História Viva - Conceição do Mato Dentro

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C A P Í T U L O

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tituto, e para o qual o Jubileu parecia transcorrer num espírito de piedade propício ao culto, sem ser ainda contaminado por motivações extrarreligiosas, como o comércio e os jogos, como se via no Jubileu realizado em Congonhas do Campo. No século XX a história se repetiu: como ocorrido no século XVIII, quando o bispo Dom Frei Manoel da Cruz autorizou a ampliação do templo para acomodar o número cada vez maior de “forasteiros”, na década de 1930, o pároco frei Vicente de Licódia, também percebendo a incapacidade da antiga igreja colonial – já em estado de ruínas – em receber os romeiros, resolveu erguer um templo maior e mais adequado às novas necessidades do culto. Nesse sentido, em 8 de novembro de 1931 foi lançada a pedra fundamental do novo edifício, cujo projeto ficou a cargo do arquiteto carioca Mário de Moreira e a construção encarregada ao construtor Vito Vitarelli, já conhecido na cidade, onde havia construído o grupo escolar “Daniel de Carvalho”. O novo Santuário ficou definitivamente concluído em 1934, sendo que a 12 de maio do mesmo ano uma imponente procissão conduziu triunfalmente a imagem do Senhor Bom Jesus da igreja matriz – onde se alojou temporariamente enquanto se aprontava seu novo trono – para sua morada A presença de um novo templo, com maior capacidade de acomodação de fiéis e mais condizente à grandeza do culto, inaugurou uma nova época para o Jubileu de Conceição, para onde aflui um número cada vez maior de romeiros, agora favorecido pela abertura de estradas de rodagem e pela popularização dos meios de transporte, como o carro, o caminhão e o ônibus, mas sem desprezar a velha e tradicional montaria. A partir de então, uma cena comum em Conceição na época do grande Jubileu, como nos atestam várias fotografias de época, é a presença de centenas de barracas coloridas, ocupando a paisagem da encosta do Santuário, formando uma verdadeira minicidade. Um

q recenseamento feito pelos organizadores do Jubileu de 1978 exemplifica bem essa multidiversidade dos romeiros: estavam presentes naquela ocasião 5.528 pessoas, alojadas em 959 barracas, oriundas de 78 localidades diferentes, entre Minas Gerais, Bahia, Goiás e São Paulo. Só de Minas Gerais tinham 952 barracas, destacando-se Belo Horizonte, com 137 barracas e 548 pessoas; Peçanha, com 125 barracas e 774 pessoas; Congonhas do Norte, com 66 barracas e 425 pessoas; e Sabará, com 51 barracas e 286 pessoas. (Fonte: Jornal A Voz de Conceição, Ano I, nº 21, agosto de 1978)

Mas o Jubileu desses novos tempos não se manteve somente dentro daquele clima piedoso vivenciado e descrito pelo poeta Alphonsus Guimarães durante sua estada em Conceição; a partir de então começou a emergir o lado mais mundano da festa, com o comércio de todo tipo de mercadoria, desde comida e bebida até as quinquilharias ditas “sacras”, além dos jogos e das diversões mundanas, é claro. Situação que pôs em alerta as autoridades religiosas e mesmo as pessoas de índole mais religiosa, a ponto de se elaborar uma espécie de cartilha destinada ao “verdadeiro” devoto, esclarecendo a ele a maneira correta de se beneficiar do Jubileu considerado “santo”; assim, lucra com o Jubileu aquele que preparar perfeitamente seu corpo e sua alma, meditando, fazendo a confissão e se comungando. E não lucra quem aproveita a ocasião para explorar os romeiros, se entregar aos jogos, às diversões ilícitas, ao comércio “escorchante” e aos vícios hediondos.

meiros. Mas o povo não têm sua fé, que veem prestar sua gratidão ao to bem o que é dirigir o ali renovar a cada dia que por saberem e sen ros que vêm de longe – “forasteiros” – e que co religiosa da cidade, in negro angolano há qua

(Fonte: Santuário do Bom Jesus, Ano IX, junho de 1954)

Entretanto, recriminando ou não o comércio que se formou em torno do Jubileu, o certo é que a cidade de Conceição se transforma e se modifica durante os dias em que é tomada pelos ro-

Arautos da fé, os romeiros entregam seus pedidos ao Bom Jesus na certeza de serem atendidos em seus clamores. 186

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