Entrelinhas 03 - Que Bom Pra Você - Tammara Webber

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profundidade e a intensidade do nosso romance secreto e/ou amizade colorida, porque é claro que deve ser uma dessas coisas. Recebo ligações e mensagens de Kayla e Aimee, assim como de várias outras pessoas que eu mal conheço ou nunca vi na vida. Repórteres e fotógrafos estão acampando na frente da nossa casa e me seguindo por toda parte. Reid me liga para pedir desculpa, mas eu minimizo a situação. — Vou sobreviver. Pelo menos, não tem nenhuma foto minha te atacando, desta vez. Ele ri. — Nesse caso, que tal fazer alguma coisa no fim de semana? Podemos ver algum filme antigo que está no cinema, se você quiser. Acho que está passando Os vivos e os mortos. Você já viu? — John Huston? Adoro. — Não digo a ele que essa adaptação para o cinema de uma história incrível de James Joyce é uma das minhas preferidas. E de Nick. — É? Eu também. — Parece que ele está sorrindo.

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— Não queremos que você saia mais com ele. Encaro os meus pais, minha mãe na minha frente e meu pai ao lado, na nossa pequena mesa da cozinha. Eles ficam sentados observando minha reação, cada um de nós exausto de mergulhar no trabalho e em esforços voluntários até não haver momentos livres para pensar na Deb nem para ponderar por que Deus a deixou viva, mas permitiu que sua identidade e sua personalidade lhe fossem arrancadas. — Não entendo — digo finalmente. — Não aconteceu nada nem vai acontecer. Nós só saímos e conversamos. Somos amigos, acho. Meu pai encara as mãos, entrelaçadas sobre a mesa como se estivesse rezando. Ou implorando. — Só estamos dizendo que não confiamos nele. Não é uma boa companhia pra você, Dori. Você sabe que isso não vai terminar bem. E, enquanto você estiver morando aqui... Ofego. — Pai, sério? “Enquanto você estiver sob o meu teto”? Mãe? — Dori, não há motivo pra dificultar essa situação, se ele é tão irrelevante quanto você está dizendo. — Sua voz é lógica, e estou acostumada com isso, mas está tensa, o que é totalmente estranho e parece errado, vindo da mulher que me amou e cuidou de mim a vida inteira. Meu rosto fica tão quente que consigo até escutar o sangue latejando em meus ouvidos. Meus pais foram irracionais tão poucas vezes na minha vida que quase consigo me lembrar de todas elas. Passar fio dental toda noite parecia irracional quando eu tinha nove anos. Passar filtro solar fator sessenta parecia irracional aos onze. Não me deixar ver filmes com possíveis cenas de sexo ou palavrões parecia irracional aos treze. E o que eu me pergunto é se futuramente vou encarar esta discussão e perceber que o que eles estavam me pedindo era razoável e que era eu que estava sendo irracional. — Não me lembro de ter dito que ele era irrelevante — falo, baixinho. — Dori — começa meu pai, e abro a boca para argumentar, mas minha mãe nos interrompe.


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