TCC arqurbuvv Coliving, uma proposta de moradia contemporânea

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COLIVING

UM A P R O P OS TA DE MORA DI A C O NTEMP ORÂNE A



UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

C O L I V I N G , U M A P R O P O S TA D E M O R A D I A C O N T E M P O R Â N E A

LAÍS CALLEGARI THIÉBAUT PEREIRA

VILA VELHA 2021



LAÍS CALLEGARI THIÉBAUT PEREIRA

C O L I V I N G , U M A P R O P O S TA D E M O R A D I A C O N T E M P O R Â N E A

TRABALHO A P R E S E N TA D O

AO

DE

CURSO

CONCLUSÃO DE

DE

CURSO

GRADUAÇÃO

EM

ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE VILA VELHA C O M O R E Q U I S I T O PA R C I A L PA R A O B T E N Ç Ã O D O G R A U D E A R Q U I T E T O E U R B A N I S TA .

VILA VELHA 2021



LAÍS CALLEGARI THIÉBAUT PEREIRA

C O L I V I N G , U M A P R O P O S TA D E M O R A D I A C O N T E M P O R Â N E A

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha como requisito parcial para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista

Aprovado em 23 de novembro de 2021 COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dra Cynthia Marconsini Loureiro Santos Universidade Vila Velha Orientadora

Prof. Dra Erica Coelho Pagel Universidade Vila Velha Avaliadora

Karolyne Simonasse Azevedo Lovatto Arquiteta e Urbanista Convidado

VILA VELHA 2021



“A SEN SAÇÃO DE GEN ER OSIDA DE ESPAC I A L QU E SUA ESTR U TU R A P ER M ITE AU M ENTA O GR AU DE C O N V I V Ê N C I A , D E EN CONTRO S, DE CO M U N IC AÇ ÃO. QU EM DER U M GR ITO, DENTR O DO P R ÉDIO, SENTIR Á A R ESP ON SA B I LI DA D E D E TE R INTERFERIDO EM TODO O A M B IENTE. A Í, O IN DIV ÍDU O SE IN STR U I, SE U R B A N IZ A , GA N H A ESP Í R ITO D E E QUI P E ” . JOÃO B ATISTA VIL A N OVA A RT IGA S


Este trabalho aborda as transformações nos modos de vida do século XXI, fruto de um contexto político, social, econômico e cultural singular, além de buscar enfatizar a importância de se viver em comunidade como proposta de solução para as principais problemáticas inauguradas com os estilos de vida contemporâneos, relacionando-se, de forma geral, com a dinâmica da economia compartilhada. Neste cenário, é primordial que se tenha a compreensão e o conhecimento histórico da evolução das habitações compartilhadas, permitindo a elaboração de uma proposta readequada à realidade mais atual. Neste sentido, busca-se entender o significado do termo “coliving” e a sua origem, exemplificando com edificicações no Brasil e no exterior, analisando escalas, aspectos físicos, peculiaridades, dando atenção à qualidade e eficiência do conceito aplicado. Diante do exposto, a presente pesquisa serve como base para a confecção de proposta arquitetônica de um edifício de uso misto na cidade de Vila Velha/ES, no bairro Praia da Costa, com a aplicação do conceito do coliving.

Palavras-chave: Coliving. Economia compartilhada. Habitação Contemporânea. Modos de vida contemporâneos.

RESUMO


This paper addresses the transformations in the ways of life of the 21st century, the result of a unique political, social, economic and cultural context, in addition to seeking to emphasize the importance of living in community as a solution proposal for the main problems inaugurated by the contemporary styles of life, relating, in general, to the dynamics of the shared economy. In this scenario, it is essential to have the understanding and historical knowledge of the evolution of shared housing, allowing the elaboration of a proposal adapted to the most current reality. In this sense, we seek to understand the meaning of the term “coliving” and its origin, exemplifying with buildings in Brazil and abroad, analyzing scales, physical aspects, peculiarities, paying attention to the quality and efficiency of the applied concept. Given the above, the present research serves as a basis for making an architectural proposal for a mixed-use building in the city of Vila Velha/ES, in the Praia da Costa neighborhood, with the application of the coliving concept.

Keywords: Colliving. Shared economy. Contemporary Housing. Contemporary ways of life.

ABSTRACT


S UM ÁRIO

1 2 3

I NTROD UÇÃO

H ABITAÇÃO CO NT EM PO RÂNEA

1. 1 OB JETIVOS

21

1.1.1 OBJETIVO G ERAL

21

1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

21

1. 2 JUSTIF ICATIVA

22

1. 3 M ETOD OLOG I A

22

1. 4 ESTRUTURA D O TRAB ALH O

23

2.1 O IMPACTO DA S A LT ER AÇÕ ES S O CI A IS E FA MIL I A R ES N A H A BITAÇÃO

CO LIVING

26

2.2 A IMPO RTÂ NCI A DE V IV ER EM CO MUNIDA DE

28

2.3 A INFLUÊNCI A DA ECO NO MI A CO MPA RT IL H A DA N A H A BITAÇÃO

30

3.1 O Q UE É CO L IV I NG ?

36

3.2 MO R A DI A S CO LE TI VA S

37

3 . 2 . 1 E C OV I L A

38

3 . 2 . 2 K I B UTZ

39

3 . 2 . 3 C O H O US I NG

40

3.3 HIS TÓ R I A DO C OLI V I NG

42

3.4 A A R Q UIT ET UR A D O CO L IV ING

43

3.5 O PA PEL DA T EC NOLOG I A NO CO L IV ING

47


4

6

5

ES T U D O D E C A S O

PROPOS IÇÃO PRO JET UAL

CO NSIDERAÇÕ ES FIN AIS

4 . 1 C I NE T E AT RO P RESID ENTE

50

5. 1 CONTEX TO DA Á R EA D E ESTUDO

80

4 . 2 LOA D D S ÃO J UDAS

56

5.1.1 AN ÁLI S E DO E NTO R NO

88

5.1.2 AN ÁLI S E DA S

92

4 . 3 LT J OS A I

62

CON DICION A NTE S A M BI E NTA I S 5.1.3 AN ÁLI S E DA S

4 . 4 A M ATA

70

138

96

CON DICION A NTE S LE G A I S

5. 2 PROPO S TA A R Q UIT ETÔ NICA

98

5.2.1 DEFIN I Ç ÃO DO P R O G R A M A

98

5.2.2 DEFIN I Ç ÃO DO C O N C E ITO

99

5.2.3 PARTI DO A R Q UITE TÔ NI C O

103

REFERÊNCI AS

140


LISTA DE FIGURAS F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA

1 - TH E SPIRAL M USE, P RIMEIR O ES PAÇO DE T R A BA L HO CO MPA RT IL H A DO O FICI A L MENT E R EGI S TRA D O 2 - DAD OS D O OB SERVATÓR IO GLO BA L DE S AÚDE (GHO ) 36 3 - ECOVIL A F IN D H ORN , ESCÓ CI A 38 4 - KIB UTZ, ISRAEL 39 5 - H AB ITANTES D O COH O US ING S ÆT T EDA MMEN CO MPA RT IL H A NDO A Á R EA EM CO MUM 40 6 - COH OUSING SÆT TEDA MMEN, DIN A M A R CA 40 7 - INTERIOR D O COH OUSING WINDS O NG, CA N A DÁ 41 8 - COH OUSING WIND SONG, CA N A DÁ 41 9 – CASA G AP, COREI A D O S UL 43 10 - PL ANTA BAI XA CASA GA P, CO R EI A DO S UL 44 11 - AM B IENTE D E COM PA RT IL H A MENTO INT ER NO CA S A GA P, CO R EI A DO S UL 44 12 – TH E COLLECTIVE OLD OA K, LO NDR ES 45 13 - TH E COLLECTIVE OLD OA K, LO NDR ES 46 14 - QUARTO D O ED IF ÍCIO T HE CO L L ECT IV E O L D OA K, LO NDR ES 46 15 – IM AG EM 3D D O ED IF ÍCIO CINE T EAT R O PR ES IDENT E, PO RTO A L EGR E 51 16 - ED IF ÍCIO CINE TEATR O PR ES IDENT E, PO RTO A L EGR E 52 17 – COWORKIN G D O ED IFÍCIO CINE T EAT R O PR ES IDENT E, PO RTO A L EGR E 52 18 - PL ANTA BAI XA STUD IO GA R DEN, CINE T EAT R O PR ES IDENT E, PO RTO A L EGR E 53 19 - PL ANTA BAI XA STUD IO CO M S ACA DA , CINE T EAT R O PR ES IDENT E, PO RTO A L EGR E 54 20 - PL ANTA BAI XA STUD IO, CINE T EAT R O PR ES IDENT E, PO RTO A L EGR E 54 21 – ED IF ÍCIO LOAD D SÃO JUDA S 57 22 - L AVAND ERI A COM PART IL H A DA NO EDIFÍCIO LOA DD S ÃO JUDA S 58 23 - PL ANTA BAI XA STUD IO 65M² DO EDIFÍCIO LOA DD S ÃO JUDA S 59 24 - PL ANTA BAI XA STUD IO 25M² DO EDIFÍCIO LOA DD S ÃO JUDA S 59 25 – ÁREA EXTERN A LT JOS A I, JA PÃO 63 26 - QUARTO LT JOSAI 6 4 27 - ÁREA D E CONVIVÊNCI A INT ER N A LT JO S A I 65

F IG URA 28 - PAVIM ENTO TÉRREO DO EDIFÍCIO LT JO S A I 66 F IG URA 29 - PRIM EIRO PAVIM ENTO DO EDIFÍCIO LT JO S A I 66 F IG URA 30 - SEG UND O PAVIM ENTO DO EDIFÍCIO LT JO S A I 67

32


FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA

31 32 33 34 35 36 37 38 39

-

E NT RADAS D O ED IF ÍCIO AM ATA 71 C ORT E ESQUEM ÁTICO D O ED IF ÍCIO AM ATA 73 E S QUE M A 3D D O ED IF ÍCIO AM ATA 74 PL A NTA BAI XA PAVIM ENTO TÉRREO D O EDIFÍCIO A M ATA 75 PL A NTA BAI XA 1° PAVIM ENTO D O ED IF ÍCIO A M ATA 75 LOC A L IZ AÇÃO D O TERREN O 81 F OTOS D O TERRENO 85 M A PA DE ATRATIVOS DA ÁREA D O TERRENO 89 A N Á LI S E D O USO D O SOLO EM UM D I ÂM E T R O DE 1KM DO T ER R ENO 91

FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA FI G URA

40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 56 57 58 59

- A N Á LI S E CLIM ÁTICA D O TERRENO 93 - A N Á LI S E SOL AR D O TERRENO N O VERÃO 94 - A N Á LI S E SOL AR D O TERRENO N O INVERNO 95 - ZONE A M ENTO D O P L ANO D IRETOR M UNIC IPA L DE V IL A V EL H A , L EI 4.575/ 07 - RE G I ÃO D E P RAI A E CALÇADÃO DA PRAI A DA CO S TA 100 - M OODB OARD CONCEITO D O ED IF ÍCIO 1 02 - D I AG RAM A D O P OTENCI AL CONSTRUTIVO M Á X IMO 103 - DI AG R AM A SETORIZ AÇÃO USUAL 104 - D I AG RAM A AB ERTURAS L ATERAIS 105 - D I AG RAM A INSOL AÇÃO 106 - C ORT E DA ED IF ICAÇÃO COM ESP ECIF ICAÇÃO DO T ENS O FACE 107 - D I AG RAM A VOLUM ETRI A E INTEG RAÇÃO V IS UA L 108 - PL A NTA BAI XA SUBSOLO 02 110 – PL A NTA BAI XA SUB SOLO 01 111 - PL A NTA BAI XA TÉRREO 112 - PL A NTA BAI XA 1° PAVIM ENTO 113 - PL A NTA BAI XA 2° PAVIM ENTO 114 - V I S ÃO ISOM ÉTRICA 2° PAVIM ENTO 116 - PL A NTA BAI XA PAVIM ENTO TIP O 115 - I NT E RIOR D O APARTAM ENTO 120 - PL A NTA BAI XA COBERTURA 124

97


F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA F IG URA

60 61 62 63 64 65 66 67 68

-

D ETALH AM ENTO L AJE JA R DIM 125 SECÇÃO A-A 126 VISTA 01 127 VISTA 02 128 ISOM ETRI A D O ED IF ÍCIO 129 ISOM ETRI A D O ED IF ÍCIO 131 FACH ADA DA RUA IN ÁCIO HIGINO 132 FACH ADA DA RUA IN ÁCIO HIGINO CO M V IS ÃO DO O BS ERVA DO R FACH ADA DA AV. CH AMPAGN AT CO M V IS ÃO DO O BS ERVA DO R

134 135


LISTA DE TABEL AS TA B E L A TA B E L A TA B E L A TA B E L A

1 2 3 4

-

I NF ORM AÇÕES I NF ORM AÇÕES I NF ORM AÇÕES I NF ORM AÇÕES

G ERAIS G ERAIS G ERAIS G ERAIS

CINE TEATRO PRESIDENT E, PO RTO A L EGR E D O ED IF ÍCIO LOAD D S ÃO JUDA S 60 LT JOSAI 68 AM ATA 76

55



INTRODUÇ ÃO 1.1 O B JET I VO S

20

1 .1 .1 OB J E T I VO G ERAL

21

1 .1 .2 OB J E T I VOS ESPECÍF ICOS

21

1.2 JUSTI F I C AT I VA

22

1.3 M ETO D O LO GI A

22

1 .4 ESTR UT UR A D O T R A B A L HO

23

1


1

INTRODUÇÃO

O século XXI experimenta mudanças drásticas com a chegada de novos modos de se viver, específicos e adaptados ao contexto político, social, econômico e cultural contemporâneos. Tais mudanças ocorrem por fatores como o desenvolvimento tecnológico, a inserção da mulher no mercado de trabalho, o aumento do número de idosos morando sozinhos, a dificuldade dos jovens em atingir a independência financeira e o crescimento estatístico de novas organizações familiares, constituídas por casais sem filhos, famílias unitárias, casais homoafetivos, famílias monoparentais, casais idosos e famílias reconstituídas após novas uniões. O aumento do sentimento de solidão e dos diagnósticos de depressão, por sua vez, são sequelas deixadas por essa nova realidade, cuja culpa imputa-se, principalmente, à tecnologia e às mídias sociais. Dados da FGV (2019) apontam que 42,07% dos jovens brasileiros já estão conscientes de que a tecnologia e o excesso de informações lhes causam tristeza, ansiedade ou depressão, enquanto levantamento realizado pela Universidade de Helsinki, na Suécia e pelo Finnish Institute of Occupational Health, na Finlândia, demonstrou que as pessoas que moram sozinhas tem 80% mais chances de alcançar a depressão do que aquelas que moram com outros indivíduos. Neste cenário inédito e conturbado, questiona-se, pois, como a arquitetura poderia intervir positivamente na qualidade de vida do indivíduo no século XXI. Nesse contexto o coliving surge como uma solução habitacional contemporânea, fundada nos princípios da economia colaborativa, do compartilhamento do espaço e do senso de comunidade, pelo que passa a se desenvolver no presente estudo.

20


1.1

OBJETIVOS

1.1.1 OBJETIVO GERAL Na esfera maior, o objetivo do presente estudo é de se aprofundar no conceito de coliving, permitindo o ensejo de uma alternativa realista e palpável de projeto arquitetônico para o contexto da cidade de Vila Velha/ES que mitigue os impactos das mudanças sociais nas estruturas familiares e da propagação da solidão e da depressão em âmbito, no mínimo, regional.

1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Os objetivos específicos são: compreender o instituto familiar e os impactos das suas alterações na habitação; problematizar os modos de vida contemporâneo; entender os benefícios de viver em comunidade; caracterizar o conceito de economia compartilhada; investigar os modelos de moradia compartilhada pré-existentes; explorar o conceito de coliving; analisar exemplos arquitetônicos de habitações compartilhadas existentes caracterizadas como coliving; propor um projeto arquitetônico de um edifício que se utilize do conceito e princípios do coliving na cidade de Vila Velha/ES.

21


1.2

JUSTIFICATIVA

Percebendo o vício do mercado imobiliário de se empenhar na construção de residências “padrões”, direcionadas aos moldes da família tradicional, surge uma incógnita relativa ao atendimento do novo consumidor, inserto no já transformado cenário social e familiar. Ademais, é de conhecimento público a situação populacional na zona urbana, que, além de ter experenciado aumentos significativos nos últimos anos, ainda possui previsão de crescimento de mais 6% até 2030 (WHO, 2015). A realidade do jovem recém-formado à margem do mercado de trabalho e do mercado imobiliário tem mérito na seleção do tema, principalmente pela dificuldade de se encontrar imóveis de boa qualidade e versatilidade com valor acessível e potencial de aproximação social. O que se propõe a estudar pode vir a representar um forte alívio e pontuar uma resposta ainda mais sólida sobre o melhor investimento residencial para as novas realidades, além de demonstrar, através de projeto arquitetônico específico, os fundamentos e benefícios práticos do coliving na cidade de Vila Velha/ES. O estudo acompanha a evolução da sociedade em conjuntura com a arquitetura, e assim o faz para destacar as características mais influentes dessa naquela, até chegar ao ponto em que será plausível afirmar que, sim, é possível oferecer residências inovadoras, capazes de superar os modelos tradicionais.

1.3

METODOLOGI A

Apesar dos seus inúmeros benefícios, o coliving ainda é conceito pouco explorado na região metropolitana do Estado do Espirito Santo, além de carecer de material acadêmico de referência. O árduo trabalho de compreender o conceito do objeto central e desenvolver um projeto adequado não seria possível sem o uso do método de pesquisa descritiva, compilando informações e referências bibliográficas acerca do tema em livros, artigos, teses, palestras, sites, blogs e vídeos. Após esse compilado de informações, foram realizados estudos de caso através da análise de modelos de coliving consolidados no Brasil e no

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exterior, entendendo os aspectos práticos, os objetivos, os diferenciais e as demais peculiaridades do modelo. Por fim, foram verificados os documentos necessários à execução do projeto arquitetônico nos moldes pretendidos, tais como: o Plano Diretor de Vila Velha/ES, o Estatuto da Cidade e os mapas do terreno selecionado.

1.4

ESTRUTURA DO TRABALHO

O presente estudo contempla cinco capítulos, divididos da seguinte forma: O primeiro, denominado Introdução, apresenta um panorama geral a respeito do tema principal, discorre sobre sua relevância para a sociedade, externa a metodologia utilizada, o objetivo geral e os objetivos específicos do trabalho. O segundo capítulo busca o entendimento dos reflexos da sociedade moderna e dos novos arranjos familiares na habitação, comprovando, na sequência, que o convívio em comunidade é algo que a humanidade observa há anos como necessidade além de discorrer a respeito da economia compartilhada, apresentar seu conceito, citar exemplos práticos e apontar seus efeitos. O capítulo três aborda a essência do coliving, apresentando-o como uma alternativa habitacional para as novas configurações familiares do século XXI, a começar pela compreensão dos tipos de moradia coletiva que o antecederam, acompanhado dos devidos destaques históricos e explicações em torno do seu funcionamento. Mais adiante, no mesmo tópico três, disserta-se um pouco acerca da história do coliving, suas vantagens e características arquitetônicas, sem abandonar a relação da tecnologia com as habitações que adotam o conceito de coliving. No capítulo quatro é apresentado estudo de caso sobre o tema central no contexto nacional e internacional, procurando analisar seus aspectos físicos e delinear os mais diversos tipos de configurações já vistos. No capítulo cinco o aspecto projetual do estudo ganha espaço com o recorte de área, despontando na análise da região propriamente selecionada, das atividades no entorno, do fluxo de pedestres e veículos, assim como as condicionantes legais e diretrizes de implantação. Superada a análise executiva e de viabilidade, será definido o partido e conceito arquitetônico conforme o programa de necessidades, setorizações e diretrizes projetuais. Ao final, segue a conclusão juntamente com as referências bibliográficas utilizadas para dar base teórica ao trabalho.

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H AB ITAÇ ÃO C O NT EM PO RÂ NE A 2.1 O IM PACTO DA S ALTER AÇ Õ E S S O C I A I S E FAM ILI AR E S N A H A B ITAÇ ÃO

26

2.2 A IM PO RTÂ NC I A D E V I V E R E M C O M UNIDA D E

28

2.3 A INFLUÊ NC I A DA EC O NO M I A C O M PA RT I L H A DA N A H ABITAÇ ÃO

30

2


2

H ABITAÇÃO CONTEMPORÂNEA

2.1

O IMPACTO DAS ALTERAÇÕES SOCI AIS E FAMILI ARES N A H ABITAÇÃO

Antes de se adentrar ao conceito do objeto do presente estudo e suas aplicações, é primordial que sejam destacadas as condições que induziram a humanidade a um novo modo de vida, característico do século XXI, fruto de um contexto político, social, econômico e cultural singular. Dentre essas condições, pode-se destacar o desenvolvimento tecnológico como um agente de grandes transformações no espaço social. É inegável que a introdução dos aparelhos celulares, computadores, internet e outras tecnologias, trouxeram inúmeros benefícios para a humanidade, principalmente com a evolução da telecomunicação e o fácil acesso à informação. Não obstante, é notável como a tecnologia participa no processo de adaptação e evolução das rotinas, principalmente com a introdução de aparelhos eletrônicos que auxiliam nas atividades domésticas e o próprio trabalho em casa (home office). Neste cenário, percebe-se que a sociedade contemporânea vem se tornando ainda mais individualista, limitando grande parte do seu tempo de interação social às plataformas digitais. Dados do IBGE (2021) indicam que 82,7% dos domicílios brasileiros já possuem acesso à internet, enquanto, paralelamente, 41% (FGV, 2019) dos jovens brasileiros afirmam que a tecnologia e o excesso de informações lhes causam tristeza, ansiedade ou depressão, revelando que a internet e as tecnologias também possuem uma face preocupante. Outro fator de grande impacto para a realidade contemporânea é a inserção da mulher no mercado de trabalho, tendo em vista que em muitos períodos da história a figura feminina se limitou à função de mãe, esposa, permanecendo dentro de casa com seus filhos, familiares e escravos. Contudo, de acordo com Oliveira (2012), com a Revolução Industrial, as mulheres adquiriram a função de mão de obra secundária em fábricas, algo vantajoso para os empresários visto que elas aceitavam salários muito inferiores ao dos homens. A dificuldade em conciliar as longas jornadas de trabalho com os afazeres domésticos impossibilitava que as mulheres revelassem todo o seu potencial, sendo que a forma encontrada por elas para contornar isso foi adiar o desejo de maternidade para antes de tudo, ganhar espaço no mercado de trabalho. Os dados do Censo Demográfico do IBGE (1950;2010) mostram que no período entre 1950 e 2010 houve uma evolução considerável da participação da mulher no mercado de trabalho, crescendo de 13,6% para 49,9%, desencadeando importantes mudanças estruturais no conceito de família. De acordo com Liziane de Oliveira Jorge (2012), inúmeros fatores concorreram para essas mudanças na organização familiar, alguns se mostrando

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com maior frequência e destaque do que outros, tais como o aumento de divórcios, queda na taxa de fecundidade, recasamentos, aumento do individualismo e liberdade da modernidade, propiciando uma pluralidade de arranjos familiares como casais homossexuais, famílias unitárias, famílias monoparentais, casais sem filhos, casais idosos e famílias reconstituídas após novas uniões. O cenário contemporâneo normalizou a ideia de que constituir uma família, ter um parceiro e filhos é uma escolha e não uma obrigação. No escopo internacional, Liziane de Oliveira Jorge (2012) indaga que se pode dizer que a idealização de um estilo de vida perfeito ganhou destaque após as Primeira e Segunda Guerras Mundiais, com o programa chamado “American Way Of Life’’. Este modelo de comportamento americano caracterizava-se pela exaltação de uma dona de casa glamorosa, inúmeros eletrodomésticos, filhos obedientes, um automóvel da geração Ford e uma casa impecável sustentada pela figura patriarcal. Implementado para mascarar os horrores das guerras, esse sistema que refletia a visão da família tradicional pregava o alcance da felicidade através dos bens materiais, induzindo um novo estilo de vida através de objetos modernos, funcionais, futuristas e com a exclusão dos adornos. Após a superação desta ideologia, é necessário que haja adaptações nas habitações para as relações afetivas presentes na atualidade, que possam proporcionar a inserção da diversidade de tipos de indivíduos, que seja adaptável e que garanta a singularidade de cada espaço. Ocorre que, o mercado imobiliário insiste em oferecer moradias que atendam apenas às famílias tradicionais (casais heterossexuais com filhos), ainda que o perfil dos consumidores atuais seja diversificado. Dados do IBGE (2007; 2010) comprovam que houve uma evolução considerável nos arranjos familiares residentes em domicílios particulares no Brasil entre 1996 e 2009. Se comparado com “casal sem filhos”, “mulher sem cônjuge com filho” e “unipessoal”, o arranjo “casal com filhos” ainda se sobressai, porém o percentual que era de quase 60% em 1996, cai para 47,3% em 2009. Não bastasse, o somatório da presença dos outros modelos já corresponde a mais da metade do mercado consumidor. Ao observar a participação da classe de “casais sem filhos” nota-se um aumento de 4,3% em relação ao ano de 1998, dado diretamente relacionado à queda na taxa de fecundidade total, que em 1980 era de 4,4 filhos por mulher e em 2009 passou a ser de 1,94 filhos por mulher (SABOIA; COBO; MATOS, 2012). Noutro giro, os avanços tecnológicos na área da saúde permitiram a produção de uma variedade de medicamentos, tais como os destinados ao controle de fecundidade, e suplementos, ou repositores, responsáveis pela melhora na qualidade de vida, especialmente dos idosos.

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No Brasil, a população idosa representa a maior parte das pessoas que moram sozinhas. Dados da PNAD (2009) mostram que as residências com apenas um morador passaram de 10,04% em 2004 para 12% em 2009. Conforme a análise da demógrafa e técnica de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do IPEA, Ana Amélia Camarano, há uma tendência de as pessoas morarem sozinhas, sendo as principais causas o envelhecimento, os divórcios e, por fim, as mudanças de valores (IPEA, 2010). O crescimento e maior aceitação social dos casais homoafetivos é outro motivo que ajudou a descontruir o conceito tradicional de família. Em maio de 2011, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável entre casais homoafetivos no Brasil fazendo com que os casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo tivessem um aumento de 61,7% se comparado ao ano anterior, de acordo com as Estatísticas de Registro Civil (2018). Outros fatores apontados por Liziane de Oliveira Jorge (2012) que alteram a composição familiar são: “A dificuldade em adquirir a independência financeira, a relutância em abandonar as comodidades do lar de origem, os investimentos crescentes em escolaridade e o próprio retorno dos filhos maduros ao lar parental”. A sociedade está, portanto, exposta a transformações intensas em sua estrutura, revelando o aspecto de necessidade e essencialidade de um novo conceito habitacional e uma nova configuração do espaço residencial capazes de abrigar os diferentes tipos de arranjos familiares decorrentes delas.

2.2

A IMPORTÂNCI A DE VIVER EM COMUNIDADE

Há cerca de dez mil anos atrás, no período neolítico, os seres humanos deram início às atividades agrícolas, permitindo que ficassem por mais tempo em lugares específicos e desenvolvendo um sedentarismo que ultrapassou em número e qualidade o estilo de vida nômade. Com esse avanço, vieram melhorias no estilo de vida, como a construção de habitações e meios de transporte, além de impactos nas organizações sociais, como a divisão de tarefas e a manifestação de clãs e grandes famílias. A partir dessa evolução, o homem percebeu que viver em sociedade estimula o progresso, amplia as capacidades defensivas do conjunto e, igualmente, as capacidades ofensivas, tornando-se uma necessidade face a vulnerabilidade em relação às outras espécies.

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Dalmo Dallari (2014, p. 13) salienta que: “as pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano, durante muito tempo, necessita de outros para conseguir alimentação e abrigo”. Mais à frente pondera que a espécie não depende apenas das exigências físicas e materiais, mas sim das de ordem espiritual e psicológica. Os humanos, defende Dallari, demandam dar e receber afeto e não conseguiriam viver sozinhos por muito tempo, contraindo tristeza e solidão. Contudo, essa vivência em grupo também apresenta desafios, tal como lidar com as vontades, ideias e personalidades de outros indivíduos. Na perspectiva do professor e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, Dr. Luís Mauro Sá Martino, “Sobreviver significa viver em sociedade, mas viver em sociedade também é um esforço para conviver com esse outro”. Luís Mauro (2014) afirma que a vivência em comunidade é um dos maiores desafios do ser humano, pois é através dessa relação que são reveladas as características mais profundas de cada pessoa, além dos indivíduos trabalharem com a esperança daquilo que os outros esperam e do que esperam dos outros. Entretanto, quando o coletivo compreende que cada um possui a mesma vontade e a mesma razão, independe a idade, nacionalidade, sexualidade ou plano ético, é a partir desse processo que nasce uma abertura para a alteridade. O que se percebe, no entanto, é que esse cenário não se faz presente no mundo moderno, principalmente em razão das transformações sociais inauguradas com as conexões digitais. Em seu livro “Teoria das Mídias Digitais” (2014), Luís Mauro questiona o porquê de as pessoas buscarem o contato pelas mídias sociais quando poderiam se relacionar com quem está fisicamente presente. Com base em Alone Together (2011), último volume da trilogia a respeito da discussão que envolve a conexão entre as relações sociais e tecnologia da pesquisadora norte americana Sherry Turkle, Mauro justifica que o real motivo é que o convívio virtual possibilita a proximidade, porém com um certo distanciamento. No entendimento de Sherry Turkle (2011), a tecnologia oferece três fantasias gratificantes, a de que é possível concentrar a atenção apenas nos elementos desejados, que as pessoas serão sempre ouvidas e a sensação de que a solidão não existirá. E através dessa ferramenta, os indivíduos possuem um controle maior a respeito das informações compartilhadas com seus interlocutores, como a escolha das fotos e a descrição pessoal, escolhas que seriam difíceis de manter pessoalmente. Sherry Turkle (2011) revela que o medo humano de criar vínculos próximos torna propício o uso das redes sociais, pois ela elimina as dificuldades de interação existentes no cotidiano. No entanto, a tecnologia cria uma ilusão de proximidade e companhia, fazendo necessário o equilíbrio entre a vida virtual e física para evitar a solidão coletiva.

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O modelo residencial de coliving proporciona essa integração entre físico e virtual, uma vez que possibilita a interação social entre usuários através de seus ambientes compartilhados e se torna indispensável o uso da tecnologia para que o espaço funcione com êxito. Ryan Fix (2017), cofundador do PUREHOUSE LAB pondera que não é fácil a construção de um espaço de convivência compartilhada. Para que essa interação ocorra com eficácia entre os moradores, é necessário ter habilidades de comunicação, fazer a implementações de design e possuir técnicas de onboarding, além de promover eventos comunitários e criar um espaço seguro para que as pessoas demonstrem suas personalidades, tornando palpável a construção de uma comunidade forte e unida.

2.3

A INFLUÊNCI A DA ECONOMI A COMPARTILH ADA N A H ABITAÇÃO

De acordo com Clay Shirky (2012), o conceito de Economia Compartilhada surge em 1990 nos Estados Unidos para descrever um novo modelo de negócio, centrado no compartilhamento de recursos, bens e serviços, voltado às necessidades de um novo mercado consumidor que ganhou espaço, influência e desconstruiu o tradicional. Na prática, percebe-se que apenas em 2000 o conceito ganhou espaço, em partes, por influência das redes sociais e ampliação do acesso à informação. Alexandre Capozzi, Gusstavo Hayashi e Renata Chizzola (2018, p. 4) lecionam que: “A economia compartilhada (do inglês Sharing Economy) é a prática de dividir o uso ou a compra de serviços facilitada, principalmente, por aplicativos que possibilitam uma maior interação entre as pessoas.” A economia compartilhada possui um viés sustentável e facilita o uso de recursos subutilizados, enquanto, simultaneamente, motiva o sentimento de confiança entre moradores e independência das grandes empresas. A partir da venda e troca informal de bens ou serviços entre cidadãos de uma mesma região, percebe-se que esse novo modelo de negócio auxilia a população economicamente vulnerável no crescimento e participação empresarial e aquece a economia local. Dessa forma, Slee (2017) enfatiza que os indivíduos deixam de ser consumidores passivos e materialistas e passam a serem consumidores ativos que geram impacto em uma comunidade, priorizando a experiência em detrimento da posse. Nesse contexto, podemos citar algumas startups que incentivam o conceito abordado: a Uber, plataforma de mobilidade urbana fundada em 2010

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e responsável por conectar mais de 500 mil motoristas cadastrados a usuários de mais de 600 cidades do mundo (UBER, 2018); a Airbnb, empresa que intermedia serviços de hospedagem para que pessoas do mundo inteiro possam alugar suas próprias casas para viajantes, alternativa a hotéis e pousadas; e a Udemy, plataforma digital com sistema de ensino à distância que comercializa cursos de diversas áreas. Os inúmeros impactos positivos na vida das pessoas que querem empreender, vender ou apenas usufruir de um serviço, fez com que a economia compartilhada se tornasse um modelo de negócio sólido e presente nas temáticas ambientais, culturais e nas atividades relacionadas a alimentação, transporte e hospedagem. Não obstante, a arquitetura, como matéria interdisciplinar que não se limita às estruturas civis, mas que analisa e se transforma em função de fatores sociológicos, culturais e urbanísticos, também foi afetada e respondeu com propostas de espaços compartilhados como coworking e coliving. Segundo o site Coworking Brasil, o termo coworking foi idealizado no ano de 2000 pelo desenvolvedor de jogos norte-americano Bernard DeKoven. A ideia surge como uma proposta de espaço de trabalho inovador, capaz de se sustentar a custos muito inferiores ao do escritório padrão, não só compartilhando o ambiente de trabalho, mas também as despesas com água, luz, internet, aluguel e telefone. Além de ser uma oportunidade para socializar, criar relações profissionais e fazer divulgação do trabalho pessoal. O site aponta que em sua publicação em 26 de outubro de 2000 a respeito do tema, DeKoven conceitua o termo: CoWorking é trabalhar juntos como iguais. É trabalhar sem hierarquia, sem chefes. É o jeito que as pessoas trabalham quando há uma emergência. É devagar, mas é inevitavel que está se tornando a única maneira de trabalhar com eficácia. (DEKOVEN, 2000, apud COWORKING BRASIL, 2021).

Em 2005, após experiencias negativas em ambientes de trabalho e movido pelo desejo de unir independência com estrutura comunitária, Brad Neuberg toma partido de oficializar o termo Coworking. Com isso, nasce o primeiro coworking oficialmente registrado, The Spiral Muse em São Francisco, parte de um centro comunitário direcionado à mulher (CODING IN PARADISE, 2019).

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O modelo residencial de coliving proporciona essa integração entre físico e virtual, uma vez que possibilita a interação social entre usuários através de seus ambientes compartilhados e se torna indispensável o uso da tecnologia para que o espaço funcione com êxito. Ryan Fix (2017), cofundador do PUREHOUSE LAB pondera que não é fácil a construção de um espaço de convivência compartilhada. Para que essa interação ocorra com eficácia entre os moradores, é necessário ter habilidades de comunicação, fazer a implementações de design e possuir técnicas de onboarding, além de promover eventos comunitários e criar um espaço seguro para que as pessoas demonstrem suas personalidades, tornando palpável a construção de uma comunidade forte e unida.

Figura 1 - The Spiral Muse, primeiro espaço de trabalho compartilhado oficialmente registrado Fonte: Coding Paradise, 2021

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33



COL IVIN G 3.1 O Q UE É C O L I V I NG?

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3.2 M O R AD I A S C O L E T I VA S

37

3 .2 .1 E C OV I L A

38 39 40

3 .2 .2 K I B UT Z 3 .2 .3 C OH OUS ING

3.3 H ISTÓ R I A D O C O L I V I NG

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3.4 A AR QUIT E T UR A D O C O LIVIN G

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3.5 O PAP E L DA T E C NO LO GI A NO C O LIVING

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3


3 3.1

COLIVING O QUE É COLIVING?

Estudo da WHO (World Health Organization) sobre o crescimento populacional urbano identificou que em 2015, 54% da população mundial se encontrava na zona urbana, e prevê esse dado alcançando os 60% em 2030 (WHO, 2015). Observando a tendência encontrada pelo estudo acima, a Space10 realizou pesquisa quantitativa específica com mais de 14.000 pessoas, entre homens e mulheres de 18 a 39 anos de 147 países da Europa, América do Norte e Ásia, a “One Shared House 2030” (SPACE10, 2018), respondendo questionários sobre como gostariam de conviver e o que estariam dispostas a compartilhar. O resultado da pesquisa surpreende ao revelar que a economia financeira não é a principal motivação pela vida compartilhada, e sim o potencial de socialização que o modelo traz. Por outro lado, é notório como a falta de privacidade ganhou destaque como principal aspecto negativo do modelo. Ou seja, a maioria está disposta a compartilhar internet, jardins e espaços de trabalho, mas compartilhar quartos, banheiros e mantimentos ultrapassa os limites. Outra descoberta interessante é que os questionados preferem viver com pessoas de origens e idades diferentes (SPACE10, 2018). Perante os resultados da pesquisa apresentada e levando em consideração as novas formas de família, necessidades e prioridades inauguradas nos últimos anos, é razoável que se desenvolva um novo modelo habitacional capaz de atender as particularidades de cada demanda através da economia compartilhada.

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Figura 2 - Dados do Observatório Global de Saúde (GHO) Fonte: World Health Organization, 2018


De acordo com o dicionário de Cambridge, co-living significa: A prática de viver com outras pessoas em um grupo de casas que incluem algumas instalações compartilhadas (áreas, quartos, equipamentos ou serviços para atividades especificas): Co-living é uma nova forma para pessoas de viver em cidades, focado na comunidade e comodidade. Co-living oferecidos por nossos apartamentos é perfeito para jovens profissionais. (CAMBRIDGE DICTIONARY, 2021, on-line)

Flurin, Simondi e Fix (2018) definem esse novo modelo de habitação como: “qualquer espaço de vida compartilhado que melhore a qualidade de vida de seus moradores”. Este novo conceito busca o senso de pertencimento social através da habitação, formaliza uma ideia que vagava despretensiosamente e surge como uma possível solução para os problemas enfrentados na atualidade.

3.2

MORADI AS COLETIVAS

Para McCamant e Durrett (2011), moradia compartilhada não é um conceito novo na arquitetura, rememorando que habitações ocupadas por pessoas de fora do núcleo familiar, tais como criados, serviçais e parentes distantes, já existiam na Idade Média e ainda no século XX, era comum encontrar vilas e vizinhanças com moradores extremamente unidos. Fato é que as opções de modelos habitacionais aumentaram e a tripartição burguesa¹ , caracterizada pela divisão sintética de área social, íntima e de serviço, perde espaço para os novos modelos de habitação compartilhada que não seguem o padrão, por exemplo, o Kibutz, cohousing, coliving e as ecovilas.

¹ Um estudo sobre a tripartição dos setores dos apartamentos em João Pessoa. https://documentcloud.adobe.com/link/review?uri=urn:aaid:scds:US:f67cf167-9475-4268-8f65-163a66db8fee#pageNum=1

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3.2.1 ECOVILA

Judit Farkas (2017) destaca que na década de 1970 os movimentos ambientalistas receberam muita atenção, desencadeando uma mobilização global em prol da existência autossustentável. Como reflexo direto desses movimentos, a busca pela economia energética tornou-se tema relevante nas novas idealizações habitacionais, o que pode ser observado no surgimento das primeiras tentativas de vilas sustentáveis. Em 1990 a ideia ganhou usabilidade e passou a carregar o nome de “ecovila”. Graham Meltzer (2005) conceitua as ecovilas como comunidades para pessoas de propósitos similares em busca de uma vida melhor para elas e suas famílias, além de destacar-se pela profunda integração com a natureza, pela escala humana de suas construções, pelo apoio ao crescimento humano saudável e pela sustentabilidade, sendo mais comumente encontradas em extensas zonas rurais.

Figura 3 - Ecovila Findhorn, Escócia Fonte: Findhorn Ecovillage, 2021

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3.2.2 KIBUTZ

Os Kibutz, por sua vez, se revestem de ideais socialistas, se organizando de forma favorável a uma distribuição uniforme da renda, desencorajamento da propriedade privada e disponibilização de refeitórios, residências e instituições de ensino coletivas, além de incentivar a agricultura e produção própria. Segundo Ran Abramitzky (2011), há relatos do estabelecimento de Kibutzim datados de 1930 e 1940, pouco antes da criação do estado de Israel, apontado imigrantes judeus como os responsáveis pela fundação desse modelo em busca da constituição de um “novo ser humano”, que se importa mais com o grupo do que com si mesmo, rejeitando o capitalismo e tomando por base o marxismo.

Figura 4 - Kibutz, Israel Fonte: Estudos sobre tudo. Kibutzim, 2011

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3.2.3 COHOUSING

Mais à frente, entre 1960 e 1970, buscando aliviar as sequelas sociais da era pós-industrial, surge na Dinamarca a bofællesskab, que em tradução livre quer dizer “comunidade viva”, formatada para estimular o relacionamento entre vizinhos e suprir as necessidades de grupos familiares específicos com relação às habitações existentes até então. Surge naquele cenário o Sættedammen² , um complexo habitacional de 27 casas com ampla área comum, projetado pelos arquitetos Theo Bjerg e Palle Dyreborg (SAETTEDAMMEN).

Figura 5 - Habitantes do cohousing Sættedammen na área em comum

Figura 6 - Cohousing Sættedammen, Dinamarca

Fonte: Sættedammen, 2021

Fonte: Introduction to Co-housing in Denmark,2021

² Sættedammen. Disponível em: <http://www.xn--sttedammen-d6a.dk/>. Acesso em: 10/05/2021

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O The Cohousing Company destaca que em meio aos estudos dos arquitetos norte-americanos Charles Durrett e Kathryn McCamant a expressão dinamarquesa foi traduzida para cohousing e apresentado para os Estados Unidos através do livro “Cohousing: A Contemporary Approach to Housing Ourselves”. O termo é utilizado pelos arquitetos para descrever um estilo de moradia alternativo face as opções mais comuns e engessadas, algo mais indicado para pessoas que se inspiram em pequenas cidades e vilas tradicionais e que buscam viver em comunidade ou avaliar de uma melhor qualidade de vida. No Canadá, a referência de cohousing é o WindSong (WINDSONG, 2021), empreitada que evolui desde 1996 e já conta com 34 casas, tanto individuais quanto comuns, que criam o contexto ideal de socialização através de noites de filme, eventos esportivos, show de talentos e celebrações culturais.

Figura 7 - Interior do cohousing WindSong, Canadá

Figura 8 - Cohousing WindSong, Canadá

Fonte: WindSong Cohousing Community, 2021.

Fonte: WindSong Cohousing Community, 2021

Graham Meltzer (2005) distingue o cohousing da ecovila e do Kibutz, ao destacar o pragmatismo, o realismo e o urbanismo do primeiro, que se aproveita dos recursos disponibilizados para finalidades sociais e econômicas, e não ambientais como nos outros dois.

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3.3

HISTÓRI A DO COLIVING

Emergente do cohousing, o movimento coliving surge como uma proposta análoga adaptada para os grandes centros urbanos. Pelos dois movimentos compartilharem semelhanças, é essencial o apontamento de algumas de suas diferenças, evitando, por fim, a confusão futura. O cohousing se assemelha a um pequeno condomínio privado, onde em um mesmo terreno, cada indivíduo possui a sua própria casa completa, porém dividem espaços como lavanderia, cozinha, jardim e áreas de lazer, além dos moradores terem uma participação mais ativa nas decisões e planejamentos da comunidade. Tem como principal objetivo incentivar a economia de recursos naturais e a socialização. No coliving, as pessoas moram numa mesma casa ou prédio, porém, cada um possui o seu espaço individual, normalmente quarto, banheiro e cozinha reduzida e também dividem espaços de uso comum, como lavanderia, cozinha, sala de estar, escritório e academia, porém, os moradores tem uma participação passiva em relação ao desenvolvimento do espaço, deixando o planejamento para terceiros. Seu objetivo principal é a interação social e a praticidade fornecida pelo compartilhamento. O site Space10 (SPACE10, 2017) destaca que ele teve sua origem nos Estados Unidos com as startups Pure e Common, que se inseriram no mercado com o objetivo de promover a sociabilidade e a comodidade do compartilhamento de propriedades. Nascida no Brooklyn em 2012, a empresa Pure foi vanguardista no movimento. De acordo com seu site, em 2016 criaram o Co-Liv, uma associação industrial que abrange os sentidos da moradia compartilhada. Atualmente possuem mais de 500 membros. Segundo Ryan Fix, fundador e diretor criativo da startup: “Se a desconexão é a fonte do sofrimento humano, a conexão é a chave para prosperar”. (PURE, 2021) Já a Common (COMMON, 2021), é uma rede de imóveis que projeta, aluga, e gerencia propriedades multifamiliares. Fundada em 2015 por Brad Hargreaves, é também umas das pioneiras em habitações compartilhadas e é composta por 50% coliving e 50% unidades convencionais presente em diversas cidades dos Estados Unidos, dentre elas está New York, Chicago, San Francisco, Seattle, Philadelphia, Jersey City, Los Angeles, Fort Lauderdale e Washington, DC. A premissa desse movimento é fugir do tradicional ambiente individualista dos condomínios fechados e construir habitações nas quais os residentes possam dividir o espaço e as responsabilidades. O ato de dividir, por sua vez, propicia um ambiente oportuno para escapar dos aspectos negativos da globalização e da tecnologia, alimentando o senso de comunidade e aprimorando a qualidade de vida dos usuários, adicionando uma dinâmica maior dentro da comunidade, através de colaboração e troca de serviços.

42


3.4

A ARQUITETURA DO COLIVING

O coliving pode se manifestar de formas diferentes a depender do lugar em que é inserido desde que a sua essência, o foco no convívio comunitário e no compartilhamento de espaços, seja mantida. Entre as configurações mais comuns do coliving percebe-se um espaço individual para cada usuário ou família, constituído por um quarto que pode ser integrado ou não a um banheiro, cozinha de dimensões e funções reduzidas, varanda e sala de estar, agregados a outras áreas independentes e de uso comum, como: academia, cozinha equipada, coworking, spa, sala de jogos, cinema, cafeteria, biblioteca e lavanderia. Projetada pelos arquitetos Archihood WXY (ARCHIHOOD WXY, 2021), a Casa Gap é um exemplo de coliving que surge com a intenção de suprir uma demanda por alojamentos estudantis, dada a vasta concentração de universidades na região. Localizada em Bokjeongdong, Coreia do Sul, o edifício possui 596m² e tenta estabelecer o equilíbrio entre o privado e o compartilhado. O empreendimento conta com 17 quartos privados, 1 loja e espaços compartilhados que fundamentam o conceito de moradia compartilhada, como varandas, banheiros, jardins, áreas de estar e cozinha.

Figura 9 - Casa Gap, Coreia do Sul Fonte: Archihood WxY: Casa Gap, 2021


Figura 10 - Planta baixa Casa Gap, Coreia do Sul

Figura 11 - Ambiente de compartilhamento interno Casa Gap, Coreia do Sul

Fonte: Archihood WxY: Casa Gap, 2021

Fonte: Archihood WxY: Casa Gap, 2021

Já o The Collective Old Oak (THE COLLECTIVE, 2021) é um edifício hibrido referência em coliving localizado no oeste de Londres, detentor de 550 espaços privativos e uma das maiores variedades de usos do mundo, que variam entre academias, lavanderia, coworking, spa, cozinha, restaurante, sala de jogos, cinema e livraria. Por fornecer moradias de aluguel com uma maior facilidade nos contratos, podendo ser de longo, médio ou curto prazo e por se tratar de um ambiente compartilhado, os preços se tornam mais acessíveis comparado aos existentes no mercado, fazendo-o muito visado por jovens recém formados. Porém, outro público alvo próspero são as pessoas acima de 30 anos que buscam uma moradia que desperte o senso de comunidade, inexistente nas habitações convencionais (ARCHDAILY, 2019).

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A grande vantagem nos empreendimentos de coliving é o sistema de aluguel. Guilherme Aires (KASAS, 2021), integrante do grupo de marketing do primeiro coliving do Brasil, o Kasa Coliving, pondera que não é necessário a existência de um fiador, contrato de vários anos ou um cheque caução na hora da locação, práticas comuns no Brasil. O sistema usado em várias empresas é o payper use (pagou, usou). O grande privilégio é o poder de escolha em relação ao tempo da estadia, a flexibilidade e a facilidade na forma de fazer negócio. A respeito das organizações dos afazeres diários, depende da escala dos empreendimentos. Há uma divisão de tarefas entre os usuários, como as atividades de cozinhar e limpar, porém, se a dimensão do edifício for de larga escala, é habitual que haja o gerenciamento desses serviços por uma empresa privada (PRESSBOOKS, 2017).

Figura 12 - The Collective Old Oak, Londres Fonte: PLP Architecture: The Collective Old Oak London, 2021

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Figura 13 - The Collective Old Oak, Londres

Figura 14 - Quarto do edifício The Collective Old Oak, Londres

Fonte: PLP Architecture: The Collective Old Oak London, 2021

Fonte: PLP Architecture: The Collective Old Oak London, 2021


3.5

O PAPEL DA TECNOLOGI A NO COLIVING

A tecnologia adquire um papel importante no coliving, pois um dos motivos da ascendência do movimento é o potencial de interação social gerado, desafiando os problemas gerados pelo aumento do impacto negativo das redes sociais na vida dos usuários. Uma pesquisa realizada em 2014 em Pittsburgh pelo Ph.D. Brian A. Primack, diretor do Centro de Pesquisa em Mídia, Tecnologia e Saúde de Pitt, constatou que quanto mais tempo um jovem adulto usa as mídias sociais, maior a probabilidade de se sentir socialmente isolado. O cientista da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh utilizou de uma ferramenta de avaliação validada chamada Sistema de Informações de Medição de Desfechos Relatados pelo Paciente, aplicando questionários em 1.787 adultos americanos de 19 a 32 anos para determinar o tempo e a frequência em que utilizam as redes sociais (EUREK ALERT! 2017). A tecnologia viabiliza a captação de novos usuários, dissemina o movimento, facilita o gerenciamento do espaço através de aplicativos para controle do uso das áreas comuns ou simples acesso ao espaço privativo, cria um canal aberto para interação entre moradores e possibilita o compartilhamento de informações entre eles, tornando comum o ato de pedir ajuda a um vizinho quando necessário e externar reclamações ou sugestões (PRESSBOOKS, 2017).

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E S TUD O D E C A S O 4.1 C INE T E AT R O P R E S I D E NT E

50

4.2 LOAD D S ÃO J UDA S

56

4.3 LT JO S A I

62

4.4 AM ATA

70

4


4

ESTUDO DE CASO

O estudo de caso se debruça nos principais tipos e configurações de coliving encontrados no Brasil e no exterior, analisando escalas, aspectos físicos e peculiaridades.

4.1

CINE TEATRO PRESIDENTE

O primeiro projeto sob análise é o Cine Teatro Presidente, localizado na Av. Benjamin Constant em Porto Alegre/RS. O antigo edifício que deu espaço para grandes shows, peças de teatro e filmes, considerado patrimônio histórico pela Prefeitura, recebeu a restauração de sua fachada e ganhou um novo empreendimento atrelado ao existente a fim de voltar a promover grandes encontros (WIKIHAUS, 2021). Concebido pela Wikihaus, o novo empreendimento possui 58 studios de 38 a 70m² com um total de 13 pavimentos e adota o conceito de coliving. Contudo, após as análises iniciais do espaço e das plantas baixas, é evidente que o compartilhamento não é prioridade no edifício, tendo em vista que as unidades individuais (studios) já são equipadas com sala, quarto, cozinha, banheiro, área de serviço e varanda, tornando a utilização das áreas comuns completamente dispensáveis. Para otimizar o espaço dos apartamentos, o empreendimento disponibiliza áreas compartilhadas como coworking, churrasqueira, lavanderia, academia, horta, salão de festas, web space, oficina, espaço pet, parque privativo e piscina, ou seja, espaços maiores para fins de socialização e realização de tarefas cotidianas.

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Figura 15 - Imagem 3D do edifício Cine Teatro Presidente, Porto Alegre Fonte: Wikihaus: Cine Teatro Presidente, 2021

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Figura 16 - Edifício Cine Teatro Presidente, Porto Alegre

Figura 17 - Coworking do edifício Cine Teatro Presidente, Porto Alegre

Fonte: Retirada de Google Earth em: 10/06/2021

Fonte: Cine Teatro Presidente, 2021


Figura 18 - Planta baixa Studio Garden, Cine Teatro Presidente, Porto Alegre Fonte: Wikihaus: Cine Teatro Presidente, 2021

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54

Figura 19 - Planta baixa Studio com sacada, Cine Teatro

Figura 20 - Planta baixa Studio, Cine Teatro

Presidente, Porto Alegre

Presidente, Porto Alegre

Fonte: Wikihaus: Cine Teatro Presidente, 2021

Fonte: Wikihaus: Cine Teatro Presidente, 2021


Porto Alegre - Rio Grande do Sul

ANO

2016/2019

SITUAÇÃO

Construído

SITE

wikihaus.com.br/cineteatro-presidente/

PROGRAMA DE NECESSIDADES C O M PA R T I L H A D O

Web space Parque privativo Salão de festas Academia Bicicletário compartilhado Oficina Espaço pet Lavanderia Piscina Coworking

Presidente, Porto Alegre

Tabela 1 - Informações gerais Cine Teatro

CINE T EATR O PRE SI D E NTE

LOCAL

Área de churrasqueira Horta

55


4.2

LOADD SÃO JUDAS

Outro edifício estabelecido no Brasil é o LOADD São Judas, localizado na Av. Jabaquara em São Paulo/SP. Situado em um terreno de 2.600m², o empreendimento fica próximo ao metrô, a 12 minutos do aeroporto de Congonhas e em frente a pontos de táxi e ônibus (MAC, 2021). Tal como o Cine Teatro Presidente, a construtora e incorporadora MAC promete um projeto com as propostas do coliving, entregando studios de 25m² a 65m². Ao analisar mais esse empreendimento, é perceptível que o termo “inovação” é explorado com abuso e malícia, pois, apesar de se vender com a proposta de coliving, não é possível identificar o apreço ao compartilhamento e muito menos estímulos à coletividade. Tratam-se de apartamentos completos, com dois quartos, dois banheiros, sala, varanda, cozinha e área de serviço, que tornam a interação entre os moradores tão comum quanto a dos edifícios tradicionais. O empreendimento oferece bicicletário, lavanderia, coworking, pub, salão de festas, academia, brinquedoteca, piscina, espaço para meditação, espaço beauty, spa, pet place e área gourmet.

56


Figura 21 - Edifício Loadd São Judas Fonte: Mac: Empreendimentos Loadd, 2021

57


Figura 22 - Lavanderia compartilhada no edifício Loadd São Judas Fonte: Mac: Empreendimentos Loadd, 2021

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Figura 23 - Planta baixa studio 65m² do edifício Loadd São Judas

Figura 24 - Planta baixa studio 25m² do edifício Loadd São Judas

Fonte: Mac: Empreendimentos Loadd, 2021

Fonte: Mac: Empreendimentos Loadd, 2021

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São Paulo – São Paulo

ANO

2019

SITUAÇÃO

Em andamento

SITE

mac.com.br/apartamento-loadd

PROGRAMA DE NECESSIDADES C O M PA R T I L H A D O

Bicicletário Lavanderia Coworking Pub Salão de festas Academia Brinquedoteca Piscina Área de meditação Espaço Beauty

Loadd São Judas

Tabela 2 - Informações gerais do edifício

LOADD SÃO JUDDAS 60

LOCAL

Spa Espaço Pet Área Gourmet


61


4.3

LT JOSAI

O complexo habitacional LT Josai, localizado em Nagoya/Japão conta com dois edifícios em um mesmo terreno. O primeiro concluído em 2013 e o segundo desenvolvido em 2017 especialmente para o compartilhamento residencial (NARUKUMA, 2021). Elaborado pelo escritório de arquitetura Naruse Inokuma Architects, o edifício possui capacidade para 34 moradores que circulam entre seus quartos privativos e áreas comuns, tais como: cozinha, banheiros, jardins e áreas de vivência. Após a análise da planta baixa, o único questionamento que fica é no tocante à usabilidade coletiva dos banheiros, posicionando-os privativamente nos quartos, afim de se entregar uma maior privacidade, sem deixar de priorizar o compartilhamento e socialização em outras áreas. Ressaltase que é uma peculiaridade do Japão o uso coletivo de banheiros para banho e conversa, o que do ponto de vista ocidental pode não ser bem incorporado.

62


Figura 25 - Área externa LT Josai, Japão Fonte: Mac: Narukuma: LT Josai, 2021


Figura 26 - Quarto LT Josai

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Fonte: Mac: Narukuma: LT Josai, 2021


Figura 27 - Área de convivência interna LT Josai Fonte: Mac: Narukuma: LT Josai, 2021

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66

Figura 28 - Pavimento térreo do edifício LT Josai

Figura 29 - Primeiro pavimento do edifício LT Josai

Fonte: Archdaily: LT Josai Shared House, 2021

Fonte: Archdaily: LT Josai Shared House, 2021


Figura 30 - Segundo pavimento do edifício LT Josai Fonte: Archdaily: LT Josai Shared House, 2021

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Tabela 3 - Informações gerais LT Josai

LT JOS AI 68

LOCAL

Nagoya-shi - Japão

ANO

2013/2017

SITUAÇÃO

Concluído

SITE

h t t p s : / / w w w. n a r u k u m a . c o m / l t j o s a i /

PROGRAMA DE NECESSIDADES C O M PA R T I L H A D O

Cozinha Banheiro Jardins Áreas de vivência


69


4.4

AM ATA

O projeto AMATA está em desenvolvimento no bairro Vila Madalena em São Paulo/SP e contará com 4.700m² e 13 andares com usos diversos, entre coworking, coliving, lojas e restaurantes. O edifício é uma parceria entre o escritório de arquitetura Triptyque e a empresa de arborização Amata e traz a madeira com uma proposta inovadora, escolhendo o material para configurar a estrutura do complexo habitacional, devido às suas altas performances estruturais, mecânicas, acústicas e térmicas, além da sua resistência ao fogo e sua sustentabilidade ambiental. De acordo com o site do escritório de arquitetura franco-brasileiro, o projeto tem como proposta a retomada do contato com a natureza, tomando como partido o uso de vegetação em abundância e a madeira como elemento principal, utilizada em lugares visíveis e invisíveis, fornecendo uma experiencia sensorial total (TRIPTYQUE, 2021). O terreno em declive permite que o edifício possua duas entradas, a primeira se situa no ponto mais baixo do terreno, garantido espaços do 5° subsolo ao 1° subsolo apenas de coworking e ao chegar no pavimento térreo, existe a segunda entrada, com um espaço dedicado a restaurantes, cozinha compartilhada e um bar, e do primeiro pavimento a diante estão configurados apenas os quartos para os moradores. O empreendimento é um excelente exemplo de coliving, tanto em estrutura compartilhada quanto na estrutura privativa, visto que cada apartamento fornece um quarto e um banheiro privativo de tamanho ideais.

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Figura 31 - Entradas do edifício AMATA Fonte: Triptyque Arquitetura: AMATA, Floresta Urbana, 2021

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Figura 31 - Entradas do edifício AMATA Fonte: Triptyque Arquitetura: AMATA, Floresta Urbana, 2021


Figura 32 - Corte esquemático do edifício AMATA Fonte: Triptyque Arquitetura: AMATA, Floresta Urbana, 2021

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Figura 33 - Esquema 3D do edifício AMATA Fonte: Triptyque Arquitetura: AMATA, Floresta Urbana, 2021

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Figura 34 - Planta baixa pavimento térreo do edifício AMATA Fonte: Triptyque Arquitetura: AMATA, Floresta Urbana, 2021

Figura 35 - Planta baixa 1° pavimento do edifício AMATA Fonte: Triptyque Arquitetura: AMATA, Floresta Urbana, 2021


Tabela 4 - Informações Gerais AMATA

A M ATA 76

LOCAL

Vila Madalena, São Paulo

ANO

2017

SITUAÇÃO

Em andamento

SITE

https://triptyque.com/en/project/amata-3/

PROGRAMA DE NECESSIDADES C O M PA R T I L H A D O

Cozinha compartilhada Banheiro Te r r a ç o Áreas de vivência Coworking Bar Restaurante Loja


Após a análise dos empreendimentos nacionais e internacionais que prometem a aplicação do conceito de coliving, entende-se que na maioria dos edifícios presentes no Brasil existe uma exploração de marketing em cima do termo “inovador”, oferecendo espaços tradicionais com uma tipologia não flexível e incapaz de atender às diversidades existentes, insistindo em áreas como piscina, churrasqueira e salão de festas, que valorizam o empreendimento mas que não promovem a integração e o compartilhamento. Na esfera internacional é mais fácil identificar os fatores que despertam o sentimento de coletividade, através do compartilhamento de áreas indispensáveis à rotina, enquanto na esfera nacional, mais especificamente no edifício AMATA, encontra-se uma organização espacial que aplica equilibradamente os fundamentos do coliving, evidenciando o potencial do conceito e a capacidade de incorporação no contexto brasileiro.

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P ROP OS I Ç ÃO PRO J ET UA L 5.1 C O NTE X TO DA Á R E A D E E S T UD O

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5 .1 .1 A N Á LI S E D O ENTORNO

88

5 .1 .2 A N Á LI S E DAS C OND I C I ON A NTES AM BIENTAIS

92

5 .1 .3 A N Á LI S E DAS C OND I C I ON A NTES LEG AIS

96

5.2 PR O PO S TA A R Q UIT E TÔ NI C A

98

5 .2 .1 D E F I N I Ç ÃO D O P ROG RAM A

98

5 .2 .2 D E F I N I Ç ÃO D O CON CEITO

99

5 .2 .3 PA RT I DO ARQUITETÔNICO

103

5


5

PROPOSIÇÃO PROJETUAL

5.1

CONTEXTO DA ÁREA DE ESTUDO

A escolha da área para a realização do projeto levou em consideração fatores como tranquilidade, mobilidade facilitada, diversidade de serviços e comércios, lazer, turismo e qualidade de vida. Na cidade de Vila Velha/ES, a região que melhor apresenta as características perseguidas é o bairro Praia da Costa, com um IDH de 0,957 (EXAME, 2016). Naturalmente, quanto maior a qualidade de vida em uma região maior a busca por ela e, em se tratando de uma região “nobre”, o título de maior impeditivo para a escolha de um terreno fica para o valor do metro quadrado, na faixa de R$6.582,00/m² (AGENTE IMÓVEL, 2021). Para contornar a barreira financeira, fez-se a escolha do terreno em um lugar estratégico do bairro Praia da Costa, que fizesse divisa com o bairro Centro, onde estão localizados os principais centros comerciais e empresariais da cidade, e onde o metro quadrado é consideravelmente menor, na faixa de R$4.098,00/m², impactando positivamente tanto no preço global do empreendimento quanto no aumento da disponibilidade de serviços, comércios e mobilidade.

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Brasil

Espírito Santo

P R A I A DA C O S TA Figura 36 - Localização do Terreno Fonte: Elaborado pela autora

Vila Velha

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MORRO DO MORENO CONVENTO DA PENHA

PR

AI

A

CENTRO

TERCEIRA PONTE SHOPPING LIMITE BAIRRO


SUPERMERCADO LOJAS

ESCOLA

PA P E L A R I A

RESTAURANTE FARMÁCIA

CORREIO

IGREJA

E D. COMERCIAL

Figura 36 - Localização do Terreno Fonte: Elaborado pela autora

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PA G N A

T

RUA I NÁCI

29

23

O HIG INO

23

29

A V. C H AM

678,8m² Figura 36 - Localização do Terreno Fonte: Elaborado pela autora


A área escolhida integra dois terrenos adjacentes de esquina localizado entre a Avenida Champagnat e a Rua Inácio Higino, totalizando 678,8m². O terreno presente na Rua Inácio Higino se encontra baldio, enquanto o com a frente voltada para a Avenida, possui uma casa construída onde atualmente funciona uma clínica infantil que será desapropriada. As ruas em torno do terreno são semelhantes, cada qual com uma peculiaridade. A Avenida Champagnat é uma avenida contínua que conecta o final do bairro Centro com a orla da Praia da Costa e nela podemos encontrar comércios e serviços variados, como escolas, restaurantes, papelarias, supermercados, farmácias. A Rua Inácio Higino, por sua vez, além de possuir comércios e serviços variados, em uma concentração menor, é a primeira saída da Terceira Ponte, a ponte que conecta a cidade de Vila Velha à capital do Estado.

1 2

3

Figura 37 - Fotos do terreno Fonte: Elaborado pela autora

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Figura 37 - Fotos do terreno Fonte: Google Earth, 2021

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Com a delimitação da área estabelecida, foram analisados diversos aspectos essenciais à qualidade e características do empreendimento, dos quais destacam-se: a análise do entorno, a análise ambiental, o vento predominante, a análise solar no verão e inverno e, por fim, as condicionantes legais para a execução do projeto.

5.1.1 ANÁLISE DO ENTORNO

Analisando o entorno de uma forma macro, é possível observar elementos da paisagem natural que agregam valor ao terreno. O mapa abaixo (Figura 38) destaca pontos próximos à área de estudo com elevado potencial atrativo que já fazem parte da identidade do bairro, tais como o Convento da Penha, Morro do Moreno, praia, Morro da Vista Linda e Morro do Marista. Além disso, existe a praça Duque de Caxias que agrega lazer ao bairro e a facilitadora do terreno escolhida estar localizado na saída da Terceira Ponte, a principal via de conexão entre a cidade de Vila Velha e Vitória.

Figura 38 - Mapa de atrativos da área do terreno

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Fonte: Elaborado pela autora


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Passando para uma análise micro, fez-se um mapa (Figura 39) com um diâmetro de 1km ao redor do terreno, pontuando estabelecimentos de alta relevância para os futuros moradores do coliving. A Avenida Champagnat é um polo comercial e empresarial diversificado que, além de ser uma das avenidas mais importantes da cidade, possui vários pontos de ônibus e conecta o centro da cidade com a praia. Os moradores do empreendimento proposto terão acesso a dezenas de academias, lojas, igrejas, restaurantes, centros de serviço médico, unidades de serviço público e instituições escolares com menos de 1km de caminhada. Apesar da sua enorme variedade, a região carece de áreas de convívio social, ambientes esportivos a céu aberto, áreas infantis e cinemas, o que não muda o fato de que a localização escolhida favorece o desenvolvimento do edifício com o conceito do coliving

Figura 39 - Análise do uso do solo em um diâmetro de 1km do terreno

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Fonte: Elaborado pela autora


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5.1.2 ANÁLISE DAS CONDICIONANTES AMBIENTAIS

Vila Velha possui clima tropical, com verões curtos e quentes e invernos longos, abafados e com ventos fortes. Em geral, a temperatura oscila entre 19 °C e 32 °C (WEATHER SPARK, 2021). Na Figura 40 é possível identificar a posição solar em relação ao terreno, sendo que o amarelo representa o sol da manhã, onde se deve priorizar o posicionamento de cômodos de maior uso, o laranja representa o sol da tarde, atentando-se ao posicionamento de cômodos úmidos ou de pouco uso, e as setas azuis indicam a direção do vento predominante na região (NE) e a brisa marítima que traz frescor aos finais de tarde. Fez-se um estudo solar do terreno nos horários de 6h, 9h, 15h e 18h, junto com o entorno para analisar como a incidência solar afeta a área designada e como os edifícios ao redor influenciam no sombreamento dela. Na figura 41 é possível observar a análise no verão, chegando à conclusão de que às 6h quase não há a presença do Sol na região, às 9h é o horário que existe a maior incidência solar, às 15h existe um forte sombreamento no terreno devido à presença do edifício ao lado e às 18h há uma incidência solar reduzida com muito sombreamento causado pelo edifício ao lado. Já na figura 42, a análise foi feita no inverno e pode-se notar que às 6h o Sol aparece de forma mais intensa se comparado ao período de verão, às 9h a incidência solar é mais forte e não há sombreamento na área, às 15h essa incidência se mantém e há apenas um pequeno sombreamento no fundo do terreno causado pelo edifício ao lado, e às 18h o Sol se encontra mais fraco e o terreno é totalmente tomado pelas sombras das construções ao seu redor.

Figura 40 - Análise climática do terreno

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Fonte: Elaborado pela autora


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Figura 41 - Análise solar do terreno no verão

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Fonte: Elaborado pela autora


Figura 42 - Análise solar do terreno no inverno Fonte: Elaborado pela autora

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Vila Velha é uma cidade que enfrenta o desconforto climático por calor na maior parte do ano, tornado essencial a adoção de estratégias bioclimáticas para contorna-lo e trazer conforto ao edifício. O site Projeteee sugere os melhores métodos para cada região de acordo com o seu clima, dos quais incorpora-se a ventilação natural e o sombreamento. No tocante à ventilação natural, o objetivo principal é renovar o ar, causar resfriamento psicofisiológico e causar resfriamento convectivo, podendo ser aplicado na arquitetura através da ventilação em pátios internos, ventilação cruzada, torres de vento e efeito chaminé. Já o sombreamento é uma estratégia fundamental que evita os ganhos solares nos períodos mais quentes, e pode ser aplicado através do uso de brises, cobogós e uma boa orientação da arquitetura (PROJETEEE, 2021). Com isso, é necessário entender quais são as melhores estratégias disponíveis para a aplicação no edifício proposto, viabilizando um maior conforto térmico para os moradores.

5.1.3 ANÁLISE DOS CONDICIONANTES LEGAIS

O Plano Diretor Municipal de Vila Velha (Lei 4.575/07) define o terreno em estudo como Zona Especial de Interesse Cultural B (ZEIC-B) que, de acordo com o Art. 108, II da Lei Complementar 65/2018, “[...] constitui-se de áreas destinadas à proteção do patrimônio histórico, cultural e natural, com o objetivo de garantir a proteção e valorização dos bens existentes.” Isto posto, a Figura 43 sintetiza os parâmetros urbanísticos e exigências legais estabelecidos para o terreno.

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Figura 43 - Zoneamento do Plano Diretor Municipal de Vila Velha, lei 4.575/07 Fonte: Elaborado pela autora, 2021, baseado na lei 4.575/07

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5.2

PROPOSTA ARQUITETÔNICA

Após a fundamentação teórica e a análise do local, dá-se início ao primeiro passo para a elaboração do projeto, definindo um partido arquitetônico e traçando as diretrizes que irão influenciar no edifício. Denota-se que a área em estudo está localizada em região de alto fluxo comercial e empresarial, ao ponto de tornar-se conveniente a valorização desse potencial, incluindo o projeto no contexto urbano pré-existente. A implantação do edifício de uso misto acolhe esse entorno e estimula o desenvolvimento da região, enquanto a implantação do coliving estimula a convivência e o pensamento coletivo, transformando aquela microrregião em um lugar mais plural.

5.2.1 DEFINIÇÃO DO PROGRAMA

Para a elaboração do programa arquitetônico, foi realizada pesquisa entre moradores da Praia da Costa, buscando entender os espaços e descobrir as carências do bairro em questão. De acordo com os moradores o bairro carece de espaços abertos para convívio, área com bares, regiões arborizadas e espaços para trabalho. Como forma de suprir parte dessa necessidade, determinou-se que o térreo da edificação bem como o primeiro pavimento serão voltados para o público em geral, com lojas, bares, sala comercial e coworking. A partir do segundo pavimento o espaço será reservado à implantação do coliving, destinando o andar inteiro para o uso compartilhado entre os moradores. O pavimento tipo contará com seis apartamentos, cada um possuindo um banheiro e um quarto com o tamanho intencionalmente reduzidos, incentivando o uso das áreas comuns, promovendo o senso de coletividade no condomínio e promovendo economia. O último pavimento contará com um pequeno espaço reservado para a área técnica, enquanto o restante conterá gramado, deck e bancos, visando a realização de eventos e atividades a céu aberto pelos condôminos.

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5.2.2 DEFINIÇÃO DO CONCEITO

Após uma análise pessoal da região e conversas com transeuntes, percebeu-se que a praia é, de fato, o grande ponto de referência dos moradores e o bem natural mais atrativo para os habitantes da região, funcionando como um ponto de respiro na cidade (Figura 44). O edifício proposto surge com esse conceito de leveza, frescor e tranquilidade característicos da praia e trazendo-o da orla para o interior da Praia da Costa. O conceito se manifesta através das escolhas dos materiais e da vegetação. Para trazer leveza ao ambiente, o branco toma grande proporção e se torna a cor predominante, com inspiração na areia, o piso geral recebe um revestimento de microsseixos em tom bege, as fachadas frontais ganham um toque de azul em alusão ao azul do mar e, por fim, o empreendimento recebe palmeiras e folhagens em abundancia, reportando-se aos coqueiros e às vegetações mais características da praia (Figura 45).

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Figura 44 - Região de praia e calçadão da Praia da Costa Fonte: D.onde - Dicas Vila Velha e ES, 2021


Figura 44 - Região de praia e calçadão da Praia da Costa Fonte: D.onde - Dicas Vila Velha e ES, 2021


102 Fonte: Elaborado pela autora

Figura 45 - Moodboard conceito do edifício

PA R A N Ã


Ao vasculhar a história da cidade de Vila Velha, rememora-se que, primitivamente, o povo nativo dessa região era formado por índios tupi-guarani, os primeiros a usufruir das belezas naturais de Vila Velha. A clareza, leveza e frescor entregues ao edifício são aspectos mais presentes na água do mar, por esse motivo o edifício recebe o nome de “Paranã”, que no dicionário tupi-guarani significa, justamente, “mar”.

5.2.3 PARTIDO ARQUITETÕNICO

Para dar início à elaboração do partido arquitetônico, adota-se como estudo inicial a volumetria com o seu potencial construtivo máximo no terreno (Figura 46). A partir dela, começam os estudos voltados à melhoria da forma do edifício, levando em consideração as leis urbanísticas, as condicionantes ambientais, o conforto ambiental e a valorização dos espaços compartilhados.

Figura 46 - Diagrama do potencial construtivo máximo Fonte: Elaborado pela autora

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Antes de trazer modificações na volumetria, é importante definir a disposição usual do edifício, classificando em comercial, compartilhado e público (Figura 47). Devido à demanda de uso, por ser um terreno de esquina e pelo enfoque empresarial e comercial da região, o térreo e o primeiro pavimento serão direcionados ao público em geral. Logo acima, no segundo pavimento, terá o andar compartilhado, de uso exclusivo dos moradores, onde será possível estabelecer encontros e realizar tarefas usuais do dia a dia, contando com cômodos integrados como sala de estar, jantar, área fitness, lavanderia e cozinha. Os demais pavimentos serão direcionados para os apartamentos.

PÚBLICO

COMPARTILHADO

RESIDENCIAL

Figura 47 - Diagrama setorização usual

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Fonte: Elaborado pela autora


Após a setorização usual, modificações na volumetria começam a surgir. Para proporcionar uma entrada convidativa e fazer com que o pedestre tenha uma visão direta do interior do terreno, faz-se uma abertura ampla nas fachadas principais (Figura 48). Dessa forma, surge um ambiente público de permanência que se conecta com as diferentes funções do empreendimento e para que haja uma sensação de amplitude, o térreo ganha pé direito duplo

Figura 48 - Diagrama aberturas laterais Fonte: Elaborado pela autora

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Levando em consideração a insolação e os ventos predominantes, os blocos compartilhado e residencial se moldam de forma a permitir que essas condicionantes agreguem valor à construção. A face principal recebe insolação leste, portanto a volumetria ganha forma de “L”, afim de que todos os apartamentos recebam insolação adequada. Para que haja proteção da insolação, foi utilizado uma estratégia de sombreamento com o uso da fachada microclimática Tensoface, composta de uma membrana têxtil perfurada que, de acordo com o site do fabricante Hunter Douglas:

“A membrana possibilita a ventilação frontal, além daquela vertical como em outros sistemas, permitindo uma circulação maior de ar entre a fachada da edificação e a da própria fachada têxtil, criando um microclima que aumenta o coeficiente de conforto térmico, especialmente em locais de alta incidência de luz solar.”

Figura 49 - Diagrama insolação

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Fonte: Elaborado pela autora


As “costas” do edifício, por sua vez, recebem insolação oeste, obrigando a utilização dessa parte para abrigar meios de circulação, como: bloco de elevadores, escadas e corredores (Figura 49).

Figura 50 - Corte da edificação com especificação do Tensoface Fonte: Elaborado pela autora

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Além disso, a configuração em “L” permite que uma relação visual direta dos moradores com o movimento do espaço público abaixo deles, estabelecendo um senso de vizinhança e aumentando a segurança no local (Figura 51). Foi feito um recuo na parte superior do bloco comercial para abrigar um rooftop e fornecer uma integração visual entre quem está no edifício e quem está na rua. Dessa forma, com a volumetria inicial concluída, avança à etapa de definição das plantas e detalhes técnicos.

Figura 51 - Diagrama volumetria e integração visual

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Fonte: Elaborado pela autora


A entrada de veículos do edifício se dá pela rua Inácio Higino, visto que a outra rua que faceia o terreno é uma avenida bem movimentada, dificultando a entrada e saída de veículos, com isso, o empreendimento possui dois subsolos, totalizando 35 vagas para carro, sendo uma para cadeirante e 4 vagas para moto (Figura 52 e 53). O terreno conta com um bloco apenas de lojas na esquina do edifício, em contato com as duas ruas que tangenciam o terreno, tornando a loja mais atrativa e convidativa ao público. A parte traseira do terreno ficou reservada para a circulação vertical, junto com o lobby e áreas técnicas necessárias para o bom funcionamento da construção. E, por fim, há dois bares no canto do edifício rodeados por um deck de madeira que abriga mesas, cadeiras e um grande espaço para jardim. O 1° pavimento, exposto na Figura 55, abre espaço para um amplo coworking, uma sala comercial, um bar e um rooftop que conecta os dois blocos e garante a ampla visão dos usuários para as ruas, além de se tornar um ambiente de apoio e lazer. O 2° pavimento, observado na Figura 56, é destinado ao uso compartilhado entre moradores, sendo que, como a intenção é fazer com que as pessoas interajam e criem conexões, o ambiente foi pensado de forma integrada, não havendo alvenarias de vedação que segreguem o espaço. Portanto, ao chegar no ambiente, é possível encontrar uma área de estar à frente, uma ampla cozinha com uma ilha central à direita, que consente a comunicação de quem está cozinhando com quem está sentado e, aos fundos, separada por um móvel com vegetação, uma lavanderia. Na parte esquerda do pavimento está localizada uma grande mesa de jantar e uma área de estar rodeada por fechamento de vidro que proporciona a visão para o térreo. E, por fim, a área externa é aproveitada para criar um layout de lazer, com mesas, cadeiras, sofás, mesa de sinuca, horta comunitária, área fitness e uma grande área livre com visão para a avenida com paginação mesclando pisos em porcelanato e grama. O pavimento tipo expresso na Figura 57 demostra a disposição dos apartamentos. Cada qual composto por um banheiro e um quarto com vista para o interior do terreno, protegidos por uma fachada microclimática de Tensoface, com aberturas em camarão e dimensões intencionalmente reduzidas, com fito no incentivo do uso das áreas compartilhadas do prédio (Figura 58). Ao todo existem quatro pavimentos tipo, cada um com seis apartamentos, totalizando vinte e quatro unidades imobiliárias.

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110 Fonte: Elaborado pela autora

Figura 52 - Planta Baixa Subsolo 02


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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 53 - Planta Baixa Subsolo 01


Fonte: Elaborado pela autora

Figura 54 - Planta Baixa Térreo

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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 55 - Planta Baixa 1° Pavimento

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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 56 - Planta Baixa 2° Pavimento

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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 57 - Planta Baixa Pavimento Tipo

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Figura 56 - Visão Isométrica 2° Pavimento

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Fonte: Elaborado pela autora


Figura 56 - Visão Isométrica 2° Pavimento Fonte: Elaborado pela autora

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Figura 56 - Visão Isométrica 2° Pavimento

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Fonte: Elaborado pela autora


Figura 56 - Visão Isométrica 2° Pavimento Fonte: Elaborado pela autora

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Figura 58 - Interior do apartamento Fonte: Elaborado pela autora


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Figura 58 - Interior do apartamento Fonte: Elaborado pela autora


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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 59 - Planta Baixa Cobertura

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A cobertura demonstrada na Figura 59 contém uma grande área técnica e uma laje jardim com deck de madeira, proporcionando uma opção de lazer para os moradores, melhorando a eficiência energética, ajudando no combate às ilhas de calor, agregando biodiversidade e valorizando o imóvel. Na Figura 60 é possível observar um detalhamento da laje jardim e entender o seu funcionamento.

Após a realização do projeto, chega-se aos seguintes parâmetros: Gabarito: 8 pavimentos Taxa de ocupação: 59,20% Taxa de Permeabilidade: 11,20% Altura: 25 m Coeficiente de Aproveitamento: 1,65 Área computável: 1.120,30 m² Número de unidades: 24 unid. Vagas de Garagem: 34 (carros) + 1 (cadeirante) + 4 (moto)

Figura 60 - Detalhamento laje jardim Fonte: Elaborado pela autora

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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 61 - Secção A-A

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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 62 - Vista 01

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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 63 - Vista 02

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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 64 - Isometria do edifício

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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 65 - Isometria do edifício

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Fonte: Elaborado pela autora

Figura 66 - Fachada da Rua Inácio Higino

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Figura 67 - Fachada da Rua Inácio Higino com visão do observador Fonte: Elaborado pela autora


Figura 68 - Fachada da Av. Champagnat com visão do observador Fonte: Elaborado pela autora



CONSID ERAÇ Õ ES FI N A I S

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6

CONSIDERAÇÕES FIN AIS

Diante da diversidade de arranjos familiares que ganharam destaque na atualidade, do aumento dos casos de depressão e ansiedade em função do desenvolvimento tecnológico, do aumento significativo da população urbana e tomando como referência as moradias existentes na atualidade, é evidente que o cenário imobiliário não está pronto para atender às novas demandas “não tradicionais”. Com isso, vê-se de grande necessidade a disseminação de formas habitacionais diferentes das tradicionais, capazes de suprir as problemáticas destacadas, tais como espaço residencial compartilhado. Após se aprofundar no conceito de coliving, entende-se que essa forma de moradia compartilhada aplica diversos princípios de economia e integração social, priorizando a troca de experiências sobre as diferentes circunstâncias sociais, culturais e econômicas. O tema deste estudo recebe muita atenção no exterior, enquanto é tratado com desinteresse no Brasil. Após a realização do estudo de caso de exemplos nacionais e internacionais concretizados, foi possível compreender a dinâmica da organização arquitetônica dos espaços no modelo investigado e os benefícios dele para a sociedade. Apesar da exploração do nome coliving no mercado imobiliário brasileiro, este trabalho se preocupa de uma ponta à outra com a correta materialização do termo. Em síntese recordativa, o coliving é uma configuração física caracterizada pelo aproveitamento do espaço construtivo voltado para o aumento das relações interpessoais pautadas na colaboração, capaz de promover o desenvolvimento do senso de comunidade e de possibilitar a economia de recursos. Buscou-se neste trabalho fazer um estudo projetual de um edifício localizado no bairro Praia da Costa, Vila Velha/ES, com foco nas melhorias espaciais em função das demandas reais, com atenção aos diferentes tipos de uso e público, promovendo a integração e desenvolvimento das relações interpessoais. Exerce-se, então, uma estrutura habitacional com aplicabilidade dos interesses dos moradores do bairro, através de um edifício compartilhado, com configurações arquitetônicas que mitiguem os problemas mencionados no trabalho.

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