Aspectos técnicos e laboratoriais de diagnóstico e acompanhamento do diabetes mellitus
de 10% por hora. Para minimizar o impacto desse processo, diversas medidas podem ser tomadas, conforme o Quadro 2. Se forem utilizados tubos de soro, é preciso dar especial atenção ao processamento rápido da amostra após a coleta. Se for utilizado um inibidor de metabolização, como o fluoreto de sódio (NaF), ainda assim ocorre glicólise dentro do tubo, mas
de forma mais lenta (cerca de 10% a cada 3 horas). Os tubos com fluoreto, por sua estabilidade discretamente maior, são muito utilizados no TOTG, visto que, muitas vezes, as amostras de jejum serão processadas com as demais, devendo-se somar o tempo de duração do teste àquele já previsto para o transporte das amostras.6,7
Quadro 2. Estabilidade da amostra para dosagem de glicemia conforme o método de coleta. 6,7 Tubos de soro com gel (tampa vermelha com faixa amarela)
Devem ser centrifugados em até 2 horas após a coleta
Tubos de soro secos (tampa vermelha)
Devem ser centrifugados e manipulados em até 2 horas após a coleta
Tubos com fluoreto (tampa cinza)
Devem ser centrifugados em até 3 a 4 horas após a coleta
Existem diversos outros tipos de tubos que podem ser usados para a coleta de glicemia, como os de NaF/citrato/ácido etilenodiaminotetracético (ethylenediaminetetraacetic acid, EDTA), que conferem à amostra tempos consideravelmente maiores de estabilidade. Sua utilização, entretanto, não é rotineira no meio clínico, dando-se mais ênfase ao processamento da amostra após a coleta.8
Aspectos analíticos A glicose é geralmente determinada por métodos enzimáticos, como glicose-oxidase e hexoquinase. Um dos mais aplicados atualmente é o método da hexoquinase, no qual a glicose é fosforilada por essa enzima na presença de trifosfato de adenosina (adenosine triphosphate, ATP). Dessa reação se originam produtos como glicose-6-fosfato e difosfato de adenosina (adenosine diphosphate, ADP). A glicose-6-fosfato, por sua vez, é oxidada por glicose-6-fosfato desidrogenase (G6P-DH), sendo transformada em gluconato-6-fosfato, que ocasiona a redução de NAD+ para NADH. Essa reação causa aumento da absorbância a 340 nm, que é o parâmetro diretamente analisado pelo método, por ser diretamente proporcional à concentração de glicose.6 Os métodos atuais são bastante robustos e não requerem precauções adicionais, exceto aquelas referentes a erros pré-analíticos.
Hemoglobina glicada A HbA1c era empregada até a década passada apenas no seguimento de pacientes com DM, pois é o melhor parâme-
tro preditor de complicações crônicas. Essa extensa validação da HbA1c no seguimento do DM é oriunda, basicamente, de dois estudos: o Diabetes Control and Complications Trial (DCCT),9 que analisou pacientes com DM tipo 1 (DM1), e o United Kingdom Prospective Diabetes Study (UKPDS),10 que avaliou indivíduos com DM tipo 2 (DM2). A quantidade de dados referentes ao uso da HbA1c, provenientes de diferentes estudos e de inúmeros centros ao redor do mundo, gerou a necessidade de harmonização dos diferentes métodos de dosagem. Para esse fim foi criado, nos Estados Unidos da América, o National Glycohemoglobin Standardization Program (NGSP), disponível em: www.ngsp.org (acesso em 27 jun 2017). O objetivo do NGSP é, por meio de um esforço continuado, tornar todos os métodos rastreáveis por aqueles utilizados no DCCT e no UKPDS. Para isso, certifica fabricantes de ensaios de HbA1c e laboratórios, a fim de garantir a homogeneidade metodológica.11 A padronização também busca harmonizar os métodos aos padrões da International Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine (IFCC), que pode ser acessada em: www.ifcc.org (acesso em 27 jun 2017). A IFCC utiliza mmol/mol como unidade de mensuração da HbA1c (correspondendo à quantidade de HbA1c em mmol em relação à quantidade total de Hb em mol). Assim, além de padronizar os métodos disponíveis no mercado, o NGSP também fornece ferramentas que permitem comparar as duas unidades.11 Alguns exemplos de conversão com valores inteiros de HbA1c encontram-se descritos na Tabela 2.
Tabela 2. Conversão dos valores de HbA1c entre unidades do NGSP (%) e da IFCC (mmol/mol).11 NGSP HbA1c (%)
IFCC HbA1c (mmol/mol)
5
31
6
42
7
53
8
64
9
75
10
86
11
97
12
108
NGSP: National Glycohemoglobin Standardization Program; IFCC: International Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine; HbA1c: hemoglobina glicada.
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