Esporte em Revista

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Personagens

Recreação pública em Porto Alegre

Jornal Zero Hora, 22 de março de 1997

No início do século 20, o professor Frederico Guilherme Gaelzer conseguiu sensibilizar o poder público sobre a importância da recreação

Eneida Feix

F

oi no “Alto da Bronze”, na década de 20, que Porto Alegre, uma das capitais brasileiras pioneiras na instituição do lazer e da recreação pública, iniciava a história neste setor, através da criação dos “Jardins de Recreio” nas praças da cidade. Na subida da rua Duque de Caxias, área central da cidade, espaço onde a garotada se reunia para o futebol se instalou, em 1926, o primeiro jardim de recreio da América do Sul. Este era constituído por salas para jardim de infância, biblioteca e vários equipamentos na área externa como balanço, escorregador, gangorra, entre outros, e quadras esportivas para a prática do basquetebol, voleibol, basebol, tênis e de um jogo de pelota denominado frontão. As atrações eram diversificadas objetivando que crianças, jovens e adultos pudessem se divertir. A valorização do lúdico nos “Jardins”, com equipamentos apropriados à recreação infantil e com lindos gramados e quadras esportivas marcou as primeiras décadas do século 20, uma proposta de trabalho que possibilitou às crianças brincar e se entreter. Ainda hoje existem o primeiro e o segundo “Jardim de Recreio”, respectivamente denominados Praça General Osório, inaugurada em 1926, e Praça Pinheiro Machado, em 1927. Além dessas, no período de 1926 a 1951, foram instaladas outras praças em diferentes bairros da cidade, como por exemplo, Praça Florida, Praça Dr. Montaury, Praça Jayme Telles, Praça São Geraldo, Ararigbóia e Tamandaré. A idealização e a vontade política de efetivação deste projeto, na década de 20, foram iniciativas do professor Frederico Guilherme

Praça Gal. Osório, antiga Alto da Bronze, início da Recreação Pública na cidade, em 1926 Gaelzer, que conseguiu sensibilizar o poder público sobre a importância da recreação e do esporte para a juventude como prevenção da delinquência e um meio de qualificar a sociedade. Gaelzer permaneceu cerca de cinco anos estudando nos Estados Unidos, onde também acompanhou o trabalho da Associação Cristã de Moços (ACM). Depois que retornou para Porto Alegre chefiou o Departamento Municipal de Praças Públicas e Jardins, o Departamento Municipal de Educação Física e, posteriormente, o Serviço de Recreação Pública. O professor Gaelzer e sua equipe promoveram atividades variadas nos jardins de infância, teatro infantil e amador para adultos; e viabilizaram espaços como: bibliotecas infantis, técnicas e ambulantes; parques balneários para ensino de natação e remo; parques esportivos com campeonatos e recantos infantis. A equipe realizou conferências, cursos especializados, exposições, concertos, excursões orientadas, comemorações cívicas e folclóricas; organizava também os desfiles carnavalescos. O papel da educação no progresso de um país era

exaltado nos discursos de Gaelzer. Ontem e Hoje As fotos, os recortes de jornais e os documentos garimpados retratam algumas das ações voltadas à recreação e aos esportes nas praças e parques de Porto Alegre iniciadas em 1926. Ao longo de 85 anos, esse trabalho se manteve em funcionamento, oportunizando o esporte, a recreação e o lazer aos portoalegrenses. Atualmente há mais de 500 praças e parques públicos que recebem pessoas, alegram-nas e possibilitam trocas de afeto, divertimento, práticas corporais diversas e atividades culturais. Além disso, as praças e parques são locais de encontros e lembranças dos frequentadores configurando-se como “lugares de memória” da cidade. Valorizar esta história é vivê-la duas vezes, com diz Paulo Freire. * Eneida Feix é licenciada em Educação Fisica (UFRGS) e mestre em Ciências do Movimento Humano (UFRGS). Atua como coordenadora da Divisão de Esporte e Lazer - (Fundergs/SEL-RS)

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