Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes

Page 213

Uso de suplementos alimentares em pacientes com diabetes mellitus

Suplementos derivados de ervas e plantas Canela A canela é um suplemento possivelmente relacionado com melhora do controle glicêmico e de outros parâmetros metabólicos. Em uma metanálise de 10 estudos envolvendo 543 pacientes, quantidades variáveis de canela, entre 120 mg e 6 g por dia, durante 4 a 18 semanas, reduziram os níveis de glicose plasmática em jejum (diminuição média de 24,59 mg/dL), colesterol total (15,60 mg/dL), colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c; 9,42 mg/dL) e triglicérides (29,59 mg/dL).18 Em outra revisão, a canela também aumentou discretamente os níveis do colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL-c; 1,66 mg/dL), mas, apesar da tendência de melhora, não teve efeito significativo sobre os níveis de hemoglobina glicada (HbA1c; –0,16%).19 Assim sendo, a canela parece auxiliar no controle glicêmico, embora seja difícil afirmar com precisão a magnitude desse efeito e o esquema terapêutico adequado, o que impossibilita algum tipo de recomendação formal.

Feno-grego O feno-grego, cujo nome científico é Trigonella foenum-graecum, pertence à família de plantas Fabaceae, um tipo de leguminosa. Ele cresce na maioria dos países ao redor do mundo, com grande produção na Ásia, na Europa e na América do Norte, incluindo os Estados Unidos da América. Sua ação como hipoglicemiante foi testada em quatro pequenos estudos clínicos, em que foi observada diminuição dos níveis de glicemia em jejum e pós-prandial, com doses entre 500 e 1.000 mg por dia. Pela escassez de dados, ainda não é possível determinar o seu papel como terapia hipoglicemiante.19

Melão amargo Momordica charantia, conhecido popularmente como melão amargo, é um vegetal amplamente consumido na culinária asiática. Seu consumo tem sido associado a uma variedade de benefícios para a saúde, incluindo a redução da glicemia em indivíduos hiperglicêmicos, baseada principalmente em estudos in vitro. Os resultados de ensaios clínicos humanos, contudo, mostram-se conflitantes, com a maioria não indicando esse benefício.19

Resveratrol O resveratrol, um composto polifenólico natural que existe principalmente na pele de uvas vermelhas, ao ser analisado em vários estudos com modelos animais, levou a aumento da sensibilidade à insulina por diversos mecanismos (ativação da via das sirtuínas, aumento do GLUT4, diminuição da inflamação sistêmica e redução do estresse oxidativo).20 Em seres humanos, esses achados também foram observados; em revisão sistemática e metanálise com 388 pacientes, a suplementação de resveratrol resultou em diminuição da glicemia em jejum, da glicemia pós-

-prandial e da HbA1c,20 ou seja, acarretou melhora do controle glicêmico. No entanto, mais uma vez a heterogeneidade dos dados existentes, a qualidade metodológica questionável dos estudos realizados e a escassez de dados referentes à segurança não permitem recomendar o seu uso sistemático.

Suplementos de minerais e oligoelementos Cromo O cromo é um elemento necessário para o metabolismo da glicose. Prescrito na forma de picolinato de cromo, é um suplemento muito popular entre indivíduos com diabetes e aqueles interessados em perder peso. A deficiência aguda de cromo causou resistência à insulina em pacientes submetidos a nutrição parenteral, tendo sido revertida pela suplementação intravenosa desse elemento, o que despertou interesse pelo uso da suplementação de cromo em pacientes ambulatoriais.21,22 Ele é encontrado, principalmente, em duas formas: trivalente, que é biologicamente ativa e encontrada nos alimentos, e hexavalente, que é tóxica e resultado da poluição industrial. Embora exista plausibilidade biológica para o seu uso, os resultados da suplementação de cromo na prática clínica, tanto na prevenção quanto no tratamento do diabetes, são, no mínimo, controversos. Em uma metanálise de 15 estudos, com 618 pacientes, a suplementação de cromo não teve nenhum efeito na prevenção do diabetes.23 Nessa mesma metanálise, apesar de ter sido evidenciada diminuição das concentrações de glicose e insulina plasmáticas em jejum nos pacientes diabéticos, os resultados foram questionados, pois se pautaram por um único estudo clínico realizado na China. Nos demais estudos que compuseram a metanálise, entretanto, não foram identificadas diferenças entre o grupo suplementado e o grupo placebo. Já em uma coorte de 28.569 indivíduos não diabéticos, o uso de suplementos contendo cromo (200 mcg) esteve associado a menor risco de desenvolvimento do DM2.22 Em conclusão, mesmo que se explique um possível efeito hipoglicemiante, ainda há pouco embasamento científico para a recomendação do uso rotineiro de suplementos dietéticos com cromo na prevenção ou no tratamento do diabetes.

Magnésio O magnésio é um íon que funciona como cofator em vários sistemas enzimáticos, com o papel-chave de regular a ação da insulina e a absorção de glucose mediada pela insulina. As concentrações intracelulares reduzidas de magnésio resultam em atividade defeituosa da tirosina-quinase e agravamento da resistência à insulina em pacientes diabéticos. A baixa ingestão dietética de magnésio e o aumento da perda urinária de magnésio aparecem como os mecanismos mais importantes para a depleção de magnésio em pacientes com DM2.24 Assim, também existe plausibilidade biológica para os possíveis benefícios da suplementação de magnésio em pacientes com alteração no metabolismo da glicose. 213


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes by Laboratório Sabin - Issuu