Capitaes da areia jorge amado

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do abandono da liberdade que gozavam, soltos na rua, possibilidade de vida mais confortável. O padre José Pedro sabia que não podia acenar com o reformatório àquelas crianças. Ele conhecia demais as leis do reformatório, as escritas e as que cumpriam. E sabia que não havia possibilidade de nele uma criança tomar boa e trabalhadora. Mas o padre José Pedro confiava em amigas que possuía, beatas velhas e religiosas. Elas podiam se encarregar de vários dos Capitães da Areia, de educálos e alimentá-los. Mas isso seria o abandono de tudo de grande que tinha a vida a aventura da liberdade nas ruas da mais misteriosa e bela das cidades do mundo, nas ruas da Bahia de Todos os Santos. E logo que, intermédio de Boa-Vida, o padre José Pedro fez relações com Capitães da Areia, viu que se lhes fizesse essa proposta perderia a confiança que já depositavam nele e que se mudariam do trapiche ele nunca mais os veria. Além do mais não tinha absoluta co naquelas solteironas velhuscas que viviam metidas na igreja e aproveitavam os intervalos das missas para comentarem a vida Lembrava-se que, a princípio, elas tinham ficado magoadas com ele (p. 67) porque, ao acabar de celebrar pela primeira vez naquela igreja, um grupo de beatas se acercou dele com o evidente propósito de o ajudar a mudar os trajes do oficio da missa. E ressoaram em torno a ele exclamações comovidas: -- Reverendozinho... Anjo Gabriel... Uma velhusca magra juntava as mãos em adoração: -- Meu Jesuscristozinho... Pareciam adorá-lo e o padre José Pedro se revoltou. Em verdade ele sabia que a


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