REVISTA MARANHÃO - 5º SEMESTRE - JORNALISMO 2019

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Editorial Caros leitores, Tudo bem? Você está recebendo a mais nova edição da revista Maranhão, uma publicação dos alunos do 5º. Semestre de Jornalismo da Universidade Santo Amaro (UNISA). Na reportagem de capa, um tema do cotidiano, mas que boa parte da população ainda se pergunta. Afinal, há diferença entre o dólar turismo e o dólar? Pois bem, essa turma mergulhou no assunto e nos trouxe uma reportagem bem consistente sobre os diferentes tipos de comercialização da moeda americana no Brasil. Os alunos ainda trataram de temas ligados ao Esporte, à Cultura, Saúde e Política. No Esporte, por exemplo, o skate virou peça-chave na reportagem sobre a Olímpiada de Tóquio de 2020 e as chances brasileiras nessa modalidade recém-inserida nos jogos. Na Cultura, uma reflexão: como os índios enxergaram a vitória da Estação Primeira de Mangueira no carnaval deste ano no Rio de Janeiro, cujo samba-enredo tratou dessa população no universo brasileiro. Em Saúde, um relevante alerta sobre as vacinas. E na Política, uma descoberta. Há mais militares no governo do recém-empossado presidente Jair Messias Bolsonaro do que nos governos do período do Regime Militar.

Expediente Revista Maranhão é produzida pelos alunos de Jornalismo da Universidade Santo Amaro (UNISA). Edição número 2. Coordenação de Jornalismo: Prof. Me. José Bernardo de Azevedo Júnior. Professores Responsáveis: Prof. Me. Mauricio Capela e Prof. Me. Leandro Fabris Lugoboni. Alunos do 5º Semestre de Jornalismo, por Editoria: Política: Gabriel Simões, Lívia Alves, Victor Hugo e Victória Souza. Internacional: Gabriela de Oliveira, Larissa Nova, Monique Soares e Rafhaela Martins. Economia: Camila Lima, Diego Ribeiro, Douglas Gonzaga, Kalyne Rannieri e Kethlyn Jesus. Cultura: Andreza Oliveira e Jéssica Costa. Esporte: Roberto Lima e Marcos Cruz. Edição de textos: Prof. Me. Maurício Capela e Prof. Me. Bernardo Junior. Edição de Arte: Prof. Me. Leandro Fabris Lugoboni.


Índice POLÍTICA

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O FUTURO QUE REPETE O PASSADO

INTERNACIONAL OUVIDOS DA DESINFORMAÇÃO

ECONOMIA

DINHEIRO NA MÃO É VENDAL

CULTURA

ÍNDIO QUER RESPEITO

ESPORTE

UM SALTO PARA O OURO OLIMPICO

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O FUTURO QUE REPETE O PASSADO

Após 30 anos do fim da ditadura um novo militar assume o poder, o que muda? Política General do exército Fernando Azevedo da Silva, Capitão do Exército Wagner Rosário, Capitão do Exército Tarcísio Gomes de Freitas.... Você conhece algum desses nomes? Não? E se eu te falar que esses são os nomes dos ministros da Defesa, Controladoria Geral da União e da Infraestrutura do governo recém-eleito de Jair Bolsonaro. Pois é.... A última vez que tivemos tantos militares no poder foi em 1964, ano que deu início a ditadura militar no Brasil. Trinta e quatro anos após o fim da ditadura, em 28 de outubro de 2018, um novo militar foi eleito pelo povo, Jair Messias Bolsonaro (PSL). É o 3° militar da história do país a ser eleito pelos brasileiros, se tornando o 38° presidente da República. 1

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Os outros dois foram Hermes da Fonseca (1910-1914) e Eurico Dutra (1946-1950). Conhecido pelos seus discursos polêmicos, Bolsonaro já deu várias declarações a favor do regime militar, chegando a determinar para o Ministério da Defesa a comemoração em unidades militares nos dias 31 de março. A data, que estava no calendário oficial de comemorações do Exército, foi retirada em 2011 pela ex-presidente Dilma Rousseff, torturada durante o regime militar. “Carlos

Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff ” “Perderam em 64. Perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula, que o PT nunca teve. Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff ”, afirmou Jair Bolsonaro, na época deputado federal pelo Rio de Janeiro, para justificar seu voto a favor do impeachment de Dilma Rousseff, até então Presidente do Brasil. A votação ocorreu 2

no dia 20 de abril de 2016. Quem foi Ustra? Por que terror da Dilma? Reconhecido por alguns militares como herói, Carlos Alberto Brilhante Ustra foi o 1° militar reconhecido como torturador pela Justiça de São Paulo em seus documentos divulgados pela Comissão Nacional da Verdade, órgão instituído pelo governo Dilma para a investigação das violações dos direitos humanos durante a ditadura. Ustra foi um dos principais agentes de repressão e torturou aproximadamente 500 pessoas, incluindo a ex Presidente Dilma. Como o futuro repete o passado? Declarações a favor de torturas e homenagens a militares sempre estiveram no discurso de Bolsonaro, trazendo uma legião de seguidores durante sua campanha presidencial. Camisetas com frases como “mito “e discursos de ódio e intolerância fazem parte do repertório de alguns de seus eleitores, além de protestos a favor de uma nova intervenção militar. Com a candidatura de Jair

Bolsonaro, uma onda de discussões surgiu, assuntos como: homofobia, machismo, aborto, religião, racismo entre outros se tornaram comuns em rodas de conversas, e com isso um incentivo de violência por parte das pessoas contra e a favor de suas opiniões ideológicas. É comum ver, principalmente em comentários nas redes sociais, discursos de ódio. Como uma forma de incentivo por parte dos relatos do Presidente, parte da população têm tido cada vez menos medo de falar o que pensam mesmo que isso seja crime, como no caso de racismo. Contexto fardado 1964, mais especificamente dia 31 de março. As ruas foram ocupadas pelos militares que queriam evitar o avanço das organizações populares do governo do então presidente João Goulart (PTB), acusado de querer trazer o comunismo para o Brasil. O presidente foi deposto e se refugiou no Uruguai. Ato contínuo, uma junta militar assumiu o comando, e a repressão passou a oprimir quem não concordava com o regime. O congresso ganhou poder MR5-2019


para eleger o novo presidente através do Ato institucional número 1, e o nome escolhido foi do General Humberto de Alencar Castelo Branco, cujo desejo era permanecer pouco tempo no poder e novamente convocar eleições no País. Mas não foi isso que

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aconteceu. Veio o governo do general Arthur da Costa e Silva, que buscou, de fato, estabelecer o período militar na política brasileira. Um período que durou 21 anos, totalizando seis presidentes militares no poder, marcados pela censura, sus-

pensão de direitos políticos dos cidadãos, tortura e etc. A ditadura militar acabou no dia 5 de janeiro de 1985, com a vitória de Tancredo Neves para presidente, iniciando então a Nova República.

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O VÍRUS DA DESINFORMAÇÃO

Sociedade diz cada vez mais “não” às vacinas, e doenças, antes erradicadas, reaparecem no século XXI Internacional E discutindo vacinas, as a Ucrânia lidera o surto, suSe quando as vacinas sur- to. pessoas acabam dissemiperando os 30 mil casos. O giram já existissem as redes sociais, talvez o mundo não tivesse ganhado a batalha contra doenças infecciosas como o sarampo ou rubéola. Isso porque, atualmente, o papel de algumas mídias, como o Facebook, cria ambiente para qualquer pessoa falar sobre qualquer assun-

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nando um conhecimento que, muitas vezes, não têm. O UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) divulgou em março de 2019 o número de casos de sarampo entre 2017 e 2018. Os dados alertam para surtos em 10 países, sendo que

Brasil vem logo atrás, com 10.262 casos, mesmo depois de ter passado um 2017 sem qualquer registro da doença. A principal preocupação com a volta de surtos como o sarampo é a baixa cobertura vacinal. O presidente da Sociedade Brasileira de

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Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, indica que o problema não é exclusivo de apenas uma enfermidade. “Ao mesmo tempo em que a gente está observando isso com o sarampo, a gente pode observar para todas as outras doenças que são imunopreviníveis e que a gente tem vacina e que são utilizadas infelizmente não com as coberturas vacinais que a gente gostaria”, explica. Com o menor número de pessoas se vacinando, o Brasil perdeu, em março, o certificado de país livre do sarampo. Isso, segundo a infectologista Catarina Pallares de Almeida, significa que casos ocorridos dentro do território nacional voltam a circular e apresentam riscos às pessoas não vacinadas e sem prévio contato com a doença. Nesse cenário, a desinformação potencializa o risco. Mais do que a baixa cobertura vacinal, o que preocupa profissionais da saúde é a forma com que a sociedade fala sobre a prevenção. Nas redes, os usuários acreditam em rumores e recuam quando mais precisam se proteger. A doutora Catarina explica por que isso acontece. “Na grande maioria das vezes, por estas doenças estarem fora de circulação há algum tempo, as pessoas acreditam que ela não exista mais ou até mesmo a desconhecem. Com isso, deixam de se vacinar”, conclui. 5

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O ex-médico Andrew Wakefield e a esposa Carmel acompanhados por apoiadores. Foto: Daniel Berehulak/Getty

O movimento antivacina é um exemplo de rede de boatos que conseguiu se infiltrar na internet e agora se espalha na sociedade. Persistente na Europa e na América do Norte, os grupos que defendem o poder de escolha para vacinar já foram incluídos na lista de dez maiores ameaças à saúde de 2019 da OMS (Organização Mundial da Saúde). O argumento mais usado pelos antivacina é o de que a vacina tríplex (sarampo, caxumba e rubéola) está relacionada com o desenvolvimento do autismo, ideia originária da pesquisa do britânico Andrew Wakefield de 1998. Apesar de outros estudos terem prova6

do que Wakefield fraudou o resultado, há ainda quem acredite.Originariamente, Wakefield era médico e perdeu a licença em 2010, logo após terem descoberto fraude em sua pesquisa. Mas o que pode explicar esse comportamento? A psicóloga-terapeuta Anelise Durante Pagani vê aspectos egoístas na troca das pesquisas científicas pelo senso comum. “Bom, aí eu acho que entra muito a questão desse narcisismo, do eu sei o que é melhor para mim, aí a opinião do outro já não importa. Essa visão do eu me basto, do eu ser eu mesma”, conta Anelise. A discussão sobre vacinar ou não entrou no campo subjetivo, e

por isso a noção do perigo da doença para o outro, escapa. É o que Anelise acredita ser uma cultura dominada pelo individualismo. No entanto, a chave para que a cobertura vacinal melhore é justamente diminuir a distância entre sociedade civil e científica. “O profissional da saúde tem que estar muito bem capacitado, ele tem que conhecer, ele tem que saber responder, ele tem que indicar a vacina, ele tem que recomendar, ele tem que se vacinar quando é indicado para ele, porque isso aí vai levar confiança para a população”, reforça Juarez Cunha do SBIm.

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DINHEIRO NA MÃO É VENDAVAL!

Preço do dólar em relação ao real muda todos os dias e várias vezes. Entenda como essas mudanças afetam o seu dinheiro. Economia O dólar e suas variações di- diretamente a vida de to- acontece porque existem tam as regras no mundo dos negócios. Usada como balizadora comercial, a moeda norte-americana influencia

dos os cidadãos brasileiros, mesmo que estes nem saibam disso. Diariamente, o dólar sofre alterações em sua cotação final. Isso

AS RESPOSTAS

regimes de taxas que determinam a condição cambial de um país. Aqui no Brasil o regime de câmbio adotado é o chamado “câmbio flu

DO MERCADO

DURANTE O PERÍODO ELEITORAL DE 2018, EM SETEMBRO, O DÓLAR CHEGOU A SER COTADO A R$ 4,16, ALTA DE 7,74% EM RELAÇÃO A AGOSTO DE 2018, QUANDO TEVE O INICIO DAS PESQUISAS ELEITORAIS

Setembro de 2018

Outubro de 2018

PRIMEIRA PESQUISA É DIVULGADA

DÓLAR COMERCIAL BATE RECORDE

PRIMEIRO TURNO DECISIVO

Após resultado de pesquisa IBOPE para presidente, divulgada no dia 20 de agosto, a cotação do dólar subiu e alcançou o valor de R$ 4,03.

Fernando Haddad, candidato pelo Partido dos Trabalhadores (PT) cresceu nas intenções de voto e dólar bate R$4,16 no dia 14 de setembro.

Um dia após a conquista do primeiro turno por Jair Bolsonaro, mercado responde positivamente e dólar tem queda de 8,07%% em comparação ao mês anterior, caindo a R$ 3,76

Agosto de 2018

FONTE: REFINITIV BRASIL / PESQUISA IBOPE / THOMSON REUTERS

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tuante”, isto é, prevalece a lei da oferta e da demanda. Quanto mais dólar entrar no país, menos se paga por ele. No entanto, caso a demanda aumente, da mesma forma, o valor da moeda sobe. Existem diversos fatores que podem influenciar de forma direta ou indireta no preço da moeda americana durante as variações diárias. O Brasil, por exemplo, conta com o cenário político e econômico como um dos principais fatores que controlam o valor final. Em 2018, o país passou pela 38º Eleição Geral, elegendo o novo presidente da República, governadores, deputados estaduais, federais e senadores. Com o resultado das pesquisas durante os quatro meses de período eleitoral, o dólar chegou a alcançar um pico de R$ 4,16 na terceira semana de setembro. O mercado respondeu durante esse período com alterações ao longo dos dias, norteado pelo retorno das pesquisas. Esse sobe e desce desenfreado da moeda americana causa alternâncias significativas dentro do mercado interno. De acordo com o levantamento realizado pelo Sindicato Nacional das Distribuidoras de Gás Lique8

feito de Petróleo (Sindigás), em 2018, o preço médio do botijão de gás nacional ficou na média de R$ 67,98, enquanto em 2019, R$ 69,12.

“Dólar turismo: compras ou passagens aéreas? Pense nele.” Aparentemente, o inocente aumento do dólar não seria o suficiente para abalar as contas de casa da servidora pública Vera Lucia Caldas, 50, moradora de Embu das Artes. “O aumento do gás de cozinha é algo absurdo, considerando o valor do salário mínimo de hoje. Juntase ao gasto com o gás outras despesas que não podem ser adiadas pelas famílias como água, luz, transporte e alimentação”, detalha Vera. Obviamente, produtos importados recebem uma maior valorização, mas não é só isso. Mercadorias fabricadas em solo nacional, por vezes, possuem matéria-prima importada, ou seja, quando há mudança no preço desses materiais, o valor final da mercadoria, mesmo produzida aqui, também muda. E muda para o patamar de cima. Um exemplo claro dessa

questão é a gasolina. Quando o dólar recebe contornos de valorização, o combustível fica mais caro. Então, cria-se uma verdadeira “bola de neve”. Rapidamente motoristas sentem em seus bolsos a mudança. Igualmente compradores do ambiente virtual, já que fretes mais caros são cobrados para equilibrar a relação custo-benefício. O que significa consideráveis acréscimos no valor final da transação. Dólar comercial x Dólar turismo A USD – sigla em inglês que significa Dólar dos Estados Unidos – opera em duas principais frentes: dólar comercial e dólar turismo. Os valores deles são diferentes e cada um funciona para áreas distintas. O primeiro, chamado de dólar comercial, essencialmente, é a cotação usada por empresas ou bancos para realizar transações financeiras no mercado de câmbio. Importações e exportações fazem parte desse pacote também. Já o dólar turismo é empregado para determinar os preços de passagens aéreas, além de ser o câmbio dominante de quem compra produtos no exte MR5-2019


rior ou em sites estrangeiros. Por exemplo, caso decida viajar para a Disney ou mesmo adquirir um smartphone de um portal norte-americano, o real deverá estar relacionado diretamente ao dólar turismo. Esta variável, por sua vez, possui um preço mais alto, pois é composto pela cotação do dólar comercial somado aos custos administrativos da operação. Os custos administrativos resumemse basicamente ao lucro da casa de câmbio juntamente com o IOF – Imposto sobre Operações Financeiras. Para se ter como base, no início do mês de maio deste ano o dólar comercial foi cotado a R$ 3,93. Em contrapartida, o dólar turismo estava sendo comercializado a R$ 4,15. A diferença de R$ 0,22 é o valor agregado aos agentes cambiais e ao governo em forma de IOF, como mencionado anteriormente. Desta forma, o dólar flutua e anuncia grandes vendavais em meio ao setor econômico do Brasil. A moeda norte-americana, parcialmente ditatorial, induz fenômenos monetários. E, sendo assim, ainda que interfira diretamente no bem-estar da sociedade brasileira, passa despercebido pela maioria. 9

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ÍNDIO QUER RESPEITO

Ganhadora do carnaval de 2019, Estação Primeira de Mangueira se inspirou na cultura tradicional do índio, mas as tribos indígenas discordam da performance na Marquês de Sapucaí no Rio de Janeiro (RJ). Cultura com caracterização está a representatividade. “Deixa eu te contar a his- desfile inspirada na cultura indí“Nem sempre essas homenatória que a história não conta”, dizia a letra do enredo da Escola de samba estação primeira Mangueira no carnaval de 2019, com objetivo de homenagear a cultura africana e indígena no Brasil. A escola fez um

gena. De um lado, temos a Mangueira representando a cultura dos índios de uma forma. Do outro, temos o indígena Taquari da aldeia Pataxó, Salvador (BA), que questiona onde

Carro alegórico Comissão de frente da Mangueira da campeã do carnaval do Rio de Janeiro de 2019, tem como tema a cultura indígena. Foto: Reprodução Magueira.

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gens, nós nos vemos representados”, dispara Taquari. Mas, e fora da aldeia?

Nascido na aldeia de Pataxó, no extremo sul da Bahia, Taquari de 35 anos, hoje vive em Salvador, é estudante de Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e relata qual a sensação ao ver a homenagem dos desfiles. Muitos ainda vêem os índios como a televisão e os livros mostram, porém o índio do século XXI frequenta faculdade, tem saneamento básico, energia elétrica e Wi-fi. De acordo com Taquari, as escolas reforçam esse estereótipo e aumentam a ideia do índio pelado na selva. “As pessoas tentam nos homenagear mas não compreendem de forma aprofundada MR5-2019


como se estabelece a cultura e por vezes acabam estereotipando ao fazer pinturas indígenas”, afirma Taquari. Para Taquari, sair da aldeia e ir para a cidade grande foi um processo de adaptação, e um desafio manter a identidade cultural. “Em conversa informal, as atitudes dos colegas, às vezes preconceituosas para conosco, mesmo que às vezes saia involuntária e o próprio indivíduo nem percebe que está agindo de forma preconceituosa”, conta Taquari ao lembrar dos seus primeiros dias na faculdade. Uma forma que Taquari encontrou para manter sua cultura é ter comunicação diária com os caciques, debater as questões indígenas, utilizar os adornos, pinturas corporais e lutar pelo espaço indígena nas Universidades. De fora para dentro No distrito de Parelheiros, extremo da zona sul de São Paulo, no final de duas ruas sem asfalto uma casa com telhado de madeira e faixas verdes nas paredes quadri-

“As pessoas tentam nos homenagear mas não compreendem” 11

Taquari Pataxó estudante de Direito, na Universidade Federal da Bahia. Foto: Reprodução Facebook Taquari.

culadas exala tradição. A aldeia Tenondé Porã tem, em média, 150 famílias, e mil habitantes que vivem no espaço de 26 mil hectares. Na aldeia tem uma Escola Estadual, o Centro de Cultura e Educação Indígena e um espaço com Wi-fi livre. As crianças da aldeia de 1 á 4 anos aprendem primeiro a língua tupi guarani, e a partir dos 5 anos aprendem a ler e escrever em português na escola Estadual. Na escola indígena aprendem também a plantar, caçar e fazer armadilhas. Juscelino Kuaray, guia da aldeia relata, “a gente preserva a nossa cultura, conserva nossa terra, é importante proteger que é nosso.”

Juscelino, indígena urbana, ou seja, nasceu na cidade, é filho de mãe indígena e pai branco Saiu do Rio de Janeiro e veio para São Paulo aos 14 anos para morar com a mãe na aldeia. Tenondé Porã. “No começo eu não sabia falar a língua guarani. As pessoas se afastaram de mim, mas eu me aproximava mesmo assim já que vivia do mesmo jeito que eles”. O processo de adaptação de Juscelino foi demorado pois não sabia falar a língua nativa, só após aprender a língua Tupi foi possível o seu batismo. Para os indígenas, o batismo é a forma de iniciar a tradição e ganhar um nome em Tupi-Guarani, o caso de MR5-2019


Juscelino, é o nome Kuaray (wharaque).“Aqui na nossa religião as crianças ganham um nome a partir de um ano. Só que eu ganhei depois de 15 anos. O meu primeiro nome em tupi significa o sol”. E o verdadeiro indigena? Tendo em vista todo o mundo tecnológico atual, o antropólogo Expedito Leandro, acredita que todas as culturas, não só a indígena, passam por transformações, e mantém sua essência. Taquari e Jucelino são exemplos que o índio pode frequentar Universidades, viver longe de sua aldeia ou adquirir a identidade indígena, mesmo depois de ter outras vivências culturais. “Cultura é a condição que o sujeito adquire, que ele herda, todo indivíduo tem sua cultura.”, afirma o antropólogo. . “O índio pode deixar sua aldeia e viver na cidade grande, e continuar sendo índio. Ele não precisa viver lá na mata pelado e com arco e flecha, ele é índio na condição que se encontra, em qualquer lugar”, afirma o antropólogo Expedito. O conceito passado nas escolas é um equívoco sobre como é o indígena de fato. “É uma falha de informação, de comunicação, porque aquele índio que é caracterizado na 12

Excursões dos indigenas para o jogo Esporte Clube Bahia. Foto: Reprodução Facebook Taquari.

escola, não existe mais. Se torna uma forma preconceituosa, uma forma errônea.” As homenagens realizadas de diversas formas como o uso de adornos, pinturas corporais e o conhecimento da cultura indígena são por vezes generalizadas e mal compreendidas pela sociedade pós-moderna. O estudante Taquari, declara que o povo indígena recebe as

homenagens de bom grado, mas eles não encontram a representatividade. “A nossa identidade cultural está presente nos dias atuais. Nós povos indígenas sabemos quem somos e onde queremos chegar. Entendo que essas homenagens é a maneira que as pessoas compreendem e enxergam as populações indígenas. Mas, é estereotipado.” MR5-2019


UM ‘SALTO’ PARA OURO OLÍMPICO

Novato nos jogos, o skate vai dar aos praticantes brasileiros do esporte chance de subir ao pódio, em Tóquio 2020

Skatistas amadores têm a oportunidade de mostrar seu talento na modalidade street em evento na zona sul de São Paulo – Foto: Marcos Cruz

Esporte

Quem não se preocupa ao

ver jovens, de diversas idades, andando com seus skates, pulando em escadas, corrimãos, guias, bancos de praças e se arriscando pelos muros construídos nas cidades em todo Brasil? E quem imaginaria que um desses “malucos”, como geralmente são chamados, poderia ser um medalhista olím13

pico? Pois é... Mas é justamente isso que vai acontecer no Japão no ano que vem. Chamada de Street, essa será uma das duas modalidades do skate, que vão disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020. A outra é o Park, cuja diferença básica está no local da disputa, uma vez que a disputa se dá em uma pista que apresenta elementos de

outras modalidades como o bowl (pista em formato de piscina), o banks (um bowl com paredes menores). No total, 80 skatistas vão brigar pelo Ouro olímpico nessas duas modalidades. As vagas serão divididas da seguinte forma: 20 homens e 20 mulheres no street e o mesmo número de participantes no park. E o Brasil se destaca nas duas, conquistando vá MR5-2019


rios campeonatos mundiais. Só que para disputar os Jogos Olímpicos, é necessário acumular pontos nas classificações dos torneios, que vão de 1 de janeiro deste ano até 31 de maio de 2020. E entre os nomes mais conhecidos do País, que disputarão as vagas no street nos Jogos estão: Kelvin Hoefler, Felipe Gustavo, Leticia Bufoni, Pâmela Rosa, Luan Oliveira, Tiago Lemos, Ivan Monteiro, Lucas Xaparral, Karen Feitosa, Rayssa Leal, Virginia Fortes e Lucas Rabelo, Isabelly Ávila, Gabriel Fortunato. O skate desembarcou em terras brasileiras na década de 60, trazido como bagagem por surfistas americanos. E não demorou para atrair muitos adeptos por aqui. Nos anos 70, apareceram as primeiras skatepark (pistas de skate) no Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e em outras capitais. Naquela década, foram promovidos os primeiros grandes campeonatos, como o organizado na Quinta da Boa Vista, no Rio, em outubro de 1975. Com a presença de nomes consagrados do circuito internacional, o esporte se tornou mais popular. E mais 14

eventos foram organizados em várias cidades do país, e os nomes dos brasileiros começaram a aparecer no circuito nacional e mundial. Foi o que ocorreu com o então conhecido como japonês voador, Lincoln Dyo Ueba, que conquistou o quarto lugar na Alemanha em 1985, na categoria profissional. esde então, os brasilei-

O brasileiro Mike Dias, skatista profissional desde 2015, é um dos atletas cotados para Tóquio 2020 - Foto: Marcos Cruz

ros ocuparam os lugares mais altos nos pódios dos campeonatos mundiais. Diego Meneses em 95, Bob Burnquist em 97, Carlos An drade em 2000, Mineirinho em 2003 e o mais recente,

Carlos Ribeiro que venceu o Tampa Pró 2019, realizado em março na Flórida- EUA. Mas foi na década de 90 que surgiu a modalidade que apresentou à população um novo modo de andar de skate, se divertir e tornar-se competitivo a partir das manobras realizadas em qualquer obstáculo que tiver pela frente. O Street. Essa prática faz do skate um esporte livre. Além disso, dá ao skatista o estilo próprio, conforme declara o Make Dias, 31 anos e profissional desde 2015. “O skate tem vida própria, e o skatista pode praticar em qualquer lugar. Pode fazer o que quiser e der vontade, além de desenvolver manobras a seu próprio estilo”, explica. “Eu sempre gostei de andar de skate e fiz isso à vida inteira. Para ser um skatista você só precisa andar de skate. Não é preciso pular, saltar ou remar, só é preciso ter um e andar”, conclui Dias. Este é um dos fatores que fez com que o skate atraísse multidões de seguidores no Brasil e se colocasse entre os esportes que mais crescem no país. Nos anos 2000, uma pesquisa realizada pelo Datafolha MR5-2019


apontou 2,7 milhões praticantes do skate no Brasil, já em 2015, nova pesquisa, encomendada pela Confederação Brasileira de Skate (CBSk), mostrou que o número de praticantes do esporte subiu para 8,5 milhões. Tamanho crescimento fez do esporte um prato

‘‘É interessante atrelar as marcar às praticas esportistas’’. cheio para o mundo dos negócios, movimentando perto de R$ 1 bilhão por ano no País. De olho nesse mercado, alguns skatistas constituíram empresas. Foi exatamente o que fez o Josuel Cerejera, 34 anos, que aproveitou a oportunidade para abrir uma loja de acessórios, além de lançar-se como um promotor e locutor de eventos na região do jardim São Luiz, na zona Sul de São Paulo. “Encerrei minha carreira como skatista amador aos 23 anos de idade. Na época, eu procurava algo para me sustentar, mas hoje vivo do skate, minha renda vem dele”, afirma Cerejera. Outras oportunidades de negócios relacionados ao skate surgirão, devido à visibilidade que os jogos olímpicos de 2020 darão ao esporte. Para o Marketing esportivo, então, será um salto. “É interessante atrelar as marcar às prati15

cas esportistas, pois esporte é saúde”, afirma o professor especializado em Marketing de Serviços para cursos de MBA na UniSantos, São Judas, Senac e Unip, Paulo Abrantes. “Qualquer esporte que passa a fazer parte dos jogos olímpicos é olhado de outra forma, ele ganha outra amplitude. E para as empresas, os esportes radicais são interessantes por estarem ligados a toda essa questão da competitividade, uma coisa mais arrojada. Não tenho a menor dúvida de que as olimpíadas farão muito bem ao skate e vai gerar muitos

negócios no país ”, conclui. Além disso, as possíveis medalhas que os brasileiros poderão ganhar trarão como benefícios aos praticantes do esporte no Brasil, a libertação de um preconceito que existe contra os skatistas e que se arrasta desde que a modalidade chegou ao país. É o que diz o cabelereiro, Fabrício dos Santos, 35, que há 20 anos pratica o esporte, e presenciou as várias fazes que a modalidade atravessou no Brasil. “Seremos vistos como esportistas e não como desocupados”, afirma Fabricio.

O skatista amador, Fabricio dos Santos de 35 anos, vê com bons olhos o skate nas olimpiadas Foto: Marcos Cruz MR5-2019


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