lydio tem a exata dimensão dessa tensão lúdica que faz da arte o campo e o objeto em que o artista se move e cria. Na ENBA Lydio receberá influências de diversos mestres, que não devem ser entendidas como paradigmáticas para seu aprendizado, mas como formadoras por excelência de sua busca. Artistas que admirava como Quirino Campofiorito, pela importância da formação teórica, pela abertura da visão crítica e pela presença atuante no panorama da cultura artística do país. Naquele mesmo ano de 1948, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro seria criado e Quirino estaria entre os nomes que compuseram a primeira diretoria provisória. No ano seguinte, a cátedra de arte decorativa da ENBA seria ocupada por Campofiorito. Observa-se a visão que contempla a defesa da arte decorativa, sem abdicar da necessidade do ensino da natureza-morta, dos estudos de nus, da força da figura humana e das cenas da vida urbanas. Outro mestre que relembra com carinho é Calmon Barreto, pela força do desenho, sobretudo na cadeira de modelo vivo, quando fazia sentir a perfeita sintonia de sua visão com as linhas do corpo humano, aprendizado que repercutiria de modo inequívoco na formação de Lydio. De Carlos Chambelland, pintor por excelência, ele guarda a sua fatura leve, a pincelada solta, fragmentada, trabalhada numa extensa gama cromática, em que a emoção está presente numa pintura sem violência nem distorções, apenas na cor, como queria Matisse, conduzida pelos caminhos do espírito. O interesse pelo magistério seria despertado por Marques Júnior, que lecionava pintura e desenho artístico. Contudo, viria de Edson Motta a grande motivação pelo fazer pictórico, talvez pela experiência do restaurador, que necessariamente deve possuir as faturas, pastas cromáticas, pinceladas e traços dos artistas que chegam ao ateliê através de telas e obras que precisam de cuidados técnicos da mesma qualidade daquela que foi conferida a obra no ato instaurador de sua criação. Com Edson Motta se dá o aprendizado das técnicas, dos vários segredos da pintura, na sua química, na sua plasticidade e no seu fazer, propriamente, que se rotula como a “cozinha da pintura”, pois é pela transformação da matéria pela ação do artista que a forma se evidencia e surge como objeto. Em sua formação na ENBA Lydio fez mais de novecentas aulas de modelo vivo e entendeu que sem desenhar não se pode pensar a forma. Neste particular ele é um formativista, nos mesmos moldes apresentados por Luigi Pareyson, para quem o artista “forma” ao mesmo tempo em que inventa o modo de fazer aquela determinada “forma”. O processo formativo, ainda para Pareyson, avança então em “tentativas guiadas pelo presságio da descoberta”.2 Bandeira de Mello se coloca como um formativista. Ele ensina que todo artista ao criar tem um tema, domina uma técnica e escolhe um suporte. Inicia-se, então, o trabalho criador com aquilo que ele tem em mente e lhe parecem suas certezas. Contudo, logo que registra suas primeiras interferências sobre a superfície, ele compreende que a obra, ainda insipiente [aqui não seria incipiente? InCipiente = iniciante / InSipiente = não sapiente], assumiu o púlpito de sua mente e passa a dialogar com o artista, fazendo com que ele seja obrigado a reavaliar o que pretendia. São declarações de Lydio, na sua reflexão constante sobre o processo criador. A partir daí, até o momento em que assina a obra, se estabelece uma relação biunívoca entre criador e criatura. “A forma se faz fazendo”, conforme encontramos no pensamento de Pareyson, pois o artista “inventa” o próprio processo, e nessa operação a obra que vai sendo entificada revela-se possuidora de vontades e anseios, que o artista vai procurando satisfazer. 2

16

Luigi Pareyson. – Estética – teoria da formatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 1993, p.73

17


A trajetória de Bandeira de Mello foi marcada pelo desejo da invenção e pelo fascínio do figurativismo. É possível observarmos suas convicções nas conversas com o artista, quando num final de tarde subimos os lances das escadas que conduzem ao ateliê da Rua das Laranjeiras. O mesmo ateliê que abrigou Manuel Santiago. Os degraus um tanto gastos nos levam ao topo. Lá, entre as paredes que não se cansam de contemplar e de ouvir o que fazem e dizem os criadores, encontramos o espaço seguro que guarda em silêncio tantos segredos. A história é interessante. Ainda bem novo Lydio frequentou aulas no ateliê de Manuel Santiago, que as propiciava aos estudantes de pintura, oferecendo o ateliê para esses fins. Anna Letycia relata que foi ali, em 1952, que ela frequentou por três meses um curso ministrado por André Lothe. O fascínio pelo lugar levou o jovem Bandeira de Mello a se entusiasmar e sonhar e em sua fabulação se viu como o mestre em seus domínios. O desejo se tornaria realidade e hoje já são passados mais de cinquenta anos que o novo proprietário ali se instalou, preservando o significado daquele espaço como lugar de memórias superpostas, da prática e ensino da pintura e do desenho no Rio de Janeiro. A trajetória de Lydio não conheceria desvios. Desde o início ele se pautou por perseguir o primado da técnica e a unicidade da tradição. Por essa razão, ele vê a Itália como o lugar ideal para gozar o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro recebido no Salão Nacional de Belas Artes em 1961. Enquanto quase todos os vencedores buscavam Paris, centro da modernidade, que tivera Picasso, Matisse, Modigliani e tantos outros artistas como paradigmas das vanguardas, Bandeira de Mello opta pela Itália, berço clássico por excelência, pois ele se identifica com a pureza dos primitivos renascentistas, observando-lhes o domínio da linha, a procura da perspectiva, a riqueza cromática e, sobretudo, a técnica. Já na Itália seria levado por um amigo até ao santuário de Poggio Bustone, cuja origem se deu numa pequena ermida fundada por São Francisco. A capela tinha perdido uma parede num terremoto que assolara a região, e a Ordem estava procurando restaurar o santuário, desejando que seus muros recebessem pinturas afresco. Bandeira de Mello vai assumir o trabalho. Foi um tempo de imersão na paz do santuário e na liberdade dos campos adjacentes. Ele se proclama “franciscano por oito meses”, período em que “pintava pela manhã, caminhava à tarde e bebia vinho à noite”.3 O trabalho continuou pelo inverno. Lá fora a neve trazia o branco que iluminava a construção mental desenvolvida pouco a pouco nas paredes úmidas da capela de Poggio Bustone. São dois murais que representam, respectivamente, a confissão pública de São Francisco de Assis e a aparição do Anjo do Senhor ao santo, com a mensagem do perdão de todos os seus pecados. Quando retorna ao Rio de Janeiro, Lydio vai lecionar a cadeira de modelo vivo na Escola Nacional de Belas Artes. Sua atividade agora se multiplica entre a produção contínua no ateliê das Laranjeiras e o ensino na ENBA, local de transmissão da boa norma, mas, sobretudo, espaço de trocas, amizades e impulsos criativos na relação mestre e estudante. O magistério exerce sobre ele um fascínio, pois em última análise é também lugar da criação. Assim como a pedra negra risca o suporte e revela uma imagem, Lydio, como um demiurgo, vai moldando os jovens iniciantes conferindo-lhes uma razão e um objetivo, mas, sobretudo, apontando-lhes a meta sempre inalcançável do fazer contínuo, da obra que se completa em outra obra e, na sequência, precisa de mais outra e assim pela sua determinação se aprimora o artista no espírito vivificado pela eterna procura. A construção mental de Bandeira de Mello surpreende os que o procuram em seu ateliê para conversar sobre desenho e pintura. Logo ele abre gavetas, retira desenhos, coloca-os sobre a mesa e começa a descrevê-los, não como estão, mas como lhe surgiram. Como criou o retrato da velha senhora, trabalhando a brancura da pele que esmaece e os cabelos, fio a fio, quase se dissolvendo e se desmaterializando. Revela-nos, em outro, como pensou o fundo, porque colocou o pé descalço no rapaz, o olhar vagando pelo etéreo e a luz difusa do horizonte. Se nos apresenta desenhos de animais, em que a agressividade os faz saltar do papel, nos explica o porquê, através de um sonho, de uma viagem pelo inconsciente, pela procura total do ser, busca que recolhe da essência que se tornará 3

18

N.A. Declarações do artista. Disponível em <www.bandeirademello.art.br/?page_id=13&nav=video>

19


aparência. Para cada obra há uma história. Todos têm vida própria e identidade. Lydio os conhece pelo nome, sabe de cada origem e destino e sente prazer em compartilhar a união indissociável da produção e da invenção. No ensino o processo operativo determina a condução do mestre, e Bandeira sabe muito bem como ministrar. Mas, ao se debruçar sobre seu trabalho ele se vê como crítico e historiador, passando, então, a incutir nas imagens sua reflexão, pois de alguma forma ele sabe que ao assinar sua obra ela passa a não depender mais dele. A pedagogia do professor torna-se ferramenta que eterniza a obra no seu fazer, na descrição de processos, na re-invenção da forma que é passada, através da narração, aos seus discípulos. Seus desenhos e pinturas possuem as digitais do autor. Impossível não reconhecer um trabalho de Bandeira de Mello. O primeiro destaque é a força da forma. Entre as mais variadas temáticas que encontramos, a figura humana surge vitoriosa. Ela não possui apenas ossos e músculos, pele e fisionomia. Bandeira pinta a alma, permitindo que ela anime o corpo, module a musculatura, transborde nas expressões e revele os mistérios íntimos do ser. A linha que contorna e modula a figura é fruto da gestualidade precisa, programada pela mente. Como resultado de quem afaga o papel com traço, as marcas da vida vão sendo impregnadas configurando uma nova forma, pois, segundo Lydio é preciso desenhar para se pensar na forma. O desenho estimula o pensamento, e o artista retorna ao papel. Há uma dialética estabelecida nas figuras, definidas por sua caligrafia expressiva, pois Bandeira de Mello caminha na fronteira da liberdade íntima dos expressionistas com a contenção canônica dos clássicos. A supremacia do desenho, conforme já havia observado Quirino Campofiorito, está sempre presente em sua obra, “a matéria das suas tintas tanto quanto a marca de seus corantes parecem subordinar-se às determinações do desenho, nos detalhes como na estrutura geral”.4 O tratamento das sombras é outro ponto de destaque em seu desenho. Elas atravessam a composição. Muitas vezes passam pela figura, alternando-se com o fundo sem que prevaleça a inversão. A figura nunca se perde na trama de traços que a estruturam, pois seus elementos estão definidos pelas linhas que sublinham a forma, e a presença da luz é reveladora daquilo que Lydio deseja enfatizar. Assim, tudo se define com clareza. Se a distorção da forma promove a expressão pela contundência do traço, o enigma da figura não se deixa ocultar pela limpeza dos atributos clássicos. Bandeira de Mello navega no seu porão de lembranças, revisitando lugares, conhecendo pessoas, dialogando com desconhecidos aos quais vai conferindo identidade, pois não há forma que fuja ao seu domínio técnico. Ele percebe a figura humana na sua totalidade: ossos, músculos e carne, mergulhando nas profundezas do ser para buscar a alma e soprá-la na carne de homens e mulheres de todas as idades e classes sociais. Lydio não precisa escolher uma determinada posição, pois no espaço, os corpos lhe são submetidos, razão pela qual ele defende que o desenhista só pensa se consegue desenhar. Essa busca formativa encontra suas fontes na distância do Renascimento, na procura humanista de seus pintores, preocupação que observamos também em Bandeira de Mello. O próprio Leonardo Da Vinci recomendava, em seu Tratado da pintura, que os pintores iniciantes deviam observar o que distingue o riso do pranto, e orientava: Não farás o rosto de quem chora com os mesmos movimentos de quem ri, mesmo que muitas vezes se pareçam, porque o bom método é diferenciar, assim como é diferente o que causa pranto e o que causa riso.5 Em seus retratos Lydio penetra no âmago de cada ser humano para fazer aflorar o sentimento, com movimentos diferentes, individualizando o rosto na expressão, mas guardando o ideal da “nobre simplicidade e calma grandeza”, como expressara Winkelmann em sua obra Reflexões sobre a imitação da arte grega na pintura e na escultura. Do ponto de vista da composição, tanto no desenho como na pintura, a obra de Bandeira de Mello possui muitas afinidades com o espaço renascentista. Logo evocamos Piero della Francesca, Paolo Ucello e Andréa Mantegna, pelos planos de fundo de algumas obras, pelo espaço circundante que envolve as figuras, pela posição do horizonte, linha que se eleva para abrir um campo de possibilidades na composição centralizada do artista e pelo caráter narrativo das suas imagens. Ele escolhe o material ao pensar o tema e elaborar mentalmente a composição, ou seja, tudo 4 5

20

N.A. Declarações do artista. Disponível em <www.bandeirademello.art.br/?page_id=13&nav=biografia> Jacqueline Lichtenstein. “A pintura. Textos essenciais”. São Paulo: Editora 34, p. 46

21


se passa na duração de um mesmo tempo. Bandeira de Mello tem pleno domínio da pedra negra e o faz de modo semelhante ao que experimentaram artistas italianos, como Botticeli e Rafael. Por ser macia, pode ser partida com a mão, permitindo ao artista dimensionar seu material de acordo com os detalhes ou manchas que irá registrar sobre o suporte. Esse xisto argiloso contém carbono, que lhe dá o tom escuro na escala do cinza foncé ao negro e foi muito apreciado por pintores e desenhistas ao longo da história. A sanguínea, outro material clássico, foi muito utilizada pelos renascentistas, mas já que era conhecida desde o paleolítico. É uma espécie de giz vermelho, mistura de caulino e hematita. Seu tom avermelhado-argiloso confere ao desenho certa nobreza cujos efeitos podem ser valorizados por combinações e associações com o traço da pedra negra e as luzes do giz branco. Há, também, a sépia, uma espécie de riscador terroso, cujos pigmentos são extraídos de um molusco e depois misturados com um mineral, que em última análise é um giz. Todos esses materiais, aos quais ainda poderíamos acrescentar o pastel seco, soltam-se da superfície em que foram grafados, fazendo-se necessário que o artista “fixe” o desenho com um verniz suave que é borrifado sobre o papel. Lydio ainda se utiliza do giz pastel – seco ou oleoso –,, cuja gama de tons suaves permite ao artista encontrar com exatidão aquilo que ele busca. Ele é um criador de alma inquieta e inventiva, portanto, a fartura de materiais diante dele provoca sua imaginação. A saída da inércia se dá a partir de qualquer ponto. De uma simples conversa, de um sonho, da cor de um determinado material ou da sedução de uma forma, sobretudo o corpo humano. Nestes mais de cinquenta anos de carreira, Bandeira de Mello veio fabricando suas tintas ou escolhendo-as cuidadosamente. Para explicar aos seus discípulos o uso da cor e suas propriedades, ele monta uma espécie de mesa de banquete e sobre ela alinha os pós, bastões, pequenas vasilhas, cera e, para completar, acrescenta suas mãos. Elas tocam cada elemento enquanto o mestre fala, explicando longamente usos e propriedades dos materiais, intercalando o ensino da técnica com fatos que a memória traz, talvez para conferir a verdade dos tempos e das vivências ao momento do banquete. A têmpera de caseína, por exemplo, está entre as eleições do artista na escolha do material de certas obras. Mais uma vez convém afirmar que Lydio faz a escolha da técnica na elaboração da forma pela ideia. Elas não se dissociam, assim como o suporte em suas dimensões exatas. A caseína, feita com a proteína do leite, já era conhecida pelos povos das civilizações agrárias, pois é possível utilizá-la até em pintura mural, desde que se adicione um antisséptico como a cal. Essa facilidade na transmissão do conhecimento da arte fez de Bandeira de Mello uma referência para o ensino do desenho e do modelo vivo. Ao longo da carreira foi acumulando títulos expressivos. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro já havia recebido o “notório saber”, em 1964 e o de “doutor”, segundo parecer do CEPG em 1982, por ter recebido a Medalha de Ouro em 1952, que coroava a graduação em pintura, no mesmo nível de pós-graduação, procedimentos daquela época, quando ainda não havia os cursos de mestrado e doutorado na área de arte no Brasil. A pintura é para Lydio a materialização das ideias lidas ou ouvidas, sonhadas ou vividas, reais ou hipotéticas. Seus tipos surgem no gesto, no brilho do olhar, na paisagem percorrida ou na que nunca foi vista, mas que possui existência anímica. Pela técnica a poesia de suas figuras se proclama em têmpera, óleo, caseína, pastel ou qualquer material que confira cor ao suporte por meio da mão do artista. Com tais qualidades tornou-se vencedor do concurso público para a execução dos murais da antiga agência central da Caixa Econômica Federal, no Rio de Janeiro. Em 1970, já com o resultado proclamado, Lydio tem à sua frente o desafio de pintar dois grandes painéis com 33 metros de comprimento por 4 metros de altura, cada um. Ele vai realizá-los em têmpera sobre madeira, utilizando cores de uma “paleta severa e restrita, não expansiva para um cromatismo exaltado”, conforme definiu Quirino Campofiorito.6 A temática será inspirada no trabalho humano, na relação homem e terra, na pesca, na construção do homem heroico que conquista a vida pelo amor, no lazer do futebol, na simplicidade de tipos que revelam a marca nacionalista e regionalista do homem brasileiro. 6

22

Disponível em <www.bandeirademello.art.br/?page_id=13&nav=biografia>

23


Os dois painéis foram concebidos para serem colocados superpostos, um acima do outro, de modo que o pequeno espaço que os separava desaparecia pela boa continuidade da forma, pelas áreas de cor que se integravam e pelo princípio perceptual da lei de clausura que nos permite “fechar” a forma na unidade. Assim os painéis se completavam, constituindo-se, na verdade, uma única superfície íntegra. As figuras humanas parecem nascer do chão; estruturadas no desenho, elas se harmonizam sob o rigor de uma composição de acentos construtivos. Depois da inauguração, os murais da Caixa Econômica passaram a receber muitas visitas e tornaram-se a referência daquele espaço. Quando houve a grande reforma das instalações, e o tradicional banco deu lugar a Caixa Cultural, inaugurada em junho de 2006, os painéis apareceram como soberanas peças de arte do novo espaço cultural. Depois de restaurados foram colocados no mezanino um em frente ao outro, afastados por largo espaço de circulação. Com a reforma não havia mais possibilidade de serem integrados às paredes como haviam sido projetados inicialmente. O que parecia sinalizar para o esvaziamento da proposta de Bandeira de Mello fez com que se observassem novas possibilidades, partindo da obra, para a visualidade do novo espaço. Os painéis interagiram muito bem ao serem colocados face a face, fazendo-nos verificar que Lydio, ao criar originalmente as composições integradas, não lhes negou a autonomia de uma presença em si. Verificou-se que cada peça possuía a sua identidade e, se a continuidade não se verificava mais na percepção da forma gestáltica de uma única obra, por outro lado na memória do fruidor que visita o mezanino, os dois painéis se fundem na imagem mental de um grande painel, que assim permanece reintegrado. Uma outra observação importante se dá ao verificarmos a empatia que suas obras suscitam no observador. O rigor da forma clássica e sua idealização não têm a tipificação de um homem estático e de face apática. Em Bandeira de Mello, a expressão, a carne e a ossatura libertam as figuras de quaisquer engessamentos. Ele compreende o que Leonardo da Vinci deixou em seu Tratado de pintura, quando ensinou que “o bom pintor tem de pintar duas coisas principais, isto é, o homem e o estado de sua mente”7 e ainda não farás o rosto de quem chora com os mesmos movimentos de quem ri, mesmo que muitas vezes se pareçam, porque o bom método é diferenciar, assim como é diferente o que causa o pranto e o que causa o riso.8 A força figurativista de Lydio se confirma exatamente porque ele percebeu o fundamento dessas orientações de um dos maiores pintores e desenhistas de todos os tempos. E até foi além, porque não negligenciou as heranças dos expressionistas. Existe um alongamento em suas formas, uma expressividade de rostos, de anatomias que, na verdade, sempre existiu, mas que nem todos os artistas incorporaram. Conforme defendiam os expressionistas alemães, não existe um programa rígido para tais poéticas, pois elas permanecem como questões da alma, exigências do espírito e uma coisa da humanidade. O desenho provoca a forma, pois lhe subtrai o imobilismo para animá-la com o sentimento configurador que lhe confere vida. Essa possibilidade está presente nas figuras de Bandeira de Mello, que atua como um visionário. Nele está presente a máxima expressionista que converteu o espaço em visão, a descrição em vivência e a reprodução em configuração, tornando-o um homem que não aceita, mas busca incessantemente, pois sabe que só será possível agarrar o que existe além dos fatos a partir de uma sede insaciável na representação da essência. A conjugação do rigor teórico, da mão obediente e do domínio da técnica se alia ao espírito que liberta a servidão da forma e lhe possibilita a autonomia plena capaz de se mover na própria forma. Chega-se então ao questionamento que agita o meio do ensino artístico no campo das suas escolas de arte, na difícil fronteira que se estabeleceu entre a tradição e a modernidade. Thierry de Duve é o historiador da arte que vem se debruçando sobre o assunto. Desde 1992 leciona estética e arte moderna e contemporânea na Universidade de Otawa, Canadá. Nos últimos tempos procurou desenvolver o projeto de uma escola que pudesse oferecer um ensino capaz de escapar ao conflito “tradição x modernidade”, mas o esforço realizado serviu somente como diagnóstico, sem alcançar a “cura”. Ele realizou muitos encontros com artistas, críticos, mestres e técnicos, mas a escola sonhada não chegou a existir, na verdade não passou de um breve curso de verão, atendendo 32 estudantes. 7 8

24

Jacqueline Lichtenstein (dir.). A pintura. A figura humana. (Vol. 6). São Paulo: 34, 2004, p. 43. Id., p. 46.

25


De qualquer forma o prodigioso esforço para sanar a crise nas escolas de arte pode ser resumido nas seguintes ações, segundo Thierry de Duve: “a primeira coisa a se fazer é pacientemente reconstituir uma comunidade de bons artistas que amem a arte, que respeitem uns aos outros e aos estudantes, e que levem com seriedade a tarefa de transmitir”9 e acrescenta que “a última coisa a ser feita é tentar reuni-los sob uma bandeira, um programa e uma ideologia”.10 Ao procurar estabelecer uma linha de pensamento sobre a produção de Bandeira de Mello, nos mais de setenta anos de sua carreira, já que considero a experiência das primeiras tintas oferecidas por uma vizinha a uma criança de seis anos como sendo o início dessa trajetória, a discussão de Thierry torna-se pertinente, pois em Lydio se estabelece a fronteira da tradição e da modernidade. Primeiro, na busca normativa de um trabalho sistemático que ofereça técnica ao artista. E ele não abre mão de sua crença, pois defende que, por ela se torna possível desenvolver o seu próprio ritual. Segundo, pela invenção, que fez a diferença dos modernos, mas que, ainda de acordo com Thierry, precisa ser repensada. Bandeira de Mello chega aos oitenta anos com uma prodigiosa história de vida contada em centenas de revelações de seus registros que surgem nos desenhos e pinturas. Documentos de sua existência, inventados a partir das fantasmagorias ou dos seres que se encontram nas esquinas da vida, mas todos reais e realizáveis através de um prodigioso registro técnico que nos leva a conclusão que ele já nos anunciara antes: “então, é preciso desenhar e pintar”. .

9 Thierry Duve. Quando a forma se transformou em atitude – e além. Em Arte & Ensaio. Revista de Pós-Graduação em Artes Visuais, 10:105. EBA/UFRJ, 2003. 10 Id. Ib.

26

27


“Nada pode sedurzir-nos, nada pode atrair-nos, nada leva a despertar o nosso ouvido, a fixar o nosso olhar, nada por nós é escolhido na multiplicidade das coisas e torna desigual a nossa alma, que não seja, de certa maneira, ou pré-existente no nosso ser, ou esperado secretamente pela nossa natureza.” | Paul Valéry

28

PINTURAS

29


“Tive o privilégio de visitar muitas vezes seu ateliê em Laranjeiras. Eu, meus irmãos Toninho e Nelson, este também artista plástico. Era difícil visitá-lo sem querer arrematar seus trabalhos. Por vezes reservava uma tela ainda no esboço, pelo que ela prometia. E nunca me arrependi, quando concluída. Prova disso foi uma das aquisições que fiz de uma obra ainda em projeto, já antevendo seu resultado; acompanhei todo o desenvolvimento até sua conclusão. O tema representa “O pescador” ou “O contador de histórias”. Sofri esperando que me liberasse o quadro. Voltei dezenas de vezes; ele sempre pedia calma, faltava este ou aquele detalhe. Parecia não querer se desligar do trabalho. Para se ter uma ideia, só na blusa da figura central do quadro ficou mexendo um mês. Aliás, nessa figura, Bandeira se autorretrata, involuntariamente, pois só concordou com o fato depois que chamei sua atenção para a semelhança com a figura central da obra.” RICARDO KIMAID

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

30

31


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

32

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

33


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

34

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

35


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

36

37


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

38

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

39


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

40

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

41


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

42

43


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

44

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

45


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

46

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

47


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

48

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

49


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

50

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

51


“Inspira-se no trabalho e na colaboração social, obedece a uma restrita cromaticidade, que varia entre tons ocres, castanhos e negros (cinzas), obedecendo assim uma agradabilíssima harmonia na extensa superfície das quatro paredes que se conjugam sem lhes afetar a planimetria.” | Quirino Campofiorito

52

PROJETOS

53


PROJETO VENCEDOR DO CONCURSO PROMOVIDO PELA CAIXA EM 1970 E CONCLUÍDO EM 1972. Em 1974 a obra foi totalmente perdida com um incêndio no prédio. O artista realizou novo projeto, concluído em 1977. A obra foi totalmente restaurada em 2006, por ocasião da inauguração da Unidade Barroso da CAIXA Cultural Rio de Janeiro.

Painel, 1977 tinta acrílica e óleo s/madeira, 33,0 x 4,0 m Acervo Caixa Econômica Federal

54

Painel, 1977 tinta acrílica e óleo s/madeira, 33,0 x 4,0 m Acervo Caixa Econômica Federal

55


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

56

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

57


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

58

59


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

60

61


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

62

63


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

64

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

65


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

66

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

67


“Acontece que, exatamente pela particularidade de ser ele, além de um exímio desenhista e pintor, um homem culto, seu universo de expressão não é estanque. O desenho e a pintura que ele consuma, na madurez de vida e ofício exemplares, vem valorizado por este conhecimento de vasta universalidade.” | Walmir Ayala, “A arte do desenho”,1998

68

DESENHOS

69


ENSAIO SOBRE A OBRA, O PENSAMENTO E O MAGISTÉRIO DE BANDEIRA DE MELLO I. “RECORDAÇÕES GRATIFICANTES DE VELHOS AMIGOS” Os bons e verdadeiros amigos quando se conhecem, em verdade, se re-conhecem. A um bom orador, não faltaria na oratória, e em bom humor, o tradicional latim da formação ginasiana antiga. A este escriba que não teve essa formação, mas o gosto dos livros, não deve faltar nesta introdução a clara oratória de Cícero no De amicitia (A amizade), capitulo IV, que versa sobre: “Recordações gratificantes de velhos amigos”: (...) in quo est omnis vis amicitiae voluntatum studiorum, sententiarum, summa consensio.” O que quer dizer: (...) aí esta toda a força da amizade, a saber, a comunhão de intentos, de estudos e de princípios. Lembro-me aqui da minha primeira visita ao ateliê do mestre numa tarde de sábado no verão de 1985. Durante aquela semana que se findava, havia eu prometido visitar o ateliê ao fim de um colóquio na sala da pintura IV na Escola de Belas Artes. Depois de nos cumprimentarmos entrei calado e meio sem jeito, pois nenhuma intimidade tinha eu com aquele que alguns messes depois tornar-se-ia meu mestre, e do qual anos depois fui monitor, aprendiz em pesquisa de ensino e aprendizagem de modelo vivo e posteriormente colega no magistério. A visita foi bem rápida. Porém o tempo suficiente para que me mostrasse o ambiente de trabalho, com a clarabóia; o cavalete que sobe e desce com um leve tocar dos dedos – projeto seu; os armários com fartura de material, uma enormidade de potes e pigmentos sobre uma espécie de móvel aparador gigante. O ateliê, embora construído segundo moldes de um ateliê parisiense por Manuel Santiago, mais parecia na sua confusão uma oficina medieval. Ali tive contato com esta primeira característica de seu trabalho e por que não dizer uma das facetas de sua personalidade artística e pedagógica: uma excelente qualidade técnica. Rapidamente tive aula de como limpar a paleta, guardar a tinta a óleo de um dia para outro sem desperdiçá-la, limpeza de pincéis; de como cuidar do fundo de pintura que fica muito absorvente, de como se usa folha de ouro no quadro e outros “macetes” mais. Ensinamentos que, quando cheguei a casa, anotei no meu “receituário técnico” de pintura. II. NOSSAS INQUIETAÇÕES Atraente e desconcertante numa época de tantas incertezas quanto aos paradigmas do fazer artístico, é o encontro com a figura de Lydio Introcasso Bandeira de Mello. Isto porque Bandeira de Mello é muito sofisticado e simples na sua atuação como pintor, desenhista e professor. Profundamente idealista, e neste sentido sem limites ao desejo e à imaginação poética, este mestre da arte tem os pés fincados em princípios secularmente justificados e simplíssimos de ensinar, aprender e fazer. Donde o fascínio de sua pessoa para os desavisados se transforma em decepção ao verem suas alturas de voo poético, aliadas à lentidão do rastejar no solo árido dos fundamentos da técnica – o universo das significações expresso na diversidade dos procedimentos assimilados em férrea disciplina. Bandeira de Mello, como amigo e educador, tem sido um companheiro numa angústia. O que é a arte e que sentido tem para nós, seres humanos? Talvez para ele essas perguntas soem menos densas de inquietação, pois Bandeira de Mello, mais que um nome, é uma obra. E quem é uma obra, parece-me, já tem convicções firmadas. Assim foi dado a Bandeira de Mello conviver com uma complexa situação de época, na qual o ato criador mais que 70

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

71


sempre é doloroso, angustiante e incerto. Testemunha de um tempo que vai da iluminação à lamparina de querosene, passando pela chegada do homem à Lua, pela sofisticada tecnologia do microcomputador e pelo consumo e dependência crônica de celulares, foi lhe dado construir sua personalidade artística no rodamoinho de numerosas transformações no cenário das artes plásticas. Não se sentiu seduzido por uma abstração radical como muitos de sua época – sobreviveu a uma propalada morte da pintura figurativa nos anos cinquenta e assistiu seu renascer sob a forma do chamado hiperrealismo – e a seguir por novas tendências não tão exageradamente referenciadas ao real, mas ancoradas em releituras de movimentos do início do século, numa sucessão de pós, trans e neos isto e aquilo. Bombardeado por tantas mudanças, sua resistência foi constante e com ela criou um mundo que lhe é próprio, por ele mesmo denominado sua “tribo”. Esta tribo vive mimeticamente nas suas interpretações poéticas e pictóricas das paisagens mineiras que lhe nutriram a alma. “Aprendi a fazer arte com Dostoiewsky, Maximo Gorki, Knut Hamsun, Tolstoi, Victor Hugo, Beethoven, Masaccio, Piero della Francesca, Paolo Uccello e Giotto”, diz o mestre e conclui jocosamente: “sou uma resultante deste treco todo.” Bandeira de Mello, comentando as influências musicais em sua formação, fala de suas “paixões básicas” a começar por Beethoven, compositor que lhe “faz sentir ao mesmo tempo grande e pequeno, capaz de sonhar e viver perigosamente como se a vida fosse realmente só esta luta para não sucumbir”. Fala-nos de Mozart, “que dá a ideia de coisa acabada, pensada e resolvida”, tão próximo das formas finais de suas composições pictóricas, cuja estrutura o “faz sentir em um mundo construído, acabado, sereno e organizado”; e, chegando a Stravinsky com quem aprendeu a conviver com dissonâncias; conclui: “eu me apaixonei por um coquetel final que é o jazz onde a disciplina e a liberdade fazem um casamento aparentemente impossível mas absolutamente real.” III. UMA TRIBO LUTA PARA NÃO SUCUMBIR Ao falar das florações de uma árvore, não podemos esquecer suas raízes e delas vamos ao solo onde buscaram o nutritivo vigor. No desejo da pintura, Bandeira de Mello teve o apoio paterno “como o aval materno para contentamento de ambos”. Bandeira de Mello, filho de um pai de quem recebeu o mesmo nome, advogado, filósofo e matemático, e de uma mãe “de prendas domésticas, mas capaz de entender o filósofo”, nasce em Leopoldina, cidade encravada em um vale da Zona da Mata mineira antes da “Revolução de 1930” e teve sua infância marcada por ela. Criado em uma casa rica em livros de ciência, filosofia, matemática e literatura, teve a oportunidade de ler os grandes clássicos muito cedo. Ouvia músicas gravadas nas bolachas de 78 rotações numa vitrola de corda. Quando inicia a formação universitária já havia lido os clássicos da literatura inglesa, russa, italiana, portuguesa e estudado filosofia. Sente que recebeu influência imensa de Dostoiewsky, Gogol, Tchecoff, Tostoi, Leonid Andreieff e outros com os quais aprendeu a necessidade de comunicação “com os outros companheiros de viagem pelo tempo e no espaço”. Quando criança, em Leopoldina, ainda antes dos dez anos de idade, Bandeira de Mello se nutriu da convivência com Funchal Garcia, um pintor de paisagens amigo de seu pai. Funchal Garcia lhe deu os primeiros ensinamentos sobre preparo de telas, usos dos materiais sobre pintura que o pai lhe fornecia. Dos livros de arte do pai descobre os pintores da Idade Média, préRenascença, Renascimento e barrocos italianos, mas sua paixão vai de encontro aos primitivos: Masaccio, Giotto, Piero della Francesca, Paolo Uccello. Redescobre Michelangelo com o olhar filtrado por essas influências. Descobre Tiepollo, Tintoretto, Ticiano. Admira El Greco. Sua sensibilidade o aproxima dos mestres holandeses Bosch, Bruegel e Grünewald.

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Não teve influências estilísticas de seus professores, mas técnicas, com o apoio de Marques Júnior sobre o qual declara: “homem de rara sensibilidade pictórica, miseravelmente esquecido pelo meio artístico contemporâneo.” Sua formação cultural em arte se expande com Flecha Ribeiro, historiador e conhecedor de estética. Conviveu ainda na escola com mestres do porte de Carlos Chamberlland e Henrique Cavaleiro. Com esses encontros e trocas vai se enriquecendo, escolhendo e sintetizando o que virão a ser características de seus trabalhos.

72

73


Grosso modo chamaríamos a poética de Bandeira de Mello de “luta pela vida”. Mais delicadamente diria “consciência” da vulnerabilidade do ser humano em seu heideggariano “estar-aí”, vulnerabilidade e esforço que Bandeira de Mello estende a toda a natureza. As palavras de Edward F. Edinger, a meu ver, ilustram o drama cósmico que o pintor desvela em suas composições: Quando pesquisamos o fenômeno da vida em todas as suas manifestações visíveis, o que observamos não é um contínuo, mas antes uma multiplicidade quase infinita de unidades separadas de vida num estado permanente de colisão e de competição umas com as outras no sentido de se alimentarem, reproduzirem e sobreviverem. A verdade é que essas unidades não são tão separadas assim. Mais e mais tomamos a consciência de uma interdependência e, no que toca ao ser humano, carência de manifestações humanas. E a arte é uma das formas da expressão desta interdependência do gênero humano, nela ele se inscreve e/ou revela a si mesmo o seu ser. Se cada indivíduo na sua consciência vive uma solidão ontológica, o mesmo não se dá no seu estar-no-mundo-com-os outros. O homem está sempre no mundo em relação com ele mesmo, com a natureza, com seus mitos, com suas fantasias, com seus medos; e com seus irmãos. Ademais, o ser humano cumpre uma tarefa terrível: a de decidir a todo instante ainda ser, existir (do grego ex, pôr-se para fora, abrir-se). A arte, então, não surge como um acaso, mas como uma resposta do gênero humano a si próprio da necessidade de dizer ao outro e a si mesmo “eu existo assim”. Desde “el dentro proprio”, como bem nos lembra Ortega Y Gasset: “Se queremos hablar en serio del hombre, solo puede hacer-se desde dentro, desde el dentro proprio, y, por tanto, solo se puede hablar de si mismo” (grifos do autor). Assim de sua indubitável necessidade de comunicação, este ser carente apresenta-se como ser dialogal; e cumpre a arte, na existência humana, o papel de um recurso a mais nas suas possibilidades de comunicação. Donde, uma tautologia artística com seu hermetismo, a meu ver, ser uma perversão da função dialogal da arte. Função que Bandeira de Mello busca cumprir em seu exercício técnico e moção poética. Bandeira de Mello criou/descobriu em si mesmo um universo próprio. Um universo que tanto tem a ver com sua vida, seus gostos, interesses e incômodos, como com sua postura filosófica diante de sua existência. “Um artista”, diz Bandeira, “não é alguém que inicia por uma linha de trabalho preestabelecida, mas alguém que vai se aproximando a cada dia de si mesmo, durante a caminhada pela vida”. Assim criou/descobriu sua “pequena tribo”, que nos traz a reminiscência de sua infância no interior de Minas Gerais. Somos convidados por ele a contemplar esse drama existencial universal acima descrito, através de um cotidiano elevado à categoria de símbolo, nas suas formas e composições plásticas. Um universo repleto de figuras de bois, cães vadios e cavalos, seja em busca da própria subsistência de unidade e espécie, seja em seu fim trágico; seres humanos em convívio e trabalho, onde a dor, a alegria, a brincadeira, a solidariedade, a solidão e a morte nos são devolvidas a serem consideradas essenciais à nossa existência. Especiais destaques merecem os seus nus, altamente trágicos e eróticos, mistérios de uma corporeidade que traz em si a vida e a morte. Ao aproximarmo-nos da poeira dos barrancos que entonam as cores de Minas Gerais, quais as veladuras da pintura, onde os verdes mais viçosos têm tonalidades terrosas, viajamos pelo conteúdo poético da obra de um pintor cujas raízes mineiras presentes em seus temas interioranos são apresentados de maneira grandiosa e universal, transcendendo o estritamente regional. Sua paisagem caracteristicamente mineira, cheia de barrancos, é um espaço de vida, onde o mundo surge como deserto da alma, sedento de infinito e uma metáfora do transitório. Essa consciência da transitoriedade da vida ganha sua expressão vigorosamente trágica na forma religiosa, não sacra, porque não dogmática, de sua pintura. Bandeira de Mello não dá respostas de Deus às interrogações mais profundas e radicais da existência humana. Antes as toma/as encontra, como interrogações que lhe inquietam o ser e as regurgita através dos temas clássicos da tradição cristã. Seus santos e mesmo seu Cristo lembram-me o bíblico Jô lamentando aos céus sua realidade e interrogando seu destino. São um grito para o alto. Uma provocação ao sagrado silêncio. 74

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

75


No entanto, sou testemunha de seu fascínio e de sua fé na vida quando manifesta seu encanto pela beleza das formas naturais, pela inteligentíssima ordem e organicidade dos sistemas físicos e biológicos. Daí sua postura humilde em reconhecer a natureza como mestra das formas artísticas, por aquela síntese, tão bem expressa por Herbert Read, “de beleza matemática e vitalidade orgânica”. Cabe-nos aqui lembrar que o pai deu-lhe uma educação diferenciada. Arranjou-lhe uma “preceptora” que se incumbiu de sua formação primária fora da escola de primeiro grau: a senhora Carmem da Silva Xavier. Ela era a guardiã da Igreja Metodista de Leopoldina na qual desempenhava a função de organista e que mantinha nos fundos da igreja uma sala de aula de “gratas recordações”: na primeira parte da manhã, cheirar, ver sentir, e examinar a natureza – céus, flores, ar, ervas..., perceber semelhanças e diferenças. Saber da chuva ou da seca. Depois, lhe era solicitado fazer umas redações, contando história sobre essas vivências e suas emoções. Em Leopoldina “caíam tempestades colossais”. Nos dias de chuva, o passeio era substituído por uma estampa a ser descrita. Estudava-se aritmética, para bem lidar com números e ... piano para percepção musical. Foi com essa formação que prestou exames na escola pública. Aos dezessete anos, com o curso “clássico” terminado no Colégio Leopoldinense considerado uns dos melhores do Brasil, Bandeira de Mello viajou para o Rio de Janeiro ingressando na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil. Seu desempenho acadêmico na escola de Belas Artes lhe valeu o convite de Marques Júnior para assistente da cadeira de modelo vivo. Deu a primeira aula aos vinte e dois anos. Deixou de dar aulas apenas durante dois anos, quando viajou para a Europa com o prêmio do Salão Nacional de Belas Artes nos anos 1962/63. Desde então vem ensinando modelo vivo, não mais na universidade, mas em seu ateliê na Rua das Laranjeiras, onde novas gerações buscam através do contato com ele recuperar a disciplina perdida. IV. A “COZINHA” DA PINTURA Ao longo de seus anos de trabalho e durante seu aprendizado artístico, Bandeira de Mello foi um aprendiz pesquisador de técnicas das mais antigas às mais modernas no campo do desenho e da pintura. Sua formação técnica se deu com os primeiros desenhos na batuta de Quirino Campofiorito, ilustre pintor e crítico de arte, que também o influencia com seu pensamento estético, e com o ilustrador e exímio desenhista de figura humana, Calmon Barreto, também mineiro de Araxá. Calmon tinha um desenho em seu dizer “maravilhoso e fácil” que parecia a seu ver “escorrer da ponta do lápis.” Aprendeu também com a “velha” Georgina de Albuquerque e com o escultor Zaco Paraná em suas aulas de modelagem. Amante de uma boa cozinha e excelente cozinheiro, não poderia deixar por menos a apelidada “cozinha da pintura”, quando um novo maestro e de grande porte, Edson Motta, “pai do restauro científico no Brasil”, vai lhe afinar as tonalidades e o gosto nos temperos dos mais diversos processos de pintura que ele experimenta um a um. Aquarelas, têmperas magras e gordas, artificiais, óleo, pastéis, técnicas mistas, etc. Sempre atento à resposta dos materiais as sua necessidades expressivas, num processo de escolha daquele que mais lhe conviesse a sua melhor forma de expressão. Daí então vem a identidade com uma técnica antiga do Quatrocentos italiano, descrita no Libro dell’arte de Cenino Cenine, nomeada “cola de queijo”, ou seja a têmpera de caseína – a proteína do leite. Aprendeu a trabalhar com ela as veladuras e texturas construindo a “tectônica” de seus trabalhos, estas qualidades de superfície com transparência, relevo e opacidade. Destacamos aqui sua virtuosidade com o “afresco” – técnica que aprendeu também com Edson Motta e que utilizou nos murais que realizou no convento franciscano medieval de Poggio Bustonne na Itália, situado nos contrafortes dos Apeninos, montes que circundam o Vale do Rietti. Trata-se de uma técnica em que os pigmentos apenas diluídos em água são aplicados sobre a superfície da argamassa de cal e areia ainda fresco. Por isso o nome “afresco”. Durante a secagem formam-se cristais de carbonato de cálcio impregnados pela cor aplicada. A parede se torna uma síntese de pigmento e massa estrutural. Uma técnica antiga do Ocidente que se desenvolveu contraponteando os mosaicos do Oriente.

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

As técnicas das têmperas que utiliza tanto nas modalidades puras como na técnica mista com o óleo foram utilizadas, por 76

77


exemplo, nos murais da Caixa Econômica Federal, no Rio de Janeiro. Especiais menções merecem as muitas técnicas de desenho numa adequação dos materiais de mancha e risco as suas necessidades expressivas. Bandeira de Mello traz no virtuosismo do desenho o extremo domínio, no qual a arte do croqui, esta aquisição madura dos bons desenhistas, surpreende pela espontaneidade e poder de síntese. Não podemos deixar de lado nesta apresentação-testemunho sua excepcional habilidade na arte do retrato. Arte difícil que o mestre domina como poucos e com extrema autoexigência. Prefere retratar amigos e consanguíneos a fazer encomendas de estranhos, embora nestas não seja menor o domínio e a exigência. Bandeira de Mello assim preserva essa atividade para um encontro mais profundo com as personalidades retratadas, e aí sua expressão psicológico-gráfico-pictórica faz-se testemunho poético de um encontro humano, de uma convivência! Verificamos então que a figura ocupa um lugar central na obra de Bandeira de Mello, tanto em sua poética como no exercício do magistério. Falar da figura humana é tocar o coração mesmo da arte, de todas as formas de sua manifestação plástica. Porque falar da figura humana é falar sempre de alguma coisa que é algo mais. De alguma coisa que, tal como a grande arte e a própria pessoa humana, permanece na sua expressão um mistério, um paradoxo, pois que revelado e abscôndito em sua própria revelação. Um tangível, intangível. Quirino Campofiorito, em discurso proferido no dia 6 de dezembro de 1991, no Plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em homenagem a Bandeira de Mello que então recebia o título de cidadão honorário desta cidade, nos chama a atenção sobre a “dignidade e gravidade”, que este ensino tem e exige: “(...) quando no ensino de belas-artes o desenho de modelo vivo é esquecido são as artes plásticas que são esquecidas”, e justifica: o abandono deste ensino especializado da figura humana só pode levar a decadência artística porque a figura humana será sempre a maior fonte de inspiração do próprio homem. Quando se sabe dominar o desenho da figura humana sabe-se dominar qualquer outro. V. UM PROFESSOR, SÁBIO E CRÍTICO Dou agora meu testemunho de ex-aluno. Conheci o mestre quando no discurso corrente nos meandros do mundo da arte e, em particular, da Escola de Belas Artes da UFRJ – onde respondeu pela cadeira de modelo vivo por trinta anos – “o não saber” desenho, técnicas e o “tudo improvisar” constituíam-se em verdadeiras virtuoses artísticas. Obviamente, quem lembrava princípios – na sua acepção – perenes não tocava boa música... Na atualidade, apesar das vozes proféticas, oriundas seja da crítica ou de artistas isolados denunciando o equívoco e anunciando as consequências de tais procedimentos e princípios, a situação não mudou muito. E o velho mestre continua arranhando ouvidos “sensíveis”. Frase comum do mestre e talvez a mais provocadora e desconcertante é: “tem que se ter o que dizer!” Não entrarei aqui na discussão levantada por filósofos como Dufrene sobre as implicações linguísticas de afirmar ser a arte uma linguagem e sua consequente negação, por inapropriação do vocábulo para expressar o que queremos dizer com isto. Prefiro aproximar-me de De Fusco e apresentá-la como um “sistema de códigos interligados, formando uma totalidade, com uma significação específica onde forma e conteúdo se identificam”; constituindo-se no problema da atualidade a fragmentação destes códigos e a consequente negação do todo. É uma questão delicada que se elucida na crise da racionalidade da modernidade ocidental; portanto, numa crise da cultura como um todo. É factual e só os ingênuos não assumem: somos uma civilização em decadência! E, é neste contexto, neste maré magnum de incertezas onde tudo que é sólido se desmancha no ar, que emerge a figura de Bandeira de Mello, como sobrevivência de princípios fundamentais ao fazer artístico. Ao afirmar a necessidade primeira de um discurso, Bandeira de Mello já se mostra fora do princípio tautológico das poéticas contemporâneas. Ao negar a entropia 78

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

79


artística, radica a moção criadora e sua teleologia na interioridade humana e justifica seu conceito de arte: “ponte entre as consciências”. No entanto, se aqui se encontra a ressonância teórica do que é a arte em verdade, e nisto reside o seu encanto, aqui, aos desavisados, está o começo do desencanto ou a óbvia e crua evidência: para construir estas pontes é preciso técnica. E então somos convidados pelo mestre para a já citada férrea disciplina para aquisição do domínio do desenho – elemento essencial para a apropriação, transformação e criação de formas – e para os conhecimentos fundamentais da apelidada cozinha da pintura, sua química e seus procedimentos técnicos que garantem a permanência de nosso testemunho poético do existir. Princípios e procedimentos transmitidos de geração em geração, adaptáveis às necessidades expressivas de uma época e de cada pessoa e enriquecidas pela produção industrial. Diz Bandeira de Mello: “a arte a priori a ser pensada como mercadoria não me parece o resultado da melhor postura de um ser sensível posto diante do universo, refletindo seu relacionamento com ele.” Me apóio numa reflexão sobre a arte oriunda do pensamento clássico, a meu ver pertinente para nos ajudar a compreender as exigências do mestre. O pensamento clássico desenvolveu um conceito de arte como “ofício”. Sua teoria era a teoria da manufatura, baseada nas ideias gêmeas da função e da técnica, em que o objeto artístico ara essencialmente compreendido como agalma, isto é ornamento. O critério do julgamento artístico era o lavor, isto é, sua adequação à sua função. A beleza – Kalou – então neste pensamento assemelhava-se à eficiência funcional. Faltava-lhes o sentido do artista moderno oriundo da Renascença e superaprofundado pelo romantismo como titã, monstro sagrado, gênio, etc. O artista era apenas o “oficial”, tecnites ou artífice, demiurgos; neste último título uma analogia à divindade ou ao princípio organizador do universo que trabalha o caos do mundo material para lhe dar uma forma que ele não cria, mas que apenas contempla num mundo ideal, mundo da ideias, segundo o fundamento, o sistema da filosofia platônica. Já no Sofista, Platão definia poiesis como criação divina, isto é, construção de algo em sentido absoluto, e fala de uma criação a partir da criação divina; subordinando o artista a um segundo escalão criador. É a Aristóteles que devemos a definição de techne “(...) a capacidade de fabricar alguma coisa com uma correta compreensão dos princípios envolvidos.” Na Ética distinguiu Aristóteles das classes de techne os ofícios pelos quais fazemos alguma coisa (prakton), como a agricultura e a medicina, e os ofícios pelos quais construímos alguma coisa (poieton), como esculturas e sapatos. Com esses instrumentos conceituais da estética clássica acredito possamos traçar um perfil pedagógico da pessoa de Bandeira de Mello, abordando as características entendidas por nós como essenciais a sua práxis e a sua poética. Naquela época, repito, esta exigência de techne soava mal aos ouvidos dos estudantes. O que não foi o meu caso. Mas experimentávamos demais, e Bandeira de Mello era um forte crítico desse experimentalismo que, a seu ver, dava à Escola de Belas Artes um caráter amadorístico e todo mundo parecia ali meio autodidata – sem aprofundamento. Essa academia do “novo pelo novo”, essas exigências, nas suas palavras, “levam os alunos a uma conduta cheia de distorções que os impedem de percorrer seu caminho próprio, pessoal e por isso único, ímpar e por isso novo.” Bandeira se insere perfeitamente na definição da techne e seu julgamento, o lavor. Nas frequentes vezes em que o vi discorrer sobre materiais e técnicas utilizados na expressão artística, Bandeira insiste em chamar a atenção para esta amálgama de ideia – isto é, a forma expressiva e suas qualidades visuais – e técnica utilizada. Uma pontual compreensão de que as qualidades físicas dos materiais influem na expressividade da forma poético-plástica ou na plasticidade da forma. Por isso sempre diz: “a ideia nasce com o material”. Lembremos que Idea quer dizer na filosofia de Platão forma. Como professor é rigorosamente exigente desse aprendizado. Bandeira de Mello é criterioso com as relações estéticas e técnicas entre a obra e o ambiente, principalmente nas obras de vulto. O espaço arquitetônico e suas características de temperatura e iluminação são fatores considerados por ele projetos que incluem estudos de composição e procedimentos de realização dos painéis. Bandeira de Mello foi e tem sido na sua atividade de magister fidelíssimo a essas verdades expressas por um de seus grandes mestres. Um batalhador incansável no lembrar às gerações jovens que por ele passam esses princípios filosóficos e técnicos 80

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

81


da arte: A maturidade artística só acontece em consequência da seleção, estudo e domínio da forma complexa. Abstrair, eliminar, simplificar ou deformar só é possível quando se domina a forma. A diferença entre um desenho pobre e um desenho despojado é que este não contém mais do que necessário; é só o espírito da forma. Eliminar por necessidade expressiva só acontece quando o autor sabe o que não fazer. Dei aqui o testemunho de um mestre no desenho e na pintura, “despojado”, de um conhecedor das formas em seus fundamentos essenciais e nas suas aparências de superfície minuciosamente compreendidas em exercícios de disciplina férrea de domínio. De alguém que “sabe” e não “acha que”. De alguém que não se contentou com poucos e fáceis aplausos, mas que se exigiu muito. Um virtuoso que transcendeu a virtuosidade do detalhe para o caráter singular e a universal da simplicidade de síntese da forma sutilmente expressa no míninmo de traços e manchas. Um ser amadurecido na compreensão e no domínio das formas que por isto é espontâneo e simples, sem ser superficial na sua profundidade de construtor de formas, na sua expressão poética de sua maneira de experimentar a vida: “esta luta para não sucumbir”. Um ser criador que transforma linhas e manchas em melodia gráfico-pictórica. Quando Bandeira de Mello dá crédito a uma personalidade artística, ele compreende a totalidade de uma existência artística radicada num caminho, onde a busca, a incerteza e a persistência cavaram ou cavam profundo, no próprio ser que o trilha, uma verdade que arde, fere, provoca e exige a sua extravasão poética aliada à técnica que melhor a expresse. Suas palavras são iluminadoras: Nestas últimas décadas o abandono da figuração e a consequente exaltação dos diversos tipos de abstração fizeram do ensino do desenho nas escolas de arte uma atividade praticamente relegada a segundo plano. Durante estes últimos anos sempre ouvi dizer, no ambiente acadêmico universitário, que pintura não tem nada a ver com desenho e que pode-se pintar sem saber desenhar. A função da linguagem que as artes têm, no meu entender, foi substituída pela produção de mercadoria; os deveres artísticos cederam seu lugar! Verificamos que Bandeira de Mello debate sobre os artificialismos técnicos e poéticos que geram gênios em dois anos e os demolem em um. Bandeira de Mello aposta, pela própria experiência de vida, nas personalidades artísticas que como lobos solitários, silenciosa e lentamente, caçam a si mesmos numa formação profunda e contínua; e, na solidão de um ateliê, ouvindo os gritos silenciosos da alma, constroem/encontram sua obra. Este texto pretendeu ser um testemunho de um ex-aluno sobre a obra e o pensamento de, mais que um mestre, um grande amigo, e uma reflexão, a partir destes, sobre seu procurar entender a arte, esta forma de revelação para o ser humano de sua humanidade. Concentrei-me nesses aspectos humílimos do seu trabalho sobre os quais sua grandiosidade se sustenta. Às vezes, a melhor contribuição à cultura é lembrar alicerces. Procedimentos essenciais não raramente esquecidos, porém fundamentais para o êxito dos propósitos. Espero que este meu testemunho leve o leitor à reflexão que nos dá este mestre da pintura e do desenho. E mais: o provoque a um encontro mais profundo com Bandeira de Mello na contemplação de sua obra: esta síntese de Techne e Poiesis, “esta luta para não sucumbir” que nele é própria da existência e por consequência de seu próprio fazer artístico. Esta expressão do que é, a seu ver, essencial do humano e da arte. Creio e espero ter sido fiel ao que, ao longo destes anos de amizade, trabalho conjunto no aprender, fazer e ensinar; e... muita conversa, tenho visto, ouvido, aprendido e com tudo isto dialogado. ANTONIO JOSÉ DA SILVEIRA Bacharel em pintura pela EBA-UFRJ. Professor licenciado em educação artística em artes visuais pelo Instituto Metodista Bennett, Rio de Janeiro. Especialista em educação estética pela Unirio e em arte sacra e espaço litúrgico, pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção, São Paulo. Mestre em ciências pela Coppe/UFRJ. Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

82

83


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

84

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

85


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

86

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

87


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

88

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

89


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

90

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

91


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

92

93


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

94

95


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

96

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

97


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

98

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

99


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

100

101


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

102

103


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

104

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

105


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

106

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

107


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

108

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

109


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

110

111


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

112

113


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

114

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

115


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

116

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

117


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

118

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

119


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

120

121


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

122

123


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

124

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

125


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

126

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

127


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

128

129


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

130

131


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

132

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

133


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

134

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

135


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

136

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

137


Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

Projeto p/ SENAC, 1995 têmpera s/cartão, 40 x 60 cm cada Coleção do artista

138

139


“...vejo no retrovisor...Navego e trago dentro de mim, como num porão cheio de

lembranças amontoadas no decurso dos tempos, já com a linha de flutuação submersa, o registro de minhas relações com todos os lugares onde vivi, com paisagens percorridas ou imaginadas, vistas em um relance fugaz em viagens hipotéticas ou não e mais com as idéias lidas ou ouvidas nas esquinas da vida, ponto de encontro dos que se movem... Então, é preciso desenhar e pintar.”

CRONOLOGIA

| Lydio Bandeira de Mello

140

141


Bandeira de Mello

“EU EXISTO ASSIM”

1929 | Nasce no dia 20 de junho Lydio Introcaso Bandeira de Mello, em Leopoldina (MG), filho do advogado, matemático e filósofo Lydio Machado Bandeira de Mello e de Amália Introcaso Bandeira de Mello

1954 | Recebe o 2º lugar do Prêmio Donativo Caminhoá de Pintura, UFRJ/CLA/EBA, Rio de Janeiro | Recebe a menção honrosa no Salão Nacional de Belas Artes, MEC, Rio de Janeiro 1955 | Recebe a medalha de bronze, no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro | Recebe a medalha de prata, pintura, no Salão Fluminense de Belas Artes, Niterói

1956 | Participa da comissão organizadora do III Salão de 1935 | Começa a pintar, aos seis anos, com tintas Artes Plásticas do INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos, MEC, Rio de Janeiro presenteadas por uma vizinha | Recebe a medalha e prata pela obra O menino e a jaca, 1947-1951 | Muda-se para o Rio de Janeiro, e passa a no Salão Municipal de Belas Artes (SBBA) da Prefeitura do frequentar a Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde Distrito Federal se torna monitor da cadeira de desenho de modelo vivo e | Recebe a medalha de prata do Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro assistente do mestre Marques Júnior. Gradua-se em 1951 | Além de Marques Júnior, fica amigo também de Quirino Campofiorito, Calmon Barreto e do psiquiatra Alan Parente, 1958 | Nasce sua filha Mônica que tiveram grande influência em sua obra plástica 1959 | Participa da V Bienal Internacional de São Paulo, no 1950 | Faz parte do Diretório Acadêmico da Escola Nacional Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho | Começa a ensinar desenho de modelo vivo, em seu ateliê de Belas Artes na UNE e na UME na rua das Laranjeiras, seguindo a tradição dos grandes 1951 | Recebe o Prêmio Cadeira de Pintura na Exposição mestres da pintura Anual dos Alunos da Enba, Rio de Janeiro 1960 | Nasce sua filha Cláudia 1952 | Conclui a pós-graduação em pintura, na Enba, | Participa da comissão organizadora do VII Salão de Artes Plásticas do INES, MEC, Rio de Janeiro obtendo a medalha de ouro

1947 | Bandeira com 18 anos

142

Bandeira with 18 years old

1960 | Bandeira com 30 anos

Bandeira with 30 years old

1961 | Ganha o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro no Salão do Instituto Nacional de Educação de Surdos, e é designado Nacional de Belas Artes. Viaja à Itália, onde vive por três pelo MEC para reestruturar o ensino do desenho e das artes anos. Pinta os afrescos para a igreja do Santuário de Poggio na instituição. Leciona desenho artístico Bustone, no Vale de Rieti, onde São Francisco de Assis criou a Ordem Franciscana 1963 | Participa da XIV Feira de Arte, Via Margutt, Roma 1964 | Retorna ao Brasil | Recebe o título de “notório saber” da Congregação da Escola de Belas Artes da UFRJ | Primeira individual na Galeria Goeldi, Rio de Janeiro 1964-1968 | Passa a fazer parte da Comissão Nacional de Belas-Artes 1965 | Recebe o Grande Prêmio de Figura Humana na Exposição Geral de Belas Artes do IV Centenário, EBA/UFRJ e na Coletiva Anual da Enba, Rio de Janeiro | Individual, na Galeria Guignard, Belo Horizonte 1966 | Recebe o Grande Prêmio de Retrato na II Exposição Geral de Belas Artes do Sesquicentenário, EBA/UFRJ | Exposição de Ex-Aluno após 1930 – Prêmio “Batista da Costa” – Pinturas, Escola de Belas Artes da UFRJ | Participa da coletiva Anual da Enba – Grande Prêmio de Composição e Grande Prêmio de Ensino Superior, Rio de Janeiro 1969 | Torna-se diretor do Ginásio Orientado para o Trabalho

1961 | Bandeira de Mello ao lado da obra que ganhou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, MNBA Bandeira de Mello beside the work which won the Foreign Travel

Award at the National Museum of Fine Arts

1969 | Bandeira em seu atelier Bandeira at his studio

143


1971 | Vence o concurso para a elaboração do projeto do na Av. Almirante Barroso, no Rio de Janeiro grande mural para nova sede da Caixa Econômica Federal,

1974 | Participa do 1º Seminário Brasileiro sobre Deficiência Auditiva, no INES, Rio de Janeiro

1978 | Retrospectiva “Bandeira de Mello – 30 anos de pintura”, na Galeria na Galeria Rodrigo de Mello Franco, no MNBA/Funarte, Rio de Janeiro

1976 | Faz parte da comissão julgadora do II Encontro de Pintura Júlio Furtado, Campo de Santana, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro; membro do júri do Encontro de 1979 | Luiz Bandeira realiza o filme Retrato em curtaPintura Mestre Valentim, Prefeitura da Cidade do Rio de metragem, sobre sua vida e obra Janeiro; membro do júri do Concurso de Fotografias Semana da Árvore, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro 1983 | Nasce seu filho Ariel Diogo | Recebe do título de doutor, pela UFRJ 1977 | Faz parte do Júri de Seleção e de Premiação do Salão de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes da UFRJ 1984 | Participa da exposição de desenhos na Antiques 1975 | Estuda violão com o músico Pedro Matheus, com Show Arte Contemporânea, representando a Bolsa de Arte, Copacabana Palace Hotel, Rio de Janeiro predileção pelo jazz

1978 | Retrospectiva “Bandeira de Mello – 30 anos de pintura” Retrospective "Bandeira de Mello - 30 years of painting"

1972 | Bandeira de Mello e seu assistente, na montagem do painel da Caixa Bandeira de Mello and his assistant, assembling the pannel at Caixa

144

1982 | Bandeira de Mello pinta um painel, realizado para uma construtora de BH Bandeira de Mello paints a panel for a Belo Horizonte contruction company

145


1985 | Participa da coletiva “Trinta e três maneiras de ver o mundo”, na Ranulpho Galeria de Arte, em Recife

1989 | Recebe voto de louvor da congregação da FAU/UFRJ pelo retrato do professor emérito Ubi Bava

1986 | É lançado o livro “A arte do desenho”, com textos de Walmir Ayala e uma grande seleção de obras do artista | Individual na Mini Gallery, Rio de Janeiro | Realiza o retrato de D. Eugênio Salles para o Palácio São Joaquim, Rio de Janeiro

1990 | Participa da comissão organizadora do 1º Salão Banco Nacional, EBA/UFRJ

1987 | Individual na Galeria de Arte Erótica, Rio de Janeiro | Na véspera do natal, a capa do jornal O Globo reproduz sua obra Madona com o menino acompanhado do poema “Para o menino que chega” de Thiago de Mello

1995 | Realiza os painéis Dança, Equilíbrio, Comunicação e Mascates para o Complexo Educacional do SENAC, na rua 24 de Maio, Rio de Janeiro

1994 | Individual no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos, Niterói

1997 | Individual “A poética de Bandeira de Mello”, no Espaço Museu Interativo das Faculdades Integradas Bennett, Rio de Janeiro | Faz a ilustração do bilhete de extração nº 1.396 – Caixa Econômica Federal, com a reprodução do quadro Carnaval, pertencente ao acervo da Caixa Econômica Federal

pictórica da igreja do Bonfim, Reitoria da UFRJ, Prefeitura de Magé, RJ | Apresenta a mostra individual “Rabiscos”, com 27 croquis no Espaço Museu Interativo das Faculdades Integradas Bennett, Rio de Janeiro

2003 | Participa da coletiva “Gravuras em álbum”, no Museu 1998 | Presidente do júri do II Salão de Artes Plásticas no Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro Jardim Botânico do Rio de Janeiro 2006 | Júlia Morena realiza o curta Bandeira de Mello – eu 1999 | Presidente do júri do I Salão de Artes Plásticas do existo assim, documentário sobre a obra do artista Aeroporto Santos Dumont | Realiza o Projeto Outeiro do Bonfim para a decoração 2009 | O artista completa 80 anos

1988 | Mostra individual de desenhos na Galeria Ranulpho, Recife | Realiza o retrato do monsenhor Franca e o retrato de Raul, ambos para a sacristia da igreja N. S. da Glória, no Largo do Machado, Rio de Janeiro

s/d | Detalhes do ateliê

Detail of his studio

Bandeira de Mello é verbete nos principais dicionários e enciclopédias de artes plásticas brasileiros, como: Dicionário das Artes Plásticas no Brasil de Roberto Pontual (1969); Grande Enciclopédia Delta Larousse (1971); Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos do Instituto Nacional do Livro (MEC, 1977); Quem é quem nas artes e nas letras do Brasil (MRE, 1996); e Dicionário de Pintores Brasileiros (Vol. II, Banco Bozano Simonsen). Numerosos textos tratam de sua obra em jornais, revistas e livros, entre estes, destacam-se as matérias de Quirino Campofiorito, entre 1958 e 1993.

1986 | Lançamento do livro "A arte do desenho" drawing"

146

Release of the book "The art of

Participou de seminários, conferências, palestras e debates, destacando-se: “Técnicas de pintura” conferência proferida no Museu Histórico Nacional (1972); “Estética na Imagem Artística”, ciclo de três palestras realizadas no Núcleo de Criação e Produção da UFRJ (abril de 1989); palestra sobre “O mural” no Teatro dos Grandes Atores (1996); “Os materiais e a conservação do desenho, Faculdade da Cidade (1998); “Elaboração de projeto de retábulo para uma capela barroca, XVII Diálogo Bennett”, Faculdades Integradas Bennett, 1999. 147


ENGLISH VERSION

CAIXA CULTURAL IS PLEASED TO PRESENT THE EXHIBITION “BANDEIRA DE MELLO – I AM LIKE THIS”. Olds are the bonds of friendship and mutual admiration that bind to the great artist Lydio Introcaso Bandeira de Mello or Bandeira de Mello or simply Bandeira, as he is called by 10 out of 10 students of fine-arts who had the privilege of having him as a teacher. In 1970, Bandeira de Mello won the contest sponsored by CAIXA for execution of murals of the new headquarters building of the institution. Executed in 1972, the two panels were redone by the artist after a fire that consumed part of the building in 1977. Currently, the monumental paintings can be seen in the mezzanine of CAIXA Cultural Rio de Janeiro, in the same headquarters. Bandeira de Mello is one of the great artists of his generation still active. From his palette were born dramatic works with strong social themes. Master by nature and by choice, even today, at the age of 80, in his studio in Rua das Laranjeiras, he teaches the trace in crayon to young artists interested in appreciating the technical preciousness of drawing . The exhibition brings together 65 works, including paintings, drawings, studies and projects, and also a deposition of the artist in the short titled Bandeira de Mello – I am like this. Some pieces, never showed before, are from the artist’s personal collection and have been restored for the exhibition. They are pictures in large format, nude women, hunting and fishing, landscapes of the Backwoods and works with religious themes among which are presented the projects to the frescoes of the church Poggio Bustone Sanctuary, Italy. CAIXA, conscious of its responsibility to the Brazilian culture and society, intends with the exhibition “Bandeira de Mello – I am like this” contributing to democratization, expansion and strengthening of national culture. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

“I sail and bring inside me, in a hold full of memories pilled up in the course of time, already with the waterline submerged, the record of my relations with all the places I lived, with gone though or imagined landscapes, seen in a fleeting glimpse in hypothetical travel or not and more with the ideas read or heard in the corners of life, the meeting point of those who move… So, drawing and painting is needed.” BANDEIRA DE MELLO IN THE BASEMENT OF MEMORIES OF BANDEIRA DE MELLO: DRAWINGS AND PAINTINGS ÂNGELA ÂNCORA DA LUZ Director of School of Fine Arts | Historian and Art Critic Bandeira de Mello began his prodigious navigation with six years old, in his hometown, Leopoldina (MG), when a neighbor lent him some paint and with them he experienced the fascination of creation. Soon his father would travel and bring the first material for painting with which he was launched into the sea, shipping on his experiences and memories, without knowing yards and making stops. The continuity of his career is recorded in hundreds of works carried out and the studies and reflections that he transfers generously to his many disciples. As a boy he received his first artistic apprenticeship at the hands of Funchal Garcia, who he defines as someone who had the inventive technique of the painter, but also the heroic fantasy of Don Quixote, always willing to lift his sword to defend the weak and oppressed. Every time Funchal Garcia went to Leopoldina he seized to give advice and take lessons to the boy painter. At seventeen, Bandeira de Mello told his family his desire to come to Rio de Janeiro, as he wanted to study at National School of Fine Arts. Decision taken, the artist as a teenager, arrives in Rio to start his education. Leaves behind Zona da Mata, the place that filled up his childhood of images, but does so with parental permission and blessing of her mother, his great incentive to rejoice, because predicts the victorious trip that the child started. Lydio defines the father as writer, philosopher and mathematician, leaving alive the sense of wonder which keeps intact by the humanistic and plural background that he had and sensibility to provide the conditions for his son to follow the fate of the arts. The National School of Fine Arts was the major center of study of the art in Brazil. It was created by decree of August 12, 1816, signed by D. Joao, as the Royal School of Sciences, Arts and Crafts, to receive the French Artistic Mission and initiate the official teaching of art in Brazil. With the Empire it was called the Imperial Academy of Fine Arts and, from the Republic period on, National School of Fine Arts (NSFA), which is now the School of Fine Arts at the Federal University of Rio de Janeiro. In 1947, the year Bandeira de Mello began his studies in NSFA, the school swarmed with discussions between tradition and modernity, because the year before the National Salon of Fine Arts did not occurred; surprising, but explained by the strength of tradition that did

148

not welcome the Division of the Moderns, which was created as part of the official hall in 1940. But Bandeira de Mello did not align with the modernists’ generation, which harmed the rule and norm, seeking the truth in art for a new bias. On the contrary. He had come to Rio to check the domain of form in the structure of public education. Drawing and painting: the goal that he would seek passionately for life. For arts the man breaks the state of closure of consciousness and reconnects himself to the universe, in the words of the artist, establishing a bridge between interior and exterior, uniqueness and universality. This is the great function of art for him. We need that the testimony, through the work, keeps being proclaimed and, for this it is necessary that the consciousness is freed in order to write his authorial identity. Therefore, according to Lydio Bandeira de Mello, there can be no grant to those who want to follow that path. The young artist has to acquire the knowledge of techniques, must submit the hand to the command of mind, until it becomes the very extension of his creative thinking. It was exactly what Matisse defended, when, in a letter to Henry Clifford, dated 1948 (the time when Bandeira de Mello began, officially, his studies in the traditional school), proclaimed the need that the “future painter” started his study by drawing, as, for Matisse, if it proceeded from the spirit, and color, from the senses, it was “necessary to draw first, to cultivate the spirit and be able to drive the color by spiritual paths”. This made it possible to use color with “discernment”. Bandeira de Mello supports that need for the technical learning, as, for him, it is on this knowledge that the artist can build his own language with security. From the earliest rock paintings in caves the man showed the need to offer his work to the eyes of a spectator. At first, the cave paintings were based on the contemplation of the supernatural, deities able to reciprocate the offer with the live animal, in the meadow, ready to be captured and thus feed the men in their struggle for survival. It took many centuries to realize the migration of the gaze of gods to men and that the works could receive the criticism that, after all, any artist wants for his work. There is a clash in the production field. A conquest or a rejection. There is first the look of the author, the first contemplation that, in many cases, is the most severe. Then the other looks. Sometimes, the time is in charge of turning defeat into victory, when new looks arrive, able to applaud and devote what had not yet been recognized, as the work is ready to be set up as art at any time. Lydio has the exact dimension of this playful tension that makes the art the field and the object in which the artist moves and creates. In NSFA Lydio receives influences of many masters, that should not be construed as paradigmatic for his learning, but as formers for the excellence of his search. Artists he admired as Quirino Campofiorito, for the value of theoretical, the opening of the critical view and the active presence in the panorama of artistic culture of the country. That same year, 1948, the Museum of Modern Art in Rio de Janeiro was created and Quirino was among the names that made up the first interim board. The following year, the chair of decorative art of NSFA would be occupied by Campofiorito. It follows the vision that includes the defense of decorative art, without compromising on the need for the teaching of

149


still life, nude studies, the strength of human figure and the scenes of urban life. Another teacher he remembers fondly is Calmon Barreto, by virtue of drawing, especially in the chair of nudity, when did feel the perfect tune of his vision along the lines of the human body, learning that would influence unequivocally the formation of Lydio. By Carlos Chambelland, painter par excellence, he keeps his light work, the loose brushwork, fragmented, worked in a wide chrome range, where emotion is present in a painting with no violence or bias, only in color, such as Matisse wanted, led by the ways of spirit. The interest in teaching would be awakened by Marques Junior, who taught painting and artistic drawing. However, from Edson Motta would come the great motivation for the pictorial, perhaps by the experience of the restorer, who necessarily must have the works, pulp color, strokes and dashes of the artists who come to the studio through paintings and works that need technical care of the same quality of what was given to work at the time of its creation at the established time of its creation. With Edson Motta starts the learning of techniques, the various secrets of painting, its chemistry, its plasticity and its work, properly, that can be labeled as “painting kitchen”, as it is by the transformation of matter by the action of the artist that the form is evident and appears as object. In his education in NSFA, Lydio had more than nine hundred classes of nudity and understood that without drawing no one can think of the form. In this particular he is a formativist, in the same sense provided by Luigi Pareyson, for whom the artist “forms” while inventing the way to that particular “form”. The formative process, still for Pareyson, then proceeds to “attempts guided by the discovery omen”. Bandeira de Mello places himself as an formativist. He teaches that every artist when creating has a theme, a technique mastered and chooses a base. So, begins the creative work with what he has in mind and seem his certainties. However, as he records his first interferences on the surface, he understands that the work, still rough, assumed the pulpit of his mind and started a dialogue with the artist, causing him to be forced to reassess what he wanted. These are statements of Lydio, in his constant reflection of the creative process. Thereafter, until the time of signing the work, it establishes a two-way relationship between creator and creature. “The form is done by doing it”, as found in the thought of Pareyson, as the artist “invents” the own process, and in this process the work that is being entificated reveals itself in procession of wills and desires, that the artist is trying to satisfy. The trajectory of Bandeira de Mello was marked by the desire of the invention and the fascination of figuration. We can observe his convictions in conversation with the artist, when in a late afternoon we climbed the bids of the stairs leading to the studio at Rua das Laranjeiras. The same one that housed Manuel Santiago. The steps a little worn led us to the top. There, between the walls that are not tired of looking and listening to what the creators do and say, we found the safe space that holds many secrets in silence. The story is interesting. Still Young, Lydio attended classes at the studio of Manuel Santiago, who provided students of painting, giving

150

the studio for this purposes. Anna Lethycia reports that it was there, in 1952, that she attended for three months a course taught by Andre Lothe. The fascination with the place took the young Bandeira de Mello to get excited and dream and in his fabled he saw himself at the master of his domain. The wish would come true and by now, over fifty years the new owner was installed, preserving the meaning of that space as a place of memories superposed the practicing and teaching of painting and drawing in Rio de Janeiro. The trajectory of Lydio would not know deviations. From the beginning he acted upon the rule of pursuing technical and uniqueness of the tradition. For this reason, he sees Italy as the ideal place to enjoy the Award for Foreign Travel received in the National Salon of Fine Arts in 1961. While most of all winners sought Paris, the center of modernity, that had Picasso, Matisse, Modigliani and many other artists as paradigms of avant-garde, Bandeira de Mello opts for Italy, classic cradle par excellence, because he identifies himself with the purity of the early Renaissance, watching them from the field line, the search for perspective, color richness and, above all, the technique. Already in Italy, he would be taken by a friend to the sanctuary of Poggio Bustone, which origin was a small chapel found by St. Francis. The chapel had lost one wall in an earthquake that affected the region, and the Order wanted to restore the shrine, wishing that the walls received fresco paintings. Bandeira de Mello assumes the task. It was a time of immersion in the peace of the sanctuary and the freedom of the adjacent fields. He proclaims himself “Franciscan for eight months”, period in which “he painted in the morning, walked in the afternoon and drank wine in the evening”. The work continued in the winter. Outside the snow brought the white that illuminated the mind construction developed little by little on the damp walls of the chapel of Poggio Bustone. They are two murals that represent, respectively, the public confession of St. Francis of Assisi and the appearance of the Angel of Lord to the saint, with the message of forgiveness of all his sins. Coming back to Rio de Janeiro, Lydio will teach the chair of nudity in the National School of Fine Arts. His activities now multiplies between the continuous production in his studio in Laranjeiras and teaching in NSFA, place of transmission of the good practice, but, specially, space for trade, friendship and creative impulses in the relationship of teacher and student. The professorship fascinates him, as ultimately it is also the place of creation. Like the black stone stripes the base and shows an image, Lydio, as a demiurge, shapes the young beginners giving them a reason and a purpose, but, above all, pointing them to always unattainable goal of the continuous making, the work that is completed in other one and, in sequence, need yet another and so on determination the artist improves himself in the alive spirit by the eternal search.

The mental construction of Bandeira de Mello surprises those who seek him in his studio to talk about drawing and painting. Immediately he opens drawers, takes off drawings, places them on the table and starts describing them, not as they are but as they came to him. How he created the picture of the old lady, working the whiteness of the skin that fades and the hair, string by string, almost dissolving and dematerializing. He reveals, in another, how he though the background, the reason he put the bare foot in the boy, the gaze wandering in the ether and diffused light of horizon. If he shows drawings of animals, in which the aggressiveness makes them jump off the paper, explains why, through a dream, a journey through the unconscious, the total demand of being, seeking to collect from the essence that will become appearance. There is a story for each work. All of them have their own lives and identity. Lydio knows them by name, knows every origin and destination and is pleased in sharing the indissoluble union of production and invention. In the teaching the operating process determines the conducting of master, and Bandeira knows very well how to minister. But when he leans out his work he finds himself as a critic and historian, starting, then, to instill in the images his reflection, because somehow he knows that by signing his work it becomes independent from him. The pedagogy of the teacher becomes a tool that perpetuates the work on its practice, in the description of processes, the re-invention of form as it is passed through the narration, to his disciples. His drawings and paintings have the fingerprints of the author. It is impossible not to recognize the work by Bandeira de Mello. The first highlight is the strength of the form. Among the most varied themes that we find, the human figure emerges victorious. It does not have only the bones and muscles, skin and face. Bandeira paints the soul, allowing it to animate the body, module muscles, flood the expressions and reveal the mysteries of the intimate of being. The line that skirts and modulates the figure is the result of precise gestures, programmed by the mind. As a result of who strokes the paper with trace, the marks of life are being impregnated by setting a new form, because, according to Lydio drawing is need to think of the form. The drawing stimulates thought, and the artist returns to the paper. There is a dialectic established in the figures, defined by his expressive calligraphy, as Bandeira de Mello walks on the border of inner freedom of expressionists with the canonical containment of classics. The supremacy of the drawing, as Quirino Campofiorito has already observed, is always present in his work, “The matter of their paints as much as the mark of his coloring seem to be subordinated to the determinations of the drawing, in detail as in the general structure”. The treatment of the shadows is another highlight in his drawing. They pass across the composition. Often go by the figure, alternating with the background without prevailing inversion. The figure never loses the plot lines of the structure, because the elements are defined by lines that emphasize the form, and the presence of light reveals what Lydio wants to emphasize. So, everything is defined clearly. If the distortion of shape promotes the expression by forceful of the trait, the riddle of the figure is not hidden by the cleaning of the classics attributes.

Bandeira de Mello sails into the basement of his memories, revisiting places, meeting people, talking to strangers which is giving identity, because there is no way beyond its technical field. He perceives the human figure in its entirety: bones, muscles and flesh, sinking into the depths of the being to seek the soul and blow it in the flesh of men and women of all ages and social classes. Lydio does not need to choose a certain position, because in space, the bodies are subdued to him, the reason why he argues that the draftsman just think if he can draw. This formative search finds its sources at the distance of the Renaissance, in humanist search of their painters, a concern that we observe also in Bandeira de Mello. Even Leonardo Da Vinci recommended, in his Treatise of painting, that the beginning painters should observe what distinguishes the laughter from tears, and guided: You shall not make the face of those who cry at the same movements of someone laughing, even though they often look like, because the proper method is to differentiate, so how different is what causes tears and what causes laughter. In his portraits Lydio penetrates the heart of every human being to bring out the feeling, with different movements, individualizing face in the expression, but keeping the ideal of “noble simplicity and calm grandeur”, as Winkelmann expressed in his Reflections on the Imitation of Greek art in painting and sculpture. From the standpoint of composition, both in drawing as in painting, the work of Bandeira de Mello has many affinities with Renaissance space. We evoked Piero della Francesca, Paolo Uccello and Andrea Mantegna, for the backgrounds of some works, the surrounding space involving the figures, the position of the horizon, line that rises to open a field of possibilities in the centralized composition of the artist and the narrative character of the images. He chooses the material when thinking about the theme and prepare the composition mentally, that is, everything happens in the same period of time. Bandeira de Mello has full control of black stone and is also similar to that experienced by Italian artists such as Botticeli and Rafael. As it is soft, it cab be broken with the hand, allowing the artist to measure its material in accordance with the details or spots that will register on the base. This shale contains carbon, which gives the dark color in the gray scale from foncé gray to black and was much appreciated by painters and draftsmen throughout history. The blood-colored, another classic material, was widely used by the Renaissance, since it was known from the Paleolithic. It is a kind of red chalk, a mixture of kaolin and hematite. Its reddish-clay gives the drawing certain nobility which effects can be recovered by combinations and associations with the trait of black stone and the lights of white chalk. There is also, the sepia, a kind of earthy scribe, which pigments are extracted from a mollusk and then mixed with a mineral, which in fact is a chalk. All these materials, which we could still add the pastel, fall down from the surface on which they were written out, making it necessary that the artist to “fix” the drawing with a smooth coating that is sprayed on the paper.

151


Lydio still used chalk pastel – dry or oily – whose range of soft shades allows the artist to find exactly what he seeks. He is a creator of inventive and restless soul, therefore, the abundance of material before him causes his imagination. The output of inertia is given from any point. From a simple conversation, a dream, the color of a definite material or seduction of a form, especially the human body. In more than fifty years of career, Bandeira de Mello has been manufacturing his paints or choosing them carefully. To explain to his disciples the use of color and their properties, it builds a kind of banquet table and on it aligns the powders, bats, small containers, wax, and to complete, adds his hands. They touch each element while the teacher speaks, explaining at length the uses and properties of materials, merging the technical teaching with facts that memory brings, perhaps to check the truth of the times and the experiences to date of banquet. The tempera of casein, for example, is between the elections of the artist in choice of material of certain works. Again it should be said that Lydio makes the choice of technique in preparing the form for the idea. They do not dissociate, as well as the support in their exact dimensions. Casein, made with milk protein, was already known by the people of agrarian civilizations, as it is possible to use it in mural painting, since an antiseptic lime is added. This ease of knowledge of transmission of art made Bandeira de Mello a reference to the teaching of drawing and live model. Over the years has been accumulating significant titles. At the Federal University of Rio de Janeiro had already received the “notorious knowledge”, in 1964 and the “doctor’s degree”, according to opinion of ECPG in 1982, for having received the Gold Medal in 1952, which crowned a degree in painting at the same level of post-graduation, procedures of that time, when there was not the master and doctorate courses in the field of art in Brazil. The painting for Lydio is the materialization of ideas heard or read, dreamed or lived, real or hypothetical. His brands appear in the gesture, the brightness of the gaze, the landscape traveled or has never been seen, but has soul. For technical the poetry of his figures is proclaimed in tempera, oil, casein, pastel or any material which gives color to the base by the hand of the artist. With those qualities became the winner of the tender for the implementation of the murals of the old central agency of the Caixa Econômica, Rio de Janeiro. In 1970, already with the result announced, Lydio is in front of the challenge to paint two large panels with 33 meters long and 4 meters high, each. He will do them in tempera on wood, using colors of a “severe and restricted palette, non-expansive for an exalted chromatics”, as defined Quirino Campofiorito . The theme will be inspired in human labor, in relation to man and earth, fishing, in construction of the heroic man who wins the life for love, in football leisure, in the simplicity of types that shows the nationalist and regionalist brand of Brazilian man. The two panels are designed to be placed superimposed, one above the other, so that the small space that separated them disappeared by the good continuity of the form, the areas of color that integrated and the perceptual principle of the law of closure that allows us to “close” to form in the unit. This way the panels were completed, becoming, in fact, a single full surface. The human figures seem to come from the ground;

152

structured in the drawings, they are harmonized under the rigor of a composition of constructive accents. After the inauguration, the murals of the Caixa Eonomica began to receive many visits and became the reference of that space. When there was a major reform of the facilities, and the traditional bank gave way to the Caixa Cultural, opened in June 2006, panels appeared as sovereign artwork of the new cultural space. Once restored, they were placed on a mezzanine one in front of the other, separated by a wide area of circulation. With the reform there was no possibility of being integrated into the walls as had been initially planned. What seemed to signal the emptying of Bandeira de Mello proposal made the observation of new possibilities, starting the work, to the visual of the new space. The panels interacted very well when placed face to face, making us see that Lydio, when creating original compositions completed, they did not deny the autonomy of a presence in themselves. It was found that each piece had its identity and, if the continuity did not exist any more in the perception of a gestalt form of a single work, on the other hand in the memory of the spectator who visits the mezzanine, the two panels merge the mental image of a large panel, which remains so reinstated. Another important observation appears when we verify the empathy that his works raises in the observer. The rigor of classical form and its idealization do not have the characterization of a static man and with apathetic face. In Bandeira de Mello, the expression, the flesh and bones release the figures of any rigidity. He understands what Leonardo Da Vinci left in his Treatise on Painting, when he taught that “the good painter has to paint two main things, that is, the man and the state of his mind”17 and yet you will not draw the face of those who cry with the same movements the one who laughs, even though they often look like, because the proper method is to differentiate, so how different is what causes the tears and laughter.18. The figurativist strength of Lydio confirms precisely the reason he saw the basis for these guidelines from one of the greatest painters and draftsmen of all time. And far, because he has not neglected the legacies of the expressionists. There is a stretch in his forms, an expression of faces, anatomies that, in fact, always existed, but that not all artists have incorporated. As the German Expressionist defended, there is no fixed program for such poetic, as they remain as matters of the soul, requirements of the spirit and something of humanity. The drawing leads the form, because it subtracts the immobility to cheer it with the configuration feeling which gives it life. This possibility is present in the figures of Bandeira de Mello, who acts as a visionary. It is present in it the expressionist aphorism that converted the space into vision, the description into living and reproducing into configuration, making him a man who does not accept, but is constantly seeking, knowing that it will only be possible to grasp what is beyond the facts from an insatiable thirst for the representation of the essence. The combination of theoretical rigor, the obedient hand and mastery of technique is allied to the spirit that frees the bondage of form and enables the entire autonomy to be able to move in the own form. We arrive then to the question that shakes the artistic education area in the field of its schools of art, in the difficult border established between tradition and modernity. Thierry de Duve is the art historian who has

been studied the subject. Since 1992 he teaches aesthetics and modern and contemporary art at the University of Ottawa, Canada. In recent times tried to develop the project of a school that could provide an education able to escape the conflict “tradition x modernity”, but the effort only served as a diagnosis without reaching the “cure”. He held many meetings with artists, critics, teachers and technicians, but the dreamed school has never come, in fact, it was only a short summer course, with 32 students. Anyway, the prodigious effort to remedy the crisis in the schools of art can be summarized in the following actions, according to Thierry de Duve: “The first thing to do is to patiently rebuild a community of good artists who love the art, that respect each other and the students, and take seriously the task of transmitting” and adds that “The last thing to do is try to bring them together under a flag, a program and an ideology”. Seeking to establish a line of thought on the production of Bandeira de Mello, in more than seventy years of his career, since I consider the experience of the first paints offered by a neighbor to a child of six years as the beginning of this trajectory, Thierry’s discussion becomes relevant, because in Lydio it establishes the boundary of tradition and modernity. First, in search of a normative systematic work that offers technique to the artist. And he does not give up his belief, as he supports that, it becomes possible to develop your own ritual. Second, the invention, that makes the difference of the modern, but, again according to Thierry, needs to be rethought. Bandeira de Mello arrives at eighty with a prodigious story of life told in hundreds of disclosures of their records that appear in drawings and paintings. Documents of his existence, invented from the phantoms or beings that are in the corners of life, but all real and achievable through a prodigious technical record that leads us to the conclusion that he has announced before to us: “then, you need to draw and paint”.

"I was privileged to visit his studio in Laranjeiras many times. I, my brothers Toninho and Nelson, this also a fine artist. It was hard to visit him with unintentionally buying his works. Sometimes a screen still in the outline was reserved, for what it promised. And I never regretted, when it was concluded. The proof of this was a purchase I made of a piece when it was still a project, already anticipating the outcome; I accompanied throughout the development to its completion. This masterpiece will certainly brighten up this retrospective. The theme is “The Fisherman” or “The Storyteller”. I suffered waiting for him to release the picture. I came back dozens of times; he always asked me to be calm, this or that detail was missing. He seemed not to want to free himself from the work. To have an idea, only in the blouse of the central figure of the picture he kept mixing during one month. Moreover, in this figure, Bandeira self portraits him unintentionally, he only agreed with the fact after I called his attention to the similarity with the figure of the work." RICARDO KIMAID

ESSAY ON THE WORK, THINKING AND MASTERSHIP OF BANDEIRA DE MELLO I. “REWARDING MEMORIES OF OLD FRIENDS” The good and true friends when they meet for the first time, in fact, they re-introduce themselves. For a good speaker, it would not miss the oratory, and in good humor, the traditional Latin of the old education of secondary school. To this scribe who did not have such education, but the taste for books, should not miss in this introduction the clear oratory of Cicero in De amicitia (The friendship), chapter IV, which deals with: “Rewarding memories of old friends”: (...) in quo est omnis vis amicitiae voluntatum studiorum, sententiarum, summa consensio.” Which means: (...) there is all the strenght of friendship, namely, the communion of intents, studies and principles. I remember my first visit to the master’s studio on a Saturday afternoon in the summer of 1985. During the week that was ending, I had promised to visit the studio at the end of a conversation in the painting room in the School of Fine Arts. After the compliments I came in silent and a bit awkwardly, because I was not close to the one that a few months later would become my teacher, and to whom years later I was monitor, apprentice in teaching research and learning of live model and later a mastership colleague. The visit was very quick. But long enough for him to show me the work environment, with the skylight; the easel that rises and falls with a light touch of fingers – his project; the cabinets with plenty of material, an immensity of pots and pigments on a kind of giant sideboard mobile. The studio, though built in the mould of a Parisian one by Manuel Santiago, looked like a medieval shed in its confusion. There I had contact with this first feature of his work and why do not say one of the facets of his artistic personality and teaching: an excellent technical quality. Soon I had class on how to clean the palette, to keep the oil paint from one day to another without wasting it, the cleaning of brushes, how to care of the bottom of paint that remains very absorbent, how to use gold leaf in the table and other “tricks”. Teachings that when I got home I wrote down in my “technical book” painting. II. OUR CONCERNS Attractive and confusing in a time of much uncertainty about the paradigms of the artistic creation, is the meeting with the figure of Lydio Introcasso Bandeira de Mello. This is because Bandeira de Mello is very sophisticated and simple in his working as a painter, draftsman and teacher. Deeply idealistic, and in this sense, with no limits to the desire and the poetic imagination, this master of art has his feet grounded in principles secularly justified and very simple of teaching, learning and doing. Whence the fascination of his figure for the unadvised turns into disappointment when they see the heights of poetic flights, coupled with the slow creep in arid ground of technical basis – the universe

153


of meanings expressed in the diversity of procedures treated in strict discipline. Bandeira de Mello, as friend and educator, has been a partner in distress. What is art and what does it mean for us, human beings? Perhaps for him these questions sound with less dense concern, because Bandeira de Mello, more than a name, is a masterpiece. And who is a masterpiece, already has firm convictions. Thus was given Bandeira de Mello live with a complex situation of the time, in which the creative act is always more painful, anguishing and uncertain. Witness of a time that goes from the lighting of the oil lamp going through the arrival of the man on the Moon, the sophisticated technology of the computers and the chronic use and dependency of cell phones, he was given to build his artistic personality in the whirlpool of numerous transformations in the fine arts scene. He did not feel seduced by a radical abstraction as many of his time – he survived a publicized death of figurative painting in the fifties and saw its rebirth in the form of so-called hyperrealism – and then by new trends not so overly referenced to the real, but anchored in readings of movement of the early, in a succession of post, trans and neos this and that. Bombed by so many changes, his resistance was constant and he created a world of his own, by himself called his “tribe”. This tribe lives mimetically in its poetic and pictorial interpretations of mining landscapes that nourished the soul. I learned to make art with Dostoiewsky, Maximo Gorki, Knut Hamsun, Tolstoy, Victor Hugo, Beethoven, Masaccio, Piero della Francesca, Paolo Uccello and Giotto”, the master says and conclude playfully: “I am a result of all this.” Bandeira de Mello, commenting on the musical influences in his background, speaks of his “basic passions” beginning with Beethoven, composer that “makes him feel both great and small, able to dream and live dangerously as if life was really only this struggle not to succumb”. He speaks to us of Mozart, “which gives the idea of something finished, calm and resolved”; and with Stravinsky who learned to live with dissonance, conclude: “ felt in love with a final cocktail which is jazz, where discipline and freedom make a marriage seemingly impossible but absolutely real.” III. A TRIBE FIGHTING NOT TO SUCCUMB When talking about the blooms of a tree, we cannot forget the roots and from them we go to the soil where brought the nutritional effect. In the desire of painting, Bandeira de Mello had his father support “as the mother’s to guarantee the satisfaction of both”. Bandeira de Mello, son of a father who received the same name, lawyer, philosopher and mathematician, and of a mother “housewife, but able to understand the philosopher”, born in Leopoldina, a city nestled in a valley in Zona da Mata, Minas Gerais, before the “Revolution of 1930” and his childhood was marked by it. Raised in a house plenty of science, philosophy, mathematics and literature books, he had the opportunity to read the great classics very early. He heard songs recorded in the long plays of 78 rpm in a phonograph. When starts the university degree he had already read the classics of English, Russian, Italian, Portuguese literature and had already studied philosophy. He feels he got great influence from

154

Dostoiewsky, Gogol, Tchecoff, Tolstoy, Leonid Andreieff and others from whom he learned the need for communication “with other fellow travelers through time and space”. As a child in Leopoldina, even before the age of ten, Bandeira de Mello is nourished by close contact with Funchal Garcia, a landscape painter and a friend of his father. Funchal Garcia gave him his first lessons about preparing screens, the use of materials on painting his father provided him. From the art books of his father he discovers the painters of the Middle-Ages, pre-Renaissance, Renaissance and Italian Baroque, but his passion goes against the primitive: Masaccio, Giotto, Piero della Francesca, Paolo Uccello. Rediscover Michelangelo with the eyes filtered through these influences. He discovers Tiepollo, Tintoretto, Titian. Admires El Greco. His sensibility gets him closer to Dutch Masters Bosch, Bruegel e Grünewald. He had no stylistic influences of his teachers, but technical, with the support of Marques Junior on which states: “a man of rare pictorial sensibility, miserably forgotten by the contemporary artistic environment.” His cultural background in art expands with Flecha Ribeiro, a historian and expert in aesthetics. He lived still in the school with teacher of the importance of Carlos Chamberlland and Henrique Cavaleiro. With these meetings and exchanges he is enriching, selecting and synthesizing what will be the characteristics of his works. In a rough manner we would call the poetic of Bandeira de Mello as “struggle for life”. More gently, we could say “consciousness” of the vulnerability of the human being in his heideggerian “being-there”, vulnerability and effort that Bandeira de Mello extends to all nature. The words of Edward F. Edinger, in my view, illustrate the cosmic drama that the painter unveils in his compositions: When investigating the phenomenon of life in all its visible manifestations, what we observe is not a continuous, but rather an almost infinite variety of separate units of life in a permanent state of collision and competition with each other in order to feed, reproduce and survive. The truth is that these units are not as well separated. More and more we are aware of the interdependence and, as regards the human being, lack of human outbreaks (manifestation). And art is one of the forms of expression of this interdependence of humankind, he falls in it and / or reveals himself to his being. If each individual in his consciousness lives ontological loneliness, the same is not true in his being-in-the-world-with-others. Man is always in the world keeping in touch with himself, with nature, with his myths, his fantasies, his fears; and with his brothers. Besides, the human being meets a terrifying task: to decide at any moment still be, exist (from Greek ‘ex’, put yourself out, open up). The art, then, does not spring up as fate, but as a response of the human race itself from the need to say to others and itself “I am like this”. Since in “el proprio”, as well reminds us Ortega Y Gasset: “If we want to talk seriously about man, we can only do it from within, from his own inside, and therefore, we can only talk about ourselves” (italics by author). So, their undoubted need for communication, this needy being is presented as a dialogical being; and meets the art in human existence, the role of an extra resource in

their communication possibilities. Whence, an artistic tautology with its hermetism, in my view, be a perversion of the dialogical function of art. The position Bandeira de Mello is seeking to accomplish to his technical exercise and poetic motion. Bandeira de Mello created /discovered in himself a particular universe. An universe that has so much to do with his life, his taste, interests and nuisances, as with his philosophical position in face of his existence. “An artist”, says Bandeira, “is not someone who begins with a preestablished line of work, but someone who is getting closer to himself every day, during the walk for life. So he created/discovered his “little folk”, which brings us the remembrance of his childhood in the inland of Minas Gerais. He invites us to contemplate this universal existential drama above described, through a daily raised to the symbol class, in its shapes and plastic compositions. An universe filled with pictures of cattle, vagrant dogs and horses, whether seeking the very survival of unit and species, or in his tragic end; humans in living and work, where the pain, joy, play, solidarity, loneliness and death are given back to us to be considered essential to our existence. Special highlights deserve their naked, tragic and highly erotic mysteries of an embodiment which brings life and death. As we approach the dust of the ravines that intone the colors of Minas Gerais, as the veiling of the painting, where the greens are more lush, earthy tones, traveling the poetic content of the work of a painter whose native roots are in his heartland themes are presented in a grand and universal manner, transcending the strictly regional. His characteristically native landscape, full of ravines, is a living space, where the world comes as the desert of the soul, thirsty for infinity and a metaphor for the transitory. This awareness of the transience of life gains its tragic expression strongly as religious, not sacred, why not dogmatic in his painting. Bandeira de Mello does not give God’s answers to deeper and radical questions of human existence. Before, he takes them/finds them as questions that will be the restless and regurgitate them through the classic themes of Christian tradition. His saints and even his Christ remind me Joe biblical wailing his reality to the heavens and questioning his fate. They are a cry for heavens. A challenge to the sacred silence. However I am a witness to his fascination and his faith in life when obvious charm of the beauty of natural shapes, by the very intelligent order and the organization of physical and biological systems. Hence his humble attitude to recognize nature as a teacher of art forms, for that synthesis, so well expressed by Herbert Read, “the mathematical beauty and organic vitality”. We must remember here that the father gave him distinguished education. He got him a “mistress” who was in charge of his primary education out of middle school: Mrs. Carmem da Silva Xavier. She was the guardian of the Methodist Church of Leopoldina where she played the role of organist and kept in the back of the church a classroom of “grateful memories”: first in the morning, smell, see, feel, and watch the nature – sky, flowers, air, grass…, see similarities and differences. Understand the rain or drought. Then he was asked to do

some essays, telling stories about these experiences and emotions. In Leopoldina “colossal storms fell”. On rainy days, the walk was replaced by a pattern to be described. They studied arithmetic, to deal with numbers and ... piano for musical perception. With this background he took exams in public school. At seventeen, with the “classic” course finished at the Leopoldinense School, considered one of the best in Brazil, Bandeira de Mello traveled to Rio de Janeiro joining the National School of Fine Arts, University of Brazil. His academic performance in the Fine Arts School availed him the invitation from Marques Junior to be the assistant of the chair of live model. His first lesson was to twenty-two years. He stopped teaching only for two years, when he traveled to Europe with the National Salon of Fine Arts award in the 1962/1963. Since then he has been teaching live model, no longer at university, but in his studio at Rua das Laranjeiras, where new generations look through contacts with him resuming the lost subject. IV. THE “KITCHEN” OF PAINTING Throughout his working years and during his artistic learning, Bandeira de Mello was a researcher apprentice from the older to the modern techniques in the drawing and painting field. His technical background was given with the first drawings on the baton of Quirino Campofiorito, renowned painter and critic of art, which also influences with his aesthetics thought, and with the eminent illustrator and draftsman of human figure, Calmon Barreto, born in Araxa, also Minas Gerais. Calmon had a drawing, in his words “wonderful and easy”, that seemed in his view “dripping from the tip of the pencil.” He also learned with the “mother” Georgina de Albuquerque and the sculptor Zaco Parana in their modeling classes. Fond of good food and excellent cooker, could not settle for less the “kitchen of painting”, when a new great maestro, Edson Motta, “father of scientific restoration in Brazil”, will tune up his colors and taste in the spices of the most diverse processes of painting that he experiences one by one. Aquarelles, lean and fat temperas, fibers, oil, pastels, mixed techniques, etc. Always alert to the response of materials to his expressive needs, a process of choice that suits for him the best form of expression. Thence comes the identity with an ancient technique of Italian Four Hundred, described in the Libro dell’arte by Cenino Cenine, named “glue cheese”, that is, casein tempera – the milk protein. He learned how to work with it the veiling and textures constructing a “tectonic” of his works, these qualities of surface with transparency, relief and opacity. We emphasize here his virtuosity with the “fresco” – a technique he also learned with Edson Motta and used in the murals he has done in the medieval Franciscan monastery Poggio Bustone, Italy, located in the foothills of the Apennines, the mountains surrounding the Rietty Valley. This is a technique in which only the pigments diluted in water are applied on the surface of the mortar of lime and sand still fresh. That’s the reason of the name “fresco”. During drying it forms crystals of calcium carbonate impregnated by the color applied. The wall becomes a synthesis of pigment and structural mass. An ancient Western

155


technique that developed in counterpoint to the mosaics of the East. The tempera techniques that use both in pure as in mixed technique with oil were used, for example, in the murals of Caixa Econômica Federal, Rio de Janeiro. Special mentions deserve the many techniques of drawing in a suitability of material of stain and risk to their expressive needs. Bandeira de Mello brings in the virtuosity of the drawing the extreme field, in which the art of sketch, the acquisition of mature of good draftsmen, surprises by the spontaneity and power of synthesis. We cannot forget on this testimony-presentation his exceptional skill in portraiture. The difficult art that the master dominates as few and far selfrequirement. He prefers portrait friends and kin to order from strangers, even those not under the domain and the requirement. Bandeira de Mello thus preserves the activity for a deeper encounter with the personalities portrayed, and then his psychological-graphic-pictorial expression makes the poetic testimony of a human encounter, a living! We then find that the figure occupies a central place in the work of Bandeira de Mello, both in his poetry as the practice of teaching. Speaking of the human figure is touching the very heart of art, all forms of its molding manifestation. Speaking of the human figure is always talking about something that is more. Something that, as great art and the human person, remains in the expression a mystery, a paradox, since revealed and abscond in their own revelation. A tangible, intangible. Quirino Campofiorito, in a speech on December 6, 1991, in the Plenary of Camara Municipal do Rio de Janeiro, in honor of Bandeira de Mello who was once awarded the title of honorary citizen of this city, calls our attention on the “dignity and seriousness”, that teaching has and requires: “(…) when teaching the fine arts the live model drawing is forgotten, means that the fine arts are forgotten”, and justifies: the abandonment of this specialized education of the human figure can only lead to artistic decay because the human figure is always the greatest source of inspiration for the man himself. V. A TEACHER, SCHOLAR AND CRITIC I now give my testimony as a former student. I met the master when the current speech in intricacies in the world of art and, in particular, the School of Fine Arts – UFRJ, where accounted for the live model professorship for thirty years – “not knowing” drawings, techniques and “all improvised” composed on real artistic virtuosos. Obviously, those who remembered principles – in its sense – perennial did not play good music… Today, despite the prophetic voices, coming whether from criticism or isolated artists denouncing the misconception and announcing the consequences of such procedures and principles, the situation has not changed so much. And the old master keeps scratching “sensitive” ears. A common phrase of the master and perhaps the most provocative and

156

disconcerting is: “we must have anything to say!” I will not register the discussion raised by philosophers as Dufrene about linguistic implications declaring that art is a language and its consequent denial, by misappropriation of the term to express what we mean by that. I’d rather get closer to De Fusco and present it as “a system of codes linked together, to forming a whole, with a specific meaning where form and content identify”; constituting the problem nowadays the fragmentation of these codes and consequent denial of the whole. It is a delicate issue that elucidates de crisis of rationality of Western modernity; therefore, a crisis of culture as a whole. It is factual and only the naive do not assume: we are a civilization in decline! And, it is in this context, this maré magnum of uncertainties where all that is solid melts into air, which emerges the figure of Bandeira de Mello, as survival of fundamental principles of making art. Affirming the first need of a speech, Bandeira de Mello already shows himself out of the tautological principle of contemporary poetry. Denying the artistic entropy, he stems the creativity motion and its teleology in human interiority and justifies his concept of art: “bridge between minds”. However, if there is the resonance theory of what art is in fact, and therein lies its charm, here, to unadvised, is the beginning of disenchantment or the obvious and crude evidence: build this bridge needs technique. And then we are invited by the master for the aforementioned strict discipline for the knowledge of the domain of drawing – essential element for appropriation, processing and creation of forms – and fundamental knowledge of the nicknamed kitchen of painting, its chemistry and technical procedures that guarantee the permanence of our poetic testimony of existing. Principles and procedures passed down from generation to generation, adaptable to the needs of a significant time and each person and enriched by industrial production.

something with a correct understanding of the principles involved.” In the Ethics Aristotle distinguished class of techne the crafts for which we do anything (prakton), as agriculture and medicine, and crafts for which we build something (poieton), such as sculptures and shoes. With these conceptual tools of classical aesthetics we believe we can draw a psychological profile of the person Bandeira de Mello, addressing the features understood by us as essential to his tradition and his poetic.

Bandeira de Mello says: “art a priori to be thought of as a commodity does not seem to me the result of better posture of a sentient being put before the universe, reflecting their relationship with him.” I lean a reflection of the art coming from the classical thought, in my view relevant to help us understanding the requirements of the master.

Bandeira de Mello was and has been in his magister activity most faithful to these truths expressed by one of his great masters. A tireless fighter in the younger generation to remember that for him these are philosophical and technical principles of art: The artistic maturity only happens as a result of selection, study and mastery of complex form. Abstract, eliminate, simplify or distort is only possible when you have mastered the form. The difference between a poor drawing and a drawing that is stripped contains no more than necessary; it is only the spirit of the form. Eliminate by significant need only when the author knows what not to do.

The classical thought has developed a concept of art as “craft”. His theory was the theory of manufacturing, based on the twin ideas of function and technique, in which the art object was essentially understood as agalma, i.e. ornament. The criterion of the artistic trial was the lavor, that is, the suitability for its function. The beauty – Kalou – then in that thought resembled the functional efficiency. They lacked the sense of the modern artist coming from the Renaissance and over deepened by romanticism as the Titan, sacred monster, genius, etc. The artist was only the “official”, tecnite or craftsman, demiurges, the latter title is an analogy to the deity or the organizing principle of the universe that works the chaos of the material world to give it a way that he does not create, but that does not include an ideal world, world of ideas, according to the plea, the system of Platonic philosophy. In the Sophist, Plato defined poesis as divine creation, i.e., construction of something in an absolute sense, and speaks of a creation from God’s creation; subordinating the artist to a second level creator. It is to Aristotle that we owe the definition of techne “(...) the ability to produce

At that time, I repeat, this requirement of techne sounded strange to the students’ ears. What was not my case. But we experimented too much, and Bandeira de Mello was a strong critic of experimentalism that, in his view, gave the School of Fine Arts the amateurish character and everyone there seemed half self-taught without deepening. This academy “for new again”, these demands, in his words, “lead students to a pipeline full of distortion that prevent them from following their own path, personal and unique, single and new.” Bandeira fits perfectly in definition of techne and his trial, the lavor. On many occasion I saw him discuss on materials and techniques used in artistic expression, Bandeira insists on calling the attention to this amalgam of idea – that is, the expressive form and its visual qualities – and technique used. A timely understanding of the physical qualities of the materials influences the expression of a fine-poetic form or plasticity of form. So always says: “the idea is born with the material”. Recall that Idea means form in Plato’s philosophy. As professor, he is rigorously demanding that learning. Bandeira de Mello is careful with aesthetics and technical relations between the work and environment, especially in major projects. The architectural space and its characteristics of temperature and lighting are factors he considers projects that include studies of composition and implementation procedures of the panels.

Here is my testimony of a master in drawing and painting, “stripped” of a connoisseur of the forms in its main grounds and his surface appearance detail included exercises of strict discipline of domain. Someone who “knows” and not “thinks that”. From someone who was not satisfied with a few easy applause, but required a lot from himself. A virtuoso who has transcended the virtuosity of detail to the unique character and universal simplicity of synthesis of a subtly expressed in minimum strokes and smudges. A mature being in understanding and mastering of forms in which he is spontaneous and simple, without being superficial in his depth of builder forms, in his poetic expression of his way to experience life: “this struggle not to succumb”. A creative being that makes lines and spots on graphic-pictorial melody.

When Bandeira de Mello gives credit to an artistic personality, he understands the whole of a life rooted in an artistic way, where the search, the uncertainty and persistence dig or dug deep in the own being that trail, a truth that burns, wounds, causes and requires their extravasations allied to poetic technique that best express. His words are enlightening: In recent decades the abandonment of figuration and consequent exaltation of different types of abstraction made the teaching of drawing in schools of art, an activity virtually relegated to the background. Over the past few years I have heard, in the university academic environment, that painting has nothing to do with drawing and anyone can paint without knowing drawing. The function of language that the arts have, in my opinion, was replaced by commodity production, the artistic duties granted their place! We found that Bandeira de Mello debates about the technical artificially and poetic genius that generate in two years and demolish in one. Bandeira de Mello bets, by the very experience of life, in the artistic personalities as lone wolves, quietly and slowly, hunt themselves in a deep and continuing training; and, in the solitude of a studio, listening to the silent cries of the soul, build/ find their work. This text was intended to be a testimony of a former student on the work and thinking, rather than a teacher, a great friend, and a reflection, from those, try to understand his art, this form of revelation to man of his humanity. I focused myself on these very modest aspects of his work on which his greatness is sustained. Sometimes, the best contribution to culture is to remember foundation. Essential procedures not frequently forgotten, but critical to the success of the purposes. Hope that my testimony leads the reader to think that gives us this master or painting and drawing. And more: causes him to a deeper encounter with Bandeira de Mello in the contemplation of his work: this synthesis of Tecnhe and Poiesis, “this fight not to succumb” that is his own existence and therefore of his own art making. This expression of what is, for him, essential of human and art. I believe I have been faithful to that throughout these years of friendship, working together to learn, to do and to teach; and… many talks, I have seen, heard, learned and dialogues with all this. ANTONIO JOSÉ DA SILVEIRA Bachelor’s degree in painting at the EBA-UFRJ. Professor degree in art education in visual arts by Instituto Metodista Bennett, Rio de Janeiro. Specialist in aesthetics education by Unirio and in sacred art and liturgical space, by Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção, São Paulo. Master of Science from Coppe/UFRJ.

157


BANDEIRA DE MELLO – I AM LIKE THIS | CRONOLOGY 1929 | Born on June 20 Lydio Introcaso Bandeira de Mello, in Leopoldina (MG), son of the lawyer, mathematician and philisopher Lydio Machado Bandeira de Mello and Amália Introcaso Bandeira de Mello 1935 | He starts to paint, at six years old, with paints received as gift from a neighbor 1947-1951 | Moves to Rio de Janeiro, and starts attending The National School of Fine Arts (NSFA), where he becomes the monitor of the chair of painting nudes and assistant of master Marques Junior. He graduates in 1951. | Besides Marques Junior, is also a friend of Quirino Campofiorito, Calmon | Barreto and the Psychiatrist Alan Parente, who had great influence on his art 1950 | Is part of the Academic Board of the National School of Fine Arts in NSU and SMU 1951 | Receives Painting Chair Award in Annual Exhibition of NSFA Students, Rio de Janeiro 1952 | Completes Post-Graduation in Painting, NSFA, getting the gold medal 1954 | 2nd Place Prize Caminhoa Donation Painting, UFRJ/CAL/SFA, Rio de Janeiro | Received Honorable Mention in The National Salon of Fine Arts, MEC, Rio de Janeiro 1955 | Receives the bronze medal, in the National Salon of Fine Arts, Rio de Janeiro | Receives the silver medal, painting, in the Fluminense Salon of Fine Arts, Niterói 1956 | Participates in the organizing committee of the III Fine Arts Salon of NIDE – National Institute of Deaf Education, MEC, Rio de Janeiro | Receives the Silver Medal for the work The boy and jackfruit, in the Municipal Salon of Fine Arts (MSFA) of Prefecture of Federal District | Receives the silver medal of National Salon of Fine Arts, Rio de Janeiro 1958 | His daughter Monica is born 1959 | Partakes of V International Bienal of Sao Paulo, Pavilion Ciccilo Matarazzo Sobrinho |Begins to teach drawing nudes, in his studio at Rua das Laranjeiras, following the tradition of the great masters of painting

158

1960 | His daughter Claudia is born | Participates in the organizing committee of VII Fine Arts Salon NIDE, MEC, Rio de Janeiro 1961 | Receives the Foreign Travel Award - National Salon of Fine Arts. Travels to Italy, where he lived for three years. Paints the frescoes for the church of Sanctuary Poggio Bustone, in the Valley of Rieti, where St. Francis of Assisi created the Franciscan Order 1963 | Participates in XIV Art Fair, Via Margutt, Rome 1964 | Returns to Brazil | Receives the title of “public knowledger” – Congregation of School of Fine Arts - UFRJ | First solo exhibition at Galeria Goeldi, Rio de Janeiro 1964-1968 | Becomes part of National Commission of Fine Arts 1965 | Receives the Grand Prize of the Human Figure – General Exhibition of Fine Arts of Fourth Century, SFA/UFRJ, Annual Collective in NSFA, Rio de Janeiro | Solo Exhibition, Guignard Gallery, Belo Horizonte 1966 | Receives the Grand Prize of Portrait - II General Exhibition of Fine Arts of Sesquicentennial, SFA/UFRJ | Exhibition of Ex-Student after 1930 – Prize “Batista da Costa” – Paintings, SFA/UFRJ | Participates in the Annual Conference of NSFA – Grand Prize of Composition and Grand Prize of Higher Education, Rio de Janeiro 1969 | Becomes the Director of the Gymnasium Oriented for the Work of National Institute for Deaf Education, and is designated by MEC to restructure the teaching of drawing and arts in the institution. He teaches artistic drawing 1971 | Wins the competition to create the design of the large mural for the new headquarters of Caixa Econômica Federal, Av. Almirante Barroso, Rio de Janeiro PICTURE 1972 | Pictures taken during the mounting of the panel of Caixa, 1972 1974 | Participates on 1st Brazilian Seminar on Hearing Loss, NIDE, Rio de Janeiro 1976 | He is part of the judging committee of II Meeting in Painting Julio Furtado, Campo de Santana, Prefecture of do Rio de Janeiro; jury member of Meeting Painting Master Valentim, Prefecture of Rio de Janeiro; jury member of Photo Contest of Tree Week, Prefecture of Rio de Janeiro 1977 | Part of Jury Selection and Award of Fine Arts Salon - SFA/ UFRJ

1975 | Studies guitar with the musician Peter Matheus, with a predilection for jazz 1978 | Retrospective “Bandeira de Mello – 30 years of painting”, Rodrigo de Mello Franco Gallery, NMFA/Funarte, Rio de Janeiro 1979 | Luiz Bandeira carries the move Portrait in short-film, on his life and work PICTURE 1982 | Bandeira de Mello paints a panel, for a constructor in Belo Horizonte 1983 | His son Ariel Diogo is born | Receives the title of Doctor, UFRJ 1984 | Participates in exhibition of drawings at Contemporary Art Antique Show, representing Bolsa de Arte, Copacabana Palace Hotel, Rio de Janeiro 1985 | Participates in conference “Thirty-three ways of seeing the world”, Ranulpho Art Gallery, Recife 1986 | Release of the book The art of drawing, with texts by Walmir Ayala and a large selection of works by the artist | Solo Exhibition in Mini Gallery, Rio de Janeiro | Performs the portrait of D. Eugênio Salles to the Sao Joaquim Palace, Rio de Janeiro 1987 | Solo Exhibition on Erotic Art Gallery, Rio de Janeiro On Christmas eve, the cover of O Globo newspaper reproduces his work Madonna with the boy accompanied by the poem “To the boy who comes” by Thiago de Mello 1988 | Solo show of drawings at Ranulpho Gallery, Recife Performs the picture of Monsignor Franca and the picture of Raul, both for the sacristy of The church N. S. da Glória, Largo do Machado, Rio de Janeiro 1989 | Receives votes of laudation from congregation of UAS/UFRJ for the portrayal of Professor Emeritus Ubi Bava 1990 | Participates in organizing committee of 1st Salon of Banco Nacional, SFA/UFRJ 1994 | Solo exhibition in Cultural Institute Brasil-Estados Unidos, Niterói

| Illustrates the Extraction Ticket no. 1396 – Caixa Econômica Federal, with the reproduction of the Carnival, which belongs to the collection of Caixa Econômica Federal 1998 | President of Jury - II Salon of Fine Arts in Botanic Garden, Rio de Janeiro 1999 | President of Jury - I Salon of Fine Arts of Santos Dumont Airport Performs the Project Outeiro do Bonfim for the pictorial decoration of Igreja do Bonfim, Rector of UFRJ, RJ | Presents the solo “Doodles”, with 27 sketches in Interactive Museum Space of Faculdades Integradas Bennett, Rio de Janeiro 2003 | Participates of the conference “Prints in album”, National Museum of Fine Arts, Rio de Janeiro 2006 | Julia Morena performs the short Bandeira de Mello – I am like this, documentary film on the artist’s works Bandeira de Mello is an entry in the main dictionaries and encyclopedias of Brazilian fine arts, such as: Dictionary of Arts in Brazil by Roberto Pontual (1969); Great Delta Larousse Encyclopedia (1971); Brazilian Dictionary of Artists of National Institute of Book (MEC, 1977); Who’s who in the arts and letters of Brazil (MRE, 1996); e Dictionary of Brazilian Painters (Vol. II, Bozano Simonsen Bank). Many texts deal with his Works in newspapers, magazines and books, among these, there are articles by Quirino Campofiorito, between 1958 and 1993. He participated in seminars, conferences, lectures and debates, especially: “Techniques of Painting” conference at the National Historic Museum (1972); “Aesthetics in Image Art”, cycle of three lectures presented at Center of Creation and Production – UFRJ (April 1989); lecture on “The Mural” at the Great Actors Theatre (1996); “The materials and the drawing conservation”, Faculdade da Cidade (1998); “Development of a project of retable for a Baroque Chapel, XVII Dialogue Bennett”, Faculdades Integradas Bennett, 1999.

1995 | Performs the panels Dance, Balance, Communication and Peddlers for Educational Complex of SENAC, Rua 24 de Maio, Rio de Janeiro 1997 | Solo show “The poetics of Bandeira de Mello”, in Interactive Museum Space of Faculdades Integradas Bennett, Rio de Janeiro

159


AGRADECIMENTOS Denise Mattar Sambacine Julia Morena Tiago Morena Patrícia Freitas Ricardo Kimaid Luiz Henrique Barros de Arruda Diana Braga Harold Coelho Fernanda Rocha Miranda Helter Barcellos Istvan Karoly Kaznar José Deovacy Lima 160

CONCEPÇÃO E CONSULTORIA Lydio Bandeira de Mello COORDENAÇÃO GERAL Anderson Eleotério PRODUÇÃO Izabel Ferreira DESIGN DE MONTAGEM Guilherme Isnard CENOTÉCNICA Jorge Kugler | Well Ribeiro TEXTOS Angela Ancora da Luz | Antonio José da Silveira MUSEOLOGIA Thereza Kuhnert RESTAURO E CONSERVAÇÃO Atelier Marylka Mendes | RG.Conservação e Restauração PROGRAMAÇÃO VISUAL Leobug.com PRODUÇÃO GRÁFICA Raquel Silva VÍDEOS Sambacine | Allan Ribeiro | Fernanda Rocha Miranda FOTOS Renan Cepeda FOTOGRAFIAS CRONOLOGIA Acervo do artista REVISÃO DE TEXTO Rosalina Gouveia COMUNICAÇÃO Press Mais - Sylvia Machado ILUMINAÇÃO Antonio Mendel CENOTÉCNICA Jorge Kugler SEGURO Ricardo Minc - Pro Affinite MOLDURAS Isonete Porto Molduras TRANSPORTE Art Quality ESTAGIÁRIAS Maria Amorim | Aline Crispino MONITORES Tainá Basilio de Barros | Maria do Carmo Barbalho | Gregory Combat PRODUÇÃO EXECUTIVA LG Produções Culturais Ltda. CATÁLOGO ORGANIZACAO Izabel Ferrreira PROJETO GRAFICO GRAPHIC DESIGN Leo Teixeira COORDENACAO EDITORIAL TEXTOS REVISAO VERSAO PARA INGLES FOTOGRAFIA

161


Este livro foi impresso em novembro de 2009, Rio de Janeiro, em ocasiáo da exposição Bandeira de Mello - eu existo assim. Tiragem de 1000 unidades

162

163


164

165


166

167


168

169


170

171


172


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.